quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O encontro

Notas do Autor:
demorou mas veio!

Odisséia
Kaline Bogard

Capítulo I
O Encontro

– Na.Ga.Sa.Ki... – o rapaz pronunciou as silabas lentamente, revelando como estava entediado. Pensava em Tokyo, de onde haviam saído recentemente.

Jin observava a paisagem através da janela.  Não que a cidade fosse de todo ruim.  Pelo contrário.  Era mais tranqüila do que pensara a princípio. E as pessoas eram bem acolhedoras.  Porém, ainda assim, não era Tokyo.

O rapaz estava acostumado a viajar para todos os cantos do Japão, porque o trabalho de seu pai exigia isso.  E numa dessas andanças acabaram parando em Tokyo.  Finalmente Ikeuchi pudera conhecer Akihabara, lugar que só vira de fotos e da televisão.

Agora que haviam se mudado, seis meses depois de chegarem, Shibuya, como era apelidado, sentia falta do paraíso otaku.

– Ne... Jure-chan...? – voltou-se para dentro da sala, e fitou a garota que digitava freneticamente em um laptop.

– Hn? – nem desviou os olhos da tela do portátil.

– Vamos dar uma volta.

– Não.  A gente acabou de chegar aqui... – respondeu com uma voz meio insegura. – Não conhecemos nada direito...

– Mas é uma boa forma de conhecer. – Jin insistiu.

– Shibuya kun... está anoitecendo... não é bom andar por aí sem... Ikeuchi san ou Fy san...

Jure levantou os olhos e fitou o rapaz.  Ambos eram criados como irmãos pelo senhor Ikeuchi, assim como Fy, que parecia não ter família.  Shibuya gostava dos dois, tanto de Jure com seu jeito introspectivo e mania de esconder-se atrás de pilhas e pilhas de roupas; quanto de Fy com seu jeito expansivo e pavio curto.

Desde que podia se lembrar estavam juntos. Viajavam juntos, passando de uma cidade a outra, tendo apenas os três como amigos.  Amigos e irmãos, apesar da ausência de laços sangüíneos.

Jin passou as mãos pelo cabelo de franja despontada e ficou em pé:

– Não tem problema.  Eu vou sozinho.

No mesmo instante Jure fechou o laptop:

– Não.  Vou com você.

–... tem certeza?

A garota apenas balançou a cabeça, agitando os cabelos despenteados, com alguns nós:

– Hn.  Vou com você.  Se Shibuya kun se perder será um problema.

Imediatamente Jin fez um bico:

– Não vou me perder. – enfiou as mãos no bolso e deu de ombros – Espera eu pegar a mochila.

Jure observou o rapaz sair da sala e respirou fundo.  Que maravilha.  Logo agora que os dois estavam sozinhos... enfim, quais as chances de algo dar errado?  Haviam acabado de chegar a Nagasaki.  Ikeuchi san dizia que além de possuir um fluxo intenso de energia desregulada, a cidade estava instável.  Os efeitos da bomba atômica não haviam sido eliminados por completo.  Por isso ele demorara mais em Hiroshima e pretendia passar pelo menos um ano em Nagasaki.

Com um suspiro guardou o laptop depois de desligá-lo.  Pegou o celular, o único meio de comunicação que tinha autorização de usar, e guardou no bolso.  Por fim recolheu sua preciosa flauta e guardou dentro da bolsa estilo carteiro.  Estava pronta.  Não pensou em trocar de roupa.  Sentia-se a vontade com a blusa de frio dois números maior, a calça de moletom e o gorro frouxo sobre os cabelos despenteados.

– Pronto!! – Jin surgiu animado.  Nas costas levava a mochila pesada de chaveiros.  Vestia a bermuda do exército (sua preferida), a blusa vermelho sangue cheia de botons do lado direito e uma gravata preta com risquinhos brancos. – Vamos...?

A guria tentou parecer animada:

– Hn. Pegou o celular?

– Tá aqui. – respondeu com um sorriso.

Jure ainda respirou fundo antes de acenar com a cabeça:

– Vamos.  Mas temos que voltar antes das oito, está bem?

– Hai.

Nem Jin gostava de andar durante a noite em um lugar que não conhecia direito.  Saíram juntos para o ar fresco de fim de tarde.  O movimento naquele bairro não era intenso.  Poucas pessoas transitavam, voltando para suas casas depois de uma jornada intensa de trabalho.  Pessoas desconhecidas, como sempre.

–Será que papai vai ficar muito tempo aqui? – Jin perguntou cruzando os dedos atrás da cabeça.

Jure sabia como essa vida de mudanças podia ser desgastante.  Sem nunca estabelecer laços, sem nunca se apegar a nada por tempo demais.  Mudando e mudando tão rapidamente que era impossível apegar-se a qualquer coisa ou a alguém.

É por uma boa causa, Shibuya kun.”, a garota pensou.  Queria dizer muitas coisas a ele, mas não podia.  A ignorância sempre seria a maior proteção.  Era melhor viver daquela forma, desconhecendo fatos vitais, mas sem temer o futuro e agir como Ikeuchi san, Fy e ela própria: temendo cada dia seguinte, com medo da sombra que os espreitava estar próxima, pronta para saltar sobre eles e...

– Jure chan, que tal um sorvete? – a pergunta tirou a moça de seus pensamentos.  Shibuya apontava um vendedor ambulante que empurrava um carrinho pela rua.

– Seria... bom...

Compraram os sorvetes e voltaram a andar.

– Vou ver se papai me deixa ter aulas de contra-baixo.  Eu acho que já aprendi tudo o que podia sozinho. Mas preciso de ajuda para evoluir.

– Talvez... – Jure sentiu muito ter que mentir.  Ikeuchi san nunca autorizaria que algum desconhecido se aproximasse.  Jin não sabia.  Tinha muita coisa em jogo ali.  Não apenas a vida e o futuro do garoto.  Mas o futuro e a vida de todas as pessoas da face da Terra.

– Vamos sentar ali.

– Shibuya kun, acho que já fomos longe o bastante... será... complicado retornar depois...

– Então a gente senta, termina os sorvetes e volta para casa.  Combinado?

O sorriso que ele deu a garota foi tão espontâneo e animado, que acabou derrubando as barreiras da otaku.  Ela concordou com um aceno de cabeça e seguiu silenciosamente rumo a pequena praça, vazia aquela hora.

– Vou começar a procurar um emprego. – Jin afirmou entre uma colherada e outra – Já tenho dezoito anos...

– Espere a maioridade, Shibuya kun. – Jure evitou olhar para o rapaz.  Franziu as sobrancelhas e moveu-se ligeiramente incomodada com algo – Faltam... três anos...

– Falta muito tempo. – Jin reclamou.  A cada dia a idéia de se estabelecer ficava mais firme em sua mente.  Enquanto morasse com o pai teria que segui-lo e mudar-se constantemente.  Mas se começasse a trabalhar e a se manter...

Então o rapaz piscou surpreso quando viu Jure derrubar o sorvete e abrir a bolsa rapidamente, pegando a flauta de dentro dela.

– Jure chan...?

A otaku não respondeu.  Começou a tocar o instrumento, fazendo as bochechas inflarem de leve.  A música agradável soou na praça, dando um inegável clima de outono, apesar de estarem no verão.

Foi uma sensação tão boa que Jin quase fechou os olhos.  O rapaz não fez apenas porque ouviram o som de uma risada.  Sombras se projetaram a direita, por onde quatro rapazes se aproximavam. O mais baixo tinha as mãos no bolso e ainda ria alto:

– Acredita nisso, Arata? – a expressão parecia ainda mais ameaçadora somada ao riso irônico.

– É, Jack... – o outro moreno, de mecha ruiva deu de ombros – Uma ninfa mestiça achando que pode usar sua magia contra nós.

– E ela pode...? – o tal de Jack olhou o companheiro.

Ao invés de responder, o rapaz chamado Arata apenas sorriu largo, curvando os lábios lentamente.  Foi um sorriso encantador que fez Jin piscar fascinado.  Nunca vira alguém tão bonito antes! Ficou tão impressionado que só se deu conta do que acontecia quando ouviu um baque surdo e percebeu que Jure tombara inconsciente no chão.

 

Continua...

Notas Finais:
Foi mal os erros!  Não betei nem revisei!

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