domingo, 10 de janeiro de 2010

Perigos Parte Final - Outside

Notas do autor:
Aqui está em mãos, peço desculpas pela demora!
Enjoy.

Imprevisto
Kaline Bogard

Perigos – Parte Final
Outside

Definitivamente a idéia de Arata tinha sido brilhante, genial.

O parquinho era o lugar perfeito para levar seu primo e os amigos, e distraí-los por lá com a variedade de brinquedos.  E parecia perfeitamente seguro.

Jin e Ryuutarou brincavam juntos na grande caixa de areia, distraídos em esculpir formas tortas na areia um tanto úmida.  Takeo se socializara muito rápido, e corria de um lado para o outro, junto com amiguinhos recém conquistados.

– Olhando assim são umas graças. – Teruo falou distraído, soprando a fumaça do cigarro.  Ele e o namorado estavam sentados em um dos bancos de cimento colocados ao redor do parque.  Podiam vigiar todo o movimento sem problema.

– É. – Arata concordou. – Mal dá pra acreditar.

– No quê? – o moreno alto não entendeu a frase reticente do namorado.

– Ah... você sabe. – Arata começou a brincar com a mexa ruiva do cabelo. – Minha tia dispensou a babá.  Ela andava desconfiada porque as crianças estavam aparecendo com umas marcas roxas, hematomas...

Foi a vez de Teruo ficar horrorizado:

– A babá estava batendo neles? – desviou os olhos para as crianças.  Tinha que concordar que os três tinham energia demais, às vezes perturbavam um pouco, e exigiam vigilância constante.  Mas nada justificava que fossem judiados. – Isso é absurdo.

– Eu sei. – Arata acenou – Meu tio está louco da vida.  Eu também fiquei revoltado.  São crianças indefesas...

– Hum... talvez não tão indefesas assim...

– O quê? – Arata não compreendeu a frase reticente.  Arrepiou-se quando o namorado apontou para a caixa de areia, onde Ryuutarou socava um outro garotinho que tentara entrar na caixa pra brincar com eles. – Merda!

Os dois levantaram-se do banco e foram até as crianças:

– Ryuu chan! Não deve fazer isso! – Hayato falou num tom de voz bravo.  O garotinho armou um bico e cruzou os braços.

– Ninguém pode brincar na minha caixa de areia!

– Essa caixa não é sua! – foi a vez de Teruo falar.

– Eu não ligo!  Não quero ninguém aqui! – Ryuutarou parecia mesmo raivoso de pensar em dividir “sua caixa de areia”.

Apaziguador, Arata tentou fazer a criança entender que precisava dividir as coisas:

– Mas Ryuu chan, você está brincando com Jin, não está?

– O Jin pode!  Mas só ele. – o bico raivoso aumentou.

Hayato tentou fazê-lo entender a situação:

– O Jin vai... – apontou o primo.  A bronca morreu em seus lábios e Arata ergueu as sobrancelhas – Teruo, olha...

O moreno alto obedeceu e quase derrubou o cigarro dos lábios:

– JIN! ESSA AREIA É SUJA! NÃO PODE COMER!!

Tarde demais.  O menino estava com as bochechas estufadas, cheias de areia.  Tentou cuspir, mas atrapalhou-se todo e engasgou.  Imediatamente Teruo correu para socorrê-lo.  Arata ia fazer o mesmo, mas ouviu-se um grito agudo.  Preocupado, o moreninho olhou em volta e perdeu a voz com o que descobriu: Takeo estava estatelado no chão, próximo a gaiola de ferro.  Chorava alto, babando um fio de sangue, enquanto as outras crianças olhavam assustadas.

Demorou apenas meio segundo para o rapaz entender que provavelmente o garotinho tinha caído das grades de ferro e se machucado feio.

– TAKEO! – pegou Ryuutarou pela mão e praticamente arrastou o pequenino até o ferido.

Teruo pegou Jin do chão e o colocou debaixo do braço, como se o garoto fosse um embrulho.  Isso o divertiu bastante, fazendo com que risse alto babando quase toda a areia que enfiara na boca.

– Ele está bem? – o moreno mais velho se aproximou receoso, vendo Hayato agachar-se ao lado do moleque.

– Takeo chan. – Arata assustou-se com a quantidade de sangue que manchava a blusa de Takeo. – O que aconteceu?

O menino soluçava muito, com a boquinha aberta.  Então estendeu a mão de dedos gorduchos e, soluçando de forma dolorida, exigiu:

– Mi... mi... minha.... mu... mu... mueda!

Extremamente pálido Arata compreendeu: durante a queda Takeo perdera um dente.  Estava banguela no pequeno maxilar.

oOo

No pronto socorro foram imediatamente atendidos pelo odontologista de plantão.  O profissional levou Takeo e Arata para que o garoto fizesse um exame de Raios-X.  Precisavam saber se o dente tinha sido extraído pela queda ou se ele o engolia, ou pior: acabara cravado na gengiva da criança, o que exigiria uma cirurgia.

Teruo ficou na sala de espera, sentado nos bancos confortáveis junto com Ryuutarou e Jin.

– Takeo vai ganhar uma moeda. – o garoto de cabelos mais compridos estava pensativo.

– Takeo vai gainhá uma mueda. – Jin repetiu.  Ainda tinha a boca um pouco suja de areia, assim como a blusa onde os grãos claros ficaram grudados com um tanto de baba.

Ryuutarou olhou pro amiguinho:

– Você ganhou uma também.

– Jin gainhô. – o menino riu feliz.

– Quando o seu dente cair você ganha uma. – Teruo afirmou de mau humor, infeliz em não poder fumar ali dentro. – Tenha paciência.

– Não! Eu quero uma moeda agora!

O garoto afirmou arrogante e levantou-se disparando pelo corredor.  Como era baixinho, passou pelo balcão sem que a recepcionista o visse e sumiu porta a dentro.

– Ei, moleque!!

Teruo não perdeu tempo.  Saltou e correu atrás do menino.  Ouviu a funcionária gritar com ele informando que não podia passar por ali sem autorização.  Elegantemente Teruo a ignorou.  Se perdesse Ryuutarou de vista sabe os deuses o que podia acontecer.  Além do fato de Hayato arrancar-lhe a cabeça.

O pensamento lhe deu mais forças e ele apertou o passo.

oOo

– O dente saiu completamente. – o dentista examinava o pequeno exame de Raios-X com atenção.  – Não ficou nem mesmo um fragmento.  Foi muita sorte.

Só então Arata relaxou.  Com a sorte que eles estavam tendo, era bem capaz de não ter sido algo tão simples.  Olhou de relance para Takeo.  O garoto robusto tinha um grande pirulito nas mãos e o lambia deliciado, esquecido de tudo o mais.  Na outra mão, firmemente segura, levava uma moeda brilhante como um troféu esportivo ou um artefato de guerra.  A blusa de estampa infantil estava manchada de sangue, uma visão chocante.  Precisava levá-lo pra casa, limpá-lo e trocá-lo.

– Obrigado, doutor.

– Hn. Vou receitar analgésico infantil.  E já aviso: o novo dente vai demorar um pouco para nascer.

– Porque?

O dentista olhou para Takeo e sorriu:

– Vai levar o tempo natural que o dente levaria para maturar e cair.  Só então o definitivo irá nascer.

– Oh... entendi.

– Não se preocupe, senhor Izumi.  Esse tipo de coisa acontece o tempo todo.  Foi o balançou o escorrega?

Arata sorriu um pouco:

– Foi culpa da gaiola.

O dentista assentiu:

– Aquelas grades de ferro... mas as crianças adoram.  Aqui está a receita.  Entre em contato caso ele sinta dor mesmo depois de tomar o analgésico.

Hayato pegou a receita e agradeceu.  Depois chamou Takeo e juntos saíram da sala.  O garotinho se comportava como um verdadeiro herói:

– Vou dividir o pirulito com o Jin e o Ryuu!  E guardar a minha mueda.

– Muito bem.  Você foi muito corajoso, Takeo chan.

– Nem dueu. – o menino se vangloriou, aparentemente esquecido de como chorara mais cedo, de dor e susto. – Vou falar pro Ryuu pular também.  Assim ele ganha uma mueda.

Arata se arrepiou.  Achou melhor dar uma moeda logo pra Ryuu, assim que o visse, antes que nova tragédia acontecesse.

Com essa idéia em mente voltou a recepção.  A recepcionista estava com ar de poucos amigos, mas o rapaz associou aquilo ao excesso de trabalho, pois havia aumentado o número de pessoas que buscavam socorro médico, a sala estava com quase todos os bancos cheios.  Mas nem sinal de Teruo ou dos outros dois garotos.

Onde eles podiam ter ido?  Talvez ao banheiro.

Suspirando, Arata puxou Takeo pela mão, sentou-se em uma das cadeiras vagas e colocou o pequenino no colo.

– Você foi mesmo corajoso, Takeo chan.  Vamos esperar que o tio Teruo, o Jin e o Ryuutarou voltem, daí a gente compra um super sorvete pra comemorar, combinado?

Takeo acenou a cabeça sem parar de chupar o pirulito colorido.  Hayato recostou-se, acreditando que aqueles três talvez tivessem ido ao banheiro.

oOo

– Mas... que... merda!

O diabinho era rápido!  Teruo não podia acreditar que estava comendo poeira de um pirralho que tinha as pernas três vezes mais curtas que as suas!  Malditos cigarros.  Eles estavam acabando com seu fôlego.

Quando o corredor dobrou subitamente para a esquerda, Yuura pensou em aumentar o passo, mas a câimbra nas laterais do corpo impediram.  Intuiu que perderia o pirralho de vista e nesse caso Arata ia falar um monte em sua orelha.

Praguejando virou já pronto para dar com o corredor vazio, mas estacou.  Ryuutarou parara de correr.  Ou melhor: fora parado.  Uma enfermeira baixinha, de sorriso gentil estava ajoelhada, conversando com ele.

– Ryuu chan... – o moreno chamou a atenção de ambos.

Com o chamado o pequenino emburrou.  A mulher ergueu os olhos:

– Você é responsável por ele?  Não podem circular pelo interior do hospital.

– Eu sei. – Terushido afirmou. – Ele saiu correndo e fiquei com medo de perdê-lo de vista.

– Quero perder um dente! – Ryuutarou exclamou de mau modo.

– Porque? – a funcionária de branco perguntou gentil.

– Pra ganhar uma moeda.

Então a mulher fez uma expressão de quem compreende tudo:

– Ah... mas assim não vale.  Isso se chama trapaça.

–Trapaça? – Ryuutarou franziu as pequenas sobrancelhas.

– Sim.  O dente tem que cair sem que você faça de propósito.  Se fizer cair, você está fazendo trapaça.  Trapaceiros não ganham moedas.

O garotinho ficou indignado:

– Eu não sou trapaceiro!

– Então prometa que será paciente e vai esperar seu dente cair.  Só assim vai ganhar uma moeda.

– Prometo! – o baixinho jurou muito solene.

Teruo ficou impressionado.  Ali estava a prova de que não tinha jeito nenhum com crianças!  No fundo entendeu que talvez a antiga babá também não tivesse, e isso justificava a violência física contra as crianças.  Ou melhor, nada justificava, mas pessoas despreparadas tendem a agir de forma agressiva em determinadas situações.

– Obrigado. – agradeceu com sinceridade.

– Vou acompanhá-los de volta a recepção. – a mulher sorriu de volta, segurando Ryuutarou pela mão. – Crianças exigem muito cuidado e atenção.  E jeito.  Eles não conhecem o mundo como a gente, e tiram suas próprias conclusões de acordo com as experiências que vão tendo.  Meu marido e eu estamos nos preparando para ter uma criança.  Mas não tão cedo.

Terushido riu, compreendo perfeitamente a hesitação em receber uma criança antes de estar devidamente preparado.  Ele achava que nunca estaria pronto para ter um filho.  Nem queria isso.  Não tinha intenção alguma em contribuir para a superpopulação mundial, obrigado.

Foi um alívio chegar a recepção e encontrar o namorado sentado com Takeo no colo.  Finalmente poderiam ir embora!

– Obrigado pela ajuda. – agradeceu a enfermeira e tomou o garoto pela mão, seguindo em direção a Arata. – Como foi com o novo banguela?

Hayato ergueu a cabeça e sorriu:

– Muito bem.  Takeo não engoliu o dente, os exames revelaram que ele foi expelido.  Takeo chan foi um herói e ganhou um pirulito.

Os adultos observaram o menino dividindo o doce com Ryuutarou.

– Quem vê pensa que são anjos... – Teruo ergueu uma sobrancelha. – Vamos embora?

– Claro. – Arata concordou – Estava esperando vocês voltarem do banheiro.

Teruo balançou a cabeça:

– Não fomos ao banheiro.  Ryuutarou cismou que queria perder um dente e fugiu.  Tive que correr atrás dele, e só consegui pegar a peste porque uma enfermeira o parou.  Sorte que ela conversou com ele e explicou que assim ele não ia ganhar uma moeda.

– Ah... – Hayato franziu as sobrancelhas. – Cadê o Jin?

– Ora, eu deixei ele sentadinho... aqui...

Os dois rapazes ficaram lívidos:

– Terushido você deixou meu primo sozinho aqui?! – imediatamente Hayato levantou-se com Takeo nos braços e olhou ao redor.  Sentiu uma vertigem: não tinha nem sinal de Jin na recepção.

– Eu pensei que ele ficaria quieto. – Teruo sentiu um gosto amargo na boca.

Arata não respondeu.  Foi em direção à recepcionista indagar se ela vira alguma coisa.  Em sua mente milhões de coisas terríveis passaram de uma vez, deixando o rapaz ainda mais tonto.  Mas a pior de todas elas era o que diria pra sua tia caso perdesse o garotinho?

Assim que chegou ao balcão, a porta interna que dava acesso apenas aos funcionários se abriu.  Uma enfermeira quase da altura de Teruo passou por ela.  Trazia uma criança conhecida nos braços.  Jin.

O alívio de Arata virou preocupação.  O garoto parecia sentir-se mal.  A blusa de cores claras estava toda babada de verde!  Como se ele tivesse tentado beber algum produto de limpeza.  Ou pior: medicação!

– Ele está bem?! – foi logo perguntando.

A enfermeira olhou para ele com ar de poucos amigos, assim como a recepcionista.  Foi a mais alta quem falou:

– É o responsável por esse menino?

– Sim. Sou primo dele. Vim trazer o amiguinho no hospital porque ele perdeu o dente. – indicou Takeo em seus braços.

– Eu me descuidei. – Teruo, que se aproximara, assumiu a culpa.

A enfermeira olhou para os dois de forma repreensiva:

– Essa criança estava indo de quarto em quarto comendo a gelatinas dos meus pacientes!  Não sei como ele entrou, mas as pacientes da ala feminina ficaram todas comovidas e foram dando gelatina pra ele. – nesse ponto lançou um olhar terrível para a recepcionista, que engoliu em seco – Já dei remédio pra indigestão, mas ele ainda está sentindo dor no estomago.

– Gomen.  Não queríamos causar problemas. – Arata afirmou humilde, vendo o namorado pegar Jin no colo, por sobre o balcão, mas sem largar a mãozinha de Ryuutarou. – Arigatou.

A mulher não respondeu, voltando pela porta de trás da recepção.

– Céus... – Teruo sussurrou sentindo Jin passar o braço por seu pescoço e aconchegar-se. – Esse pirralho comeu de ração de cachorro a areia.  E foi passar mal com gelatina?!

– Jin quer a mamaim... – o pequenino choramingou.

– Vamos embora.  Antes que algo mais aconteça. – Hayato suspirou, aliviado demais por ver que tudo terminara relativamente bem.

oOo

– Olhando assim parecem três anjinhos.

Hayato terminou de ajeitar a coberta sobre as crianças e observou-os.  Eles estavam sobre sua grande cama de casal, Takeo abraçado com um urso de pelúcia, Ryuutarou segurava um leãozinho e um panda meio encardido.  Jin estava virado pro outro lado, chupando o dedo.

– Graças aos céus o dia acabou. – Arata falou baixo.

– Ah, nem foi tão ruim assim.

Hayato observou o namorado que tirava o maço de cigarros do bolso e já se preparava para sair do quarto e ir acendê-lo.

– Que bom que pensa assim. – o mais baixo falou misterioso.

Terushido parou de andar e encarou o namorado:

– Não entendi seu tom de voz...

– Lembra da babá que batia nas crianças...? – perguntou brincando com a mexa ruiva do cabelo.

– Lembro. – Yuura soou um tanto seco.

– Pois é.  Eu concordei em cuidar deles até que meus tios encontrem uma pessoa de confiança.

Terushido demorou meio milésimo de segundo para compreender o que aquilo significava.

– OQUE?!

O berro serviu eficientemente para duas coisas: surpreender Hayato e acordar as crianças que, com o susto, começaram a chorar.

O moreninho não sabia a qual dos três socorrer primeiro e Terushido viu suas maravilhosas férias se transformar num pequeno jardim da infância.

Ou melhor: num verdadeiro inferno.

Fim

Notas Finais:

Ou não... >)
Eu gostei de trabalhar com essas três pestinhas. E agora que eu to estagiando numa creche idéias é o que não falta. Mas, sinceramente, odiei o casal Teruo x Arata, não rolou química nenhuma entre eles. Então, caso eu trabalhe com as crianças de novo provavelmente esses dois adultos estarão como amigos ou como namorados, mas sem cenas de Love.
Gostei bastante de trabalhar com Teruo x Jin. Talvez escreva outra. Minha fic que ainda não decidi se será Jin x Takeo ou vice-versa ta meio empacada, por falta de tempo. Mas enfim, aos poucos sai.
Ah, esse capitulo final também não foi betado. Perdoem os 1000000000 de erros. E, é claro, especialmente dedicado a Litha chan, o Pacu Viciado em MegaCity. Ela ganhou até de mim. Valeu por deixar judiar do seu filé moreno delicia sedução! /rola

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