sábado, 20 de março de 2010

Capítulo 3 - A primeira semana

– CORTA!! – o diretor berrou novamente.  As pessoas presentes no set de filmagem já tinham perdido a conta de quantas vezes ouviram aquilo. – Izumi, venha aqui.

O vocalista da P”Saiko saiu do centro do cenário e aproximou-se do homem.  As belas feições contorcidas pelo desgosto.  Os outros membros da banda assistiam de longe, igualmente aborrecidos.


– Hn? – Hayato perguntou.

– Izumi san.  Eu preciso te lembrar a cada fala qual é o seu papel? – perguntou rude – Você não é simplesmente um homem, você é um macho.  Tente agir como tal!

A afirmação fez Hayato corar de raiva e vergonha:

– Mas...

– Quero que escarre e coce o saco na próxima tomada.

– OQUE?! – Izumi gritou surpreso.  Como assim ter que fazer aquelas coisas grosseiras na frente da câmera? – NÃO FAÇO ISSO NEM FODENDO!!

Era difícil ver o vocalista perder a compostura, mas o estresse e pressão das gravações estavam acabando com o humor dos atores principais.

O diretor nem pestanejou diante da explosão.  Seus olhos escuros brilharam e ele acenou com a mão:

– ÓTIMO!  Quero essa energia negativa revertida em ação.  Volte para lá e coce como um autêntico macho coçaria.

Izumi entreabriu os lábios de pura indignação.  Mas achou uma ordem tão absurda que não deu resposta.  Virou as costas e saiu do set.  Takeo correu atrás do namorado, indo ver se estava tudo bem.

O diretor, um homem de estatura mediana e barba rala, passou a mão pela cabeça careca e riu torto:

– Uma semana de filmagem e ele já tem ataque de estrelismo.  São todos iguais...

Sua experiência era vasta nesse campo.

oOo

– Teruo-chan... Teruo-chan... Teruo-chan...

– Jack-chan...

– CORTAAAAA!!!! – o diretor berrou.

Imediatamente Jack soltou as mãos de Teruo que estavam entrelaçadas as suas e afastou-se.  Ridículo.  Sentia-se ridículo com os diálogos escritos para ele.

– Venha cá, Teruo-kun! – Otomo, o diretor, chamou.

– Nani?

– Você é o personagem inocente desse filme.  E está interagindo com seu par romântico!  Tenha a decência de corar envergonhado!!

–...

– Core! – exigiu com o cigarro tremendo no canto dos lábios finos.

Teruo ergueu as sobrancelhas e trocou um olhar com Jack.  Então fechou os olhos com força.

Otomo observou por uns segundos, então perguntou:

– O que está fazendo?

– Tentando corar.  – Teruo respondeu.  O sarcasmo escorria em cada letra.

Jack sufocou uma risada.  Fato que ofendeu o diretor:

– Asamura!

O líder da P”Saiko aproximou-se ressabiado:

– Nani?

– Romantismo!  Quero romantismo!!  Você só tem essa cara de paisagem!!  Onde está o amor?  A doçura?  A gentileza?

Jack fechou ainda mais a expressão:

– Vou te enfiar a gentileza bem no...

– CORTA!! – Otomo berrou. – Vocês representam a inocência e amor que os fãs querem ver na P”Saiko!  Têm que levar a sério!  Voltem pra lá imediatamente!  Vamos tentar novamente!

Jack e Teruo se entreolharam e deram de ombros.  Estavam apenas os dois ali.  Arata, Shibuya e Takeo estavam experimentando alguns figurinos.

Posicionados, entrelaçaram as mãos e fitaram-se olhos nos olhos:

– Teruo-chan... – Asamura falou.  Mas seu tom era o de quem dizia “Eu mato aquele desgraçado.  Ah, mato!

– Jack-chan... – Os olhos do guitarrista brilharam sagazes.  Era como se dissesse: “Sabe quando vou corar envergonhado?  Quando o Japão ganhar a Copa do Mundo...

Não haviam conseguido gravar nem mesmo uma cena completa ainda.

oOo

– Eu.Juro.Ajudar.Os.Órfãos...

– CORRRRTAAAAAAAAAAAAA!

Jin soltou a respiração e relaxou o corpo tenso.  Arata olhou penalizado para o primo.  Nunca, nem em seus piores pesadelos, ia imaginar que o mais velho era um ator tão ruim...

– IKEUCHI!! – Otomo berrou, coisa que se repetia muito naquela semana.

– Na...nani?!

– Venha cá! – esperou o baixista se aproximar – O que pensa que está fazendo?!  Imitando um robô?!  Não fale como se fosse uma secretária eletrônica!!  Tente ser natural!

– Gomen!

– Volte pra lá!  E faça direito!

– Hai, hai!!

Correu para a frente de Arata.  Esperou o sinal de que podiam começar a cena.  Izumi colocou a mão no queixo e fez uma expressão de desgosto:

– Não admito que faça isso, Jin.  Está perdendo tempo...

O baixista engoliu em seco.  Agora era sua vez!  Cerrou as mãos e declarou:

– Eu.Juro.Ajudar.Os.Órfãos...

– CORRRRTAAAAAAAAAAAAAAAA!

Arata deixou os ombros caírem.  Era a quinta vez que paravam a cena naquele momento.  O pior de tudo?  Era a primeira fala que Jin tinha pronunciado nas gravações.

Ouviram a risadinha de Takeo ao fundo.  Teruo estava ao lado, com as mãos cruzadas na nuca, e Jack fumava o último cigarro do maço.  Havia acabado com ele nas poucas horas que estava ali.

– Ikeuchi! – o diretor agitou as mãos – Você está fazendo isso de propósito?!

– Não!

– Ninguém é tão ruim assim!  Dê o fora daí!  Vamos tentar outra cena!  Shiroyama, decorou as falas da tomada oito?

– Sim! – Takeo inflou de satisfação.  Estava louco pra mostrar do que era capaz.

– Ótimo!  Tome o seu lugar.  Luzes!!  Claquete!  GRAVANDO!!

Takeo começou a andar de um lado para o outro, como uma fera enjaulada.  Os olhos se estreitaram perigosamente.  De repente, ele era como uma ameaça velada desfilando pelo set.  Foi uma transformação tão surpreendente que Jack entreabriu os lábios, deixando o cigarro pender frouxo.  Teruo tirou as mãos da cabeça e quase assobiou.  Arata levou uma mão aos lábios contendo a exclamação de surpresa.  Jin esfregou os olhos sem acreditar no que via.

Aquele homem andando pelo set nem parecia o amigo brincalhão e despreocupado de sempre.  Era como outra pessoa.

– Vou destruir... vou destruir todos que ficarem em meu caminho e atrapalharem os meus planos! – e gargalhou de forma cruel.

– CORTA!  Isso foi perfeito, Shiroyama!  Não precisamos nem mesmo regravar!

Os outros P”Saiko se entreolharam.  Parecia que no meio daquela confusão toda, um talento verdadeiro havia se revelado.  Nada mal...

 

Continua...

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