terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Capítulo 2

Five Stars
Lady Bogard

Capítulo 02

Abriu os olhos assim que ouviu o som singular do celular.  O mesmo toque da Miwako, do anime ParaKisu.  Nada muito louvável, diga-se de passagem.

Esticou o braço e puxou o celular atendendo ao segundo toque:

– Moshi, moshi...? Shibuya desuuuuu... – bocejou ao fim da frase.


– Está na hora de acordar, meu filho.

– Okasa... você nunca perde a hora... –falou sonado.

– Tudo bem com você?

O moreno sentou-se na cama.  O lençol escorregou, revelando o pijama azul com desenhos de nuvens brancas.

– Tudo!  Essa madrugada encontrei um guitarrista...

– Um guitarrista?  Quem ele é?  É uma boa pessoa?

– Mãe, calma.  A gente ta combinando um dia pra tirar um som juntos, só isso.  – riu enquanto os olhos observavam as imagens em forma de Pokemon que o abajur projetava na parede – Vou voltar hoje lá.  Depois te conto tudo.

– Hn!  Venha almoçar com a gente.

– Ta bom.

– Te amo.

– Também te amo!

Desligou e espreguiçou-se.  Olhou o visor do celular: nove horas.  Ainda sonolento, levantou-se e, desviando de uma pilha de DVD’s de jogos e saltando uma de mangas, foi abrir a janela.  Só então desligou o abajur.

Deixou a cama desarrumada e foi tomar banho.  Meia hora depois estava pronto para encarar o novo dia.

– Café da manhã.

Atravessou a sala.  Estava quase entrando na cozinha quando colocou as mãos no cabelo, agitando-os:

– TREVAS! – chamou – Pode vir, seu folgado! Nada de ficar dormindo!

Em segundos o som de pequenas patas chegou até a sala, junto com um pequeno Yorkishire de pêlo bagunçado que se esgueirara do quarto. Jin sorriu para o bichinho que abanava o rabo. Agora sim, podiam tomar café.

Antes de concretizar os planos para comer suspirou longamente, como se sofresse muito.

– Não tem jeito...

Diante do olhar atento do cãozinho voltou atrás para pegar algumas peças de roupa caídas no chão.  Duas blusas, um short, meio par de meia preta, uma boxer azul.  Aproveitou e pegou os cinco copos sujos de cima da mesa de centro.

Tropeçou no fio do playstation, mas conseguiu equilibrar-se e evitar uma queda. Trevas achou aquilo ótimo, pois latiu animado duas vezes, fazendo Shibuya mostra-lhe a língua.

– Preciso arrumar isso. – olhou desolado para o cômodo.  Não tinha muitos móveis, mas havia muita coisa espalhada pelo chão: mangas, doushinjis, CDs de musica e DVDs diversos.  Na noite passada tropeçara na pilha de revistas musicais e elas se espalharam em frente a raque.  Era quase impossível andar sem pisar em algo.

Suspirando, apertou as coisas nos braços e voltou-se para ir a cozinha.  Quase pisou no joystick do nintendo Wii.  Saltou ágil, mas o “crec” sinistro que se seguiu indicava outra coisa quebrada.

Com um arrepio preocupado levantou o pé.  Seus olhos marejaram:

– Oh, não! Meu garage kit da Ayanami Rei! – uma verdadeira raridade, que levara dois meses pra ser montada, e jazia agora em vários cacos.

Preciso mesmo arrumar isso...”

Sem nenhum outro acidente alcançou a cozinha.  Deixou os copos sobre a pia e levou as roupas para a pequena área de serviço.  Colocou tudo dentro da máquina de lavar, que já estava quase cheia.

Certo.  Precisava de medidas drásticas.

Jin desistiu de tomar café e de ir passar a manhã em Akihabara (porque de dia ainda era seguro).  Arregaçou as mangas da blusa e resolveu dar um jeito naquilo.

– Trevas, eu arrumo a cozinha e lavo as roupas. Você cuida da sala, do banheiro e do quarto! – o animalzinho balançou o rabo, fazendo Shibuya rir antes de iniciar as atividades “faxinais”.

Era quase hora do almoço quando ficou satisfeito com o serviço: tinha lavado todas as roupas sujas e as estendido nos varais móveis da área de serviço. Assim como lavara todas as vasilhas.  A cozinha estava apresentável.

Quanto a bagunça na sala... bem... estava tudo empilhado certinho pelo chão: pilhas de revistas, DVDs, CDs, BRays, mangas e doushinjis.  E os garage kit estavam onde deviam estar: na raque.  Os três consoles de vide-game estavam na estante, um ao lado do outro.  Mas um joystick  e um controle remoto se perderam em algum lugar.

Não chegara nem perto do quarto, do banheiro ou do antigo quarto de sua mãe.  Arrumaria aquilo numa outra oportunidade.  Agora almoçaria com a mãe, depois passaria pelo parque Ueno, pra tirar um som.  E a noite... voltaria naquele Cyber Café.

oOo

Hayato Izumi saiu da estação de trem com os olhos arregalados de espanto. Aquilo era Tokyo?! Nem parecia parte do Japão, se comparado com a pequena e morosa cidade da qual viera.

Meio intimidado observou a enxurrada de pessoas que seguiam para todos os lados, apressadas, mal prestando atenção no que acontecia ao redor...

Engoliu em seco, passando os dedos magros pela franja de fios negros. Uma mexa tingida de vermelho quebrava o ar sóbrio, dando um quê de rebeldia:

– Ficar parado aqui não vai resolver os meus problemas... – murmurou.

Ajeitou a pesada mochila nas costas e embrenhou-se no meio do povo, seguindo em direção rua abaixo. Tinha que ir para um bairro um tanto longe, pelo que seu mapa indicava, porém não tinha grana pra pagar táxi. Poderia fazer baldeação a partir dali, mas era melhor economizar e comprar alguma coisa pra comer. Estava morrendo de fome.

Orientando-se pelas placas conseguiu avançar um bom pedaço do percurso. Estava tão fascinado pelo brilho de Tokyo que relegou a fome pra segundo plano. Queria ver tudo, admirar tudo. Nem se aborreceu por demorar quase quinze minutos para um dos semáforos abrir e poder, assim, atravessar uma avenida enorme.

Só depois de andar quase duas horas e ter passado por dois distritos Izumi resolveu parar para comer alguma coisa. Desanimado olhou em volta. Havia restaurantes atrativos, mas pareciam tão caros...

Andou mais um pouco, até encontrar um Cyber Café. Ali devia ser mais barato...

Sorrindo, entrou no local.

oOo

Teruo estava de mau humor. Fora chamado as pressas para cobrir um colega do turno do dia. Era bem cansativo, principalmente por que nem tivera tempo de descansar. Mas não reclamava porque a grana extra viria bem a calhar.

Àquela hora o movimento aumentava sempre. Era horário de almoço. Geralmente ficava atrás do balcão, preparando as bebidas. Excepcionalmente na ocasião ficaria como garçom, pegando os pedidos nas mesas.

Suspirou quando viu um novo cliente entrar. Um rapaz de estatura mediana, com cabelos negros muito lisos, com uma mexa ruiva na franja. Vestia trajes discretos e levava uma aparentemente pesada mochila nas costas. Olhava tudo com olhos arregalados, parecendo encontrar alguma novidade.

Teruo sorriu de lado, acostumado com a cena. Não seria o primeiro garoto vindo do interior que entraria ali, abismado com tantas coisas diferentes.

Esperou que o recém-chegado sentasse em uma das mesinhas e foi até ele, levando o cardápio.

– Bem vindo. – sorriu.

– Obrigado! – agradeceu aceitando o que lhe era oferecido.

O ruivo assentiu e afastou-se, deixando-o livre para escolher a vontade.

Izumi passou os olhos pelo que era oferecido e quase praguejou. Era tudo muito caro! Ouvira falar do alto custo de vida em Tokyo, mas não pensara que fosse tanto. O que, normalmente, custava uma refeição completa em sua cidade natal ali não dava pra comprar muita coisa...

Apesar de ter se afastado, Teruo ficou de olho na mesa do garoto. Sabia que a maioria daqueles garotos chegava vinha em condições suspeitas. Ele podia estar de mau-humor e ter seus altos e baixos, mas possuía um bom coração.

Você não tem jeito, Shiroyama.”, recriminou-se. Devia aprender a ser mais duro, mas enfim... lá ia ele outra vez...

Voltou para a mesa, notando que o rapaz evitava desviar os olhos do menu.

– Já escolheu? – perguntou suave.

– Ano... posso pensar um pouco mais...? – respondeu com um sorriso amarelo. Pensava se ficaria muito feio levantar-se e ir embora sem comprar nada. Porém o garçom não deu tempo:

– Temos lanches leves. E suco natural, pras pessoas que usam os computadores. Posso recomendar algo, se quiser...

Torta?! Izumi sentiu um arrepio ao ver o preço daquilo. Definitivamente estava fora de questão.

– Ano...

– Olha, não pense que sou um tipo de otaku estranho, mas fica por minha conta.

– De jeito nenhum! – só então o moreninho ergueu os olhos, surpreso pela oferta. Observou o rapaz ruivo de olhos cinzentos, mais alto do que si que parecia ter a mesma idade. O funcionário do Cyber Café tinha ainda um atraente piercing na sobrancelha.

– Considere um presente de boas vindas a tokyo. – piscou.

Izumi hesitou por um segundo, então sua barriga roncou e ele ficou sem graça. Balançou a cabeça aceitando a generosidade do estranho que foi concretizar o pedido. Não demorou muito e o lanche vinha pra sua mesa. Pôde saciar o apetite.

– Arigatou. – agradeceu ao terminar a deliciosa refeição.

– Hn. – Teruo respondeu. Em seguida se apresentou: – Shiroyama Teruo.

– Hayato Izumi.

– Boa sorte aqui em Tokyo, Izumi. E apareça outra vez.

– Hai! E então eu te pago algo em troca, combinado? – reverenciou de leve.

Teruo balançou a cabeça e voltou aos seus afazeres. Desde que trabalhava ali já pagara a primeira refeição de algumas pessoas. Nenhuma delas havia voltado. Sabia que provavelmente não reveria aquele moreninho também. Paciência.

De barriga cheia, Izumi sentiu um novo animo. Levantou-se para ir embora. Ainda restava um percurso considerável até o bairro de Shibuya, onde seu primo Ikeuchi Jin morava.

Continua...

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