domingo, 10 de janeiro de 2010

Perigos Parte II - Inside

Notas do Autor:
Também veio rápido!! /

Imprevisto
Kaline Bogard

Perigos – Parte II
Inside

Num súbito ataque de pânico Teruo fez a única coisa que podia:

– ARATA! TASUKETE!!

- - - - - - - - -

O pedido de socorro do adulto teve o poder de paralisar as crianças.  O pranto de Ryuutarou cessou por completo, Takeo parou de se debater e até Jin moveu o pescoço tentando enxergar melhor:


– Quem é Arata? – Ryuutarou quis saber.

– Puique ocê chamô ele? – Jin juntou-se ao interrogatório.

Takeo aproveitou a distração do adulto e escapou indo parar ao lado de Ryuutarou:

– Ele vai brigá com a gente?

Por um segundo Teruo ficou tentado a dizer que sim, que Arata ia brigar muito com eles, porém teve a sensação de que os pequeninos estavam com um pouco de medo, então achou melhor não prolongar a situação:

– Arata é o apelido do Tio Hayato. – explicou.

No mesmo instante os três relaxaram:

– Ah. –Ryuutarou fez um bico – Que apelido sem graça.

– Eu gosto du meu nome.  Takeo é o nome mais melhor do mundu todo. – Takeo voltou a sorrir, agora sabendo que “Arata” não era uma ameaça.

– Jin qué um apilidu.  Jin qué um apilido tameim. – o primo de Hayato balançou as perninhas.

Foi nesse instante que Arata entrou na sala, segurando duas grandes vasilhas de pipoca nas mãos. Parou meio surpreso, demonstrando alívio no rosto:

– Pensei que estivessem se matando aqui...

– Sabia que tem um cachorro na sua casa?

Arata riu:

– É a... a... ano... é o Trevas.  Amigo do Jin. Pro quarto, Trevas, já. – o animal não quis obedecer, mas Hayato bateu o pé e o fez correr de volta pro quarto. – Tive que trazê-lo também.

Teruo inclinou-se e colocou Jin no chão:

– Pois saiba que quase teve morte. – o moreno ficou um tanto aborrecido – Se ouviu antes porque não veio me ajudar?

– Porque eu sei que você dá conta do recado. – Arata piscou um olho. – Pipoca!!

Os garotos pularam felizes quando o dono do apartamento colocou as vasilhas no chão.

– Oba!! – Takeo vibrou.

Hayato sorriu, então franziu as sobrancelhas de leve indo pegar o DVD:

–Teruo.  Porque tem um dos seus cigarros queimando o meu carpete?

– Merda! – o moreno apressou-se para recolher o cigarro, fato que o alertou: – Ei, Ryuu chan queimou a mão.  Você tem pomada?

– No banheiro. – olhou agudo pro namorado antes de chamar: – Vem comigo, Ryuutarou.

O garotinho levantou-se do chão e acompanhou Hayato.  A verdade é que não fora uma queimadura muito profunda, felizmente.  E o dono do apartamento aproveitaria para prender Trevas no quarto, apesar dos alimentos do bichinho estar na cozinha.

Takeo ajeitou-se no carpete, com as perninhas abertas e uma das vasilhas entre elas.  Jin sentou-se na posição de Buda com a vasilha ao lado.  Teruo colocou o DVD e deixou passando os traillers.  Assim mantinha os olhos bem fixos naqueles pestinhas.

Quando os outros dois voltaram do banheiro, o curativo na mão de Ryuutarou roubou a atenção por algum tempo até o desenho animado começar e as crianças se concentraram nele.

Hayato sentou-se no sofá ao lado do namorado.  Logo estavam abraçados, bem aconchegados.  Mãos se entrelaçaram e trocaram um beijo rápido.  O moreninho apoiou-se no peito largo e suspirou:

– Eu senti saudades.

Teruo sorriu ao ouvir aquilo.  A faculdade estava exigindo muito dos alunos, no quarto ano começavam os estágios, o que significava dividir as horas do dia entre aulas, trabalho, estágio, relatórios, resenhas, projetos, reuniões de planejamento, e; se possível, reservar um tempo para as refeições e repor o sono.

– Como foi com o careca? – o mais alto perguntou.

Hayato passou a mão pela mexa ruiva:

– Pegou leve.  Pensei que ia ferrar a sala toda.  Chega no último segundo e ele dá uma prova subjetiva.  Acredita nisso? – Arata soou incrédulo – Salvou muita gente.

Teruo sorriu:

– Sorte.  Porque você estava no meio dos que foram salvos.

– É. – o moreninho concordou. – Mas você não pode falar muito.  Quem ia ficar de DP na Ênfase em Comércio Exterior?

– Mas não fiquei. – Teruo se defendeu.

– Porque o seu namorado adorável doou três noites de sono para ajudar você a estudar...

O moreno riu, jogando a cabeça para trás e apoiado a nuca no encosto do sofá.  Os olhos levemente estreitados estavam fixos na laje branca.  Correu os dedos longos pela pele do braço do namorado, ambos apreciando o contato carinhoso.

Era tão bom ficar assim, os dois juntinhos, apreciando a amada companhia e o silêncio cúmplice do momento de ternura.

Silêncio...?

Intrigado, o moreno endireitou a cabeça e franziu as sobrancelhas.  Escrutinou a TV que exibia o desenho animado:

– Arata?

– Nani? – perguntou preguiçoso sem querer se afastar do corpo do outro.

– Não devia ter três diabinhos no seu carpete? – o moreno soou preocupado.

No mesmo instante Hayato endireitou-se:

– Eles não estão aí?

Teruo olhou em volta:

– Não no carpete. Seus amiguinhos incorporaram o espírito do Da Vinci. – apontou pra trás do sofá.

A visão que o dono do apartamento teve causou-lhe arrepios.  Principalmente pela parte de ser “dono”.  Os três garotos tinham giz de cera nas mãos pequenas e rabiscavam as paredes brancas com gosto.

–Putaqueo... – Hayato começou o palavrão, mas a risada cristalina o impediu:

– Me explica uma coisa...?

– O que? – o moreninho estava quase sem voz, assistindo suas paredes branquinhas sendo furiosamente rabiscadas.

– Esses moleques são ninjas?  Como pegaram o giz de cera e saíram pra rabiscar sem que a gente percebesse?

Nesse ponto Arata riu um pouco:

– São crianças, Teruo.  A função deles é essa.

– Até que o pestinha hiperativo desenha bem... – o moreno indicou Takeo com o queixo.

– Ele entende de arte moderna, sem dúvidas. – Arata riu antes de decidir acabar com a festa falando alto: – Bonito, não?

Os pequeninos levaram um senhor susto.  Quase no mesmo instante viraram-se para os adultos, sabendo-se pegos no flagra.

– O que estão fazendo?

– Desenhandu. – Takeo respondeu.

– Deseinhano.  – Jin repetiu.

Arata e Teruo se entreolharam contendo as risadas a custo:

– Jin, porque seus dentes estão azuis?

– Giz de cera não é pra comer, moleque! – Teruo gracejou notando o bastão todo mordiscado.

Os olhos do menino ficaram brilhantes de lágrimas.  Ele estendeu os bracinhos e pediu colo, comovendo Arata no mesmo instante.  O adulto ficou em pé pegou o primo nos braços.

– Hayato não está bravo com o Jin chan, não precisa chorar – então virou-se para o namorado – Melhor lavar.  Acho que não é tóxico, mas precaução nunca é demais.

– Eu acho que o filme não foi uma boa idéia. – observou rapidamente a pipoca esquecida no carpete, quase intocada – Vamos pensar em outra coisa.

Enquanto os dois primos saiam da sala Takeo e Ryuutarou ficaram em pé e pararam muito sérios em frente ao moreno. Intrigado com a atitude ele tentou parecer tão solene quanto as crianças:

– O que foi?

– A gente ta com sede.

– Eu queru refrigeranti.

Teruo soltou ar pelo nariz antes de responder:

– Tem na geladeira.  Pega lá e trás um pouco pra mim.

Os meninos se entreolharam meio incrédulos, porém não precisaram de segunda ordem para disparar para a cozinha.  Muito satisfeito consigo mesmo Terushido acreditou que tinha descoberto um jeito de deixar os garotos quietos.

Levantou-se do sofá e pegou as vasilhas de pipoca para colocá-las sobre a mesa de centro.  Depois tirou o DVD do aparelho e o guardou.  Desligou a TV achando que tudo estava perfeito.

– Parece em ordem.

Mudou de idéia ao ouvir um “Iaaaaahhh” agudo pra lá de suspeito.  Apressou-se até a cozinha.  E foi bem a tempo de “voar” até a mesa e grudar na mão de Takeo, que subira na cadeira e segurava uma das facas de Arata, mantendo-a erguida no ar:

– O que pensa que está fazendo, Takeo? – cuidadosamente pegou a faca pela lâmina mantendo-a entre s dedos esguios.  Notou uma laranja sobre a mesa.  Marcas na casca indicavam que o menino já acertara alguns golpes na fruta.  Putaqueopariu... Teruo quase suou frio de imaginar que aquela peste hiperativa podia ter decepado um dedo.  Ou pior: a mão inteira.

– Eu ia fazê sucu di laranja.  O Tio Teruo não gosta?

– Gosto.  Mas não quando é feito por criança.  Você não pode brincar com facas.

– Eu num tava brincandu! – reclamou alto com um bico.

– Olha esse tom de... de... – franziu as sobrancelhas e farejou o ar.  O que era aquele cheiro de queimado?

Só então a ficha caiu e lembrou que eram duas crianças a solta pela cozinha.  Virou a cabeça de um lado para o outro.  Foi descobrir Ryuutarou meio enfiado no vão entre o balcão e a geladeira, riscando os fósforos de uma caixa.  Pelos palitos queimados no chão, dava pra calcular mais da metade desperdiçada.

– RYUUTAROU! – Teruo repreendeu.  Foi o suficiente para o menino largar a caixa e o fósforo que ia acender; escondendo as mãos nas costas.  Mirou o adulto com sua melhor expressão de “Eu nem fiz nada, juro” que foi capaz de colocar no rostinho surpreendido.

Takeo deu uma risadinha.  Ryuutarou parecia mais encrencado do que si próprio.  O que era uma vantagem na sua opinião.  O adulto fez os dois garotinhos sentarem-se direitinho nas cadeiras da mesa antes de falar muito gravemente:

– Crianças não podem mexer com fogo nem com facas.  Entenderam?

Antes que as crianças respondessem Hayato entrou na cozinha puxando o primo pela mão.  Em um instante escaneou a cozinha e, apesar de não compreender tudo, sacou o suficiente para intuir as encrencas: fato comprovado pela faca sobre a mesa e o cheiro de fósforo queimado no ar.  Soltou o primo para colocar as duas mãos na cintura e olhar firme para Teruo:

– O que está acontecendo?

– Relaxa.  Tenho tudo sobre controle.

– Teruo chan.  Nós temos que estabelecer umas regras aqui.  Cuidar de criança é coisa séria. – o moreno engoliu em seco, mas concordou silenciosamente com o amante – Ótimo, vamos fazer o seguinte: você fica responsável pelo Takeo e pelo Ryuutarou.  Eu fico...

Foi cortado antes de completar a frase:

– Responde uma coisa... – Teruo ergueu uma sobrancelha – Acertar o namorado com um taco de baseball é prova de amor?

Arata segurou a risada:

– Definitivamente, não.

– Espertinho!  Quer me dar os dois piores: o Lança Facas e o Engole Fogo.  E vigiar o que só come massinha de modelar...?

– O primo é meu! – no fundo Arata não queria muito ficar com duas encrenquinhas – O que aconteceu com o “unidos no momento de dificuldade”?

Teruo deu de ombros:

– Momentos de dificuldade significam problemas financeiros e amorosos, invasão alienígena, doenças incuráveis, personagens de mangá entrando pela janela, Godzilla... mas no contrato não diz nada sobre demônios miniatura.  Se eu quisesse filhos ia em um orfanato e adotava.

Hayato tirou uma mão da cintura e pensou em rebater o argumento, mas mudou de idéia.  Brigar com o namorado estava fora de cogitação.  Ainda mais por que ele tinha razão: não precisava ajudá-lo.  Sem alternativa, cedeu:

– Hai.  Eu cuido do Takeo e do Ryuutarou.  – então fez um gesto com a cabeça – Precisa ser mais atento, Teruo chan.  A sua “responsabilidade” não devia estar fazendo aquilo...

O moreno virou-se para a direção indicada e rolou os olhos dando um suspiro:

– Isso é ração de cachorro, Jin!

No mesmo instante o garotinho parou de mastigar os caroços da ração de Trevas e ergueu os bracinhos pedindo colo, as mãos fortemente fechadas ainda cheias com o alimento do cãozinho.  As lágrimas já desciam pelo rosto.

– Seu primo é uma fábrica de lágrimas. – Teruo resmungou, antes de aproximar-se do garoto e pegá-lo nos braços.  Por mais que se irritasse era impossível resistir ao chorinho banguela, apesar dos dentinhos sujos de ração.

– Eu diria que ele é esperto.  Consegue derreter meus tios desse jeito. – o dono do apartamento respirou fundo.  Olhou de Takeo e Ryuutarou, muito quietinhos nas cadeiras, para Jin atarracado no pescoço de Teruo, apesar de já ter parado de chorar. – Tem um parque no quarteirão de trás...

– Acha seguro? Pro resto da humanidade, quero dizer. – o mais alto brincou.

Hayato fez uma careta fingindo estar bravo.  Talvez levando os três para brincar no parquinho as horas passassem mais depressa.

 

Continua...

Notas Finais:
Uahuahauahuahaua
Acho que termino essa no próximo. Que pena... tava gostando tannnnto de judiar do Teruo... >)

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