sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Capítulo 1

 

Teruo o ajudou a se levantar, apoiando um braço em sua cintura, carregando a maior parte de seu peso. Sentiu que Takeo estava distante, pois não respondeu nenhuma de suas perguntas, pelo menos estava consciente de seus atos, pois gemia baixinho, sentindo as dores espalhadas em seu corpo.


Pegaram o elevador do prédio, indo direto para a garagem no subsolo, tendo a sorte de não encontrarem com ninguém durante todo o percurso. Não seria fácil explicar porque Shiroyama estava todo sujo de sangue.

Antes que chegassem ao automóvel, sentiu o corpo do ruivo pesar. Jogou o cigarro que mantinha na boca longe, usando os dois braços para tentar segurá-lo de qualquer jeito, para que não fossem ao chão.

Arrastou-o com dificuldade até o carro, apoiando Takeo inconsciente contra a lataria, tentando segurá-lo com uma mão enquanto com a outra abria a porta do automóvel e deitava-o no banco de trás.

_ Takeo? – deu leves tapas em seu rosto ensangüentado, não recebendo nenhuma reação de volta – Droga... quando eles vão aprender? – acomodou-o melhor no banco e fechou a porta, correndo até o volante e saindo rápido dali.

Sabia que a briga fora sem fundamentos, eles viviam se provocando, mas uma hora as coisas sairiam do controle. Só não sabia que seria tão complicado assim.

* * *

Algum tempo depois saiu do quarto deixando o ruivo dormindo, aproveitaria para ligar e deixar notícias. Sabia que estariam desesperados.

No segundo toque foi atendido.

_ Teruo! Como ele está? – Arata tremia tentando segurar o aparelho.

_ Ele está internado. A pressão caiu muito e ele desmaiou. O Jack deixou umas marcas bem feias no rosto dele. Vai passar a noite aqui. – informou, sentando do lado de fora do quarto, numa das salas de espera.

_ Ele está bem, não está? – Arata perguntou aflito, sentindo o olhar de Shibuya sobre si, que também queria notícias – Você vai ficar com ele?

_ Vai ficar... – suspirou pesadamente, queria falar que fisicamente ele ia ficar bem, mas sentimentalmente, estaria arrasado, mas não ia intrometer na vida dos dois.

* * *

_ O que foi que eu fiz? – perguntou baixinho, encarando as próprias mãos, ainda com o sangue de Takeo – Quase o deixei saber...

Não podia ter se exposto daquele jeito! Deixou que o ciúme o cegasse e a fúria falasse mais alto. Atacou o amigo sem deixar que se explicasse e quase machucou Ikeuchi também.

Caso tivesse esperado um pouco mais, teria entendido o que aconteceu, mas agiu feito um animal, onde o instinto supremo é a sobrevivência, onde o mais forte domina e sobrevive.

Agora corria o risco de ter seus sentimentos descobertos. Tentou ocultar por tanto tempo que se sentia atraído pelo baixista, que agora não sabia como agir diante dele. Se Arata explicasse o seu surto, Shibuya iria questioná-lo da verdade.

Iria negar, é claro! Não podia deixá-lo saber que era correspondido! Não era digno de sentir tal sentimento.

E agora havia Shiroyama... como iria encará-lo e pedir desculpas? Será que estragara a amizade de anos?

Era melhor esperar o ruivo aparecer no outro dia para conversarem e tentarem se acertar... se isso fosse possível.

* * *

Acordou desnorteado, olhando cada canto do quarto semi-escuro e desconhecido. Virou a cabeça de lado, notando um fio conectado a si, injetando soro em suas veias.

_ Hospital... – sussurrou baixinho e com a voz rouca.

Um flash de memórias invadiu sua cabeça, Jack partindo pra cima de si, o gosto de sangue invadindo seu paladar, a consciência apagando, Arata apenas olhando a cena, sem tentar protegê-lo.

Lágrimas nublaram seus olhos e não quis impedi-las de cair. Fora injustamente julgado, por todos os seus amigos e o pior, pela pessoa que mais amava, mais uma vez.

Nem pudera se defender ou explicar o que realmente aconteceu.

"_ Eu pensei..." – as palavras de Izumi lhe voltaram à mente.

Por que sempre pensavam o pior de si? Já não dera mostras o suficiente que nunca seria capaz de trair seu namorado? Amava-o demais, acima de qualquer coisa!

Mas não importava o que fizesse, todos os seus gestos eram sempre mal interpretados e acabava se dando mal.

_ Eles nunca confiaram... em mim... – engasgou-se com suas lágrimas, não tinha vergonha de chorar, estava mais uma vez sozinho, precisava por seus sentimentos pra fora antes que sufocasse.

Mais uma vez tivera seus sentimentos feridos e seu coração partido. Será que não fora feito para amar? Estava destinado a viver o resto de sua vida sozinho? Sem parentes, sem amigos, sem um amor...

Aparentemente era mesmo pra ser assim. Devia ter aprendido da primeira vez. Jurara nunca mais voltar a amar ninguém, mas Izumi o conquistara aos poucos, com seu jeitinho meigo, seus sorrisos sinceros e sua paciência extrema.

Contudo, o que Takeo notou é que chegara ao limite. Testara não só a paciência como também a confiança de Arata. E odiou o resultado que recebeu em troca, a confirmação que não tinha nem um pouco de crédito com ele.

Tinha plena consciência que anos atrás, antes de conhecer os integrantes da banda, era um completo galinha. Saía com várias pessoas durante a semana, flertava e seduzia qualquer um que desse mole. Porém, quando afirmava aos ‘amigos’ que nem todos os casos terminavam na cama, eles riam de si, não acreditavam, pensando ser mais uma de suas brincadeiras.

Relevava, pois não queria brigar por coisas banais. Achava que com o tempo isso mudaria. Ledo engano. As coisas só pioraram. Ninguém acreditava em si. Nunca acreditaram e nunca acreditarão.

_ Não devia ter quebrado a promessa... – levou a mão ao peito, apertando o local, como se desse modo pudesse tirar a dor de seu coração.

Teria sido tão simples se não tivesse se apaixonado. Podia continuar vivendo tranquilamente. Só que as pessoas ao seu redor, e até sua própria consciência, lhe pediam para dar mais uma chance.

Não custava nada. E ele sempre podia recomeçar do zero se não desse certo. Mas agora percebia que recomeçar do zero era doloroso. Fora doloroso quando saíra de casa, seria doloroso agora.

Por que tinha que amá-lo tanto? Sabia que era correspondido, mas não tinha a confiança. O que era do amor sem a confiança e sem o apoio mútuo? Do que adiantava amar se não acreditava nele? Se qualquer vestígio ou suspeita de traição aparecesse, Hayato já se colocava em estado de alerta, desconfiando de tudo ao seu redor.

Por que estava doendo tanto? E não era a dor física. Aquilo era ignorante perto da dor em seu peito.

Lacerava sua alma...

* * *

_ Acho melhor a gente ir pra casa Shibu-chan... – sussurrou o vocalista, após ficar um longo tempo sentado no estúdio, esperando que lhe acordassem e dissessem que tudo não passava de um sonho.

_ O Jackie também não vai voltar, não é? – lançava a todo instante olhares para a porta, esperando que o líder voltasse.

_ Não... – balançou a cabeça, pondo-se de pé e estendendo a mão para o primo, que aceitou, levantando-se também e sendo surpreendido por um abraço – Jin... me desculpa por ter desconfiado de você e do Takeo.

_ Tudo bem, primo... – retribuiu o gesto, escondendo o rosto em seus braços – A gente tinha que ter explicado. A culpa foi minha pelo Tachi e pelo Jackie terem brigado. Não devia ter pedido ajuda pra conquistar o Jackichi...

_ Claro que não! – afastou-se, assustado – A culpa não foi de ninguém, estávamos de cabeça quente, ninguém pensou direito!

_ Mas... – suspirou tristemente, balançando a cabeça, tentando jogar os pensamentos pra longe – Vamos embora...

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