terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Play with the "Nothing" in a dark room

Notas Iniciais:
Capítulo muito curto, de transição.
Inspiração veio dessa história aqui: http://www.fanfiction.net/s/6928332/1/Ferraduras

Capítulo 5

O primeiro kanji usado no meu nome significava `Dragão', o segundo não tinha nenhum significado especial, mas a mamãe gostava de brincar que era porque ela sempre gostara de Momotarou, e queria me chamar como o protagonista.

Seria muito melhor ter me chamado Momotarou, se isso não deixasse todas aquelas coisas acontecerem.


x-x-x

Naquele tempo eu simplesmente dividia minha atenção infantil com dinossauros, livros e escola. Era simplesmente isso, Ryuutarou, o garoto estranho da classe, que passava tempo demais olhando para o alto.

   Porque era no alto que as coisas aconteciam. Na primeira vez eu jurava ter visto peixes no céu, mas isso era impossível. Eles possuíam asas de libélulas.

Na segunda vez, eu havia visto um dragão chinês. Que conversava comigo.

-Preciso voltar para casa. - era o que ele me dizia. Eu não entendia o motivo para ele voltar, então simplesmente corri até meu irmão dizendo que um amigo precisava voltar para casa, perguntando se mamãe ou papai poderiam levá-lo.

Mas quando eles chegaram, havia somente o vazio, e a minha certeza de que Naruse não gostava da minha família.

x-x-x

-Se eles nos verem, irão nos afastar. - ele simplesmente disse, dançando em volta de mim, como fazem nos livros. Eu sorri, mas logo fiquei sério novamente.

-Papai disse que é só minha imaginação. - murmurei, um pouco chateado. Foi a partir do momento que eu contei sobre Naruse para meus pais que eles começaram a discutir. Em minha lógica de criança, era tudo culpa minha.

Se eu fosse alguns anos mais velho, eu entenderia que não, não era minha culpa. Era culpa daquele velho retrógrado, que culpava a mulher por tudo que lhe acontecia.

Para ele, ter casado com uma mulher rica não valia de nada quando ele não tinha acesso a um centavo da fortuna dela. Meu avô ainda estava vivo naquela época, assim como ele. Talvez fosse a frustração que o levava a pensar que a mulher o traía e o fazia trancá-la em casa. Talvez fosse a doença que, certamente, ele tinha, chamada ciúme que o fazia pensar que eu não era seu filho.

E eu, que fora criado para jamais acreditar na sorte, me pegava pensando que era um garoto muito sortudo por meu irmão ser um adulto, quando ojii-chan morreu. Só assim o velho ficara na miséria.

O único problema era me fazer de seu bode expiatório.

x-x-x

-Esse tal Naruse... você tem certeza de que o vê, Ryuu? - Ishida, um dos meus colegas de classe do ginasial me procurara, para tentar saber se era verdade que o delinquente da escola, além de tudo, era louco.

Só que eu já havia aprendido a não confiar em ninguém. Todos eles me afastariam do meu único amigo, da única criatura, real ou não, que se preocupava se eu estava bem ou não.

-Não te interessa, filho da puta. E quem te deu permissão para falar comigo? - rosnei, vendo o garoto fugir assustado. Respirei fundo, olhando pela janela. Dali eu poderia ver o jardim do colégio.

De onde Naruse me acenava, com suas pequenas patas, seu corpo prateado e o sorriso satisfeito de quem havia visto seu pupilo fazer a coisa certa.

Também sorri.

x-x-x

Não muito depois de tal episódio eu havia conhecido Jun-san. Talvez por ele ser meu único amigo verdadeiro eu não me importasse em falar sobre Naruse com ele. Eu ja havia me arrependido de falar sobre meu amigo para o psicólogo do colégio. Eles apenas me taxaram de louco, fazendo com que meu pai repetisse, dia e noite, essa mesma palavra triste.

Louco. Eu não era louco. E só de pensar nisso, queria que todos pudessem ver Naruse.

-Só importa se você acreditar em mim, Ryuu-chan. Eu não gosto de Jun'ichi. Ele sempre fica entre nós, sempre nos separa. Não, eu não gosto dele.

-Ele é meu amigo. - permiti me parecer infantil nessa hora, o olhando bravo. Naruse apenas virara as costas, saindo dali.

-Você vai ver, ele vai me mandar para longe!

x-x-x

E foi o que Jun'ichi começara a fazer. Passando mais tempo comigo, me abraçando e garantindo que eu ficaria bem. Que meu amigo não era real. Como ele poderia ser irreal? Eu o via, eu o sentia.

-Eu estou aqui, Ryuu. Eu posso cuidar de você, se você deixar. Não o seu amigo... Ryuu, eu sou real? - mesmo que ele me sorrisse, atrás dele eu via Naruse triste, como se eu jamais pudesse ajudá-lo a voltar.

Choveu naquela noite, como nunca havia visto na minha vida. No céu as nuvens eram os mesmos peixes com asas de libélulas que estavam lá desde a infância.

No jardim Naruse acenava. E eu acenava também, da janela do quarto.

Talvez estivesse na hora de pedir ajuda.

 

Continua…

Notas finais:
Um, alguem saca que o Ryuu tem Esquizofrenia?

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