quinta-feira, 22 de julho de 2010

Parte I

Brain and Pink
Kaline Bogard
Parte I

– Jack, você tem que fazer isso comigo! – a exclamação de Arata soou meio contida através da porta entreaberta.  Imediatamente Takeo congelou-se no ato de tocar a maçaneta e tentou escutar o resto – Onegai.


– Não. – Takeo ouviu a resposta curta e grossa do líder da P”Saiko.  Mas, aparentemente, Arata não se assustou:

– Sei que você e o Jin nunca fizeram isso antes... prometo que ensino direito.  Você vai gostar e se arrepender de não ter feito antes.

Mas que merda...”, o ruivo pensou começando a se irritar.  O que Arata estava propondo para o baterista?!

– Jack, eu vou no seu apartamento hoje.  Vamos fazer isso de uma vez... – o tom de voz do vocalista passou a ser sussurrado, como se contasse um segredo.

Takeo abaixou-se e aproximou o rosto da porta.  Arata parecia decidido! Porém naquele momento ouviu uma voz animada e recém chegada lhe saudando:

– Ohayou, Tachi!

– Kuso, Ikeuchi! Cala essa boca! – o ruivo praguejou baixinho temeroso de que os dois dentro do estúdio escutassem.  E aparentemente foi o que aconteceu, pois os sussurros acabaram.

– Porque...? – Shibuya franziu as sobrancelhas.  As mãos seguravam a alça da case, pesada de tantos bottons.

– Esquece. – o guitarrista respondeu de mau humor.  Não adiantava chorar sobre o leite derramado.  Sem mais opções acabou entrando na sala.

Encontrou Arata sentado no sofá, segurando a letra de uma das músicas da P”Saiko.  Jack estava próximo à sua bateria, com as mãos no bolso.

– Ohayou! – Hayato cumprimentou o namorado com um sorriso estranho nos lábios. – Você chegou mais cedo hoje, koi.

Shiroyama estreitou os olhos.  Não gostou nem um pouco do “sorrisinho social” que recebera do namorado.

– Caí da cama. – respondeu.  Não era hábito chegar tão cedo na gravadora.  Mas nem imaginava que Jack e Arata andavam madrugando também.

– Ohayou, minna! – Jin entrou em seguida, tumultuando como sempre.  Aproximou-se de Jack e o estreitou nos braços, como se apertasse uma pelúcia – Ohayou, Ursinho.

O líder da P”Saiko ficou meio sem graça e respondeu a saudação baixinho.  Apesar de não demonstrar, adorava aqueles momentos de carinho.

Teruo entrou em seguida, arrastando os passos.  Tinha um cigarro pela metade pendurado no canto dos lábios e a expressão de quem atravessara a madrugada em claro.

– ‘Hayou. – lançou em guisa de cumprimento, fazendo os outros rirem.

Aquela foi a deixa que Ryuutarou esperava para assumir o papel de líder e dar a ordem para começar os ensaios.

Apesar de vigiar atentamente, Takeo não registrou nada de suspeito acontecendo entre Arata e Jack.  E começou a se achar idiota por desconfiar daqueles dois.

Fato que mudou quando Jack deu o dia por encerrado.

– Basta. – o moreninho disse – Foi muito melhor do que ontem.

Os outros quatro concordaram.  Depois de aguardar a guitarra, Takeo aproximou-se de Arata:

– Quer carona, koi?  Podemos tomar algo antes de te deixar em casa.

Arata sorriu daquela forma que tirava o fôlego das pessoas:

– Obrigado.  Jack vai me levar.

A afirmativa foi como um golpe para Shiroyama.  Suas suspeitas voltaram com força total:

– Jack...?

– Hn.  Eu vou mostrar uma coisa pra ele.  Não se preocupe. – e o vocalista deu um selinho no namorado que, de canto de olho, viu Jin e Jack se despedindo também. – Ja nee.

Arata e Jack saíram silenciosos.  Teruo ajeitou a mochila nas costas e depois de olhar longamente para Takeo foi embora.

– Bye, Tachi. – Jin acenou e ia saindo, quando o guitarrista grudou um punhado dos chaveiros de plaquinha e puxou Shibuya pra trás, desequilibrando-o – Ei!

– Espera... – movendo-se feito um gatuno Shiroyama foi até a porta e espiou de um lado para o outro – Quero falar com você.

– Nani? – Jin estranhou o jeito do mais novo.

– Eu acho que... não... eu tenho certeza que está acontecendo alguma coisa entre o Arata e o Jack.

– Como assim? – Shibuya não entendeu.

– Tsc.  Eles estavam conversando a hora que eu cheguei e... – ficou quieto.  Era doloroso dizer uma coisa daquelas.

– E...? – o baixista incentivou.

– Eles estão tendo um caso. – Takeo falou chocado, como se só naquele momento desse acordo da gravidade de suas deduções.

– O que? – Ikeuchi arregalou os olhos. – Como assim?

– O seu amante, baka, está saindo com o meu! – o ruivo pareceu descontar a raiva e frustração no companheiro de banda.

A resposta não demorou nem meio segundo para ser ouvida:

– Tecnicamente ele não é meu amante, Tachi. – Jack e eu ainda não... ano... você sabe.

E o guitarrista ruivo viu que aquilo seria difícil.  Muito difícil.

– O seu namorado está saindo com o meu amante.  Melhorou? – resmungou irritado.

– De onde tirou essa idéia?  O Jack nunca faria algo assim.  Nem o Arata. – Jin riu das desconfianças do guitarrista.

– Eu ouvi eles conversando hoje de manhã.

Shibuya riu mais um pouco e dando de ombros virou-se pra ir embora:

– Matta ne! –despediu-se.  Não deu nem dois passos e sentiu Takeo grudando na parte de trás da gola da sua blusa e começar a arrastá-lo consigo.

– Pois vamos tirar essa história a limpo!

–... – Jin não conseguiu responder.  Levou as mãos à blusa tentando aliviar o aperto e não sufocar, conformando-se em seguir o ruivo da melhor forma que podia, caminhando de costas sem ver o caminho.

oOo

– Acho que eles já chegaram... – Takeo tentava enxergar algo no prédio onde Jack morava.

– Será? – Jin esticou o pescoço, forçando a vista por cima da cabeça do ruivo.  Ambos estavam semi-escondidos na curva da esquina, espiando a residência do líder da banda, querendo passar despercebidos, apesar de atrair olhares desconfiados dos transeuntes.

– Tem uma janela aberta. – Takeo ergueu o dedo e apontou.

– Hn. – Jin balançou a cabeça.  Acabara desistindo de contrariar o guitarrista e entrara no jogo.  Estava se divertindo, brincando de detetive.  Primeiro haviam feito hora pelas ruas, depois seguiram para a casa do baterista.  A moto de Shiroyama estava estacionada duas ruas abaixo, para não chamar atenção...

– O plano é o seguinte: você vai lá e tenta entrar.

– Eu?! – Shibuya apontou surpreso pra si mesmo.

– Claro. Aposto que foi o seu amante que seduziu o meu.

– Meu namorado...

– Que seja. – Takeo resmungou. – Agora vai lá. – empurrou o baixista pra fora do esconderijo.

Jin olhou pra trás e viu o ruivo acenando apressado, para que fosse em frente.  Acabou suspirando e obedecendo.  Aquela brincadeira começava a perder a graça.  E ficaria pior quando Jack descobrisse.  Tinha certeza de que o moreninho se aborreceria.

Andou a passos lentos até chegar ao prédio.  Subiu as escadas contando degrau por degrau.  Quando parou em frente a porta de Jack, respirou fundo duas vezes, e apertou a campaninha.

Esperou longos minutos.  Ia apertar pela segunda vez, quando a porta se abriu e um baterista muito mal humorado surgiu:

– Nani. – Ryuutarou perguntou abrindo um vão mínimo na porta.

– Jekichi!  Tudo bem?

– Tudo.  O que quer?

– Um namorado não pode visitar o outro? – Jin perguntou tentando espiar se Arata estava mesmo lá dentro.

Mas Jack estreitou os olhos antes de responder:

– Não. – e fechou a porta.

Shibuya arregalou os olhos e ficou encarando a folha de madeira por longos segundos antes de dar meia volta e regressar apressado para junto de Takeo.

– E então? – o guitarrista perguntou.

O mais velho ficou alguns segundos em silêncio.  Finalmente contou o que acontecera.

– Eu sabia! – Shiroyama deu um  soquinho no ar – Izumi está lá.  Deixa que eu vou para o plano B.

Pisando duro, caminhou para a casa de Jack.  Tomou o elevador e em segundos estava parado em frente da casa do baterista da mesma forma que Ikeuchi estivera alguns minutos atrás.

Tocou a campainha impacientemente duas vezes, sem nem dar tempo entre os sons.  Quando a porta foi entreaberta, colocou um sorriso nos lábios e fitou a expressão de poucos amigos com a qual Asamura atendera:

– Jack, amigão.  Eu estava passando e...

O baterista bateu a porta com um estrondo cortando a frase do guitarrista.  Perplexo, Takeo ouviu o som da chave sendo passada pela fechadura.  Em seguida uma, duas e três trancas sendo engatadas.

Sem alternativa voltou para o posto de observação na esquina.  Jin estava sentado no chão, folheando um manga:

– Como foi, Pink? – o baixista perguntou sorrindo.  Diante do olhar confuso que recebeu, Shibuya continuou: – A gente ta tipo o Cérebro e o Pink, aqueles ratinhos que sempre tentam dominar o mundo.  Eu sou o Cérebro!

E Shiroyama fez uma cara tão feia, mas tão feia, que Ikeuchi engoliu o sorriso e tratou de remendar:

– Pode ser o Cérebro.  Eu sou o Pink.  Um tigre Pink, estilo a Pantera cor-de-rosa...

O guitarrista deu um tapa na própria testa e começou a se afastar. Aquele garoto sentado no chão não tinha a menor noção do que estava acontecendo.  Queria ter tal nível de alienação.  Talvez assim Takeo não sentisse algo como aquela dor em seu coração.

– Vamos embora, Ikeuchi.

– HAI! – ficou em pé batendo continência – Vamos para o plano C, Cérebro?

Shiroyama sentiu uma vontade quase irresistível de chutar o baixista.  Ao invés disso resmungou alguma coisa.  No fundo segurou-se porque Jin tinha um mínimo de razão e sua mente aguçada já pensava no que podia fazer para tirar a prova do que acontecia entre Arata e Jack.

 

Continua…

Notas finais: Esse plot foi inspirado em um que a Kika começou a escrever. Ela me mandou, dizendo que ia desistir... mas estava tão bom que eu adotei e decidi continuar.
Mas quando sentei pra digitar, não consegui. Daí esse plot veio na minha cabeça, e eu percebi que tinha que mudar o POV e mais algumas coisinhas e... deu no que deu!

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