segunda-feira, 30 de novembro de 2009

With an Angel face and a taste for Suicidal

Capítulo 1

Eu continuava parado na janela do dormitório. Havia de fazer 17 anos, estava para sair daquele local maldito, mas ainda assim me sentia como se estivesse deixando uma boa parte de mim ali dentro.

Certo, não sejamos hipócritas. Eu estava deixando a Academia Saint Edwiges à força. Era o que eu queria, não era? Meu pai havia me avisado: ou me endireitava ali dentro, ou nem mesmo aparecia em casa.


Olhei para os braços tatuados e com marcas de cortes já há muito cicatrizadas. Todos os desenhos se intercalavam, formando um só, subindo para as minhas costas, que todos diziam ser muito brancas e frágeis, cobrindo-as. Ri baixo. Se o senhor Asamura soubesse que eu, Ryuutarou, era o garoto mais temido daquela Academia, ainda que possuísse uma face de anjo...

Obviamente, eu não era um anjo. Era um demônio que havia cegado um homem aos quatorze anos, aos quinze era chefe de uma gangue, aos dezesseis... havia sido arrastado para aquela prisão.

Mas como toda prisão, aquele lugar também tinha suas maneiras de burlar as regras. Era fácil demais conseguir um maço de cigarros, uma garrafa de álcool ou uma outra droga menos lícita. Era por isso que todos estavam ali, certo?

"Ninguém está no Inferno por ser uma boa pessoa. Pelo menos não a maioria."

Welcome to the club and give me some blood,
I'm the resident leader of the lost and found

-x-X-x-

Quando todo aquele Inferno que Ryuutarou chamava de "vida" havia começado? Nem mesmo ele sabia, mas desconfiava que fora a partir do momento que vira a mãe sem vida na cama de um hospital. Erro médico, eles diziam. Vontade de Kami-sama, sua avó gritava aos prantos. Para o garoto de apenas dez anos nada daquilo fazia o menor sentido. Apenas a certeza que não teria mais os sorrisos doces e os abraços que tiravam o medo nas noites de pesadelos.


O pequeno olhou para o pai, um senhor de cabelos já grisalhos e barba mal feita, com um bigode que, invariavelmente, o lembrava um personagem de um desenho americano cujo personagem principal era um pássaro maluco. O senhor Asamura tinha fundas olheiras e o rosto estava mais pálido que o normal. Desde que a mulher havia morrido não olhara para o filho mais novo. Por vergonha, por medo, quem sabe?


O pequeno Ryuu sabia que alguma coisa estava errada. Por que seu pai havia fechado a válvula daquele grande cilindro ao lado de sua mãe? Por que a maquininha que Yuuto disse que mantinha sua mamãe viva parara de fazer o “bip bip” e começara a fazer um barulho irritantemente longo?


Por que Yuuto não olhava para o pai deles e sequer o deixava ir abraçar o homem? Por que seu aniki o segurava pelos ombros de forma firme e escondia seu rosto, todas as vezes que o pai passava por eles?


Por que sua Baa-chan o segurava no colo e dizia que, ao menos, ele havia ficado vivo?


Para o pequeno aquelas dúvidas eram importantes e sua cabeça doía. Desvencilhou-se de Yuuto, murmurando um “sede” e indo em passos pequenos até a cozinha, parando no meio do corredor ao ouvir a voz de seu pai discutindo com um dos irmãos de sua mãe:


-Como vou olhar para ele, se toda vez que olho para Ryuutarou vejo o rosto de Akemi e lembro do que ela fez comigo? Como vou chamar ele de filho?


O pequeno arregalou os olhos, correndo dali, voltando para os braços de Yuuto. O mais velho assustou-se com o medo estampado na face do irmão mais novo. Resolvendo que era tarde demais para que o pequenino continuasse acordado, Yuuto começou a levá-lo para os quartos, o carregando no colo, o rostinho pálido escondido em seu pescoço. Vê-lo daquela forma doía.


Entrou no quarto, deixando-o sobre a cama com um edredom de carrinhos de corrida, procurando o pijama. Suspirou. As coisas ficariam ainda mais difíceis, mas ao menos sua avó iria morar com eles. Tinha medo do que poderia acontecer se fossem somente os dois e o pai deles que nunca escondera a aversão a Ryuutarou.


-Aniki? – a voz do pequeno soou pelo quarto escuro e Yuuto se virou para o menor, atento ao que iria dizer. – Papai disse que não conseguiria mais olhar para mim... Por que?


-Otouto... – Yuuto suspirou, andando até o menor e começando a ajudá-lo a trocar de roupa, segurando as lágrimas. – Papai se lembra da mamãe quando olha para você... porque sente saudades. 


Ryuutarou abaixou a cabeça, encarando as pernas. Então ele se lembrava da mãe deles, quando olhava para ele? Mas isso não era para ser bom? Sua avó ficava feliz.


-Aniki? – o pequeno ergueu o rosto, alarmado, lembrando-se de perguntar algo que rondava sua cabeçinha mais cedo. – Por que papai fechou o tubão, no quarto da mamãe, no hospital?


-Tubão? Do que está falando, Ryuu-chan? – O mais velho sentiu um arrepio descer por sua espinha, os braços indo envolver o irmão, puxando-o para seu colo.


-Sim, aquele tubo verde que ficava do lado da mamãe. Quando o papai mexeu nele a mamãe parou de fazer “bip”. – arregalou os olhos escuros, vendo o irmão começar a derramar lágrimas. – Aniki? O que aconteceu, por que está chorando?


Yuuto nada disse, ajeitando o irmão na cama, cobrindo-o e tendo certeza de que o pequeno não passaria frio à noite, dando-lhe um beijo na testa e desejando doces sonhos, saindo do quarto, anestesiado demais para pensar em algo.


Agora seria somente ele pelo pequeno que se encontrava dentro daquele quarto. Daria sua vida para que o homem que algum dia havia chamado de pai, jamais chegasse perto de Ryuutarou.


Dentro do quarto o pequeno soltava lágrimas, finalmente a compreensão de que sua mãe não estaria mais ali para ele o atingindo, fazendo com que se encolhesse, encarando os adesivos de planetas e estrelas que brilhavam no escuro, no teto do quarto. Não demorou muito para que adormecesse, cansado e sem consciência de que tudo em sua vida mudaria dali por diante.

I am the son of a bitch and Edgar poe.
Raised in the city under a halo of lights.

x-X-x

Suspirei, enquanto procurava um cigarro no bolso de trás da calça e o acendendo, começando a tragar antes de arrumar minhas coisas para sair dali.

Seria difícil conter as lembranças de tudo que acontecera antes de ir parar ali, até mesmo depois que já estava naquele reformatório, mas era prelúdio de uma nova vida.

Como diziam, a chuva sempre traz coisas boas quando acaba.

It's comedy and tragedy     
It's st Jimmy   
And that's my name...   
and don't wear it out!

Continua...

Notas Finais:

Primeiro capítulo... eu já disse que esse menino me dá trabalho demais? @_@

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