terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Capítulo 4

Five Stars
Lady Bogard

Capítulo 04

Antes que dissesse alguma coisa ou entrasse, Jin virou-se com um sorriso misterioso nos lábios, abraçou forte o pingüim, e declamou meio cantado:

– Primo... agora vai conhecer Trevas. Trevas, venhaaaaa!

Izumi arregalou os olhos e sentiu o sangue gelar nas veias. Seria possível que além de otaku seu primo era algum tipo de bruxo? Em que armadilha fora se meter...?

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O moreninho não teve tempo de dar meia volta e correr. Ouviu um latido muito alegre e a risada cristalina de Jin:

– Conheça Trevas, o outro morador desse apartamento.

Ainda meio lívido, Izumi observou o pequeno Yorkishire que invadiu a sala, fazendo uma festa danada aos pés do dono da casa. Ikeuchi soltou o Mister Pingüim no chão e largou a mochila sobre o sofá pra poder pegar o mascote.

– Olá, Trevas! Sentiu a minha falta? – então virou-se para Hayato – Espero que não tenha medo de cachorros. Se importa em dividir o teto com ele?

Estendendo as mãos, Izumi pediu pra pegar o bichinho. Adorava animais e não teria problema algum em conviver com o Trevas:

– Posso pegá-lo?

– Claro!

Izumi sorriu ao sentir o pêlo macio e ver como o Yorkishire balançava o rabinho, como se já aceitasse o novo morador do apartamento. Ia comentar como ele era bonitinho quando notou algo e franziu as sobrancelhas:

– Ikeuchi...o Trevas...

– O que tem? É meu melhor amigo!

Hayato piscou. Abriu a boca pra dizer algo, mas hesitou. “E é uma fêmea.”, pensou. Como o primo não notara antes?

– Ele é uma graça. – elogiou. Ikeuchi acabaria descobrindo mais cedo ou mais tarde.

– É sim. Ah, pode me chamar de Jin ou de Shibuya. Somos primos, não precisa ser formal.

– E você pode me chamar de Hayato ou Arata.

– Deixa a mochila aí. Você está com fome? Tem alguma coisa pra comer.

Já na cozinha Jin abriu o armário e pegou duas embalagens de lamen instantâneo, encheu de água e colocou no microondas.

– Você deve estar cansado da viagem. Tem muitos planos ou algo em vista? – perguntou sentando-se na mesa.

– Não. Vim com a cara e a coragem. – pensou em como saíra de casa com as poucas economias, cheio de entusiasmo e animação. Queria mudar de vida, experimentar coisas novas, sair da morosidade do interior.

– Boa sorte! As coisas por aqui não são fáceis, mas se você tiver força de vontade... – o aparelho apitou anunciando que a refeição estava pronta. Jin foi pegar, trazendo junto com dois pares de hashi. – Aqui está.

– Arigatou. – agradeceu antes de exclamar junto com o primo: – Ittadakimasu!

– Ne... – Hayato começou após engolir a primeira porção – Sobre o aluguel e as despesas...

– Eu não pago aluguel. – Shibuya soprou o lamen – Essa casa é da minha mãe.

– Mas as despesas...

– Não é comigo. Eu não trabalho, sabe? Então minha mãe banca os meus gastos e me dá uma mesada. Acho que ela não vai se importar se você ficar por aqui.

– Mas eu vou falar com ela. – Arata soou decidido. Não queria ser um peso pra ninguém. – Depois você me dá o telefone dela?

– Hai, hai.

Terminaram de comer em silêncio, com Trevas pulando na perna hora de um, hora de outro. Então Jin deu um pouco de ração para o mascote antes de mostrar a casa para o primo.

– Aqui é a cozinha. – riu – Ali a área de serviço. – aproveitou pra recolher as roupas secas e guardar os varais móveis – Aqui é a sala. Ali o meu quarto. Banheiro e ali era o quarto da minha mãe. Você pode ficar nele.

– Tem certeza? Posso me acomodar na sala...

– Não. Eu acho estranho ficar no quarto que era dos meus pais. Não uso pra nada. – abriu a porta e mostrou o cômodo. Era de tamanho razoável, tinha uma cama de casal, um guarda-roupas e um criado mudo. – Aquela porta ali é do banheiro. Você pode usar esse ou o outro, tanto faz.

– Obrigado. – Hayato estava tocado pela boa vontade e hospitalidade do primo. Eles haviam tido pouco contato até então, e apesar de mal se conhecerem fora bem recebido. O que era surpreendente, de tudo que já ouvira falar sobre otakus...

– Ne, ne. Amanhã mando tirar cópias extra da chave. Só vou pedir duas coisas: onegai, dexa sempre a luz da sala acesa, okkei? Pra... ninguém pisar no Trevas ou em alhum manga...

– Claro. – Arata concordou. – O que mais?

– Ah, sobre o outro banheiro... a noite ou quando sair de casa, você deixa a porta aberta? Ensinei o Trevas a usá-lo... – sorriu de um jeito bobo.

– Jin... – coçou a cabeça.

– Nani?

– Você nunca levou “o” Trevas no veterinário?

– Minha mãe já levou. Por que? – não entendeu a pergunta?

– Ah, nada não! – desconversou. O primo ia descobrir mais cedo ou mais tarde – Acho que eu vou arrumar as minhas coisas. – precisava descansar um pouco também, pra começar a nova vida a partir do dia seguinte.

Jin foi até a sala e trouxe a mochila do moreninho:

– Pode ficar a vontade. Vou dar uma geral no meu quarto e depois vou encontrar com um amigo. Você quer ir?

– Não. Hoje eu passo. – arrepiou-se ao imaginar o tal amigo. Devia ser um otaku também. Não que tivesse algo contra. Acabara de conhecer um que não era totalmente alienado.

– Okkei. Ah, me passa o numero do seu celular e anota o meu, pra qualquer eventualidade.

Poucos minutos depois Jin saia do quarto, deixando o primo sozinho. Hayato colocou a mochila sobre a cama e foi observar uma das portas. Era a sacada. A vista não era das melhores, do segundo andar.

Voltou pra dentro e viu Trevas parado no meio do quarto, olhando pra ele e abanando o rabo. Acabou rindo:

– Pobre mocinha. Te transformaram num rapaz.

O animalzinho latiu, como se tivesse entendido.

oOo

A madrugada estava quase acabando. E Takeo sentia que ia se sair muitíssimo bem.

Mais uma vez trocou um mirada rápida com a bela moça sentada no balcão. Não era nada má...pelo contrario. Diferente da maioria das japonesas tinha um corpo bem estruturado, não era magra demais nem estava acima do peso. Os cabelos longos brilhavam sob a luz artificial. Tinha um sorriso lindo adornando os lábios cheios pintados de vermelho.

A garota estava te dando mole. A noite terminaria do jeito que Takeo gostava.

Sua ansiedade era tal, que quando deu por si já era hora de ir embora. Aproximou-se da “vitima” da noite que descobrira se chamar Lia. Combinaram que ela esperaria ali dentro, mesmo após o point fechar. Passou um braço pela cintura dela:

– Pronta?

– Claro. – e passou a língua pelos lábios de forma insinuante.

Takeo riu e a puxou para a saída. Já levava o estojo com a guitarra nos ombros.

Assim que saiu no ar fresco da noite, percebeu o rapaz sentado no meio fio. O mesmo da noite anterior. Reconheceu o sorriso bobo e jeito indisfarçável de otaku. Mas como era o nome dele?

– Oi! – cumprimentou sem ficar em pé – Acha que podemos tirar um som hoje?

Takeo rolou os olhos. Será que ele não via que já tinha compromisso? Sentiu o olhar curioso da garota cravado em si, como se esperasse um fora. Em resposta apertou a cintura fina e respondeu:

– Hoje eu vou tirar outro tipo de som. – insinuou malicioso. Lia riu alto.

Jin não desanimou:

– Tudo bem. Passo aqui amanhã.

– Ah, claro. Pode passar. – continuou em frente, levando a moça ansiosa com ele.

Shibuya ficou em pé e seguiu em direção contraria, rumo à estação. Ainda dava tempo de pegar o primeiro trem e voltar pra casa. Suas esperanças não haviam esmorecido nem um pouco. Nada que realmente valesse a pena era fácil.

Voltaria ali na noite seguinte. E em quantas fossem necessárias.

 

Continua...

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