quinta-feira, 22 de julho de 2010

Parte II

Brain and Pink
Kaline Bogard
Parte II

Dali Takeo e Jin rumaram direto para o apartamento do guitarrista.  Shiroyama não se conformava com o rumo que seus planos haviam tomado.  Tentara discar para o celular de Arata, mas o parelho estava desligado.


– Fica a vontade. – resmungou para o mais velho, indo guardar os capacetes sobre a estante.

– Hn. – Jin agradeceu e foi sentar-se sobre o confortável sofá, largando a mochila no chão, encostada ao móvel.

– Isso não pode estar acontecendo... – mal humorado, Takeo começou a andar de um lado para o outro. – Que merda.

– Deve ter uma explicação.

– Explicação?  Pros dois trancados no apartamento do Jack? – o ruivo balançou a cabeça de um lado para o outro – Teria... se não fosse a conversa que eu ouvi hoje cedo.  Foi muito explicito.

– Oh!

–Você não ouviu Shibuya. – o dono da casa parou de andar em frente a estante.  Os olhos esquadrinharam a coleção de livros, alguns ganhara de Arata – Os sussurros... o jeito deles...

– É terrível... – Jin sussurrou.

– Eu sei. – a afirmação veio seguida de um profundo suspiro.

– O que eu faço agora?

Antes de responder, Shiroyama pegou um porta-retratos que estava na frente dos livros.  Um sorriso triste adornou os lábios sensuais acostumados, geralmente, a recurvar-se em zombaria:

– Queria saber o que eu faço. – a foto fora tirada por Hana chan, na primeira vez que a garota viera a Tokyo.  Mostrava Arata e Takeo no térreo da Tokyo Tower, muito próximos um do outro.  Felizes.

– Acho que vou morrer.

Takeo apertou o porta-retratos com força, contagiado pelas palavras de Jin.  A frase do baixista era um reflexo do que sentia.  Amava Arata.  A simples possibilidade de perdê-lo, de não tê-lo mais ao seu lado causava uma dor tão profunda... como o desejo de morrer.

Por que Hayato era o sol que iluminava sua vida.  Que trazia o brilho e lhe dava um sentido.  O que acontecia com as flores quando não havia mais o calor do sol?  Elas secavam.  Secavam até murchar.

– Dói um bocado, não é, Jin?

– Se eu morrer assim vou virar um zumbi!

– Não existe nada pior do que virar um... – Takeo franziu as sobrancelhas – Zumbi?!

Voltou-se pra olhar o baixista e companheiro de banda.  Shibuya estava bem refestelado em seu sofá, com o PSP na mão, olhando a telinha todo concentrado:

– E nem deu tempo de salvar a fase... – lamentou, frustrado por ter sido cercado pelos zumbis e seu personagem ter perdido.

– Ikeuchi! Que porra é essa? – o ruivo perguntou no auge da indignação.  Ele estava ali fazendo confidencias e abrindo seu coração e o mais velho não parecia ter ouvido uma única palavra!

– Isso é um PSP, nunca viu?  – o baixista explicou cheio de boa vontade – Posso te arrumar um se você... – calou-se e abaixou-se para desviar-se do porta-retratos que Shiroyama jogou em sua direção.

– Você ta me gozando, baka?!

– Eu?  Não! – suou frio olhando para o objeto que se trincara ao bater contra a parede do outro lado da sala. – Que mira horrível, Tachi.  Se fosse um jogo você já teria morri...

Calou-se outra vez.  Em dois passos o ruivo se aproximara e tomara-lhe o eletrônico das mãos:

– Sabia que PSPs podem voar também? – enquanto falava arremessou o brinquedo pela janela aberta – O que acha da minha mira agora?

– Meu PSP! – Jin exclamou de queixo caído.

– Se você não vai levar a sério o que está acontecendo é melhor dar o fora e me deixar agir sozinho.

O baixista fixou os olhos brilhantes no mais novo:

– Tachi está ficando paranóico.  O Arata e o Jack não fariam nada tão ruim assim.

– É? Mas eles estão juntos no apartamento do riida e...

– E nós estamos juntos no seu. – Ikeuchi pegou a mochila e colocou nas costas – Nem por isso estamos fazendo algo ruim, estamos?

–... – Takeo relaxou os ombros, mas não soube dar uma resposta.  Diante do silêncio do ruivo, Ikeuchi meneou a cabeça:

– Cérebro, relaxa.  Amanhã a gente brinca mais de detetives.  Agora eu vou pra Akiba ver se consigo um PSP novo por lá.  E também pra comprar uma Sailor Mars. Ja nee!

Acenou em despedida e foi embora.  Takeo observou a saída do otaku.  Queria saber se ser como ele tinha alguma vantagem.  Viver alheio as coisas que aconteciam, ter uma perspectiva diferenciada de tudo.  Conseguir resistir e ficar firme.  Talvez aquilo não passasse de uma eficiente auto-defesa.

Uma auto-defesa que Shiroyama não tinha.

Cansado, deixou-se cair no sofá.

–Izumi... onegai...

Takeo cobriu o rosto com as mãos e respirou fundo.  Não sabia se resistiria a uma decepção daquelas.  Amar e confiar... teria forças para juntar os caquinhos outra vez...?

Outra vez...

oOo

No dia seguinte Takeo não saberia dizer se a atitude de seus dois companheiros era suspeita ou apenas fora ampliada por suas desconfianças.  A verdade é que Arata parecia bem animadinho... e cantara de uma maneira impressionante, dando tudo de si.

– Já chega. – O líder da banda encerrou o ensaio satisfeito com a performance do grupo.

Enquanto guardavam os instrumentos, Shiroyama aproximou-se do amante e o tocou na cintura:

– Posso te levar embora hoje?

Arata ficou sem jeito:

– Gomen, koi.  Combinei de ir com o Jack em uma loja.

– Asamura? – Takeo soou amargo.  Estava sendo trocado outra vez!

– Eu prometi.  Não posso voltar atrás.

O ruivo olhou atravessado para o baterista parado do outro lado da sala, cochichando algo com Ikeuchi.

– E posso saber aonde vocês vão?

– Ao shopping.  Depois pra casa do Jack... ano... repassar umas musicas...

A resposta veio tão rápida e automática, que só podia ser uma mentira bem ensaiada.  Shiroyama virou-se e encarou o amante nos olhos.  Travaram uma batalha silenciosa por alguns segundos, até o guitarrista dar-se por vencido:

– Então vou sair com Shibuya.

Hayato sorriu:

– Combinado. Tomem cuidado, okkei?

Com um bico enorme Takeo viu seu namorado oficial sair acompanhado com o líder da banda.

– Cérebro, desencana. – Jin aproximou-se pronto pra ir embora também – Eles não iam fazer nada de forma tão explicita...

– Vou segui-los.

Shibuya franziu as sobrancelhas achando que não tinha entendido direito.

– Nani?

– Vou segui-los! – animou-se subitamente.  Segurou o mais velho pelo pulso, puxando-o a passos rápidos, com medo de se atrasar demais e dar tempo dos companheiros de banda escapar de suas vistas – Você vem comigo.

– Mas... mas... mas... Tachi!

O ruivo não respondeu nada.  Tinha um capacete extra que guardava para dar carona pra Izumi.  Ia desvendar aquele mistério de uma vez.  Porque, fosse lá o que fosse, Asamura e Hayato estavam escondendo alguma coisa.

Não foi nem um pouco difícil alcançar os dois e segui-los discretamente, mesmo depois de Jack sair com sua moto.  Logo estavam misturados no trafego intenso de Tokyo, juntando-se ao fluxo.

Sensatamente Takeo deu alguma distância, o suficiente para não ser reconhecido, sem perder a moto do líder de vista.

Pouco a pouco foram se afastando até Ginza.  Não avançavam em direção a nenhum shopping que Takeo conhecesse.  E o ruivo levou um susto memorável quando viu Jack diminuindo a velocidade até estacionar em frente a um prédio de fachada escura e suspeita.

– Aquilo é... – sussurrou – Um Sexshop!

Imediatamente Jin inclinou-se na moto pra poder enxergar melhor.

– Onde?  Deixa eu ver!

– Eles entraram em um Sexshop.  E depois vão pra casa do Jack?

– Ih... – Jin deu uma risadinha – Parece que vai render...

A insinuação fez Shiroyama se arrepiar:

– Tá feliz porque, baka?  Seu namorado vai virar amante do meu!  Eu disse esse tempo todo, não foi?

Com um suspiro Jin desceu da moto e sentou-se na calcada.  Tirou o capacete, deixando os cabelos bagunçados:

– Vamos lá falar com eles?  Pedir uma explicação.

– Não. – Takeo estreitou os olhos.

– Mas conversar não é a melhor opção?

– Hai, hai.  Mas esse não é o lugar certo... – Takeo mordeu os lábios após afirmar misterioso.

– Amanhã no estúdio?  Na frente do Teruchi? – Shibuya não gostou muito da possibilidade.  Podia deixar Jack irritado.

Ao responder Takeo voltou a exibir um dos seus antigos sorrisos, um daqueles que indicavam que estava prestes a aprontar:

– Você tem a chave do apartamento do riida, não tem?

– Tenho. – Jin respondeu sem entender onde o ruivo queria chegar.

– Então me dá. – Shiroyama estendeu a mão. – Vou esperar por eles lá.

Shibuya mexeu-se incomodado.  De repente conversar no estúdio, mesmo que na frente de Teruo, parecia uma idéia agradável e colorida:

– De jeito nenhum!  O Jack me mata se eu fizer isso.

– Ikeuchi, me dá essa chave.

– Não! – o baixista segurou as alças da mochila com força e ficou em pé, largando o capacete no chão. – Chega, Tachi.  Já é errado ficar seguindo os dois! Se não parar...

– Jin, eu sou o seu melhor amigo, não sou?

O mais velho piscou:

– É.

– Amigos sempre ajudam amigos.  Não precisa me dar a chave, venha comigo e daí a gente espera junto.

– O Jack não vai gostar disso.

– Se não me ajudar não vai poder ser mais meu amigo. – não falava a sério, mas Jin não precisava saber que era apenas uma chantagenzinha inofensiva...

Shibuya arregalou os olhos:

– Nani?

– Se o Jack ficar nervoso com você juro que assumo toda a responsabilidade.  Você não quer conversar com eles e descobrir porque estão fazendo isso tudo escondido?  Hein?

Jin balançou a cabeça para baixo e para cima em resposta. Queria sim, descobrir.  Mas não queria deixar Jack zangado ou magoado no processo.  De um jeito ou de outro as coisas haviam se complicado e a brincadeira perdera toda a sua graça.

Sem querer enrolar mais, pois os dois poderiam sair da loja a qualquer segundo, Takeo recolocou o capacete e ligou a moto.

– Sobe logo.  Vamos esperar por eles no apartamento de Jack e fazer uma surpresinha.

O otaku apertou os lábios.  Jack zangado ou perder a amizade de Takeo?  Escolha que não queria ter que fazer.  Respirou fundo e quando deu por si já pegava o capacete do chão e subia na moto.

Ia ganhar algum tempo e ver se, com alguma sorte, conseguia pensar em algo para sair daquela sinuca.

 

Continua...

Notas finais: Isso era pra ser uma oneshotezinhainha... e acabou se arrastado por três partes inteiras! Isso me lembra os velhos tempos, quando eu digitava aquelas fics enrolation de Weiss Kreuz e Gundam Wing.
Bons tempos.

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