sábado, 20 de março de 2010

Capítulo 4 - Já chega!

– Jin... aceite fugir comigo.  Com você ao meu lado, sinto que posso conquistar o mundo!

A voz de Takeo soou macia e sedutora pelo set.  As pessoas presentes assistiam com concentração quase total, absorvidas pelo desempenho do ruivo.

Até Jin estava impressionado, sentindo seus olhos hipnotizados pelas íris cor mercúrio.

Então Shiroyama colocou as mãos sobre os ombros do baixista e completou:

– Sou loucamente apaixonado por você...


Os dois se encararam por um segundo.  Então o mais velho torceu os lábios tentando segurar a risada.  Foi inútil.  Acabaram explodindo numa gargalhada ao mesmo tempo.

– CORTA!! – Otomo gritou irritado, vendo Takeo rir tanto a ponto de sentar no chão.

– Gomen, diretor.  Meu personagem nunca diria isso pra ele.

– Ei! – Jin reclamou meio sem ar.

– Sério.  Eu posso até amá-lo, mas essa frase não combina. Ahahahahahahaha!

O diretor analisou a afirmação.  Era o melhor ator daquele filme, tinha que ceder aos caprichos dele:

– Então me mostre como ele faria. – esperou Shibuya e Takeo se colocarem em posição – Luz!  Claquete!  GRAVANDO!

Takeo respirou fundo, com os olhos fechados.  Quando os abriu já tinha incorporado seu personagem:

– Jin, tem que fugir comigo.  Com você ao meu lado, sei que conquistarei o mundo!

Ao invés de colocar as mãos sobre os ombros do baixista o segurou pelo pulso:

– Não permito que rejeite o que sinto.

Ficou esperando que o mais alto pronunciasse sua fala.  Mas Jin acabou sendo pego de surpresa pela mudança e teve um branco súbito.  Vendo a cena estragada, Otomo explodiu:

– CORTAAA!  Ikeuchi, você não conhece a palavra “improviso”?!

–...

– SUMA DA MINHA FRENTE E SÓ VOLTE QUANDO CONSEGUIR PRONCUNCIAR DUAS PALAVRAS COMO UM SER HUMANO!!

Jin ficou cinza.  Saiu do set sem dizer nada.  Jack, que estava nos bastidores, foi atrás do namorado.  Ainda ouviu Otomo gritando seu nome, mas ignorou o homem.

– Pausa pro café. – Takeo disse evitando olhar o diretor.  Procurou seu amante com olhos descobrindo Arata com uma expressão de puro desgosto.  Teruo também não parecia exatamente feliz.

Um projeto que era pra ser agradável e divertido estava virando uma verdadeira tortura.

oOo

Shibuya foi para a sala de maquiagem e sentou-se em uma das poltronas.  Ouviu quando a porta se abriu e o líder da banda passou:

– Gomen... – sussurrou.

Jack sentou-se ao lado do namorado:

– Não precisa se desculpar.  Eu não quero segurar nas mãos de Teruo e dizer que o amo.  Isso está senso difícil pra todos. – permitiu que Jin o abraçasse e o puxasse para um abraço apertado – Pra todos...

O baixista ouviu o suspiro cansado.  Ficou alguns segundos apenas aproveitando o calor do baterista em seus braços.  Os últimos dias haviam sido verdadeiramente complicados.  O estresse estava presente em cada momento durante aquele mês.  Um mês de filmagem?  Parecia que estavam ali há uma vida inteira!

– Gomen... – o baixista repetiu. – Eu só queria ser o vilão.  Mas acho que Tachi está sendo um vilão perfeito.

Jack desdenhou:

– Tsc!  Ele não é um bom ator.  Só está demonstrando a maldade que tem no coração.

– Ora... nosso ridaa despeitado morre de inveja do meu talento! – Takeo gracejou encostado no batente da porta.

– Morra, Shiroyama. – Jack resmungou.

O ruivo riu e entrou na sala, seguido por Arata e Teruo.

– Você está bem, primo? – o vocalista perguntou preocupado, sentando-se e uma cadeira.

– Hn. Gomen por atrapalhar as cenas de vocês.

– Mas como você pode ser tão ruim, Ikeuchi? – Takeo perguntou encostando-se no balcão.

– A câmera me deixa nervoso...

– E como consegue tocar diante de vinte mil pessoas ao vivo, sem ficar nervoso? – foi Teruo quem interrogou.

Jin apertou o abraço sobre seu namorado:

– Mas o contra-baixo me da segurança... sem ele eu me sinto... sei lá, perdido.

– Eu sei como se sente. – Arata confessou sem encarar ninguém – Gravar esse filme está sendo complicado.  Me arrependo um pouco.  Não quero agir feito um troglodita!

– Hayato...

– Sério, koi.  Querem que eu faça tudo o que acho desprezível numa pessoa!

Teruo riu:

– Querem que eu aja feito uma debutante virgem!  Como assim uma debutante virgem?  “Você tem que corar...” – imitou a voz do diretor.

Os P”Saikos riram da cara que o guitarrista solo fazia.  Teruo também estava no seu limite, e ele não era de se estressar por pouco.

– E eu?! – Jin juntou-se as reclamações, enquanto acariciava as costas do namorado – Todo mundo me acha bobo na vida real... porque tenho que ser bobo no filme também...?

– Primo... – Arata já se preparou para rebater a afirmação.  Seu instinto protetor falou mais alto, nada que pusesse evitar.  Era muito protetor em relação ao primo.  Porém Shibuya cortou:

– Eu queria tanto ser vilão... – os outros integrantes da banda riram diante da afirmação.

Jack soltou-se do abraço e respirou fundo:

– Já basta. – afirmou, parecendo novamente o decidido líder da P”Saiko – Vamos fazer uma reunião e acabar com essa palhaçada.

Não ia mais sacrificar seus amigos.  Mesmo que tivessem que cancelar o contrato e pagar a pesada multa.

oOo

Na sala de reunião, além dos cinco integrantes da banda estavam o produtor do filme e Otomo, o diretor.

– Isso realmente não está dando certo. – Otomo afirmou. – Já perdemos muito com regravações.  E não temos muitas cenas completas.

O produtor esfregou a têmpora.  Prejuízo era algo que não queria:

– E o que sugere?

– Atores novos, porque esses que você me arrumou...

– Não somos atores. – Jack cortou frio – Somos músicos.  E somos bons no que fazemos!

– O problema é o roteiro. – Teruo uniu-se a Jack – É muito ruim.

– Sim. – Otomo concordou causando espanto em todos os presentes – É um lixo.  Isso me deixa frustrado.

– Não posso agir conforme esse personagem. – Arata afirmou. – Prefiro rescindir o contrato e pagar a multa. – os outros P”Saiko concordaram com o vocalista.

– Também prefiro sair. – o diretor voltou a se pronunciar.

Diante daquilo o produtor resolveu reconsiderar.  Perder um diretor de renome e a banda que liderava o ranking de mais vendidos era loucura:

– E o que vocês sugerem?

Jack sorriu:

– Deixe o roteiro com a gente.

O produtor pensou no pedido:

– Certo.  Salvem esse projeto antes que afunde de vez.  Mas mantenham os casais.  Vamos dar aos fãs o que eles querem assistir. – e saiu da sala, seguido pelo diretor.

Teruo ergueu uma sobrancelha:

– Jack... como vamos nos livrar dessa enrascada?

O líder da banda cravou os olhos em Jin:

– Quer alguém melhor que um otaku pra pensar num bom roteiro?

Os outros também olharam para Ikeuchi que apontou pra si mesmo:

– Eu?!

– Ikeuchi... você tem uma semana. – Jack foi taxativo – Escreva algo bom pra gravarmos.  Não precisa ganhar o Oscar.  Apenas salve o projeto.  Ah, e você não pode ser o vilão!

Shibuya balançou a cabeça concordando.  Ia fazer o possível para corresponder a confiança e livrar o filme fadado ao fracasso.

 

Continua...

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