Five Stars
Lady Bogard
Capítulo 01
Estava atrasado. Miseravelmente atraso.
Culpa sua mesmo. Porque fora se entreter na casa do amigo, tocando?
Ajeitou o estojo da guitarra nas costas. Quando se tratava de sua maior paixão, a música, Takeo perdia a noção das horas.
Suspirando, implorou silenciosamente que o chefe não estivesse vagando pelo salão. Não queria levar uma bronca.
Entrou no Cyber Café, onde era barman do turno da noite. Enquanto avançava entre as pessoas que lotavam a casa, passou as mãos pelos cabelos curtos tingidos de vermelho, num tom que combinava com o cinzento dos olhos.
Cumprimentou o outro barman que tinha uma expressão fechada. Nem usou a entrada de funcionários. Foi pro canto do balcão e passou pela portinhola. Pelo menos já estava vestido com o uniforme vermelho e preto. Era só começar o show.
Leu os pedidos anotados em pequenos papeis, pegou algumas garrafas e, fazendo malabarismos ágeis com elas começou a preparar uma nova rodada de drinks.
Shiroyama Takeo era mestre em coreografias. Sabia que mais da metade dos clientes ia ali por sua causa, pra ver a arte com as garrafas que pareciam bailar nas mãos de dedos ágeis.
O rapaz de vinte e três anos gostava daquele serviço. Ganhava bem, tinha reconhecimento e sobrava tempo para fazer cursinho e treinar com a guitarra durante o dia, já que trabalhava à noite. Sem contar, é claro, os clientes que lhe davam mole... vez ou outra saia com um deles, pra uma noite de sexo bom e descompromissado.
Tinha acabado de preparar um elaborado coquetel que inventara a partir do Blody Mary, quando notou um rapaz no canto do balcão lhe acenando. Sempre tinha alguém que preferia ficar mais perto, ao invés de sentar-se numa das mesas. Os solitários, em via de regra.
– Pois não? – exibiu o que, na sua opinião, era seu melhor sorriso. Os olhos já analisavam o ‘material’ a sua frente. – O que deseja?
O cliente era alto, dava pra perceber mesmo ele estando sentado. Tinha cabelos negros, não muito curtos, mas despontados, com uma franja que caia sobre os olhos castanhos.
– Uma cerveja.
Takeo ergueu as sobrancelhas fazendo o piercing se mover. Uma cerveja? Que pedido mais sem graça. Enfim, não era da sua conta. Foi até o freezer pegar uma latinha e um copo gelado.
– Aqui está.
– Arigatou! – sorriu simpático.
O barman meneou a cabeça. Ia voltar a preparar mais drinks quando ouviu o rapaz exclamando:
– Ne...?
– Deseja mais alguma coisa?
– Não. É que... vi que você tem uma guitarra.
– Ah, sim. Sou guitarrista. – Takeo respondeu simplista. Muitas transas boas começavam com conversas ruins. Ele não tinha planos pra noite e aquele cliente não era de se jogar fora. Talvez, quem sabe...?
– Nice! _ exclamou o desconhecido. Não disse mais nada.
O ruivo estranhou, porém relevou. Voltou ao seu serviço, volta e meia observando o outro pelo canto dos olhos. Percebeu que ele bebia goles curtos da cerveja, sem pressa.
Acabou distraindo-se, atendendo novos clientes. Adorava inovar com os truques que exigiam concentração, afinal um movimento errado e as garrafas podiam ir ao chão, espatifando-se.
Takeo não era bobo: sabia que apenas por sua perícia no preparo de drinks ainda permanecia no emprego, já que sempre se atrasava.
Assim que terminou a cerveja, aquele rapaz que lhe chamara a atenção voltou a acenar. Por um minuto acreditou que ele pediria mais uma latinha. Ao invés disso perguntou:
– Ne, que horas acaba seu turno?
Takeo franziu as sobrancelhas. Estava acostumado com cantadas diretas, mas aquela passara de todos os limites. Analisou a face meio ansiosa por um segundo.
Ora, fazia uma semana que não tinha sexo com alguém. Porque não?
– Termina às quatro. Mas sou liberado às cinco.
– Great! Vou esperar você, pra gente trocar uma idéia. – tirou a carteira do bolso. Ia embora, depois voltaria. Sorriu: – Meu nome é Ikeuchi Jin, mas pode me chamar de Shibuya.
Quando viu Ikeuchi saindo, Takeo passou a língua sobre os lábios. Gostava de um pouco de sedução, mas direto assim também era bom.
Acabou concentrando-se outra vez no serviço e a madrugada passou rápida como todas as outras. Quando deu por si o último cliente bêbado era despachado pra casa.
Pegou o estojo com a guitarra. Estava em seus planos passar na casa de algum amigo e dedilhar o instrumento, treinando novos arranjos.
Saiu do prédio que era um Cyber Café durante o dia e virava um point à noite. O ar frio do fim da madrugada fez seu corpo arrepiar-se. Nada melhor que um pouco de... ‘atividade física’ pra esquentar.
Estaria aquele tal de Shibuya lhe esperando como prometera?
Estava. Sorriu ao ver o rapaz sentado na guia da calçada, perto de um automóvel preto.
– Yo! – Jin cumprimentou.
– Yo. – foi a resposta ecoada do barman.
O moreno ficou em pé, chamando a atenção para um objeto que Takeo não tinha percebido antes. Ele tirou-o das costas e exibiu feliz:
– Eu toco contra-baixo. – informou empolgado exibindo o estojo cheio de botoms – A gente bem que podia tirar um som juntos.
Takeo franziu as sobrancelhas. O que acontecera com a sua noite de sexo sem compromisso? Pelo visto entendera errado.
– O que?
– Tocar. Vamos tocar alguma coisa, ne?
O ruivo enfiou as mãos no bolso e deu de ombros:
– Já tenho compromisso. Obrigado. – não queria perder tempo com essas maluquices. A não ser que viessem recheadas de segundas intenções, o que não parecia ser o caso.
Sem se despedir começou a se afastar.
– Mas...
– Talvez um outro dia. – acenou com a mão.
– Ta bom! Volto amanhã. – anunciou empolgado com a chance.
– Claro, claro. – não deu importância.
Se havia uma coisa que era valiosa para Takeo, essa coisa era a música. Seu sonho era montar uma banda e fazer sucesso. Não ia agir como se fosse uma brincadeira, juntando-se com baixistas desconhecidos para “tirar um som” qualquer.
No momento o ruivo não sabia, mas estava dispensando alguém que viria a ser um grande amigo e integrante de uma das bandas mais famosas do cenário japonês.
Mesmo ignorando tal fato, tivera início, naquele manhã, uma caminhada árdua e cheia de obstáculos rumo ao destino que fora planejado para aqueles jovens rapazes...
Continua...
Huahauhauhau
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