Brain and Pink
Kaline Bogard
Parte II
Dali Takeo e Jin rumaram direto para o apartamento do guitarrista. Shiroyama não se conformava com o rumo que seus planos haviam tomado. Tentara discar para o celular de Arata, mas o parelho estava desligado.
– Fica a vontade. – resmungou para o mais velho, indo guardar os capacetes sobre a estante.
– Hn. – Jin agradeceu e foi sentar-se sobre o confortável sofá, largando a mochila no chão, encostada ao móvel.
– Isso não pode estar acontecendo... – mal humorado, Takeo começou a andar de um lado para o outro. – Que merda.
– Deve ter uma explicação.
– Explicação? Pros dois trancados no apartamento do Jack? – o ruivo balançou a cabeça de um lado para o outro – Teria... se não fosse a conversa que eu ouvi hoje cedo. Foi muito explicito.
– Oh!
–Você não ouviu Shibuya. – o dono da casa parou de andar em frente a estante. Os olhos esquadrinharam a coleção de livros, alguns ganhara de Arata – Os sussurros... o jeito deles...
– É terrível... – Jin sussurrou.
– Eu sei. – a afirmação veio seguida de um profundo suspiro.
– O que eu faço agora?
Antes de responder, Shiroyama pegou um porta-retratos que estava na frente dos livros. Um sorriso triste adornou os lábios sensuais acostumados, geralmente, a recurvar-se em zombaria:
– Queria saber o que eu faço. – a foto fora tirada por Hana chan, na primeira vez que a garota viera a Tokyo. Mostrava Arata e Takeo no térreo da Tokyo Tower, muito próximos um do outro. Felizes.
– Acho que vou morrer.
Takeo apertou o porta-retratos com força, contagiado pelas palavras de Jin. A frase do baixista era um reflexo do que sentia. Amava Arata. A simples possibilidade de perdê-lo, de não tê-lo mais ao seu lado causava uma dor tão profunda... como o desejo de morrer.
Por que Hayato era o sol que iluminava sua vida. Que trazia o brilho e lhe dava um sentido. O que acontecia com as flores quando não havia mais o calor do sol? Elas secavam. Secavam até murchar.
– Dói um bocado, não é, Jin?
– Se eu morrer assim vou virar um zumbi!
– Não existe nada pior do que virar um... – Takeo franziu as sobrancelhas – Zumbi?!
Voltou-se pra olhar o baixista e companheiro de banda. Shibuya estava bem refestelado em seu sofá, com o PSP na mão, olhando a telinha todo concentrado:
– E nem deu tempo de salvar a fase... – lamentou, frustrado por ter sido cercado pelos zumbis e seu personagem ter perdido.
– Ikeuchi! Que porra é essa? – o ruivo perguntou no auge da indignação. Ele estava ali fazendo confidencias e abrindo seu coração e o mais velho não parecia ter ouvido uma única palavra!
– Isso é um PSP, nunca viu? – o baixista explicou cheio de boa vontade – Posso te arrumar um se você... – calou-se e abaixou-se para desviar-se do porta-retratos que Shiroyama jogou em sua direção.
– Você ta me gozando, baka?!
– Eu? Não! – suou frio olhando para o objeto que se trincara ao bater contra a parede do outro lado da sala. – Que mira horrível, Tachi. Se fosse um jogo você já teria morri...
Calou-se outra vez. Em dois passos o ruivo se aproximara e tomara-lhe o eletrônico das mãos:
– Sabia que PSPs podem voar também? – enquanto falava arremessou o brinquedo pela janela aberta – O que acha da minha mira agora?
– Meu PSP! – Jin exclamou de queixo caído.
– Se você não vai levar a sério o que está acontecendo é melhor dar o fora e me deixar agir sozinho.
O baixista fixou os olhos brilhantes no mais novo:
– Tachi está ficando paranóico. O Arata e o Jack não fariam nada tão ruim assim.
– É? Mas eles estão juntos no apartamento do riida e...
– E nós estamos juntos no seu. – Ikeuchi pegou a mochila e colocou nas costas – Nem por isso estamos fazendo algo ruim, estamos?
–... – Takeo relaxou os ombros, mas não soube dar uma resposta. Diante do silêncio do ruivo, Ikeuchi meneou a cabeça:
– Cérebro, relaxa. Amanhã a gente brinca mais de detetives. Agora eu vou pra Akiba ver se consigo um PSP novo por lá. E também pra comprar uma Sailor Mars. Ja nee!
Acenou em despedida e foi embora. Takeo observou a saída do otaku. Queria saber se ser como ele tinha alguma vantagem. Viver alheio as coisas que aconteciam, ter uma perspectiva diferenciada de tudo. Conseguir resistir e ficar firme. Talvez aquilo não passasse de uma eficiente auto-defesa.
Uma auto-defesa que Shiroyama não tinha.
Cansado, deixou-se cair no sofá.
–Izumi... onegai...
Takeo cobriu o rosto com as mãos e respirou fundo. Não sabia se resistiria a uma decepção daquelas. Amar e confiar... teria forças para juntar os caquinhos outra vez...?
Outra vez...
oOo
No dia seguinte Takeo não saberia dizer se a atitude de seus dois companheiros era suspeita ou apenas fora ampliada por suas desconfianças. A verdade é que Arata parecia bem animadinho... e cantara de uma maneira impressionante, dando tudo de si.
– Já chega. – O líder da banda encerrou o ensaio satisfeito com a performance do grupo.
Enquanto guardavam os instrumentos, Shiroyama aproximou-se do amante e o tocou na cintura:
– Posso te levar embora hoje?
Arata ficou sem jeito:
– Gomen, koi. Combinei de ir com o Jack em uma loja.
– Asamura? – Takeo soou amargo. Estava sendo trocado outra vez!
– Eu prometi. Não posso voltar atrás.
O ruivo olhou atravessado para o baterista parado do outro lado da sala, cochichando algo com Ikeuchi.
– E posso saber aonde vocês vão?
– Ao shopping. Depois pra casa do Jack... ano... repassar umas musicas...
A resposta veio tão rápida e automática, que só podia ser uma mentira bem ensaiada. Shiroyama virou-se e encarou o amante nos olhos. Travaram uma batalha silenciosa por alguns segundos, até o guitarrista dar-se por vencido:
– Então vou sair com Shibuya.
Hayato sorriu:
– Combinado. Tomem cuidado, okkei?
Com um bico enorme Takeo viu seu namorado oficial sair acompanhado com o líder da banda.
– Cérebro, desencana. – Jin aproximou-se pronto pra ir embora também – Eles não iam fazer nada de forma tão explicita...
– Vou segui-los.
Shibuya franziu as sobrancelhas achando que não tinha entendido direito.
– Nani?
– Vou segui-los! – animou-se subitamente. Segurou o mais velho pelo pulso, puxando-o a passos rápidos, com medo de se atrasar demais e dar tempo dos companheiros de banda escapar de suas vistas – Você vem comigo.
– Mas... mas... mas... Tachi!
O ruivo não respondeu nada. Tinha um capacete extra que guardava para dar carona pra Izumi. Ia desvendar aquele mistério de uma vez. Porque, fosse lá o que fosse, Asamura e Hayato estavam escondendo alguma coisa.
Não foi nem um pouco difícil alcançar os dois e segui-los discretamente, mesmo depois de Jack sair com sua moto. Logo estavam misturados no trafego intenso de Tokyo, juntando-se ao fluxo.
Sensatamente Takeo deu alguma distância, o suficiente para não ser reconhecido, sem perder a moto do líder de vista.
Pouco a pouco foram se afastando até Ginza. Não avançavam em direção a nenhum shopping que Takeo conhecesse. E o ruivo levou um susto memorável quando viu Jack diminuindo a velocidade até estacionar em frente a um prédio de fachada escura e suspeita.
– Aquilo é... – sussurrou – Um Sexshop!
Imediatamente Jin inclinou-se na moto pra poder enxergar melhor.
– Onde? Deixa eu ver!
– Eles entraram em um Sexshop. E depois vão pra casa do Jack?
– Ih... – Jin deu uma risadinha – Parece que vai render...
A insinuação fez Shiroyama se arrepiar:
– Tá feliz porque, baka? Seu namorado vai virar amante do meu! Eu disse esse tempo todo, não foi?
Com um suspiro Jin desceu da moto e sentou-se na calcada. Tirou o capacete, deixando os cabelos bagunçados:
– Vamos lá falar com eles? Pedir uma explicação.
– Não. – Takeo estreitou os olhos.
– Mas conversar não é a melhor opção?
– Hai, hai. Mas esse não é o lugar certo... – Takeo mordeu os lábios após afirmar misterioso.
– Amanhã no estúdio? Na frente do Teruchi? – Shibuya não gostou muito da possibilidade. Podia deixar Jack irritado.
Ao responder Takeo voltou a exibir um dos seus antigos sorrisos, um daqueles que indicavam que estava prestes a aprontar:
– Você tem a chave do apartamento do riida, não tem?
– Tenho. – Jin respondeu sem entender onde o ruivo queria chegar.
– Então me dá. – Shiroyama estendeu a mão. – Vou esperar por eles lá.
Shibuya mexeu-se incomodado. De repente conversar no estúdio, mesmo que na frente de Teruo, parecia uma idéia agradável e colorida:
– De jeito nenhum! O Jack me mata se eu fizer isso.
– Ikeuchi, me dá essa chave.
– Não! – o baixista segurou as alças da mochila com força e ficou em pé, largando o capacete no chão. – Chega, Tachi. Já é errado ficar seguindo os dois! Se não parar...
– Jin, eu sou o seu melhor amigo, não sou?
O mais velho piscou:
– É.
– Amigos sempre ajudam amigos. Não precisa me dar a chave, venha comigo e daí a gente espera junto.
– O Jack não vai gostar disso.
– Se não me ajudar não vai poder ser mais meu amigo. – não falava a sério, mas Jin não precisava saber que era apenas uma chantagenzinha inofensiva...
Shibuya arregalou os olhos:
– Nani?
– Se o Jack ficar nervoso com você juro que assumo toda a responsabilidade. Você não quer conversar com eles e descobrir porque estão fazendo isso tudo escondido? Hein?
Jin balançou a cabeça para baixo e para cima em resposta. Queria sim, descobrir. Mas não queria deixar Jack zangado ou magoado no processo. De um jeito ou de outro as coisas haviam se complicado e a brincadeira perdera toda a sua graça.
Sem querer enrolar mais, pois os dois poderiam sair da loja a qualquer segundo, Takeo recolocou o capacete e ligou a moto.
– Sobe logo. Vamos esperar por eles no apartamento de Jack e fazer uma surpresinha.
O otaku apertou os lábios. Jack zangado ou perder a amizade de Takeo? Escolha que não queria ter que fazer. Respirou fundo e quando deu por si já pegava o capacete do chão e subia na moto.
Ia ganhar algum tempo e ver se, com alguma sorte, conseguia pensar em algo para sair daquela sinuca.
Continua...
Notas finais: Isso era pra ser uma oneshotezinhainha... e acabou se arrastado por três partes inteiras! Isso me lembra os velhos tempos, quando eu digitava aquelas fics enrolation de Weiss Kreuz e Gundam Wing.
Bons tempos.
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