segunda-feira, 30 de novembro de 2009

All we need is just a little patience

Capítulo 4

Adentrei o estabelecimento humilde, quase sem nenhum atrativo. Um pequeno café em uma rua movimentada do centro de Kyoto. Minha respiração era pesada e minhas mãos suavam frio.

Medo.

Antes que me perguntem, não era medo de alguém, mesmo que a pessoa com quem eu estava indo encontrar não fosse lá uma das mais agradáveis, mas... Medo da notícia que ela poderia me dar. Esse medo era meu maior inimigo.

E justo naquele dia, que meus remédios haviam acabado... Nada poderia ser pior do que aquilo.


Mas eu estava errado. Completamente errado. Ah, se eu tivesse a chance de poder prever o futuro... com toda a certeza teria fugido de casa, um ano e quatro meses antes. Para poder ficar com Jun-san.

Quando eu o procurei e não consegui encontrá-lo, o desespero começou a tomar conta de mim, assim como a certeza de que algo havia acontecido, e eu não estivera do lado dele.

“Shed a tear 'cause I'm missing you. I still alright to smile. I think about you every day now.”

Olhei à minha volta, me deparando com um homem careca e corpulento, me encarando por trás dos óculos escuros. De grife. Assim como seu terno e seus sapatos lustrosos. Engoli em seco, enquanto o mesmo colocava a mão em meu ombro e me guiava gentilmente para a mesa em que aquela pessoa estava me esperando.

Fomos até o andar de cima, onde havia mais mesas e menos pessoas, andando até o final do cômodo. Um homem de cabelos brancos me encarava, com uma xícara em sua frente e um cigarro no cinzeiro. Fiz uma profunda reverência.

-Yamamura-sama.  – Cumprimentei, o homem levantando e fazendo o mesmo. Surpreendi-me, abrindo a boca em choque. Sentei-me à sua frente, seguindo seus gestos. Os seguranças ainda estavam calados, como se eu não estivesse ali.

-Asamura-kun. Eu o chamei aqui não somente para contar a você o que aconteceu com Junichi.  – oh crap. Um arrepio desceu pelas minhas costas e, mesmo sem falar uma palavra, eu sabia de vez o que havia acontecido. Apertei minhas mãos nas bordas da cadeira, esperando que o pai de Jun-san continuasse. – Quando ele te conheceu, Junichi começou a sorrir mais e concordar em fazer o tratamento para poder prolongar sua vida. Eu sabia que meu filho mais novo não teria tanto tempo assim, poucos anos, mas... eu não queria que ele morresse, consegue compreender?

“Logo comecei a investigar o motivo de tanta alegria e vontade de seguir em frente. Eu confesso que, quando soube que era por sua causa, apenas vi como uma amizade. Ele ainda era um rapaz novo, muito novo para o tipo de responsabilidade que precisava carregar nas costas. Você me parecia uma boa pessoa, apesar dos seus diagnósticos. Oh, sim, eu sei que você é quase um psicopata, Asamura-kun, mas eu não o temo. Nem agora e nem antes, eu protegia bem o meu filho. Eu vi com bons olhos a amizade de vocês, você conseguia fazer aquele cabeça dura continuar.

Mas então as coisas entre vocês foram evoluindo, certo? Eu admito Asamura-kun, gostaria que meu filho não sentisse o que ele sentiu por você, mas não o culpo. De uma forma ou de outra ele precisava aproveitar o tempo que tinha, nós estávamos cientes disso, minha mulher, meus filhos e eu. Talvez por esse motivo eu apenas fechei meus olhos para qualquer coisa e me foquei somente na vontade de viver que ele tinha... E que o envolvia, afinal, ele sempre dizia que precisava estar vivo para poder cuidar de você, Asamura-kun.

Quando você teve que ir para aquele reformatório, Junichi começou a lutar com mais força, mas o tratamento havia parado de fazer efeito, ele já não respondia. E eu via, todos os dias, meu filho sendo tomado pelo desespero de não poder ficar para cuidar de você. Quando ele começou a definhar, exatamente quatro anos após termos começado o tratamento, ele me chamou e começamos a conversar. Ele me fez prometer que eu o colocaria sob nossa proteção, quando ele fosse embora, e eu achei justo. Ele não queria que você acabasse com a sua vida, então eu peço: por mais que esteja sentindo-se triste, Asamura, não acabe com sua vida. Respeite a memória de Junichi.”

“Was a time when I wasn't sure? But you set my mind at easy. There is no doubt you're in my heart now…”

Quando ele parou de falar, eu respirava pesadamente e tremia de uma forma anormal. Jun-san havia se importado comigo até mesmo na hora em que não poderia, quando deveria estar preocupado consigo mesmo. Eu sentia vontade de chorar, mas não conseguia, eu queria gritar e quebrar algumas mesas e vidraças, mas não poderia.

Jun havia prometido que me esperaria! Ele tinha prometido Inferno! Eu pedira para que ele me esperasse, eu tinha tentado sair daquela merda de academia, havia jogado aquela bosta fora somente para poder vê-lo e... Ele havia ido embora! Sem me esperar para me despedir!

Abri a boca para falar, algumas vezes, mas  todas as tentativas foram falhas. Respirei profundamente, encarando o homem sentado em frente a mim e disse, com uma voz sussurrada:

-O que... O que ele tinha, exatamente? Eu não pensei em perguntar, naquela época, mas eu preciso saber Yamamura-sama.

-Leucemia Mielócitica Crônica. Nós conseguimos fazer com que ele sobrevivesse à fase do diagnóstico, mais os quatro anos... Mais do que pode ser presumido para quem sofre desse mal.

Concordei, fazendo uma anotação mental para pesquisar mais sobre aquilo assim que tivesse a oportunidade. Suspirei. Um suspiro arrancado do fundo da alma, sentindo-me mais pesado, pequeno e indefeso. Meu único sonho, a única pessoa que eu desejava ter junto a mim havia ido embora, sem nem mesmo ter me dado chance de poder me despedir corretamente e, agora, me restava somente a dor e a certeza de que ele sabia que não poderia ficar comigo e não havia me contado.

Se eu pudesse ver Jun-san agora, o chutaria tanto, por ter roubado meu coração e o levado embora com ele...

“I sit here on the stairs 'Cause I'd rather be alone. If I can't have you right now I'll wait, dear”

-Asamura-kun. – a voz de Yamamura-sama voltou a invadir minha mente e eu levantei meus olhos, o encarando, vendo novamente a postura imponente de um chefe da máfia, e não mais o pai desolado pela morte prematura do filho.  – Eu lhe proponho algo que, tenho certeza que Junichi concordaria: gostaria de tentar a vida em Tokyo? Sei que é repentino, mas também sei que seu pai não o aceitaria novamente em casa. E você não irá procurá-lo, certo?

Me senti levemente desconcertado com as palavras dele, mas concordei com um aceno tímido da cabeça.

-Eu... Estou sendo mantido pelo meu irmão mais velho, mas... eu não desejo mais isso, Yamamura-sama. Eu não quero vê-lo se preocupando comigo, mesmo que eu saiba que é natural.

-Pois então, eu volto a dizer: vá para Tokyo. Não somos tão influentes por lá, mas continuará sob nossas vistas, nosso cuidado, para que a promessa feita a Junichi seja cumprida. E enquanto não arrumar sua vida por lá, eu o ajudarei.

-Está sendo benevolente demais, Yamamura-sama, para alguém que comanda a Yakuza nessa região. – comentei, só depois me dando conta do meu tom petulante e das minhas palavras nada agradáveis. Mas o velho senhor somente concordou com a cabeça e suspirou.

-Um pai tem que fazer valer o último pedido do filho em vida, ainda que seja o pedido mais estapafúrdio já visto.

Pensei alguns segundos, antes de fazer um aceno de concordância e nos levantarmos, selando nosso acordo com um aperto de mãos.

De uma única coisa eu estava certo: Eu não teria a vida mais fácil do mundo, mas... eu estava ali, tentando seguir em frente, fazendo como o homem à minha frente: cumprindo a promessa feita a Jun-san.

Eu seguiria em frente.

“And the streets don't change but, baby, the names. Yeah, but I need you (All it takes is patience, yeah).”

Continua...

Notas:

A leucemia mielocítica (mielóide, mielógena, granulocítica) crônica é uma doença na qual uma célula da medula óssea torna-se cancerosa e produz um grande número de granulócitos anormais (um tipo de leucócito). Embora a maioria dos tratamentos não curem a doença, elas retardam a sua evolução. Aproximadamente 20 a 30% dos indivíduos com leucemia mielocítica crônica morrem dentro dos dois anos que sucedem o estabelecimento do diagnóstico, e cerca de 25% morrem a cada ano após esse período. Entretanto, muitos indivíduos com esse tipo de leucemia sobrevivem 4 anos ou mais após o diagnóstico, morrendo durante a fase acelerada ou durante uma crise blástica.

Agora num tem mais capítulo...
*começa a digitar*

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