sábado, 20 de março de 2010

Capítulo 5 - Contagem regressiva

– Jin... pare com isso! – Arata exclamou – Eu estou ficando tonto!

– Gomen... – o baixista parou de andar em círculos, coisa que fazia já a um bom tempo – É que eu to nervoso.

O vocalista largou a revista de moda sobre o sofá:

– Não teve nem uma idéazinha sequer?

– Não!  Nada!


Hayato fechou os olhos e afundou no sofá.  As gravações do filme estavam suspensas por uma semana, prazo limite para terem um novo (e aceitável roteiro).  Por isso haviam regressado para Tokyo, para descansar e amenizar o estresse do último mês.

Porém dois dias já haviam se passado e Shibuya não tivera a inspiração para escrever alguma coisa.

– Está tendo um bloqueio artístico.  Posso ajudar?

Jin sentou-se no sofá e escorregou para o colo do primo:

– Ah... é que eu sou um ator tão ruim.  Vou conseguir estragar qualquer coisa.

– Tem que ter um jeito de relaxar diante das câmeras, Jin. – o moreninho consolou, enquanto ajeitava os fios rebeldes da franja longa.

– Mas como?

Vendo o desanimo do mais velho, Izumi resolveu tomar providências:

– Quer ensaiar?

– Ee?!

– Vamos improvisar alguma coisa fácil, agora.  Vai ser divertido e não tem ninguém filmando, só nós dois.  O que acha?

– Pode dar certo! – o baixista se animou.

– Então faz de conta que somos dois primos que se reencontram depois de muito tempo, okkei?

– Okkei!!

O vocalista limpou a garganta e começou:

– Jin, primo!  Muito obrigado por vir me buscar na estação.  Desculpa causar tanto transtorno...

– Ah.Não.É.Transtorno.Primo...

Hayato balançou a cabeça:

– Não é assim, Shibuya.  Relaxe...

– Não consigo!  Não sei por que, mas atuar me deixa em pânico.

Então Hayato foi iluminado por um insight avassalador:

– Mas você não jogava RPG?

– Jogava... o que isso tem a ver?

– É praticamente a mesma coisa.  Você vai brincar que é um personagem em alguma campanha.  A única diferença é que não precisa rolar os dados e confiar na sorte.

–... nunca pensei por esse ângulo.

– Quer tentar?  Vamos fingir que ao invés de um filme isso é uma partida de RPG Live Action, algo como Vampiros a Mascara, onde a gente se veste como os personagens.  O que acha?

– Vamos tentar!! – Jin respondeu super animado.

– Então ta.  Vou começar.  Primo, quanto tempo!!  Estava morrendo de saudades!!

– Eu também!  Você deixou de dar notícias... – respondeu de forma mais natural.

– É a correria do dia a dia.  Temos muito o que fazer e pouco tempo.

– Mas não é certo esquecer dos amigos, Arachi... – o baixista acrescentou com um bico.

– Gomen.

– Bem vindo a Tokyo!  Espero ajudá-lo no que precisar!

Hayato beliscou as bochechas do primo com carinho:

– Viu, você conseguiu manter um longo diálogo.

–... consegui mesmo! – Jin arregalou os olhos.  Não fora a interpretação do ano, e ele com certeza não seria indicado ao premio de Melhores Atores, porém falara de forma quase natural e espontânea.  Sentiu-se tomado uma carga de animo e adrenalina.  Passou a mão pela nuca do primo e o puxou para dar um selinho. – Obrigado!  Você me ajudou muito!

Arata correspondeu com um belo sorriso:

– Por nada.  Estamos aí para isso.

O baixista saltou do colo do moreninho e correu para o quarto:

– Acabei de ter uma idéia, primo!!  É brilhante!!

Hayato observou o mais velho sumir de vista, então sentou-se direito no sofá.  Deviam ter pensado naquilo antes.  Jin era Jin, no final das contas. E o baixista sempre pensaria como um otaku.

oOo

– Pode entrar. – Hayato abriu a porta para seu namorado.

Takeo olhou de um lado para o outro, ressabiado.

– E aquele monstro?

– Trevas está no quarto com Jin.  Não vão sair de lá tão cedo.

O ruivo relaxou e entrou.  Algum dia venceria seu medo de cães.  Mas por enquanto ainda sentia pânico do pequeno yorkishire.

– Como você está? – beijou seu namorado antes de entrar no apartamento.

– Bem.  E você?

– Maravilhoso.  Sem nem pensar naquele filme idiota. – sentaram-se no sofá – Consegui escrever alguma coisa.  Acho que dá pra aproveitar como letra de música.

– Que bom, Takeo!

– Teruo passou em casa ontem e saímos pra beber alguma coisa.  Pensei em chamar você, mas não atendeu o celular...

– Hn.  Gomen.  A bateria do meu telefone está ruim.  Preciso comprar outro aparelho.

– Vim ver se quer sair comigo.  Pra espairecer um pouco.

– Claro.  Espera apenas eu me trocar de roupa.

– Hn!

Enquanto o moreninho ia para o próprio quarto Takeo acomodou-se no sofá, ligando a TV e procurando algo para se distrair.  Meia hora depois Arata saiu do quarto e rumou para a cozinha.  assim que retornou de lá foi até o quarto do primo e avisou:

– Jin!  Deixei um lanche pronto no microondas!  Não esqueça de comer, está bem?

Ouviu a resposta confusa e deu-se por satisfeito.

– Dando uma de cozinheira? – Takeo provocou meio enciumado.

– Ele está tão concentrado nesse roteiro que esquece até de comer.

O guitarrista ruivo não disse mais nada.

oOo

Os dias de descanso passaram tão depressa que quando deram por si faltava apenas um dia para regressarem as filmagens.

Nenhum dos outros três queriam pressionar o baixista e dependiam de Hayato para saber como andava o processo de criação do novo roteiro.  Não que o vocalista tivesse muito o que revelar, já que Jin passava a maior parte do tempo trancado no quarto.

“Ele está se dedicando.”, e “Acho que vai dar tempo.” eram as frase que Izumi mais pronunciava.

Até que naquela noite, Hayato descobriu que o mais velho conseguira.  Tinha acabado de voltar de um passeio com Takeo quando abriu a porta do apartamento e flagrou Jin cochilando sobre a escrivaninha.  O PC estava ligado e a impressora cuspia rapidamente as folhas impressas com o que seria o roteiro do filme que gravariam.

Por puro instinto esticou uma mão, curioso para saber do que se tratava.  Mas então paralisou-se no ato.  Não era justo que mexesse no trabalho do primo sem ter permissão.  Quando fosse hora o baixista mostraria para todos.  E Arata confiava que Jin tivesse conseguido.  Jack não confiaria no namorado sem saber o que estava fazendo.

– Ne, Jin kun... – balançou de leve o primo – Venha pra cama.  Amanhã será um longo dia.

Iriam se encontrar com o produtor e o diretor, para decidir o destino final daquele filme.  Shibuya conseguira terminar a tempo.  Por muito pouco não estourara o prazo limite.

oOo

O silêncio na sala era impressionante.  Em parte porque milhos de ienes estavam em jogo e dependiam do resultado daquela reunião.

Jin era o único que não tinha um maço de folhas nas mãos.  Esperava apenas que os outros terminassem de ler o roteiro.  Ele tinha se esforçado mesmo para escrever aquilo e fizera o seu melhor no prazo apertado.

Sabia que a história era cheia de clichês, tentara valentemente esconder algumas “crateras” com romance água-com-áçucar e cenas dramáticas.  Se não fosse aprovado, entenderia perfeitamente.

Otomo foi o primeiro a terminar a leitura.  Apenas correra os olhos pelas palavras.  Depois leria de forma mais critica, queria confirmar apenas que não era outro lixo.  O segundo foi Takeo.  O guitarrista sorriu torno:

– Eu vou foder a vida de todo mundo.  Gostei disso!

Teruo e o líder da banda terminaram quase ao mesmo tempo.  No fundinho o guitarrista não acreditava muito na capacidade de Shibuya dar conta do recado.  Mas agora que lera o texto, percebera que subestimara o companheiro.

– Muito bem, Ikeuchi. – foi Jack quem elogiou.

Hayato não disse nada.  Aproveitou que ninguém olhava para ele e enxugou a lágrima que rolou por seu rosto.  Fora tocado pelo final da história de amor.

– Sim. – a voz animada do produtor cortou qualquer outro pronunciamento.  Um sorriso de satisfação adornava a face do homem.  Já previa o lucro que ia ter com aquela história – Dessa vez dará certo!  Vou providenciar passagens para depois de amanhã.

Os sets de filmagens seriam transferidos para Kyoto.  O melhor cenário para a trágica história de amor que estava prestes a ser filmada...

 

Continua...

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