sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Capítulo 2

 

Recebera alta na manhã seguinte, descobrindo que não ficara realmente sozinho na noite passada. Teruo o esperava do lado de fora, segurando um copo com café e oferecendo carona pra casa.


Não compareceu ao ensaio durante os três dias seguintes. Ainda sentia o corpo todo dolorido, sem contar os vários hematomas espalhados pelo rosto, que não conseguiria esconder nem com maquiagem.

Sabia que os shows começariam em breve, mas não se sentia motivado a ver ou falar com ninguém. Seu orgulho estava ferido, seu coração partido e sua cabeça cheia de pensamentos obscuros.

Ninguém ligou para saber se estava bem ou se precisava de alguma coisa. E, mesmo se tentassem, não conseguiriam entrar em contato. Takeo fizera questão de desligar o celular e havia pedido na portaria do prédio que não deixasse ninguém subir, sob hipótese nenhuma.

O que não havia surtido muito efeito naquele dia.

Já eram quase oito horas da noite quando ouviu baterem à sua porta. Resmungou e xingou baixinho, praguejando contra o segurança que nem ao menos avisara que alguém havia passado.

Ou talvez o espertinho que lhe incomodava conhecia mais alguém do prédio e dissera ir encontrar outra pessoa.

Preguiçosamente levantou-se do sofá ao qual estivera deitado pelos dias que se passaram, caminhando bem devagar até a porta, ouvindo mais uma vez as batidas insistentes na madeira.

Abriu uma pequena fresta, encontrando olhos castanhos e pedintes lhe encarando.

_ O que você quer? – perguntou friamente, não se dando ao trabalho de dar espaço para o outro entrar.

_ Tachi, eu... eu queria... conversar com você. – Shibuya sabia que o amigo não estava bem, mas assustou-se ao ver seu rosto repleto de manchas roxas, os lábios cortados e alguns pontos sob a sobrancelha, onde antes estava seu piercing.

Com um pesado suspiro, Takeo abriu a porta, esperando o outro entrar. Sabia que ele não era completamente culpado do que aconteceu. Quem começara a brincadeira fora ele mesmo.

_ Fala logo que eu não tenho a noite inteira. – jogou-se sobre o sofá, não se importando em ser educado e oferecer algo ou pedi-lo para sentar.

Shibuya caminhou até o ruivo, sentando-se no chão e escorando as costas no sofá, de modo a não encarar o amigo.

_ Desculpe o que aconteceu. A culpa foi minha... devia ter falado que a gente só assistiu filme, mas o Jackichi nem deu tempo pra gente explicar. – começou a chorar baixinho, se sentindo mal pela briga.

_ Não foi culpa sua, Ikeuchi. – passou a mão pelo rosto, levantando e sentando ao lado do moreninho no chão – Você sabe o que aquele ataque significou, não sabe? – encarou-o de soslaio.

_ Eu... acho que sei... – fungou, secando as lágrimas – Ele não gostou de ver a gente junto. Arachi disse que ele ficou com ciúmes de mim.

_ Exatamente. Bom, se você queria seduzir ele, não vai precisar se esforçar muito, ele já deixou claro que sente algo por você. – levou a mão aos cabelos do outro, bagunçando e afagando.

_ Não está com raiva de mim? – encarou-o surpreso, achando desde o começo que seria expulso dali a pontapés.

_ Raiva não... mas... – cobriu o rosto com as mãos, tentando por os pensamentos em ordem – Eu estou confuso... não sei em quem posso confiar, já que ninguém confia em mim.

_ Eu confio!

_ Ikeuchi, confessa que também já imaginou que eu dormi com pelo menos metade de Tóquio. – falou friamente, encarando-o sério – Vocês realmente acham que eu sou capaz disso, que eu não tenho escrúpulos!

_ Não... não é assim... – sentiu-se acuado pela acusação.

_ O que você ia sentir se Jack falasse isso de você? Sabe como eu me sinto por saber que o Arata nunca confiou em mim?

_ Mas o primo gosta de você, Tachi! – segurou-lhe a manga da camiseta com urgência.

_ Isso não basta, Jin... – sussurrou baixinho – Eu também amo ele, e apesar de sempre demonstrar que eu sinto ciúmes, eu confio plenamente nele...

_ Tachi...

* * *

Os ensaios corriam normalmente, exceto pela falta do guitarrista ruivo.

Ninguém questionara os motivos ou acusara Jack pelo ato de violência. Também não perguntaram para Teruo se havia recebido alguma notícia, ele fora taxativo em afirmar que não se envolveria na briga deles. Shibuya comentara no dia anterior que foi visitá-lo, mas não o deixaram entrar no prédio, nem com muita insistência.

Estavam ensaiando mais uma música quando Takeo apareceu no estúdio, carregando sua inseparável guitarra vermelha.

No mesmo instante a música parou e eles se encararam. O olhar do ruivo perscrutou cada rosto presente, fixando-se mais em Arata e Jack, que para sua alegria, também possuía alguns hematomas em sua face. Olhou com desprezo para os dois, fechando as mãos em punhos.

_ Quero uma reunião com o grupo, agora se for possível. – falou friamente, sem encarar ninguém em especial, esperando uma reposta a seu pedido.

Após um momento de tensão e silêncio absoluto, Jack deixou as baquetas de lado e pôs-se de pé, saindo detrás da bateria. Teruo também deixou a guitarra no suporte, assim como Shibuya guardou o baixo.

_Vamos pra sala de reuniões. – anunciou o líder.

_ Não é necessário, Asamura. Pretendo ser rápido. – depositou a guitarra no sofá, parando novamente na frente de todos e cruzando os braços, tendo todas as atenções voltadas para si.

_ Pode falar. – anunciou o líder, parando a poucos passos de si.

_ A partir de agora, meu contato com vocês, sem exceções, é estritamente profissional. Não quero saber de festinhas, reuniões ou passeios com o grupo. Não precisam se dar ao trabalho de me avisar ou convidar por educação. – respirou fundo antes de continuar – Teruo expressou a idéia de procurarem outro guitarrista... Receio que não será necessário, a não ser que vocês me peçam para sair da banda. Eu batalhei muito para chegar aqui e não vou parar agora.

_ Não está descontando suas frustrações nas pessoas erradas, Shiroyama? – questionou o líder, temendo o resultado que seu descontrole causou – Pra começar Teruo não tem nada haver com essa briga e Ikeuchi se envolveu porque você direcionou sua brincadeira a ele.

_ Não se intrometa mais na minha vida pessoal Asamura! Não estou descontando nada em ninguém, estou expondo minha posição em relação à banda a partir deste instante.

_ Imagina se estivesse... – resmungou Teruo do seu canto.

_ Mas... o que eu fiz Tachi? – Shibuya olhou-o desolado, sabendo que parte da culpa era sua, pois tudo começara com seu pedido de ajuda.

_ Foi o que você não fez. – olhou-o friamente, como nunca fizera antes – Precisa parecer um bichinho assustado por qualquer coisa que lhe mostrem? Seria mais fácil se não fosse um desgraçado de um otaku que não sabe nada da vida real! – cuspiu as palavras ferozmente.

_ Não fale assim com ele! – Arata berrou pondo-se na frente do ruivo – Seria bem mais simples se as pessoas não tivessem traumas! Qualquer merda de passado!

_ Cuidado com o que fala, Shiroyama! – alertou o líder, também pronto pra voar sobre ele.

_ Eu pelo menos falo o que penso. E você, Asamura? Quando vai virar homem pra assumir o que sente? – questionou desdenhoso, ignorando Arata.

_ Não sei do que está falando. – tentou desconversar, sua vontade era calar o ruivo a sua frente.

_ Ah, não sabe? – sorriu irônico – Vou tentar esclarecer pra você. Voou pra cima de mim quando pensou que tínhamos transado. Vai dizer que não sente ciúmes desse cabeça de vento?

_ Takeo, chega! – o vocalista gritou, vendo o guitarrista apenas lançar-lhe um olhar desinteressado.

_ Meu assunto ainda não é com você Izumi. – rebateu friamente.

_ Está ofendendo ele e eu não vou permitir que faça isso! – não entendia porque Jin não revidava também, mas defenderia o primo, não importava de quem fosse.

_ Não ligo para o que pensa. – desviou o olhar para o baterista, retomando a discussão – E então Asamura? Vai confessar ou vai continuar se fazendo de desentendido? Duvido que seu acesso de ciúmes tenha sido pra mim.

_ Isso não é da sua conta! – aproximou-se gritando, seus olhos demonstravam a fúria que se passava dentro de si.

_ Hunf... isso é suficiente pra mim. – ignorou o acesso de raiva com um gesto.

_ O que há com você? – Hayato aproximou mais, tocando-lhe o braço – Simplesmente some e agora volta maltratando todo mundo! Você não é assim.

_ Você tem razão em não confiar em mim Izumi, eu não presto mesmo. – declarou fria e calmamente – Você merece alguém melhor, que não tenha um passado condenável. Alguém responsável e maduro, não um pirralho que cresceu demais. Acho melhor a gente acabar aqui. – levou a mão ao colar em seu pescoço, arrancando-o brutalmente e jogando aos pés de Arata, junto com a aliança que usava de pingente.

Hayato encarou-o com os olhos arregalados, não acreditava no que estava ouvindo. Só podia ser mais uma das brincadeiras de Takeo. Ele nunca terminaria consigo. Sempre dissera que somente largaria de si no dia que Arata enjoasse ou não o quisesse mais.

_ Tachi... – puxou-lhe pela barra da camisa, seus olhos lacrimejando – Você está brincando, não é? Pega esse anel de volta, por favor... – sua voz foi ficando rouca e baixa.

_ Não tenho motivos para brincar com você, Izumi. – afastou-se, puxando a roupa das mãos do moreninho – Já chega de não ser levado a sério!

_ Espera... não faz isso... – levou a mão ao braço do guitarrista, segurando-o fortemente – Eu sei que agi mal, me desculpa... eu...

_ Chega, Izumi! – afastou os braços do vocalista de si, caminhando até o sofá – Eu vim aqui para ensaiar, se não forem continuar vou embora.

Jack olhou penalizado para Arata. Não ficaria surpreso se ele descontasse um pouco da raiva em si, mas sabia que o vocalista nunca faria isso, ele era doce demais para jogar a culpa em alguém.

_ Vamos ensaiar... – o líder chamou baixinho, voltando para perto da bateria.

Teruo e Shibuya pegaram os instrumentos de volta e Takeo pegou sua guitarra, indo para seu lugar nos ensaios.

_ Arachi? – o baixista chamou o primo, que nem havia se movido – Você não vem?

Continuaram encarando as costas do vocalista, ainda estático no lugar.

_ Arata? – o chamado agora viera do líder, vendo-o se sobressaltar – Vá para sua posição.

Com um aceno de cabeça, Arata andou até o microfone, apertando o suporte entre as mãos e fechando os olhos apertados, deixando uma lágrima rolar.

Jack deu o sinal para começarem a tocar, e quando a voz devia juntar-se aos sons dos instrumentos, Arata abriu a boca, mas nenhum som saia.

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