domingo, 8 de janeiro de 2012

Parte 01 de 02

Feliz ano novo
Kaline Bogard
Parte 01 de 02

Jack parou em frente ao local e observou a fachada. Não podia acreditar que estava mesmo participando daquilo. Mas estava. E, caso pensasse bem, nem era tão surpreendente assim.

Ele mudara muito, não apenas pelo sucesso da banda, claro. Eram famosos, reconhecidos pelos fãs japoneses e de overseas também. Seus singles eram sucesso de venda. O último álbum estava na lista dos dez mais vendidos no Japão.

Nada disso subira à sua cabeça. Nada disso mudara sua forma de pensar e ver o mundo.

Porém já não era o mesmo Asamura Ryuutarou, aquele garoto que se juntara a outros quatro e começara o sonho de criar uma banda de sucesso.

A infinita paciência de Arata, as traquinagens irritantes de Takeo, o mistério meio frio de Teruo, as brisadas absurdas de Ikeuchi.

O amor de Ikeuchi.

Tudo isso o mudara de alguma forma. Amaciara a maneira dura como via a si mesmo e a própria vida.

Ryuutarou estava mais maduro, mais forte.

Justamente por essas mudanças era capaz de entrar na brincadeira e aproveitá-la, se divertir.

– Enfim...

Jogou o resto do cigarro num cestinho de lixo e entrou no restaurante.

oOo

Takeo estava muito, muito, muito indeciso. Devia agir a sério ou zoar um pouquinho...? Só um pouquinho?

Quando percebeu o tipo de dúvida que o assolava o ruivo estacou no lugar.

Nunca tinha sequer hesitado antes de aprontar alguma das suas.

Sempre agia de forma as vezes impulsiva, as vezes meticulosamente calculada... porém jamais havia parado pra se perguntar se devia ou não fazer alguma coisa.

Não podia negar: tinha mudado desde que entrara para a P”Saiko. Conhecera aqueles quatro, que agora podia considerar como grandes amigos. Conhecera Arata, o homem que roubara seu coração de modo indefensável.

O começo fora difícil, claro. Houveram brigas, desentendimentos sérios, até. A diferença de personalidades era grande demais para que tudo seguisse sem conflitos.

Porém, o sonho era muito maior do que qualquer desavença. Queriam ser famosos, se uniam por esse objetivo. Com a força desse desejo superaram todas as dificuldades.

A amizade se tornou sólida como um rochedo.

O amor se tornou uma das bases para todas as decisões que tomava.

Assim como ensinara seus amigos a respeitá-lo, Takeo aprendera a respeitá-los. A saber quando parar e não ultrapassar os limites.

Por isso hesitara e pensara duas vezes naquele segundo.

Talvez o clima de final de ano ajudasse também.

Fosse lá o motivo que fosse Takeo cedeu a reflexão. Decidiu ser sério daquela vez. Não queria que nada estragasse o clima da noite. Era uma comemoração importante.

oOo

Arata entrou na loja e observou bem. Nunca daria nada por aquela loja de objetos usados, mas seu primo fora tão enfático na recomendação que resolvera correr o risco.

Os olhos passavam pensativos pelas prateleiras e balcões.

A folga de final de ano era mais que bem vinda. Todos estavam cansados. Precisavam tomar um ar, principalmente depois do último show beneficente, dado às crianças com câncer. Fora um ato bonito e tocante.

Arata não podia negar o quanto seus amigos e companheiros de caminhada estavam mudados. Takeo com seu jeito sacana de quem não está nem aí pras conseqüências de seus atos, Jack que parecia carregar um peso imensurável nos ombros e Terushido sempre envolto num muro de mistério que impedia qualquer um de se aproximar... os três eram, sem dúvidas, os que mais tinham mudado.

Ele próprio tinha momentos de firmeza. Já não era tão inseguro quanto antes, acreditava mais em si mesmo, sabia que podia dizer o que pensava sem temer magoar os amigos, desde que sempre usasse seu jeitinho “Hayato” de ser.

Sorriu com o pensamento.

Era inegável que seu jeito de mãe ajudara bastante naquelas mudanças. Não foram poucas as vezes que algum dos outros integrantes da banda o procurava em busca de palavras gentis para superar algum problema. Ou pior, como Jin, que parecia vê-lo mesmo como uma “mãe”, já que vivia alardeando por aí como seu lamen era gostoso, como o apartamento ficava limpo e organizado e as roupas perfeitamente ajeitadas.

Jin, seu primo, de quem pouco soubera antes de se mudar para Tokyo, mas que durante aqueles anos se tornara alguém querido e muito importante.

Jack, sempre sério e rigoroso. Exigente com o desempenho da banda, sabendo sempre que podiam fazer melhor.

Teruo, misterioso, frio, pouco receptivo à presença invasiva. O mais reservado e observador dos cinco. Alguém cuja opinião devia ser ouvida e respeitada.

Takeo, o amor de sua vida.

Como aquelas pessoas eram importantes na vida de Arata! Tão importantes quanto a música.

Não.

Mais importantes que a música, pois era justamente por amá-los tanto que podia transferir seus sentimentos para as melodias e cativar os fãs pela maneira magnífica que sua voz atingia-lhes os corações.

Foi então que os dedos de Hayato esbarraram em algo surpreendente. Ele arregalou os olhos enquanto um pensamento atravessava sua mente.

Mandou bem, Jin!

oOo

– Oh, céus! Não acredito que estou aqui!

A criatura franzina passou a mão pelos fios de cabelo (que, atualmente, tinham um tom indescritível de lilás). Os trajes cheios de penas, plumas e brilho não chamavam atenção em absoluto, ninguém na multidão olhava para ele. E isso era um dos motivos de sua irritação.

– Muito bem, Gensuke. – sussurrou para si mesmo – Faça com que seja rápido e indolor. Aqueles garotos merecem.

Sorriu ao pensar nos integrantes da P”Saiko. Estava acostumado a tratar com astros da música e da moda. Conhecia estrelas pedantes, arrogantes e cheias de si.

Tão diferente daqueles cinco garotos. Nunca conhecera músicos tão humanos, tão peculiares. Pessoas cuja fama, sucesso e dinheiro não subira à cabeça, e eles ainda mantinham características marcantes das próprias personalidades. Seriedade e profissionalismo, diversão e dedicação, gentileza e responsabilidade. Além de, por que não, uma mistura de ingenuidade e autenticidade raramente vista por aí.

– É. Esses danadinhos...

Só mesmo eles para convencê-lo a uma excursão para aqueles lados de Tokyo...

oOo

– Oh, Goku, Seiya, Shurato e todos os protagonistas de animes de sucesso... me ajudem!

Jin andava de um lado para o outro do apartamento, com as mãos bagunçando os cabelos despontados.

– Trevas o que eu faço agora?

O cachorrinho continuou deitado no sofá, sem fazer nada além de observar seu dono andando de um lado para o outro da sala. Mais um pouco e Jin deixaria marcas no carpete, por onde caminhava repetidas vezes.

– Muito obrigado por não me ajudar – o baixista resmungou com um bico – Já sei! Vou ligar pro Jack e... não, não posso ligar pro Ryuu-chan. Então vou pedir ajuda pro primo e... NOOOOOO! Não posso falar com ele também. Terei que sair dessa sozinho.

Com um profundo e sofrido suspirou voltou a andar de um lado para o outro, bagunçando os cabelos.

oOo

Teruo estava sentado num dos sofás do estúdio. Chegara cedo, por que era parte dele sempre honrar seus compromissos da forma apropriada. Talvez por isso tivesse pouca paciência com pessoas que sempre se atrasavam.

Ali estava algo que suavizara bastante.

Era impossível continuar o mesmo convivendo com criaturas tão diferentes quanto seus companheiros da P”Saiko.

Quantas vezes não tivera que se segurar?

Se segurar pra não dizer o quanto Jack estava exagerando, querendo que chegassem à perfeição em um simples ensaio. Que Hayato não devia ser tão bonzinho, pois a vida apenas devolvia bondade com um pontapé no traseiro. Que Ikeuchi devia ser menos brisado e mais realista, afinal ele não poderia ser um mestre Pokemon, nem um herói no apocalipse zumbi, muito menos estudar em Hogwarts. Que Takeo ia morrer de forma lenta e dolorosa se continuasse tão sacana, engraçadinho e abusado.

Mas não.

Ele aprendera a respeitar aquelas diferenças, pois apesar de tudo estavam funcionando como um grupo. Eram bons, faziam boas músicas. Que surpreendente.

Tinham o sucesso, o dinheiro, os singles e álbuns nas paradas de sucesso para comprovar isso.

Quem diria que iriam tão longe, que construiriam uma amizade sólida, verdadeira, que tudo daria certo e o sonho seria realizado.

Teruo ia levantar-se da poltrona para pegar a guitarra e tirar algumas notas quando ouviu vozes conhecidas e animadas no corredor. Então a porta se abriu e os cinco entraram no estúdio.

Continua...

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