sábado, 20 de março de 2010

Capítulo 2 - O que não tem remédio...

– Isso precisa melhorar muito pra ser chamado de lixo! – Jack jogou o roteiro sobre a mesa, bem em frente ao vice-presidente da gravadora, diretamente envolvido nas negociações sobre o filme.

– Acalme-se, Asamura. – pediu o produtor.

– Não me peça isso.


– Jack... – Jin chamou o líder da P”Saiko.  Sabia que seu namorado estava furioso.  Os cinco sentiam que gravar aquele texto ruim seria perigoso para a imagem deles.  Mas o produtor estava irredutível.

Sentando-se, o baterista contou mentalmente até dez.  Evitou olhar para os companheiros.  A frustração era fator comum entre os músicos.

– E os casais... – foi Takeo que reclamou.  Se perguntava como eles podiam ter feito as combinações mais surpreendentes.

– Realizamos uma pesquisa, Shiroyama.

– Ninguém me perguntou nada! – o ruivo insistiu.

– Entre os fãs da banda.

– O que?  Perguntaram pros nossos fãs? – Teruo ergueu as sobrancelhas.

– Sim. – o produtor continuou as explicações. – Colocamos uma enquête no blog do fã clube oficial e principais sites de relacionamento.

– Incesto venceu em primeiro com uma larga vantagem. – o vice-presidente sorriu para Hayato e depois para Jin. – Todos querem ver os primos juntos.  É o que vai render mais dinheiro.

Arata deu de ombros.  Ele não se importava em contracenar com o primo em um par romântico.  Já haviam feito fanservice antes.  Podiam ser naturais diante das câmeras.

– E o segundo casal foi Jack e Teruo.  Parece que os fãs enxergam muita... química entre vocês dois.

Teruo coçou a cabeça.  Não conseguia se ver como uke do líder da banda, mesmo que fosse atuação.  Achava que lhe sobrava o papel mais difícil.

– Então nossos fãs me vêem como um vilão? – Takeo perguntou com um bico monumental nos lábios.

– Eu não diria “vilão”, Shiroyama. – o produtor cruzou as mãos sobre a mesa – O termo mais acertado seria “vilão cafajeste filho de uma puta que não pode ver ninguém além dele mesmo se dar bem”.

– Culpa do meu sorriso. – o ruivo gracejou recostando-se na cadeira.  Resumindo, ele era o cara mau da história no filme. – E ainda sou cegamente apaixonado pelo Shibuya?!!  Porque que tudo de ruim sobrou pra mim?

– Tachi! – Jin exclamou.  Antes que dissesse mais alguma coisa o vice-presidente revelou:

– Resolvemos aproveitar o terceiro casal mais votado.  A maldade deflorando a inocência... os fãs adoram.

– Ei! – Takeo e Jin falaram juntos, indignados pela forma como as coisas foram expostas.  Agora Shibuya tinha um bico ainda maior do que o do ruivo.

– Eu seria um vilão perfeito! – o baixista afirmou convicto.

Mal Jin terminou de falar e a sala de reunião caiu em um silêncio tenso.  A risada de Takeo cortou o clima:

– Ahahahahaha!  Desencana, Shibuya.  Se tu é um vilão eu sou uma virgenzinha debutante.  Você seria um fracasso de maldade!

– Não seria não!  Eu vou ser o vilão! – Ikeuchi resmungou.

– Eu sou o vilão! – Takeo rebateu, subitamente querendo defender sua posição.  O vilão da história teria destaque.  E precisaria ser um ator muito bom para interpretar aquele personagem.  O papel era perfeito para alguém talentoso como ele!

– Takeo...

– Silêncio! – o vice-presidente cortou a disputa infantil – Cada um recebeu seu papel, não haverá mudanças.  Caso não estejam satisfeitos rescindam o contrato e paguem a multa.  Simples assim.

Nenhum dos P”Saiko respondeu.  Receberiam um cachê elevado para atuar.  E a multa para quebra de contrato era duas vezes maior.  Seria um rombo significativo nas finanças dos rapazes.  Desistir era uma opção pouco viável, talvez impossível.

Vendo a derrota expressa através do silencio, o produtor sorriu satisfeito:

– As gravações começam semana que vem.  Já providenciamos as passagens de avião.  Confio no talento de vocês. – e a reunião terminou ali.

oOo

– Filhos da puta! – o guitarrista ruivo estava possesso.  Sentia como se estivessem tentando sabotar a P”Saiko, obrigando-os a fazer um filme ruim.

– Takeo. – Arata colocou a mão sobre o ombro do amante e o sentiu relaxar.

– Koi... que merda jogaram na gente.

– Eu ainda queria ser o vilão. – Jin resmungou.  Não se animava para fazer o papel do bobo da história!

Jack respirou fundo e sentou sobre o sofá da sala de ensaio.  O resultado da reunião estava longe de ser o esperado.

– O que não tem remédio... – Teruo soou conformado.  Aceitou o cigarro que Jack lhe ofereceu.

– Um jeito de sair dessa é a Internet. – Jin sussurrou seguindo em direção à bateria de Jack, mas sentiu o olhar dele cravado em suas costas e desviou o rumo indo sentar-se numa cadeira.

– Como assim, Internet? – Arata não entendeu.

– A gente pode postar nos nossos blogs sobre isso, pedir desculpas pros fãs.  Quando o filme for estrear a gente faz vários posts.  Esse tipo de coisa.

– Pode funcionar. – Teruo concordou.  – Vai minimizar o estrago.

– E no fundo não existe má propaganda. – o guitarrista ruivo riu – Propaganda é propaganda.

Jack estava muito quieto, pensativo.  Não era tão otimista quanto seus companheiros.  Tinha experiência de vida suficiente para saber quando estava se metendo numa fria.  Mas permaneceu em silêncio.

Pouco importava que os fãs tivessem votado naquela enquête.  As coisas estavam todas trocadas.  Não podiam dar certo, afinal, eram músicos não atores.  Havia uma diferença gritante entre as formas de arte.

Um seme romântico e gentil para um uke envergonhado, tímido e introspectivo.  Esses eram os papéis de Jack que faria par com Teruo.

Um seme grosseiro e frio para um uke totalmente ingênuo e bondoso.  Os papeis de Arata e Shibuya.

Um vilão sem escrúpulos, sádico e invejoso.  A encarnação da maldade e crueldade.  Era o que sobrara para Takeo.

Papeis tão clichês e sem graça que era impossível um filme fazer o mínimo sucesso com uma base tão ruim.

Impossível...

 

Continua...

0 comentários:

Postar um comentário