segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Capítulo 2: O roubo

 

Adentraram o pequeno armazém, acenando com a cabeça para o vendedor, como num cumprimento de boa noite. O lugar estava praticamente vazio àquela hora, exceto por outro adolescente que enchia uma pequena cesta com suas compras.

O ruivo virou a cabeça para o companheiro, tentando esconder com isso o sorriso de canto que teimava em surgir. Falou algo em um tom muito baixo, recebendo apenas um aceno em concordância, rumando até uma das prateleiras ao fundo da loja. Começaram a analisar alguns produtos, apontando para um ou outro e perguntando o que o amigo achava.

Aquele era um dos poucos comércios que se mantinha aberto durante a noite e num final de semana. Era afastado do centro da cidade, quase não havia clientes e o dono era um senhor de idade, não exatamente ranzinza, mas que adorava reclamar do mundo.

Por que escolheram aquele local?

Não sabiam exatamente. Talvez por acharem que seria fácil. Ou então porque ninguém os conhecia na região. Mas de uma coisa eles sabiam e nisso todos concordavam: a vida andava muito monótona.

Jogando conversa fora durante uma tarde, perceberam que nada na cidade os agradava mais como antes, não faziam nada que trouxesse aquela sensação de júbilo, de terem conseguido algo que ninguém mais tinha.

Não precisavam de dinheiro, roupas, carros ou qualquer coisa material. O que eles buscavam era adrenalina, emoção. Algo que os fizesse chegar ao limite, que trouxesse satisfação por terem feito sozinhos.

E foi assim que um simples encontro entre amigos virou uma reunião para planejar o primeiro roubo.

O garoto com as compras aproximou-se do caixa, passando-as para o vendedor, sorrindo-lhe gentilmente e comentando que a mãe sempre o mandava sair à noite para comprar comida para o jantar. Não que se importasse, achava perigoso a senhora sair sozinha e naquele horário.

Contudo, o senhor não estava dando-lhe muita atenção, intercalando olhares entre os garotos mais a frente e as compras no balcão. Jogava o valor do produto na calculadora, olhava para o moreno alto, coloca tudo dentro da sacola, olhava ressabiado para o ruivo, conferia o valor na calculadora e novamente olhava para os jovens.

Ao terminar o serviço, estendeu as compras para o moreninho a sua frente, vendo-o segurá-las e levar a mão ao bolso da calça, provavelmente procurando a carteira, mas arregalou os olhos ao ver o que acontecia atrás dele.

_ O que pensam que estão fazendo? – sobressaltaram-se com o grito, estacando no lugar e parando o movimento no ar de guardar algo no bolso – Largam isso já, seus ladrõezinhos!

E, contrariando qualquer suspeita que tivessem, o velho levou a mão abaixo do balcão, mas nenhum alarme soou. Quando ergueu novamente o corpo, mostrou que levava consigo uma arma.

_ CORRAM! – o ruivo arregalou os olhos, vendo o amigo jogar uma garrafa de vidro na direção do vendedor e correr porta a fora, enquanto ele ia até o outro garoto, ajudando-o a pegar algumas sacolas e correr em direção às ruas.

Conseguiram sair bem a tempo, pois o vendedor saiu na cola dos três, atirando assim que chegou à porta da loja, acertando de raspão nos muros e postes por onde passavam.

_ Virem na esquina! – indicou o mais velho dos três, colocando as mãos na cabeça e tentando correr abaixado.

_ Mais rápido, gente! – Hayato olhou sob o ombro, parando de correr e se abaixando a tempo de desviar de outro tiro.

_ Vamos! – Takeo puxou-o pelo braço, retirando uma arma do cós da calça, mirando de qualquer jeito por sob o ombro e atirando.

Não queria acertar o velho, apenas assustá-lo para poderem fugir, mas parecia que a sorte estava do lado deles, pois ouviu um grito de dor. Olhou para trás, vendo o homem pender e cair ajoelhado.

_ Merda... eu só acerto quando não precisa... – praguejou, enquanto continuavam a correr. Sabia que estava ferrado, mas não ia se arrepender agora.

Mesmo após saírem da linha de fogo, continuaram correndo por vários quarteirões, até não agüentarem mais dar um passo e o ar começar a faltar-lhes. Escoraram-se nas paredes em um beco, caindo sentados um ao lado do outro, rindo satisfeitos com a façanha.

A primeira de várias...

_ Da próxima vez Jin... tenta acertar o vendedor... e não a mim. – Hayato comentou todo sorridente, tentando regularizar a respiração.

_ Gomen... queria distrair ele. – levou a mão aos cabelos muito lisos, retirando-os da frente dos olhos.

_ Pegou muita coisa? – o ruivo não perdeu tempo, abrindo as sacolas para verificar o conteúdo.

_ Tem chocolate pra você. – riu divertido, sabendo que era exatamente aquilo que ele procurava – Eu quase fiz besteira quando fui falar com o cara. Falei que minha mãe tinha me pedido pra sair e fazer compras. Acho que ele não gostou de vocês dois logo de cara, porque estava sempre vigiando e nem viu o que eu levava.

_ A gente teve sorte... – o ruivo ponderou, colocando o doce na boca e retirando algumas coisas dos bolsos da jaqueta, sendo imitado pelo mais velho.

_ Falando em sorte... onde conseguiu a arma? – Hayato olhou-o de soslaio, sabendo que não ia adiantar muito repreender o ruivo.

_ Yura. – deu de ombros, sabendo que aquele nome explicaria tudo – Acho que podemos tentar algo maior da próxima vez.

_ Melhor não. – ponderou Ikeuchi, a voz saindo meio temerosa – Vamos ver o que o Jack acha. Talvez eles se deram mal.

_ Duvido! – Takeo sorriu de canto, já pensando em outros lugares – Planejamos isso muito bem, não tem como dar errado.

_ Mas a gente quase se ferrou... – lembrou o otaku.

_ Não sabíamos que ele tinha uma arma, Shibuya! Larga de ser covarde! – o ruivo revirou os olhos, suspirando fundo – Certo, vamos continuar roubando lojinhas de doces e coisas pequenas. Pensei que vocês também queriam diversão!

_ Claro que queremos! Mas podemos dar um tempo, não é? Esperar as coisas esfriarem.

_ Mas agora que começamos a esquentar! – e sorriu malicioso, juntando as sacolas e se levantando pra partir – Vou pesquisar outros lugares e ver com os outros dois. Se a maioria topar, vocês vão, não é?

E com acenos de concordância voltaram às ruas, tomando o caminho que os levariam para o ponto de encontro.

 

Continua...

0 comentários:

Postar um comentário