quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Capítulo Único

Please...
Kaline Bogard

Arata acordou cedo. Estava tão cansado, que não conseguira nem dormir direito. A última turnê do ano se aproximava. Não seria fácil. Mas as expectativas eram as melhores possíveis. Ele sabia que os ingressos para os dois shows em Osaka e os três em Kyoto estavam esgotados. E as filas para os lives de Okinawa e Hokkaido estavam com a lotação máxima. Supunha-se que o último show, realizado em Tokyo, seria esgotado em tempo recorde. Bem o esperado da banda que liderava a lista dos mais vendidos.


Saiu do quarto e cumprimentou o primo sentado no sofá:

– Ohayou, Jin!

– Ohayou, Arachi! – o baixista sorriu de volta. Parecia ansioso.

– Vou só tomar café e a gente já vai, okkei?

– Hn. – levantou-se e seguiu o moreninho até a cozinha. – Ne... Arata?

– Nani?

– Posso perguntar uma coisa?

– Claro. – respondeu, servindo-se de café.

– Como você e o Takeo fazem sexo?

O vocalista riu, sem acreditar no que ouvira. Ao perceber que a pergunta era séria, porque Jin estava sério, corou muito sem graça:

– Que pergunta é essa, Jin?!

– Curiosidade, ora...

– Mas assim, do nada? – tentou disfarçar a vergonha.

Então Shibuya esfregou as mãos:

– Eu quero seduzir Jack e fazer sexo com ele. Depois vou pedi-lo em namoro. Só não sei por onde começar.

Arata soprou o café quente antes de dar um gole:

– Não programe as coisas, Jin. Deixe que aconteça naturalmente. Talvez seja melhor pedir ele em namoro primeiro...

– Foi assim com vocês?

– Bem... mais ou menos... – nem Arata nem Takeo podiam ser considerados “puritanos”. Sexo viera como um complemento óbvio para o namoro que tinham. Mas era difícil associar aquilo ao moreno sentado a sua frente. – Eu não consigo pensar em você fazendo essas coisas, Shibu-chan.

– Mas eu consigo. – o baixista respondeu com um bico.

– Relaxa, Jin. Quando for a hora certa as coisas deslancham. Enquanto você encanar não vai dar certo.

– Hn!

– Vamos logo. Se a gente chegar atrasado é bem capaz do Jack nos escalar para ajudar G-san com as roupas da próxima turnê.

Jin fez uma careta com a insinuação. Gensuke san era a pior punição para qualquer um.

oOo

No estúdio encontraram-se com os outros P”Saikos. Todos chegaram na hora. A tensão pela turnê deixava os integrantes da banda nervosos a ponto de ensaiar exaustivamente em busca da perfeição.

Mesmo os fanservice precisavam ser combinados. Para nada sair errado na hora ou acontecer alguma surpresinha.

Pouco antes do final da tarde Jack foi chamado para acertar sobre uma mudança num dos eventos. Estavam querendo transferir um dos shows, em Nagoya, para um estádio ainda maior. Afinal lá fariam apenas uma apresentação.

O líder chamou Arata para verificar os termos do novo contrato. O vocalista tinha muito bom senso na hora de aconselhar. Jack gostava do ponto de vista dele.

Teruo despediu-se, jogando a guitarra sobre o ombro e foi embora, dizendo que tinha planos misteriosos para aquela noite.

Takeo jogou-se no sofá e ficou dedilhando a guitarra. Ia esperar pelo amante e o levaria em casa. Talvez a noite se estendesse um pouco mais. Não. Duvidava dessa opção. Estavam todos cansados e tensos demais para algo. Ou será que não?

Percebeu que Jin estava inquieto, lançando olhares cumpridos em sua direção, como se quisesse pedir alguma coisa. Suspirou longamente:

– O que foi, Ikeuchi?

Jin sorriu com a chance:

– Ne... posso perguntar uma coisa?

– Perguntar, pode. Se eu vou responder já não sei...

– Tachi! – repreendeu.

– To brincando, Shibuya. Pergunta, cara.

– Como você e o Arata fazem sexo?!

– OQUE?! – o ruivo quase engasgou.

–Quero que me dê umas dicas. Pra eu seduzir o Jack. – o baixista revelou seu plano secreto.

Takeo mordeu os lábios. Porque? Porque o Destino fazia aquilo com ele? Lhe dar uma chance de zuar com o amigo daquela forma? Ele não ia deixar passar.

Depositou a guitarra sobre o sofá, levantou-se e aproximou-se de Shibuya:

– Ikeuchi. – falou em voz macia – Um amigo meu não pode ter essas dúvidas. Parece que é hora de você virar um homem de verdade, rapaz. Eu não vou lhe dar umas dicas. Vou dar uma demonstração.

– Demonstração?

O guitarrista sorriu cheio de dentes. Pegou o outro pela mão e o puxou para fora do estúdio:

– Confie em mim, Jin. Depois dessa noite você não terá mais nenhuma dúvida sobre sexo.

Shibuya parou de sorrir. Aquele tom de voz que Takeo usara... definitivamente lhe dera arrepios. E não eram aqueles arrepios gostosos de quando lia um manga lemon. Eram mais parecidos com os que tinha quando assistia filmes de terror, segundos antes do vilão saltar sobre alguma vítima e esfaqueá-la até a morte...

oOo

Arata voltou para a sala da P”Saiko antes de Jack. Estranhou não encontrar os outros três integrantes da banda. Provavelmente já tinham ido embora. Ficou meio aborrecido por Takeo não deixar nem um recado. Mas não era dono dele...

Juntou suas coisas e foi pro apartamento.

Aquela noite Hayato também não conseguiu dormir. Porém não foi por causa do cansaço ou do stress. Seu primo não voltara pra casa. Nem Takeo atendia suas chamadas. Teria acontecido alguma coisa com eles?

oOo

Jack e Arata estavam sentados em poltronas distantes. Cada um perdido em seus próprios pensamentos. Passava das dez horas da manhã. Nem Ikeuchi nem Shiroyama haviam chegado ainda. Teruo, cansado de esperar, saíra pra dar um rolê pela gravadora.

O líder da banda estava com um humor péssimo. Como aqueles dois irresponsáveis podiam atrasar num ensaio faltando tão pouco para começarem uma turnê? Ah, ia esganar ambos. Depois de descobrir o que haviam feito a noite inteira.

– Será que aconteceu algum acidente? – o vocalista perguntou distraído, brincando com a mexa de cabelo ruiva.

Ryuutarou ia responder quando a porta do estúdio se abriu. Primeiro entrou Shibuya, com uma expressão tão séria que Hayato não se lembrava de ter visto na face geralmente avoada. O baixista murmurou um cumprimento de forma mecânica e avançou até sentar-se muito tenso no mesmo sofá que Jack, mas mantendo-se o mais distante possível e evitando olhá-lo.

Estarrecido, Izumi viu seu namorado entrar, com um sorrisão cheio de dentes, quase radiante de tanta alegria.

– Ohayou! – piscou safado para o amante, que observava de queixo caído.

– Oha-you. – Hayato gaguejou.

– Onde estavam? – Jack perguntou sem se preocupar em soar educado.

– O Jin dormiu lá em casa. – o guitarrista informou satisfeito com alguma coisa.

– Takeo estava me ensinando umas coisas sobre sexo. – Ikeuchi afirmou numa voz que soou em falsete. Então virou-se para o líder da banda e corou.

Tanto Jack quanto Arata ficaram horrorizados. Nunca, desde que haviam se conhecido, Jin corara perto deles. Nem quando Takeo pegava pesado nas brincadeiras. Às vezes o baixista ficava sem jeito, mas não a ponto de ruborizar-se.

– Foi constrangedor. – Jin soou estranho.

– Foi muito proveitoso. – Shiroyama contou vantagem e soltou uma risadinha safada. Parecia ter cumprido uma missão secreta com êxito.

Porém a risadinha morreu em seus lábios quando o punho fechado do baterista foi de encontro ao seu rosto num soco violento.

– Yaro! – Jack vociferou antes de tentar acertá-lo novamente.

Takeo não entendeu a reação selvagem. Mas não era homem de perder tempo conversando ou fugindo da luta. Fechou a mão e devolveu na mesma moeda, acertando Jack no olho. O baterista grudou na frente da blusa de Takeo e puxou com força, encaixando outro golpe nos lábios cheios, partindo-os e fazendo sangrar. Shiroyama acertou uma joelhada no estômago do companheiro de banda que o deixou sem ar. Aproveitou a guarda baixa e também acertou-lhe os lábios com força, arrancando-lhe sangue.

Muito pálido, Jin ficou em pé com os olhos arregalados:

– Arachi! – pediu como se o primo fosse o único capaz de acabar com a selvageria. Jack e Takeo pareciam dois campeões de luta livre resolvendo as diferenças no ringue.

O vocalista desviou os olhos da cena feroz entre os contendores e fitou seu primo. O coração batia forte e ele estava realmente irritado e decepcionado. Não pôde acreditar que Jin, em quem confiava tanto, fora pra cama com o seu namorado. Como Takeo podia ter feito aquilo? O homem que amava...

Sem conseguir responder ao pedido Hayato desviou os olhos. Takeo merecia a surra. Lamentava apenas não ser forte para fazer aquilo, pois sua vontade era bater no futuro ex-namorado. Tinha que deixar nas mãos de Jack dar a lição que Shiroyama merecia.

Jack que, alias, estava se saindo muito bem. Ainda tinha em seu corpo as lembranças dos tempos de reformatório. Tempos em que lutar era mais que uma questão de acerto de contas. Tempos em que precisava lutar para sobreviver, lutar para ver o dia seguinte. Se chegara até ali, era por ser bom. Por saber se defender.

Não teve dificuldade alguma em derrubar Takeo no chão e sentar-se sobre o tórax magro de modo a imobilizar os braços ao lado do corpo:

– Desgraçado! – ergueu o punho direito e o desceu certeiro na face ensangüentada – Nunca toque no que...! – acertou outro golpe – Não ria na minha cara. – mais um golpe. Como se atrevera a ir pra cama com Ikeuchi?!

Takeo, no chão, estava ficando tonto, ia perder os sentidos a qualquer segundo.

Porém o líder da P”Saiko não parecia disposto a parar por isso. Nenhum daqueles três havia visto Ryuutarou nervoso de verdade. E, naquele minuto, foi como se estivesse prestes a cruzar o seu próprio limite. Como se quisesse passar seu próprio limite. Via na sua reação a extensão do que sentia pelo baixista da banda. Não enxergara antes, mas agora não podia mais evitar defrontar-se com os próprios sentimentos. Já estava fora de controle e era impossível ignorar. Amava Ikeuchi. “Droga!”

Não queria amá-lo! Não queria abrir seu coração! Não merecia isso... não ele... Ryuutarou, a última pessoa que merecia ser feliz na face da Terra. Era assim que ele se sentia. Porque achava que nunca seria tão bom quanto os outros.

Com os olhos cheios de lágrimas puxou Takeo novamente pela frente da camisa e ergueu o punho direito pronto para dar o golpe de misericórdia quando Jin saiu da letargia e ajoelhou-se ao seu lado:

– Ryuu-chan, onegai! A culpa é minha... eu pedi pro Tachi...

O baterista virou-se para o mais alto. Sem que pudesse evitar esticou o braço e segurou Shibuya pelo pescoço, sujando-o com sangue do guitarrista ruivo:

– Não se meta nisso, Ikeuchi!

Jin levou as mãos até o braço do mais novo, tentando afrouxar o aperto.

– ... onegai... eu juro que... nunca mais assisto... esse tipo de filme...

Demorou meio segundo para a compreensão atingir Ryuutarou e fazê-lo franzir as sobrancelhas:

– Filme? Como assim, filme? – afrouxou o aperto e Jin caiu sentado pra trás, inalando ar com um chiado. Suspenso pela camisa, Takeo ofegou e engasgou com o próprio sangue.

– Filme pornô... – tonto, Shiroyama resmungou, cuspindo sangue.

– Nós fomos pra Shinjuko... – Shibuya explicou – Depois alugamos uns filmes... pra assistir na casa dele...

– Meu Deus! – Arata despertou do transe em que estivera e ajoelhou-se ao lado do namorado, empurrando Jack para o lado – Takeo...

O líder da banda ficou paralisado pela surpresa.

– Gomen... – Shibuya falou recuperando-se – Não achei que... fossem se irritar tanto...

– Eu pensei... – Hayato tentou ajudar o namorado a se levantar, mas o ruivo afastou suas mãos com um tapa.

– Pensou o que? – tossiu – Que eu ia transar... com... o seu primo?!

– Sinto muito... – Arata sussurrou.

– Sente...? Sempre pensa... o pior de mim... Izumi.

Ryuutarou ficou em pé. A confusão era obvia na face pálida. Sentia-se exposto. Agora seus sentimentos pelo baixista ficariam evidentes. E ele quase perdera o controle novamente.

– Jack... gomen... – Jin fez menção de levantar-se, porém o mais baixo o fulminou com o olhar, mantendo-o quieto no lugar.

– Fique longe de mim. – rosnou. Ia saindo do estúdio quando notou Teruo parado, encostado no batente. O guitarrista havia voltado sem que percebessem. Jack passou por ele sem dizer nada e foi embora.

– Crianças... – o guitarrista moreno resmungou, com o cigarro pendendo no canto dos lábios fartos. Depois se aproximou de Takeo e o ajudou a se levantar. – Vou levar Shiroyama ao hospital. Cuida daquele ali. – apontou Shibuya com a cabeça.

O vocalista concordou com as ordens. Teruo era prático e racional em qualquer situação. Assim que os guitarristas saíram, Arata foi pra perto do primo. Tinha que ajudá-lo a se limpar do sangue de Takeo.

– Gomen... – Jin pediu segurando na barra da sua blusa.

Hayato balançou a cabeça. Ele que tinha que se desculpar, por acreditar que Shiroyama e Ikeuchi seriam capazes de tamanha baixeza. Takeo estava certo: sempre pensava o pior dele e o julgava de forma negativa. Tinha que mudar isso. Pedir perdão por condená-lo por algo que era inocente.

As coisas com ele seriam fáceis de se ajeitar. Porque conheciam e respeitavam o jeito um do outro. E se amavam. Mas com Jin e Ryuutarou... previa problemas. Pela reação explosiva do baterista, ele estava longe de aceitar a situação. Mesmo tendo se exposto de forma cristalina com uma explosão de ciúmes quase assassina.

– Não vai ser fácil, Jin. – Hayato sussurrou – Mas acho que... apesar de tudo... – “Nosso Riida gosta de você...” Era a única conclusão a que se podia chegar.

Seria um caminho longo. Somente um amor muito forte poderia fazer Jack derrubar o muro de auto-proteção que erguera em volta do próprio coração. Se o amor que Shibuya sentia era forte a esse ponto, só o tempo poderia dizer.

Fim

Eu juro. Juro por tudo que me é sagrado que essa fic era pra ser comédia.

Lyn e Kika, a reconciliação do Arata e do Takeo fica por conta de vocês! Quero ver como o Tachi vai perdoar o Arachi... i.i

E Nii... gomen. Acho que exagerei com o seu bebê... i.i mas nem foi de propósito...

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