sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Capítulo 3

 

_ Arata? – não era possível que tudo fosse terminar daquele jeito, não acreditava que Takeo tivesse acabado com o relacionamento de ambos, depois de tudo que passaram juntos... ouviu Jack chamando-o, mas não conseguia responder – Vamos tentar mais uma vez, tudo bem? – esperou uma resposta que não veio – Tudo bem?


Hayato continuava de costas para a banda, repassando a cena em sua cabeça. Takeo a sua frente, jogando o anel fora, pediu para que ele não fizesse aquilo, sabia que agira mal, devia tê-lo defendido, maldita desconfiança. Por que deixou que chegassem naquele ponto?

Tentou se concentrar, tinha que ensaiar para o live, separou os lábios e respirou fundo, precisava dizer pra Jack que estava pronto para continuar... mas não estava! Estava chocado, não esperava aquela reação. Não conseguia proferir nenhuma palavra.

_ O que houve Arachi? – Shibuya aproximou-se, tocando seu ombro.

Izumi sobressaltou-se, encarando-o. Seus olhos estavam vermelhos, mostrando que segurava o choro intenso, tentou falar para o primo que não sabia o que estava acontecendo, mas não conseguia, apenas acenou negativamente, abaixando a cabeça, como se pedisse desculpas pelo incidente.

_ Arata? – outra mão pousou em seu ombro, chamando sua atenção – Não consegue, não é? – o líder questionou baixinho, de modo que os outros não ouvissem.

Mais uma vez ele apenas negara com a cabeça, encolhendo e abraçando-se, para tentar se proteger, ao que foi recebido pelos braços de Shibuya, o acolhendo.

_ Não fica assim, primo. – falou com a voz embargada.

Sofria mais pelo que Arata estava passando do que pelo que foi dito para si próprio. Tachi não falara nada sobre brigar com o primo. Estaria mentindo também, ou dessa vez estava tudo acabado entre eles?

“_ Ikeuchi... – chamou antes que o baixista saísse pela porta – Amanhã eu volto a participar do ensaio e vou fazer uma reunião com o grupo. Quero que ignore qualquer coisa desagradável que eu falar a seu respeito, tudo bem?

_ Como assim? – encarou-o desentendido.

_ Não importa o quanto eu fale mal ou te humilhe, não acredite em nada que eu disser. Quero que ignore completamente tudo que eu falar sobre você amanhã, porque é mentira. Finja que não está escutando. Pode fazer isso por mim?

_ Claro... – mesmo não entendendo aquele pedido, concordou com um sorriso. Faria o que pudesse para ajudar o amigo.”

Não reagira à ofensa a pedido do amigo, para tentar mostrar que confiava nele, mas não gostou nada de ver o primo levar toda a culpa e desprezo.

_ Tachi... me desculpe por ter nascido otaku. Não posso mudar o que eu sou, nem pra preservar meus amigos. – apertou mais o primo em seus braços – Mas não vou aceitar você descontar no Arata. A culpa foi minha por ter pedido ajuda, então se quiser, pode briga comigo, mas não faz ele sofrer assim. E se quer manter tudo profissional, prometo que fico o mínimo de tempo possível perto de você.

_ Descontar? – bradou furioso.

Como se não bastasse levar toda a culpa pela brincadeira, agora era culpado por Izumi não aceitar sua decisão? Ia continuar a discutir, mas recebeu olhares acusatórios, tanto de Shibuya quanto de Jack. Decidiu ficar quieto e não retrucar a resposta. Não queria piorar sua situação na banda.

Jin guiou o vocalista para fora da sala, sendo seguido pelo líder, já de posse dos pertences dos três.

Antes de fechar a porta atrás de si, Jack lançou um último olhar a Takeo, anunciando antes de sair:

_ Até segunda ordem, os ensaios estão suspensos.

Com um pesado suspiro, Takeo guardou novamente sua guitarra e jogando-a sobre os ombros caminhou para fora da sala.

_ Parabéns, Shiroyama. Se superou dessa vez, mané! – cutucou o outro guitarrista, também guardando a guitarra.

_ Você só abre a boca quando não precisa. – resmungou, saindo da sala e batendo a porta.

* * *

Enquanto Jack tentava preparar alguma coisa para comerem, Shibuya ligou o som, colocando uma música bem baixinha, sentando ao lado de Arata e abraçando-o.

Hayato parecia perdido, não falara nada desde que saíram do estúdio e não parecia disposto a conversar com ninguém, muito menos voltar a cantar.

Nenhuma das palavras de conforto dos dois amigos parecia causar efeito.

_ Aqui. – Asamura estendeu uma bandeja com três tigelas cheias de sopa fumegante. O cheiro parecia muito bom, mas Hayato não mostrou nenhum interesse.

_ Obrigado, Jackie. – o moreno mais alto pegou duas dela, estendendo uma para Arata – Aqui primo, você precisa comer alguma coisa.

Hayato levantou o rosto para encarar o que lhe era oferecido, mas não tinha a mínima vontade de comer ou fazer qualquer coisa. Em sua cabeça, as mesmas imagens se repetindo, de novo e de novo, Takeo levando a mão ao colar e arrancando a aliança, jogando-a no chão como se não significasse nada.

Sabia que tinha agido errado ao julgá-lo precipitadamente, o ruivo tinha razão em ficar com raiva, pois como dissera, sempre pensavam o pior dele, mas o modo como ele agiu não era esperado. Pensou que iriam discutir o que cada um não gostava nas ações do outro, as diferenças de personalidade que vez ou outra se chocavam, e por fim, se acertariam e tudo ficaria bem.

Seu coração se apertava cada vez que recordava o olhar frio que lhe foi dirigido, as palavras amargas, e pra piorar, ele tratara mal a todos do grupo.

Será que dessa vez não haveria mesmo volta?

Não podia ser pessimista! Já perdoara o ruivo tantas vezes, por que ele não poderia fazer o mesmo?

O difícil talvez fosse fazê-lo ouvir tudo que tinha a dizer. Faltava-lhe coragem para encarar o ex-namorado e pedir outra chance para conversarem e dizer o que pensava da situação. Precisava explicar que agira errado, que realmente desconfiara dele, mas não podiam deixar que todos os esforços para ficarem juntos fossem por água abaixo.

Tinha que tentar! Não iria deixar-se abater sem ter lutado antes! O que mais temia era ser rejeitado sem ter a oportunidade de se explicar... sem falar tudo que sentia.

O importante é que valeria a pena! Amava demais aquele ruivo ciumento para deixar que ele o abandonasse por mais uma discussão boba.

A quem queria enganar... não foi uma simples discussão. Takeo foi parar no hospital e ele nem havia movido um dedo para defendê-lo! Deixou Jack dar-lhe a lição que achou que merecesse.

Assustou-se ao sentir algo tocar seus lábios, cortando seus pensamentos. Voltou o olhar para frente, vendo seu primo estender-lhe a colher cheia de sopa.

_ Diga “aahh”! – levou novamente a colher em direção à boca de Arata, vendo com satisfação o primo aceitar o alimento, mesmo que mecanicamente.

* * *

_ Olha só, visitas! – zombou do outro, abrindo mais a porta para que ele entrasse.

_ O milagre foi encontrar o dono da casa aqui... – deu um soco no ombro do amigo, entrando no apartamento.

Já era tarde quando Takeo decidiu que precisava conversar com alguém. Ficar se remoendo não estava ajudando em nada, sua consciência gritava que seu ato fora impensado e agora estava pesando em suas costas.

_ Se arrependeu, não foi? – seguiu o outro até a sala, jogando-se num dos assentos, vendo o ruivo fazer o mesmo – Não podia esperar pra conversarem em particular. Ele está sem voz por sua causa...

_ Quer fazer o favor de fingir que se importa pelo menos um pouco? – a indiferença do amigo estava tirando-o do sério.

_ Se você quer alguém pra passar a mão na sua cabeça e dizer que vai ficar tudo bem, procurou a pessoa errada. – sorriu de canto – Você também não aprende. Continua fazendo as mesmas palhaçadas, até alguém sair realmente machucado. E não é a primeira vez.

_ Certo, das outras vezes que a gente brigou a culpa foi mesmo minha. Mas dessa vez eu não fiz nada! Jack simplesmente me atacou! Era defender ou apanhar! E vocês ficam jogando na minha cara que a culpa do Hayato ficar sem voz é minha! Acha que também não estou abalado pelo que aconteceu?!

_ Do mesmo modo que você não gosta quando alguém chega perto do Arata, Jack também não gostou da insinuação pra cima do que é dele. Foi uma reação de defesa.

_ Eu sei, mas ele devia aprender a não levar minhas brincadeiras tão a sério! – bagunçou o cabelo, nervosamente.

_ Você está sendo contraditório. – pegou a carteira de cigarros no bolso, tirando um dos cilindros de dentro da caixinha e acendendo – Você quer ser levado a sério, mas não quer que suas brincadeiras sejam encaradas do mesmo jeito.

_ Estou certo, então? Como imaginei, eu não mudei nada! – levantou-se abruptamente, andando sem rumo pela sala – Ainda continuo passando a mesma imagem de quando eles me conheceram. Por isso ninguém confia em mim? Isso está me deixando confuso...

_ Você já é confuso sozinho. Só estou apoiando o que sua consciência está fazendo com você.

_ Isso me faz sentir muito melhor. – sarcasmo escorrendo em suas palavras.

_ Se me procurou é pra ouvir umas verdades, então agüenta! – tragou o cigarro, jogando a fumaça acima da cabeça, esperando o outro confirmar que ia ouvi-lo.

_ O que eu faço? – perguntou desolado, sentando-se novamente e apoiando os cotovelos nos joelhos, abaixando o rosto – Perdi o controle... Falei tudo que não devia...

_ Olha, posso estar sendo otimista, mas um “Sinto muito” pode resolver parte desses problemas.

_ Acha que não pensei nisso? – levantou o olhar, suspirando pesadamente – Eu fiquei parado horas na frente do prédio dele, estava lá até agora a pouco. Vi quando Jack foi embora. Não tive coragem de subir pra falar com ele.

_ Vai falar com ele. – foi taxativo, não deixando margem para negações.

_ Não consigo... tenho medo dele perceber que está melhor sem mim e jogar isso na minha cara... – sua voz era apenas um murmúrio.

_ Ele viveu mais de vinte anos sem você. Com certeza vai sobreviver! Quem parece que não vai é você.

* * *

_ Ruivo desgraçado... – murmurou roucamente para as paredes, sentado sozinho na cozinha, bebendo a sua quinta ou sexta latinha de cerveja – Ele vai ver só... Egoísta... é isso... Quem disse que ele não presta? Quem ele é pra saber quem é melhor pra mim? E ele é o santo! Ele nunca julgou errado... ele nunca ... – pressionou os olhos pra impedir que mais lágrimas caíssem. – Puto! Eu desconfiei... Burro! Ruivo cabeçudo! Droga...! –trincava os dentes enquanto xingava o outro.

Queria afogar as mágoas, esquecer tudo que aconteceu durante aquela semana e parar de tentar achar uma brecha para falar com Takeo. Infelizmente encontrou um pouco de calmaria na bebida. Ficou assustado com a reação do ruivo, ele sempre fazia algo inesperado quando estava com raiva. E depois sua voz, fora outro choque para suportar, não poder fazer o que tanto amava. E amava o ruivo teimoso.

Em partes concordava com ele, desconfiança era um sentimento ruim. Mas foi impossível pensar com clareza naquele instante. Visto por outro lado, ele simplesmente chegou com o maior sorriso sacana no rosto, afirmando pra quem quisesse ouvir que a noite foi a melhor possível.

Conhecendo Shiroyama como conhecia, era impossível não desconfiar. Não dava pra saber quando ele falava sério e quando estava brincando.

Agora pagava caro por não confiar, sentia na pele a falta do outro. Um simples voto de confiança poderia ter salvado o relacionamento desse fim trágico.

Depois de várias brincadeiras, encontros, jantares e finalmente o namoro. Foram tantas etapas superadas para se entenderem. Nunca imaginou passar por tudo aquilo pra ficar com alguém, foi mais do que teve em toda sua vida. Um amor completamente voltado para si.

Tudo destruído por uma suspeita.

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