Havia bebido bastante, mas ainda estava consciente de seus atos. Conseguiu chegar ao quarto com um pouco de dificuldade, pois seus passos não estavam tão firmes quanto imaginava.
Abriu a porta, esbarrando nela e fazendo-a abrir com um estrondo quando bateu na parede adjacente. Adentrou o cômodo, acendendo a luz e olhando para as camas, encontrando o ruivo dormindo em uma delas.
Fechou a porta com tudo, caminhou até a outra cama e se jogou nela. Sabia que precisava de um banho, mas mal conseguia se mexer.
E ainda tinha aquele imbecil deitado ao lado. A vontade de gritar com ele aumentava a cada instante, mesmo que ele não tivesse feito nada contra si nas últimas horas. O simples fato de estar ali, sua presença o incomodava.
Por que havia mesmo pedido para Teruo trocar de quarto?
Pra conversar... ou algo assim. Precisavam se acertar. Não agüentava mais ficar longe de Takeo, odiava imaginá-lo nos cantos do estúdio se agarrando com alguém.
Não... ele não faria aquilo. Prometeu que não ia desconfiar mais dele. Mesmo não estando mais juntos, sabia que ele não faria algo assim.
Sentia falta dos carinhos direcionados a si, dos toques, das palavras sussurradas em seu ouvido, dos abraços e das brincadeiras. Até do ciúme ele sentia falta.
Nunca imaginara que o ruivo conseguiria se manter afastado tanto tempo.
Jack disse para esperar até o outro dia, quando estivessem descansados e calmos, mas ignorou. Queria resolver o quanto antes.
Juntou suas últimas forças e levantou-se, precisava de um banho urgentemente, pra tentar tirar o torpor causado pela bebida e quem sabe encontrar um pouco de coragem. Não podia esperar mais pra tentar falar com seu ex.
Pegou o pijama e uma toalha na mala jogada ao lado da cômoda. Não sabia quando o guitarrista moreno havia trocado as malas, mas não importava.
Apoiou-se na parede e caminhou até o banheiro da suíte. Não se preocupou em trancar a porta, já que só estavam os dois ali dentro e tinha certeza que o ruivo não espiaria.
Não soube quanto tempo levou, mas havia demorado bastante, sentindo a água percorrer seu corpo, tentando fazê-la levar junto sua tensão. Conseguiu pelo menos sentir-se menos bêbado, já não cambaleava tanto quando voltou ao quarto.
Jogou a toalha de qualquer jeito na cabeceira da cama e andou até parar ao lado da cama do ruivo, sentando ao seu lado e notando que sua respiração ficara mais pesada.
Como imaginou ele não estava dormindo. Queria apenas evitar uma conversar, queria evitá-lo como vinha fazendo nas últimas semanas.
Levou a mão até os cabelos avermelhados, afastando-os dos olhos de Takeo, logo sendo afastado com um tapa.
_ Não me toque. – afastou o corpo para o outro canto da cama, sem nem mesmo olhar para o moreninho.
_ Nós precisamos conversar. – sentou direito na cama, ficando de costas para o outro e pousando a mão em seu ombro – Eu sei que você também está sofrendo, nem adianta negar, você tem mais olheiras que eu. – sorriu sem graça – Eu só não entendo por que fez aquilo... você tem esse dom de me deixar confuso.
_ Eu não quero ouvir suas lamentações, Izumi. Estou cansado. – cobriu a cabeça com o cobertor, mas isso não foi suficiente para abafar o seu tom temeroso.
Não queria ter aquela conversa ali, naquele instante. Não estava preparado para encarar a avalanche de sentimentos. Iria adiar aquele confronto o máximo que pudesse. Sabia que estava agindo como um covarde, mas não sabia como lidar com aquilo, esse tipo de sentimento era novo.
Sentiu o peso no colchão sumir e quase suspirou aliviado, pensando que Arata finalmente o deixaria em paz.
_ Levanta! Nós vamos conversar e vai ser agora! – exigiu o moreninho, puxando a coberta de cima do ruivo – Já estou farto das suas atitudes infantis. Realmente elas condizem com o nível das suas brincadeiras!
_ Você não precisa agüentar elas, Izumi! – sentou-se na cama, decidido a não engolir os desaforos – Caso não tenha reparado, parei de dirigi-las a você faz algumas semanas!
_ Mas eu gosto delas, droga! – avançou para cima do ruivo, sentando sobre suas pernas e segurando-o pelos ombros com força – O que eu não gosto é da sua atitude!
_ Você está bêbado. – constatou ao ter Hayato tão próximo – Quando estiver sóbrio podemos conversar... – levou as mãos a sua cintura, tentando afastá-lo.
_ Se estou assim é por sua culpa! – segurou-o pelo queixo com uma das mãos, usando a outra para segurar seu braço, evitando que o afastasse.
_ Minha?! Não tenho culpa se minha fama não lhe agrada atualmente! – tentou se afastar, mas Arata parecia irredutível – Você sabia como eu era quando começamos a namorar!
_ Ainda quero namorar com você! É pedir demais um pouco de maturidade? Que tenha um mínimo de respeito por mim?
_ Eu respeito você! Nunca te traí e nem tenho coragem! – usou a outra mão para afastar os dedos da Arata de sua face.
_ Mas você se insinua! Ninguém que põe os olhos em você sai ileso de pelo menos um sorriso sacana!
_ Pelo menos eu não preciso beber pra ter coragem de dizer o que penso! – e o silêncio tomou conta do ambiente após as palavras quase gritadas.
Takeo ficou estático, desviando o olhar para as cobertas, sem ter coragem de encarar o vocalista. Tinha noção que agiu mal, fez muita besteira alguns dias atrás, mas nunca adivinhou que chegariam ao ponto de gritarem um com o outro.
Por que era tão difícil se acertarem? Por que precisavam passar por tudo aquilo? Eram tantas brigas e desavenças. Será que um dia iriam realmente se acertar? Isso se conseguissem resolver o presente problema.
Eram tantas perguntas sem respostas...
_ Essa é sua decisão final? – Hayato encarou-o, questionando baixinho – Não há uma segunda chance pra nossa felicidade? Depois de tudo que passamos... Por que não pode me perdoar? – Arata aproximou-se, deitando a cabeça em seu ombro e abraçando-o pelo pescoço – Eu te perdoei tantas vezes... Todas as vezes que você sentia ciúmes do Shibuya, do Teruo ou de qualquer pessoa que aproximava de mim, perdoei quando me chamou de puta... – sorriu sem graça – E eu nem te devia uma explicação. Ignorei as suas cantadas e insinuações pra cima do meu primo, pra cima do Jack também, me segurava quando alguém olhava com segundas intenções pra você... Por que não pode me perdoar e me dar outra chance como fiz pra você várias vezes? Eu também sou humano Takeo, eu também erro...
As mãos pousadas em sua cintura tremeram. O ruivo fechou os olhos um instante, respirando fundo, antes de abri-los novamente e começar a falar tudo que queria.
_ Porque dói Hayato... dói saber que a única pessoa que amo de verdade não confia em mim. – abraçou-o, também recostando a cabeça em seu ombro, sentindo algumas lágrimas verterem – Você é especial pra mim, como ninguém chegou a ser. Eu agüento qualquer um desconfiar e falar mal de mim, mas vindo de você, machuca demais. Eu pensei que já tinha provado que não te trairia jamais e não era pro meu ciúme chegar a esse ponto, mas simplesmente não consigo controlar quando estou com você. É mais forte que eu... E ver que você desconfiou de mim com meu melhor amigo... Eu nunca teria coragem de tocar no Jin...
_ Eu quero tentar de novo... – sussurrou, levantando o rosto do ruivo, secando suas lágrimas com um beijo em cada lado de sua face – Vamos tentar... mais uma vez? Tentar esquecer... esquecer tudo... recomeçar do zero, mas recomeçar juntos...
_ Esquecer... não é fácil esquecer o passado... – continuou de olhos fechados, apreciando o toque tão almejado – E mesmo se fosse, não quero esquecer tudo que já passei ao seu lado.
_ Podemos tentar mais uma vez? – tentou esboçar um sorriso – Não posso prometer que não vou te magoar, mas amo você demais pra te perder assim. Você não sabe o que venho passando esse tempo todo sem você pra cuidar de mim...
_ Cada vez que brigamos, parece que voltamos mais fortes que antes... – apoiou a cabeça em seu peito, recebendo um carinho em seus cabelos – Eu... gosto de cuidar de você. – envolve-lhe a cintura – Sinto essa necessidade de te proteger.
_ Quer namorar comigo? – apertou-o contra si – De novo?
Recebeu apenas um aceno afirmativo, sentindo-se aquecer por dentro.
_ Obrigado, Hayato... – teve seus lábios tomados num beijo necessitado, correspondendo com paixão.
Sentira falta daqueles lábios, daquele corpo junto ao seu, dos sorrisos do seu moreninho, dos seus toques e carinhos e também dos puxões de orelha.
Faria o que estivesse ao seu alcance para não brigarem mais. Controlaria o ciúme e mostraria que conseguiria ser sério e responsável quando a situação pedisse. Já estava na hora de crescer e assumir suas responsabilidades.
Izumi agradecia internamente, conseguiu finalmente se aproximar do seu amor, poderiam tentar mais uma vez. Algumas cicatrizes ficariam gravadas em ambos para mostrar tudo que passaram e o principal, que venceram cada obstáculo. E isso tornaria o sentimento mais forte e inabalável.
* * *
_ Não conseguiu acordá-los? – questionou ao ver o guitarrista moreno voltar sozinho, com um sorriso sacana nos lábios – O que aconteceu?
_ Eles ainda estão dormindo... abraçados na mesma cama. – sorriu mais, revelando como se fosse um segredo – Agora só falta você Jack.
_ Como assim? – ergueu uma sobrancelha em dúvida se gostaria de ouvir a resposta.
_ Você e Takeo, reatarem a amizade. Ou vão continuar se ignorando? Você sabe que tinha tanta culpa quanto ele. – esperou uma resposta, mas o líder apenas encarou-o, então continuou – E sobre isso que estava pensando também. – comentou inocente.
_ Idiota. – resmungou, jogando a carteira de cigarros em sua direção, vendo-o gargalhar.
Sabia que Teruo era muito observador. Só o garoto pra quem direcionava seus sentimentos parecia alheio ao que acontecia ao redor. Ou era o que ele pensava.
* * *
FIM
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