domingo, 8 de janeiro de 2012

Parte 02 de 02

Feliz ano novo
Kaline Bogard
Parte 02 de 02

O primeiro a entrar no estúdio foi Takeo. Ele vinha com três caixas de pizza nas mãos e um sorriso enorme no rosto sem maquiagem. O guitarrista ruivo avistou o gêmeo de instrumento no sofá e acenou.

– Yo! Madrugou aqui?! – mas nem esperou resposta e continuou – Trouxe três sabores diferentes!

Arata entrou atrás do namorado, também trazendo três pizzas quentinhas. Sorriu para Teruo e foi colocar as embalagens junto com as que Takeo trouxera.

Em seguida passaram o baixista e o líder da banda. Jin trazia duas caixas de pizza e um fardinho de cerveja, enquanto Jack tinha dois fardinhos de cerveja geladinha na mão.

– Festa! Festa! Festa! – o mais alto bradou sorrindo e exibindo seus “tesouros”. Jack apenas rolou os olhos.

Por último entrou Gensuke san, com uma caixa de uma famosa confeitaria e mais cerveja.
Todos tinham sacolas de diversos tamanhos, além das guloseimas.

– E onde estão os meus gatinhos preferidos? Ah, estão todos aqui! Posso começar a bulinar?

Takeo vaiou rindo.

– Se for pra passar a mão, fica longe do meu namorado – abraçou Hayato por trás, prendendo-o pela cintura – Pega um dos outros três ali.

– Meu ursinho não pode! – Jin correu para o lado de Jack e o prendeu junto ao próprio corpo, aproveitando para reclinar-se e depositar um beijo carinhoso na curva do pescoço do baterista, que suspirou enlevado. Não gostava de melosidades, mas era inegável que um carinho do mais velho era bem vindo.

– Ohhhhh Yura san... – o estilista falou num tom de voz esganiçado propositadamente – Só sobrou um pra eu bolinar... adivinha quem?

O moreno pegou um cigarro e enquanto acendia tranquilamente respondeu.

– Gomen, o mar aqui não está pro seu peixe.

Foi impossível não rir. Não tanto pelo comentário pouco elaborado, Teruo estava longe de ser o mestre das piadas, mas apenas pelo fato dele ter relaxado, brincado de volta e entrado no clima... isso sim era uma grande vitória e algo pra ser comemorado.

Arata libertou-se e foi até a mesa, abrindo uma das caixas de pizza. Pegou um pedaço para si, segurando com a mão mesmo. O queijo esticou e atiçou o apetite dos outros que atacaram sem dó.

Além da pizza abriram garrafinhas de cerveja gelada.

Gensuke limpou a garganta e levantou sua bebida.

– Crianças... esse ano a P”Saiko não apenas manteve o sucesso alcançado, vocês conseguiram aumentar o número de fãs aqui e overseas. Sabem porquê? – não esperou resposta e continuou – Porque vocês tem um coração lindo. E isso é fundamental para atingir o coração de quem escuta suas músicas. E... bem... eu amo vocês todos. Obrigado por dividirem a noite comigo. Kanpai!

– Kanpai! – disseram todos.

– Oras, G-san – Arata tomou a palavra – Se não fossem as suas roupas, não teríamos tanta segurança nos lives. Nosso trabalho é Visual Kei. Isso envolve desde nossas composições até a performance no palco. E nisso você é um companheiro muito importante.

– Amamos as roupas do Gensuke san! – Shibuya falou animado – Aquela de cachorrinho foi perfeita! Na próxima vez desenha um tigre!

A idéia foi vaiada por Takeo. Arata, Teruo e Gensuke riram enquanto Jack rolava os olhos segurando um sorriso.

– Bem – Gensuke também tinha deixado toda sua classe de lado para juntar-se aos cinco e degustar a pizza ainda quentinha – Vamos começar logo com isso? Eu sofri muito tentando decidir o que fazer da minha vidinha, mas tudo deu certo e eu quero fazer logo! Se é que me entendem...

– Eu começo – a voz de Teruo foi taxativa. O cigarro balançou no canto dos lábios cheios enquanto ele falava e ia ficando de pé.

Os outros silenciaram, exceto por Takeo.

– Tira tudo! – o ruivo provocou.

– Cala a boca, Shiroyama – o líder da banda que ralhou, curioso para que continuassem a comemoração.

– Aff, ridaa estressado. Eu ia dar uma gorjeta – agitou uma nota que ninguém o tinha visto pegar.

– Vai logo, Yuura – Jack exigiu.

O guitarrista mais velho sorriu torto fazendo um pouco da cinza do cigarro cair no chão, flutuando imperceptível para os demais, tamanha a atenção que mantinham no rapaz. A expectativa era imensa. Shibuya e Arata eram de longe os mais inquietos, já que ambos adoravam aquele tipo de coisa.

– Meu amigo secreto – Teruo respirou fundo – É o Izumi.

Houve um instante de silêncio antes que os protestos viessem.

– Não é assim Teruchi! – Jin reclamou com um bico.

– Ora, Teruo... você quer estragar tudo? – Takeo também ficou surpreso.

– Aff, Yura... roubou minha idéia – o líder da banda foi o único que não se decepcionou.

– Vamos continuar! E o próximo que fizer graça vai ver só quando eu desenhar o próximo visual da banda – Gensuke ameaçou antes de dar um gole na cerveja. O tom sério somado ao histórico conhecido dos trabalhos de moda do homem causaram arrepios nos P”Saiko. O estilista não estava brincando.

Hayato adiantou-se e pegou o presente que Teruo lhe estendia.

– Arigatou – enquanto o abria. Era uma frasqueira em formato retangular, com estampa de flores de laranjeira num fundo escuro. Era de tamanho prático e, quando o vocalista a abriu, notou muitas divisões internas. Perfeito para guardar e carregar todos os seus cosméticos, fato que o deixou verdadeiramente grato. Teruo mostrara bom gosto e praticidade ao escolher o presente – É linda!

O mais velho acenou e voltou a sentar-se, não sem antes pegar um pedaço de pizza.

– Certo – Arata tomou a palavra, tornando-se o centro das atenções – O meu amigo secreto é uma pessoa linda...

– SOU EU! – Takeo cortou estufando o peito, em troca, recebendo um olhar feio por parte do namorado.

– Uma pessoa gentil e agradável...

– Já disse que sou eu! – o ruivo inquieto voltou a cortar, tirando risinhos de Gensuke e Jin. Hayato ignorou pela segunda vez.

– Meu amigo é uma pessoa que cativa muitos ao seu redor e...

– Aff, Arata! Diz logo que sou eu! – o guitarrista ruivo estava disposto mesmo a irritar seu amante.

– Mas meu amigo secreto sabe ser um pé no saco as vezes... – Arata completou irritado e sacana.

Shiroyama ficou quieto daquela vez. Shibuya cobriu os lábios com as mãos para não rir, enquanto Gensuke ria abertamente. Até Jack sorriu do jeito do ruivo.

– TAKEO! – Arata brigou – É você mesmo! Meu amigo secreto.

– Ei! Desde quando meu namorado diz que eu sou um pé no saco?

O ruivo levantou-se, deixando a garrafinha de cerveja no chão. Aproximou-se do amante, que segurava um embrulho pequeno e fino, sem duvidas um CD, e o abraçou apertado.

– Não apenas seu namorado diz isso– Jack provocou. Em troca Takeo mostrou-lhe o dedo do meio. Então abriu seu presente. Não tinha grandes expectativas, afinal já sabia que era um CD.

Porém, assim que rasgou a embalagem, seus olhos se arregalaram de surpresa e emoção.

– O primeiro... o primeiro CD da Phantasmagoria?! A... edição especial assinada pelos integrantes...?! Como conseguiu isso? É raríssimo!

Arata sorriu e deu de ombros.

– Um passarinho me ajudou – piscou para Jin, que sorriu de volta.

O vocalista ficou feliz que seu namorado tivesse apreciado tanto o presente. Sabia o quanto ele admirava aquela extinta banda.

Recompondo-se enquanto Hayato saia de cena, Takeo limpou a garganta, segurando seu precioso tesouro numa das mãos e o presente que comprara na outra.

– Meu amigo secreto é alto – nesse ponto Shibuya ficou eufórico. Era ele ou Teruo – Tem uma alegria que nunca vi em ninguém antes. Cultiva uns hábitos estranhos e coleciona coisas que não se vê por aí... além disso tem um namorado que é totalmente o contrário dele.

Nesse ponto todos olharam para Jin. Não havia dúvidas de quem era o amigo secreto de Takeo.

– Meu amigo secreto é o Jack.

– Ariga... ee? – Shibuya, que já começara até a agradecer se espantou, assim como os outros – O meu ursinho?

Takeo respondeu com uma risada.

– Eu não ia entregar os pontos assim tão fácil. Destemido ridaa, aqui está o seu presente.

O baterista ficou preocupado. Takeo não era a pessoa mais indicada para se ter como amigo em uma daquelas brincadeiras. Olhou o presente, que era de bom tamanho, e tentou imaginar que coisas terríveis poderiam estar embrulhadas ali.

– Coragem! – Gensuke san gritou fazendo todos, menos Jack, rir.

Decidindo-se, o moreninho pegou a sacola e abriu, sem mais cerimônias.

Surpreendentemente encontrou uma jaqueta de couro preta, com algumas correntes e pinos, de muito bom gosto.

– Deu uma dentro, Shiroyama – foi tudo que Asamura disse. Takeo entendeu que era o mais próximo de um “obrigado” que receberia do caçula, mas era o suficiente.

Tomando a vez, Jack pensou em entregar logo quem era seu amigo secreto, porém lembrou-se da ameaça de Gensuke e mudou de idéia. Não queria aparecer no próximo visual com algo bizarro ou nada a ver.

– O meu amigo secreto é uma pessoa especial. Um companheiro que não faz parte da banda como músico, mas está presente em cada live, em cada entrevista e photoshoot.
Fez um silêncio cheio de suspense, mas todos já haviam matado a charada.

– G-san! – Jin bateu palmas.

Os outros também bateram palmas. Jack tinha resumido bem: com todas as suas crises e loucuras Gensuke acabara se tornando uma peça importante na caminhada rumo a concretização de seus sonhos.

Feliz, o estilista se adiantou e pegou o envelope que o baterista lhe estendia. Assim que o abriu soltou um gritinho animado.

– Vale um jantar romântico e permanência dupla de um final de semana neste SPA?! Ryuu chan, como conseguiu isso? A fila de espera é de três meses!

O líder da banda sorriu misterioso. Não podia revelar que recorrera a antigos contatos da máfia. Contatos bem influentes, por sinal. Pensara até em conseguir uma estadia de uma semana, porém Gensuke nunca conseguiria tal folga na gravadora pelos próximos dias. Melhor dar algo que ele pudesse aproveitar junto com alguém que amasse.

– Grande, Gensuke san! – Takeo exclamou.

– Omedetou – Arata vibrou junto com o namorado.

– Domo arigatou!

Jack apenas meneou a cabeça e voltou para o lado de Shibuya. Gensuke guardou o presente e em seguida segurou uma caixa que parecia bem leve.

– O meu amigo secreto me ensinou a ver o mundo com outros olhos, a vencer um preconceito e a conhecer uma outra forma de ver o mundo. Me obrigou a ir para uma parte de Tokyo que eu nunca imaginaria ir. E deu a dica do que queria ganhar em praticamente todas as suas entrevistas.

Os rapazes olharam de Jin para Teruo. Podia ser qualquer um dos dois. Gensuke resolveu dar a dica decisiva.

– Eu soube que meu amigo secreto tem um abajur do Pikachu no quarto...

– Ahhhhh sou eu! – Jin esfregou as mãos. Finalmente era a sua vez.

– Tinha que ser – Takeo riu – Bendito abajur!

O baixista pegou a caixa das mãos do estilista. Quando abriu, seus olhos brilharam e ele pulou sobre Gensuke o abraçando com força.

– Garage kit da Ayaname Rei!

– Sei que não é o mesmo que você quebrou e sempre comenta nas entrevistas, aquele é difícil de achar.

– Mas esse é muito legal também! A edição que ela está com o EVA do Shinji porque... hum... é muito legal! Sugoi, sugoi!

Só então Gensuke sentiu-se aliviado. De todos, na sua opinião, o baixista era o mais difícil de se presentear, principalmente por que tinha medo de comprar algo infantil demais e acabar ofendendo-o.

Quase saltitante, Jin foi guardar o presente e pegou o que daria para o seu amigo. Mentalizou planos entusiasmados de passar janeiro montando seu modelinho e pintando!
Ao voltar para o centro do estúdio Ikeuchi fez um ar de mistério.

– O meu amigo secreto...

– Ah, fala sério, Shibuya! – Takeo cortou – Seu amigo é o Teruo!

– Como sabe? – o otaku soou levemente decepcionado. Ensaiara tanto para dar as dicas e no fim nem conseguira!

– Por que só sobrou ele, primo – Hayato explicou cheio de paciência.

– Vai, Inferninho. Entrega logo o presente – Jack exigiu depois de dar um gole na cerveja. Estava louco pra saber o que o amante comprara.

Dois poderiam ser considerados perigosos ali: O primeiro era Takeo, por sua conduta sacana ele compraria algo pra zoar com seu amigo. O segundo era Jin, por sua não intencional falta de noção.

Yura jogou a bituca de cigarro no cesto e aproximou-se com os olhos na caixinha que Jin lhe estendia. O que haveria ali dentro? Uma pokebola? Uma bandana ninja? Uma esfera do dragão?

– É um relógio! – Teruo exclamou ao abrir o presente. E um relógio bem bacana, diga-se de passagem. Pelo tom de voz os outros perceberam sua incredulidade, alias, compartilhada pelos demais.

– Perguntei pra minha mãe...

A explicação de Jin arrancou um “ahhhhhhhhh” coletivo. Agora sim fazia sentido.

– Bem, está encerrado. Agora só nos resta destruir as pizzas! – Takeo afirmou feliz.

– E a cerveja – Teruo completou, experimentando seu relógio novo. Nunca pensara que um dia gostaria do presente dado por um otaku.

– Quero propor um brinde – Arata disse, então ergueu a garrafinha de cerveja – Que nesse novo ano nossa união continue tão sólida quanto agora.

Takeo ergueu sua garrafinha e tocou na do amante.

– Que a amizade sempre traga bons momentos.

Jack ergueu a dele e brindou em seqüência.

– Às boas músicas que vamos compor.

Jin sorriu, ergueu a garrafinha e bateu nas que já estavam erguidas.

– Aos fãs que se emocionarão com nossas músicas – seu brinde veio em complemento ao do baterista, que sorriu enquanto trocavam um olhar.

– A amizade. Porque é valiosa e insubstituível – Gensuke san aproximou-se e juntou-se ao brinde coletivo.

Teruo, o último a erguer a garrafinha de cerveja, não se demorou mais.

– A nós – elevou sua bebida fazendo com que as seis se encontrassem no ar – E ao futuro, com todas as coisas boas e ruins que ele nos reserva.

– Kanpai! – juntos selaram o brinde e voltaram a comemorar, felizes não apenas com os presentes trocados, mas por poderem se reunir e comemorar o ano novo que chegava.

Fim

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