segunda-feira, 30 de novembro de 2009

'Cause I want to know you. I never forget you

 

Notas do Autor:

Primeira parte

Capítulo 2

Eu era somente um garoto de quatorze anos com o típico pensamento de ser aceito em algum grupo, e, para minha infelicidade (ou a deles), meu alvo foi o grupo de valentões do colégio. Eles eram tudo que eu, o moleque franzino e quase frágil, queria ser: temidos, respeitados, fortes e tinham uma gangue.


Devo dizer que, depois de ter cegado o ex-líder deles em uma briga, usando ácido, eu usurpei o lugar dele. Como consegui escapar ileso? Você não temeria uma criança de um metro e meio que, em um ataque de fúria, bateu até quase matar, um idiota com quase o dobro do seu tamanho e saiu ileso? Pois é, eu sei que é absurdo, mas a coisa mais sábia que já me ensinaram era não julgar um livro pela capa.

Logo eu os comandava. Meu ego fora lá nas alturas, perto de plutão (que na época ainda era considerado um planeta, se querem saber). Mas eu queria mais. Somente ser o líderzinho de uma gangue de delinqüentes juvenis não me satisfaria por muito tempo. Um ano, um ano e meio, mais ou menos.

Quando se é temido por um bairro, logo se conhece pessoas. Nem sempre boas, mas para elas eu guardava minha fúria. Elas eram um ótimo pretexto para descontar a frustração de ter que viver somente com meu pai, vendo meu irmão apenas no final de semana. Mas não é somente de inimigos que a vida era feita.

“Man-made never made our dreams collide.”

Eu não lembro se foi espancando o líder da gangue do colégio rival em um beco, ou se foi fumando em um parque quase abandonado, perto da biblioteca, mas eu havia conhecido ele. Não muito mais velho do que eu, com meus quinze anos, Ele deveria ter uns dezenove, mas não aparentava. Nunca aparentou. Era alto demais, comparado a mim, com os cabelos negros, curtos, mas sempre em pé arrumados com gel, um olhar de desprezo pelo mundo e um sorriso de dentes perfeitamente brancos.

A única coisa que me lembro com precisão era de que ele duvidara da minha periculosidade. Algumas vezes eu tinha vontade de esfregar a droga do diagnóstico da psicóloga da escola na fuça das pessoas para que elas se convencessem de que eu tinha (tenho?) a droga daquelas tendências psicopatas. Veja bem, eles me mantinham sob controle com aqueles remédios, mas eu não sei se nasci com isso, ou se fora somente resultado de uma concussão na cabeça. O que eu sei, é que ele somente acreditou quando me viu bater em um dos capangas dele. E eu estava com a cara toda cheia de sangue e as mãos se recusavam a parar.

Ainda guardo a lembrança de estar sentado com ele em um dos bancos do parque, fumando despreocupadamente, ignorando o perigo de algum guarda aparecer e pedir minha carteira de identidade.

Quem era ele, você está se perguntando? Eu satisfarei sua curiosidade, apressado leitor: O nome dele era Yamamura Junichi. E ele era o filho mais novo do chefe da máfia. Como eu sabia disso? Ah, por Deus! Qualquer um sacaria isso ao vê-lo em Kyoto com seus capangas, carros de último ano e ao conversar como fora seu dia.

Mas eu não tinha medo. Não dele. Jun-san fora a única pessoa que realmente me tratou como igual, ainda que não fossemos. Ele era o rico e mimado filho do Han, eu era somente um líder de gangue, um delinqüente juvenil tantos anos mais novo. Mas nossa amizade, apesar de mal vista pelo meu pai de criação, não era completamente odiada pelo dele, pelo que ele me dizia.

De qualquer forma, Jun-san não gostava de me ver envolvido nas brigas. Ele sempre dizia que não queria aquilo para mim, que tinha um futuro pela frente, um futuro livre. Parece um romance escrito por uma daquelas malditas fujoshi, mas é a realidade, meus caros. Jun-san acabara se tornando um segundo irmão para mim, cuidando de mim nas ruas, enquanto Yuuto cuidava de mim em casa. Quando voltava.

“Here we are now with the falling sky and the rain, We're awakening.”

-Nee, Ryuu-chan. – Jun-san começara, sentado ao meu lado em uma mureta, na frente de uma casa abandonada, enquanto seus homens estavam cuidando de um cliente que não pagara os “impostos” que seu pai estabelecera. Ele simplesmente fora até minha casa e me chamara para dar uma saída, como sempre fazia. – O que vai fazer, quando se tornar maior de idade?

Me pegara de surpresa. Eu nunca havia pensado naquilo. Joguei fora a ponta do cigarro já acabado, dando de ombros, encarando meu All-star completamente rabiscado e minhas pernas cobertas pelo uniforme preto.

-Eu... não sei. Quem sabe dar aulas de bateria? – dei de ombros, erguendo o olhar para encarar a rua, enquanto o percebia levando o resto do cigarro aos lábios antes de jogar fora. – É a única coisa que sei fazer decentemente, Jun-san.

-É um bom futuro. – ele começou, sentando-se na mureta e começando a bater nas próprias coxas, me fazendo rir de leve. – Nunca pensou em ter uma banda, Ryuu-chan?

-Não. Sabe, fazer música é legal, mas eu acho que... não é para mim, esse negócio de banda. Eu não sei compor músicas, não sei se agüentaria sair em turnê pelo país e ficar mais tempo sem ver Yuuto-nii mais do que já fico.

Jun passou um braço pelos meus ombros, me puxando para perto de si em um abraço, seus lábios indo até minha orelha, sussurrando em uma voz rouca, sua respiração quente batendo em meu rosto, enquanto eu corava sem saber porque:

-Me prometa que, enquanto eu estiver aqui, você não vai me abandonar, Ryuu-chan. Não vai me deixar sozinho. – aquelas palavras fizeram meu coração doer, enquanto meu estômago descia até se embolar com os intestinos. Por que diabos ele falava aquelas coisas?

-Você não precisa pedir isso, Jun-san. Você é meu melhor amigo. – me desvencilhei dele, falando seriamente, me deparando com um sorriso pequeno no rosto dele. Rosto esse, absurdamente bonito. – Amigos não abandonam um ao outro, Jun-san. Enquanto você estiver perto de mim, sem me abandonar, eu não o abandonarei. Mesmo que você tente me mandar para longe de você, eu voltarei.

Eu vi o sorriso dele alargar-se mais um pouco e me permiti sorrir juntamente com ele, deixando que o mais velho me puxasse contra si, em um abraço apertado. Passei meus braços por seu pescoço e deitei a cabeça em seu ombro, pouco me importando com o que as pessoas que passassem ali pensariam. Ele era a pessoa mais importante para mim, depois de meu irmão, e eu não estava mentindo, quando dizia que não deixaria ele ir para longe de mim.

O senti me afastar apenas um pouco e levantei o rosto, indagando-o mudamente a razão daquilo, vendo-o se aproximar lentamente. A medida que sua respiração se chocava com a minha, meus olhos e os dele se fechavam, até que os lábios estivessem se tocando em um beijo tímido. Meu primeiro beijo. O primeiro beijo de amor dele, como o próprio Jun-san me contaria, algum tempo depois.

Nos separamos, sorrindo um para o outro, enquanto ele descia da mureta e começava a me guiar para seu carro, parado algumas quadras dali, nós dois conversando em uma voz baixa, minha mão entrelaçada com a dele.

 

Continua...

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