sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Capítulo 4

 

Uma semana para os lives começarem. Precisavam arrumar as malas antecipadamente, pra terem certeza que nada seria esquecido. Ficariam fora de suas casas o mês todo em turnê. Seria mais um grande passo na carreira de todos.


A única razão para estarem altamente ansiosos era o fato de só agora retomarem os ensaios. Após quase duas semanas, Jack decidiu não enrolar mais, pois não tinham tempo a perder e não podiam deixar desavenças pessoais atrapalharem a banda. Sabia que também agira errado e tentaria concertar as coisas, mas tudo tinha sua hora.

Ligara na noite passada para todos os integrantes, confirmando o ensaio para a manhã seguinte, não aceitando atrasos ou desculpas.

E assim como esperado, todos estavam lá. Não que estivessem com uma boa aparência ou bem humorados, mas estavam de pé e determinados.

Era notável o desconforto quando iam conversar. Ryuutarou mal dirigia a palavra a Shiroyama, que por sua vez só respondia quando lhe perguntavam diretamente. Izumi estava muito sério, o que não era comum, visto que sempre tinha um sorriso amável em seu rosto. Shibuya lançava olhares cumpridos tanto para Jack quanto para o primo, a um de desconfiança e ao outro de pura preocupação. Teruo se sentia desconfortável no meio de tanta desavença, era impossível se manter impassível.

A tensão era palpável e os ânimos estavam abalados. Shibuya contou para o líder que a força do primo para cantar tinha vindo das bebidas. Acordara várias vezes durante a noite para encontrá-lo dormindo sobre a mesa da cozinha cercado de latinhas. Tentou parar de comprar as cervejas, mas notou no dia seguinte que o primo não havia dormido em casa. Jack sugeriu que era melhor tê-lo bêbado em casa e debaixo de seus olhos do que num local desconhecido.

Takeo não dormia direito, o que afetava terrivelmente seu humor. Teve que se segurar algumas vezes para não brigar com o pessoal do staff, sem motivos aparentes. Olheiras fundas pioravam sua aparência, juntando-se às marcas deixadas por Jack. E não foram poucas as vezes que precisou recorrer às partituras das músicas, pois no meio das canções, simplesmente esquecia os acordes.

* * *

Pegaram o ônibus na porta do estúdio bem cedo, queriam evitar qualquer tipo de imprevistos ou atrasos. Teriam tempo para descansar durante a viagem e como o primeiro live era no dia seguinte, teriam também uma noite no hotel.

Tentando evitar mais confrontos, Jack colocou Takeo e Teruo no mesmo quarto e em outro ficou com Shibuya e Arata. Não queria correr riscos deixando o vocalista e o guitarrista ruivo sozinhos.

A tarde transcorreu rapidamente, visitaram o estádio onde realizariam o show, passaram o som, verificaram as luzes e efeitos especiais. Nada podia sair menos que perfeito. Eram exigentes demais e não queriam que todo o trabalho duro fosse em vão.

_ Pessoal, a van vai nos levar para o hotel, vamos só tomar banho, jantar e voltar. Nada de atrasos! – o líder não parava de relembrá-los dos horários – Temos quatro horas antes do show começar. Quero todos prontos uma hora antes de entrarmos no palco. Alguma dúvida?

Encarou todos os presentes, vendo-os negar com a cabeça. Lançou um olhar de soslaio para Arata e Takeo, rezando internamente para que tudo saísse bem.

Rumaram juntos para o hotel, cada grupo caminhando para seu quarto. Arrumariam tudo que fosse necessário rapidamente, para enfim começarem o primeiro show.

* * *

Mesmo inseguros, subiram ao palco. Tinham receio que o vocalista não conseguisse cantar, ainda estava muito comovido, mas mostrara-se forte durante os ensaios, garantindo que não era necessário tanto preocupação, pois ele conseguiria.

E não só Hayato se mostrara abalado. O guitarrista ruivo estava uma pilha de nervos, andando pra todo lado, nunca parando mais que alguns segundos no mesmo lugar. O desconforto era visível, mas ele tentava não preocupar ninguém, achava desnecessário que isso fosse dirigido a si.

Shibuya estava super protetor em relação ao primo, vigiando-o de longe, cuidando para que ele não voltasse a beber tanto, como aconteceu nas últimas semanas. Tinha o apoio do líder e do guitarrista moreno para mantê-lo sob vigilância.

O show transcorria normalmente. O público aplaudia e cantava, embalados pelas letras profundas e marcantes e pelo som envolvente.

Se Arata pudesse escolher, teria cantado apenas as músicas mais melancólicas, pois era assim que se sentia. Vazio, incompleto... Percebeu que o público também se emocionava a cada vez que soltava sua voz. Continuava firme graças ao apoio dos amigos, que lhe encorajaram a subir no palco e cantar.

Não esperava que a música fosse servir tão bem naquele instante, acalmando-o. Ela expressava tudo que sentia, colocando em palavras o que se passava em seu coração e mente. O entristecia muito que estivesse passando por um momento tão delicado.

Mas cada instante é marcante e único, mesmo não sendo seu desejo, sabia que se lembraria daqueles momentos e que mais cedo ou mais tarde tudo se resolveria. Poderia não acontecer como gostaria, talvez não se acertasse nunca mais com o ruivo, mas não queria desistir sem ter tentado mais uma vez.

_ Estão se divertindo? – perguntou com um sorriso enviesado de malícia. – VOCÊS ESTÃO SE DIVERTINDO? – berrou pra multidão e as fãs afirmaram a plenos pulmões – Se Deus existe, – ofegava cansado – então ele sabe o inferno que foi pra subir nesse palco. Por isso... vamos fazer desse live... o melhor de todos os que virão da P"Saiko!!! – gritou e foi seguido pela multidão – Vocês são muito importantes para nós, ajudando no crescimento da banda... – esperou um pouco enquanto as fãs se silenciavam pra ouvir as palavras finais – Nós trabalhamos muito para estarmos aqui, espero que tenha valido a pena e que tenham realmente gostado. Porque pra gente está sendo uma noite especial. – deu algumas batidinhas com o punho fechado na altura do coração. – E... Saber que vocês estão do nosso lado, nos apoiando, torcendo pra que tudo fique bem... A amizade em si é especial...– sentiu seus olhos nublarem, mas não queria chorar – É algo que devemos preservar. Fico feliz em poder contar com os amigos... – fez um gesto em direção à banda – Agradeço a eles de coração, por todo apoio que vem me oferecendo nesses últimos dias... – não agüentou mais segurar as lágrimas, deixando-as cair – Amizade, amor e confiança... são sentimentos tão fortes, tão belos, mas facilmente quebráveis... Seria tão bom se pudéssemos colar, como um quebra-cabeça, onde cada peça tem seu lugar... tendo a certeza que a imagem não mudaria. Por outro lado, nada acontece em vão e... não me arrependo... tenho certeza que aproveitei ao máximo e... todos merecem uma segunda chance... é isso... – respirou fundo, colocando os pensamentos em ordem – I declare myself as... Guilty.

Anunciou a última música, vendo as luzes do palco se apagarem aos poucos, deixando o ambiente quase todo no escuro, apenas um feixe de luz vermelha o iluminando. Se culpava... se culpava pelo que aconteceu a Takeo, por não tê-lo escutado, por não confiar nele do mesmo modo que ele confiava em si, por não ter parado a briga entre os amigos, por ter sido egoísta, pensando só em si...

Quando Arata voltou a cantar, era reunindo todos esses remorsos, jogando toda a sua culpa em cada grave, cuspindo raiva de si mesmo nas palavras cantadas com uma voz que não era desse mundo. Suava. E com o suor ele cantava sua angustia, seu pedido por uma nova chance...

Shiroyama sentiu-se tocado, aquelas palavras foram direcionadas pra ele. Um pedido para mais uma oportunidade. Talvez se...

Precisava tomar uma decisão. Escolher um rumo para seguir e que não fosse se arrepender depois, pois não haveria volta novamente.

Estava muito confuso. Amava Hayato como nunca amou ninguém, se entregara de coração e alma naquele relacionamento, contudo tinha medo de permitir uma reaproximação. Odiava ter feito o outro sofrer, mas não estava em melhores condições, a saudade era tanta que lhe doía cada vez que olhava-o e não podia tocá-lo. Lutara muito e por muitos anos para ter o moreninho ao seu lado. Tentou conquistá-lo aos pouquinhos, com pequenos gestos, querendo apagar a imagem ruim do começo da amizade e mostrando que era uma boa pessoa, que era digno de ser amado.

E justamente aquela música, onde ele começa os acordes, melodiosos e rápidos, onde cada nota era como uma pontada em seu coração. Aquilo fora proposital, tinha certeza.

Para alguns, as palavras de Izumi não fariam muito sentido e para outros serviria perfeitamente. Ele só queria deixar claro que alguém era muito especial para si e que aproveitou o que lhe foi oferecido enquanto pode.

Ambos desejavam internamente que ainda houvesse uma fagulha de esperança.

* * *

Silêncio no backstage, trocas mudas de olhar. O show fora como esperado, estavam exaustos, satisfeitos e orgulhosos do trabalho duro. Mesmo sendo apenas o primeiro live, tinham certeza que os outros também seriam surpreendentes.

Shibuya aproximou-se de Arata, abraçando-o e parabenizando, logo sendo seguido por Teruo, Jack e finalmente Takeo. Esqueceram momentaneamente das desavenças. Aquele era o momento deles. Nenhum problema pessoal iria passar por cima da união da banda.

Apesar de tudo, de todas as brigas e discussões, eram amigos de longa data. E aquilo ninguém tiraria deles.

* * *

Acomodaram-se no carro, escorando no estofado macio e relaxando. Não trocaram nenhuma palavra durante a volta para o hotel. Só pensavam em dormir um pouco e repor as forças.

_ Que tal uma comemoração? – sugeriu Jack, já se encaminhando para o bar, ao que foi seguido por Arata e Teruo. Queria relaxar, não só pelo show exaustivo, mas porque toda a tensão daquelas últimas semanas pesava sobre si.

Arata conseguiu comover todos da banda. Aquelas palavras ficariam gravadas em cada um deles.

_ Hoje não... – Shibuya recusou o convite com um sorriso cansado, correndo atrás de Takeo.

Subiram pelas escadas em silêncio, inconscientemente, Takeo acompanhou o baixista, não se dando o trabalho de puxar papo.

_ Tachi... – odiava ver o amigo e o primo sofrendo, queria poder ajudá-los de alguma maneira.

_ Agora não, Jin. – ignorou a tentativa de conversa, encaminhando-se para a porta do seu quarto, parando com a mão na maçaneta – Shibuya... você... acha que... – balançou a cabeça afastando os pensamentos – Esquece... – entrou no quarto, mas parou ao ouvir a voz do outro.

_ Acho que vale a pena tentar. É melhor do que ver vocês sofrendo, com medo de se magoarem novamente. – encarou as costas do ruivo – O primo ama você, Tachi... Ele errou também, mas sempre temos a chance de corrigir. O sentimento de vocês é mais forte do que podem imaginar.

Suspirou pesadamente, se fechando no quarto e escorando na porta.

Shibuya estava certo. O amor deles era forte demais para ser ignorado. Não podiam simplesmente passar por cima, fingindo que nada aconteceu entre eles. Quanto mais tentassem conter aquele sentimento, mais se sentiriam sufocados, até não agüentarem. Enlouqueceriam pensando nas oportunidades perdidas.

Precisavam de uma oportunidade para conversar, mas Takeo não sabia como reagir caso Hayato viesse falar consigo e também não encontrava forças para procurá-lo. A intervenção dos amigos, nessas situações, nunca era bem vista. Não queriam terceiros dizendo-lhes o que fazer. Podiam se considerar uma família, mas pra tudo há um limite.

Contudo, não podiam mais prolongar aquela situação. Se deixassem como estava, se não corressem atrás das soluções, poderiam estar destruindo suas vidas.

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