Brain and Pink
Kaline Bogard
Parte I
– Jack, você tem que fazer isso comigo! – a exclamação de Arata soou meio contida através da porta entreaberta. Imediatamente Takeo congelou-se no ato de tocar a maçaneta e tentou escutar o resto – Onegai.
– Não. – Takeo ouviu a resposta curta e grossa do líder da P”Saiko. Mas, aparentemente, Arata não se assustou:
– Sei que você e o Jin nunca fizeram isso antes... prometo que ensino direito. Você vai gostar e se arrepender de não ter feito antes.
“Mas que merda...”, o ruivo pensou começando a se irritar. O que Arata estava propondo para o baterista?!
– Jack, eu vou no seu apartamento hoje. Vamos fazer isso de uma vez... – o tom de voz do vocalista passou a ser sussurrado, como se contasse um segredo.
Takeo abaixou-se e aproximou o rosto da porta. Arata parecia decidido! Porém naquele momento ouviu uma voz animada e recém chegada lhe saudando:
– Ohayou, Tachi!
– Kuso, Ikeuchi! Cala essa boca! – o ruivo praguejou baixinho temeroso de que os dois dentro do estúdio escutassem. E aparentemente foi o que aconteceu, pois os sussurros acabaram.
– Porque...? – Shibuya franziu as sobrancelhas. As mãos seguravam a alça da case, pesada de tantos bottons.
– Esquece. – o guitarrista respondeu de mau humor. Não adiantava chorar sobre o leite derramado. Sem mais opções acabou entrando na sala.
Encontrou Arata sentado no sofá, segurando a letra de uma das músicas da P”Saiko. Jack estava próximo à sua bateria, com as mãos no bolso.
– Ohayou! – Hayato cumprimentou o namorado com um sorriso estranho nos lábios. – Você chegou mais cedo hoje, koi.
Shiroyama estreitou os olhos. Não gostou nem um pouco do “sorrisinho social” que recebera do namorado.
– Caí da cama. – respondeu. Não era hábito chegar tão cedo na gravadora. Mas nem imaginava que Jack e Arata andavam madrugando também.
– Ohayou, minna! – Jin entrou em seguida, tumultuando como sempre. Aproximou-se de Jack e o estreitou nos braços, como se apertasse uma pelúcia – Ohayou, Ursinho.
O líder da P”Saiko ficou meio sem graça e respondeu a saudação baixinho. Apesar de não demonstrar, adorava aqueles momentos de carinho.
Teruo entrou em seguida, arrastando os passos. Tinha um cigarro pela metade pendurado no canto dos lábios e a expressão de quem atravessara a madrugada em claro.
– ‘Hayou. – lançou em guisa de cumprimento, fazendo os outros rirem.
Aquela foi a deixa que Ryuutarou esperava para assumir o papel de líder e dar a ordem para começar os ensaios.
Apesar de vigiar atentamente, Takeo não registrou nada de suspeito acontecendo entre Arata e Jack. E começou a se achar idiota por desconfiar daqueles dois.
Fato que mudou quando Jack deu o dia por encerrado.
– Basta. – o moreninho disse – Foi muito melhor do que ontem.
Os outros quatro concordaram. Depois de aguardar a guitarra, Takeo aproximou-se de Arata:
– Quer carona, koi? Podemos tomar algo antes de te deixar em casa.
Arata sorriu daquela forma que tirava o fôlego das pessoas:
– Obrigado. Jack vai me levar.
A afirmativa foi como um golpe para Shiroyama. Suas suspeitas voltaram com força total:
– Jack...?
– Hn. Eu vou mostrar uma coisa pra ele. Não se preocupe. – e o vocalista deu um selinho no namorado que, de canto de olho, viu Jin e Jack se despedindo também. – Ja nee.
Arata e Jack saíram silenciosos. Teruo ajeitou a mochila nas costas e depois de olhar longamente para Takeo foi embora.
– Bye, Tachi. – Jin acenou e ia saindo, quando o guitarrista grudou um punhado dos chaveiros de plaquinha e puxou Shibuya pra trás, desequilibrando-o – Ei!
– Espera... – movendo-se feito um gatuno Shiroyama foi até a porta e espiou de um lado para o outro – Quero falar com você.
– Nani? – Jin estranhou o jeito do mais novo.
– Eu acho que... não... eu tenho certeza que está acontecendo alguma coisa entre o Arata e o Jack.
– Como assim? – Shibuya não entendeu.
– Tsc. Eles estavam conversando a hora que eu cheguei e... – ficou quieto. Era doloroso dizer uma coisa daquelas.
– E...? – o baixista incentivou.
– Eles estão tendo um caso. – Takeo falou chocado, como se só naquele momento desse acordo da gravidade de suas deduções.
– O que? – Ikeuchi arregalou os olhos. – Como assim?
– O seu amante, baka, está saindo com o meu! – o ruivo pareceu descontar a raiva e frustração no companheiro de banda.
A resposta não demorou nem meio segundo para ser ouvida:
– Tecnicamente ele não é meu amante, Tachi. – Jack e eu ainda não... ano... você sabe.
E o guitarrista ruivo viu que aquilo seria difícil. Muito difícil.
– O seu namorado está saindo com o meu amante. Melhorou? – resmungou irritado.
– De onde tirou essa idéia? O Jack nunca faria algo assim. Nem o Arata. – Jin riu das desconfianças do guitarrista.
– Eu ouvi eles conversando hoje de manhã.
Shibuya riu mais um pouco e dando de ombros virou-se pra ir embora:
– Matta ne! –despediu-se. Não deu nem dois passos e sentiu Takeo grudando na parte de trás da gola da sua blusa e começar a arrastá-lo consigo.
– Pois vamos tirar essa história a limpo!
–... – Jin não conseguiu responder. Levou as mãos à blusa tentando aliviar o aperto e não sufocar, conformando-se em seguir o ruivo da melhor forma que podia, caminhando de costas sem ver o caminho.
oOo
– Acho que eles já chegaram... – Takeo tentava enxergar algo no prédio onde Jack morava.
– Será? – Jin esticou o pescoço, forçando a vista por cima da cabeça do ruivo. Ambos estavam semi-escondidos na curva da esquina, espiando a residência do líder da banda, querendo passar despercebidos, apesar de atrair olhares desconfiados dos transeuntes.
– Tem uma janela aberta. – Takeo ergueu o dedo e apontou.
– Hn. – Jin balançou a cabeça. Acabara desistindo de contrariar o guitarrista e entrara no jogo. Estava se divertindo, brincando de detetive. Primeiro haviam feito hora pelas ruas, depois seguiram para a casa do baterista. A moto de Shiroyama estava estacionada duas ruas abaixo, para não chamar atenção...
– O plano é o seguinte: você vai lá e tenta entrar.
– Eu?! – Shibuya apontou surpreso pra si mesmo.
– Claro. Aposto que foi o seu amante que seduziu o meu.
– Meu namorado...
– Que seja. – Takeo resmungou. – Agora vai lá. – empurrou o baixista pra fora do esconderijo.
Jin olhou pra trás e viu o ruivo acenando apressado, para que fosse em frente. Acabou suspirando e obedecendo. Aquela brincadeira começava a perder a graça. E ficaria pior quando Jack descobrisse. Tinha certeza de que o moreninho se aborreceria.
Andou a passos lentos até chegar ao prédio. Subiu as escadas contando degrau por degrau. Quando parou em frente a porta de Jack, respirou fundo duas vezes, e apertou a campaninha.
Esperou longos minutos. Ia apertar pela segunda vez, quando a porta se abriu e um baterista muito mal humorado surgiu:
– Nani. – Ryuutarou perguntou abrindo um vão mínimo na porta.
– Jekichi! Tudo bem?
– Tudo. O que quer?
– Um namorado não pode visitar o outro? – Jin perguntou tentando espiar se Arata estava mesmo lá dentro.
Mas Jack estreitou os olhos antes de responder:
– Não. – e fechou a porta.
Shibuya arregalou os olhos e ficou encarando a folha de madeira por longos segundos antes de dar meia volta e regressar apressado para junto de Takeo.
– E então? – o guitarrista perguntou.
O mais velho ficou alguns segundos em silêncio. Finalmente contou o que acontecera.
– Eu sabia! – Shiroyama deu um soquinho no ar – Izumi está lá. Deixa que eu vou para o plano B.
Pisando duro, caminhou para a casa de Jack. Tomou o elevador e em segundos estava parado em frente da casa do baterista da mesma forma que Ikeuchi estivera alguns minutos atrás.
Tocou a campainha impacientemente duas vezes, sem nem dar tempo entre os sons. Quando a porta foi entreaberta, colocou um sorriso nos lábios e fitou a expressão de poucos amigos com a qual Asamura atendera:
– Jack, amigão. Eu estava passando e...
O baterista bateu a porta com um estrondo cortando a frase do guitarrista. Perplexo, Takeo ouviu o som da chave sendo passada pela fechadura. Em seguida uma, duas e três trancas sendo engatadas.
Sem alternativa voltou para o posto de observação na esquina. Jin estava sentado no chão, folheando um manga:
– Como foi, Pink? – o baixista perguntou sorrindo. Diante do olhar confuso que recebeu, Shibuya continuou: – A gente ta tipo o Cérebro e o Pink, aqueles ratinhos que sempre tentam dominar o mundo. Eu sou o Cérebro!
E Shiroyama fez uma cara tão feia, mas tão feia, que Ikeuchi engoliu o sorriso e tratou de remendar:
– Pode ser o Cérebro. Eu sou o Pink. Um tigre Pink, estilo a Pantera cor-de-rosa...
O guitarrista deu um tapa na própria testa e começou a se afastar. Aquele garoto sentado no chão não tinha a menor noção do que estava acontecendo. Queria ter tal nível de alienação. Talvez assim Takeo não sentisse algo como aquela dor em seu coração.
– Vamos embora, Ikeuchi.
– HAI! – ficou em pé batendo continência – Vamos para o plano C, Cérebro?
Shiroyama sentiu uma vontade quase irresistível de chutar o baixista. Ao invés disso resmungou alguma coisa. No fundo segurou-se porque Jin tinha um mínimo de razão e sua mente aguçada já pensava no que podia fazer para tirar a prova do que acontecia entre Arata e Jack.
Continua…
Notas finais: Esse plot foi inspirado em um que a Kika começou a escrever. Ela me mandou, dizendo que ia desistir... mas estava tão bom que eu adotei e decidi continuar.
Mas quando sentei pra digitar, não consegui. Daí esse plot veio na minha cabeça, e eu percebi que tinha que mudar o POV e mais algumas coisinhas e... deu no que deu!
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