terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Capítulo 3

Celos... Jealousy... Gelosia... Jalousie... Eifersucht... しっと
Um acesso de ciúme pode levar um homem a cometer ações tão indignas, que, uma vez passada a vertigem da suspeita, ele se encontre grandemente envergonhado. ~Jean-Baptiste Massillon.

 

Cheguei ao hotel com os olhos que não se agüentavam. A primeira coisa que pensei quando vi a fachada do edifício foi “banho”, eu precisava de um com urgência e calma. Pelo horário talvez Takeo estivesse ainda dormindo, então precisava entrar com algum silêncio pra não acordá-lo, mas o estranho foi que quando cheguei ele não estava na cama. Bom, será que um milagre se operou por aqui e eu perdi? Tirei os acessórios e me livrei da blusa quando ele saiu do banheiro e me encarou.


-Acordado? Que milagre foi esse? –Eu ri. Mas foi um risinho que logo morreu, ele continuava com aquela cara azeda, talvez pior, do que no dia anterior e mais, estudava cada milímetro do meu corpo conforme se aproximava. –Tachii?

Eu sabia que o Yuu tinha deixado algumas marcas, mas eu não sabia quais Takeo poderia ver e o que poderia pensar. Aquela cara de fúria...

-Puta! –E uma mão pesada me arremessou contra a parede. Eu senti o corpo dele atrás do meu e as mãos dele me impedindo de afastá-lo. Um frio correu pela espinha enquanto eu o ouvia ofegar. Ele mordeu meu pescoço no mesmo lugar que o Yuu tinha feito. Merda de marcas!

-Me diz Izumi, o que ele tem de melhor que eu não possa dar pra você? –Ele me perguntou ao pé do ouvido e aquela voz rouca dele só me deu mais medo. –Porque você nunca leva a sério meus sentimentos. Merda, eu gosto de você, Izumi! É tão difícil pra você entender?

-Ta-Takeo?  Está me assustando...

-Eu tento demonstrar pra você todos os dias o que eu sinto, mas parece que não é suficiente, você me ignora. –Ele continuava. – Se sua desculpa é que eu sou galinha, me diz o que você é deitando com o primeiro amiguinho que dá em cima de você!

-É galinha sim! –Forcei-me para virar de frente e encará-lo, aquela era uma briga pra dois e eu não queria levar pra casa. –E eu não sou puta! Ele era meu namorado! A única pessoa que eu fiquei agora você... você canta até poste e ainda se acha no direito de me chamar disso!

-Uma puta sim! Uma vadia qualquer! –ele repetiu mais alto no meu ouvido, me imobilizando. –Você não sabe o que eu passei pra ser assim!

Eu tentei me livrar daquele peso, mas ele parecia possesso, machucando meus braços. Takeo estava irreconhecível. Era outro homem que  me segurava e levantava a mão em direção ao meu rosto. Fechei os olhos esperando o tapa que nunca veio.

-Não vale a pena. Me enganei com você. Eu te colocava num pedestal Izumi!

E soltando meus braços, ele saiu furioso pela porta, batendo-a com força. Eu fiquei sem reação depois disso e me forcei para o banheiro, tirei o restante de roupa e vi o que o guitarrista viu. Meu tórax lanhado, marcas de mãos na altura da cintura, chupões pelo pescoço e ombros além das mordidas... É... Eu parecia mesmo uma puta.

Depois daquele banho eu não vi mais Takeo. Talvez estivesse no quarto do Teruo ou do Jin, se Jack não o expulsou de lá e, nesse caso, poderia ter aproveitado pra tomar café ou dar uma volta. O que eu tinha certeza era que a P’’Saiko ainda tinha mais um compromisso e que eu estava com sono, mas antes precisava comer algo e por isso mesmo estava indo pro restaurante do hotel tentar aproveitar a ultima hora do café da manhã. Parecia que tinha uma solitária gigantesca no meu estomago de tanta fome que sentia.

Percorri o lugar com os olhos sem encontrar nenhum conhecido e então fui preparar meu café/almoço. Leite com chocolate – desde que deixei a cafeteria, só consigo tomar o café que faço ou feito pelos outros P’’Saiko Boys... Isso quando faziam – pão com geléia de morango e queijo branco, dois tipos de frutas... Um copo de suco, um yogurt, um pedaço de torta de amora... Se desse, ao sair tentaria levar alguns biscoitos pro quarto.

Iniciei o desjejum reforçado relembrando a conversa que tive com Yuu-san ainda mais cedo, seguido do ataque de Takeo... Eu sempre imaginei que fosse brincadeira dele, apesar da insistência nessa brincadeira. Também torcia um pouco lá no fundo pra que fosse verdade, que ele gostasse de mim mesmo, mas eu não queria alimentar essa esperança e acabar com uma amizade tão gostosa entre nós... Acho que o que aconteceu no quarto foi justamente o fim dessa amizade entre a gente... Mas tentaria em algum momento reparar isso... Se fosse possível. Não sabia como e não queria pensar nisso naquele momento. Estava com fome, com sono... e agora tinha um Jack sentado na cadeira em frente me encarando.

-Ow... Ohayo, Jack-chan. –Sorri como sempre faço.

-Izumi-san, o que você está fazendo? –o baterista foi curto e grosso. Não parecia estar para sorrisos e apaziguo. Sério, o que deu essa manhã que o pessoal acordou desse jeito?

-Todos sabem que vocês se gostam.

Minha cara era de “Oi? Falamos sobre o que?” deve ter sido bem clara porque ele me respondeu seco.

-Você e Takeo-san.

-Ow... Sim... –Então o destino do Takeo foi o quarto do Jack? –Eu gosto do Takeo. Ele é um bom amigo.

-Shiroyama-san gosta de você e não é como amigo. E você também gosta dele, toda P’’Saiko sente a tensão que existe entre vocês. O que não entendemos ainda é porque você está fazendo isso?

-O que eu sei é que o Takeo é um galinha. Sentou e pos os pés no chão, ele está dando em cima. Eu não quero ter, ou melhor, não quero ser mais um caso de uma noite na estatística dele.

-E você acha que foi o que com o Yuu-san essa noite? Deixa eu adivinhar, sua primeira noite com outro cara? O primeiro namorado? Você acha que ele vai te assumir? Não é qualquer um que vai dizer pra você “casa, comida, roupa lavada, um carro na garagem e dois gatos pra cuidar”, como já ouvi o Takeo-san dizer uma vez.

-Não ferra Jack. Ele fala isso brincando. Tirando um sarro com a mina cara. Ele fala coisas assim pra qualquer um e o Yuu era meu namorado.

-Era antes de você ir pra Tókio e encontrar a gente. Isso foi há quanto tempo mesmo? Dois anos? Mais? Ele não te ligou, não te procurou e quando vocês se reencontram você vai parar na cama dele como se dois anos não tivessem existido. Como se há dois anos você não tivesse entrado na vida de uma pessoa que resolveu não olhar pra trás e encarar um futuro. Você já pensou nisso Izumi-san?

-Não é da sua conta Jack. –Disse encarando o leite e ouvi um suspiro vindo dele. Eu também não gosto de falar assim com nenhum deles...

-É... Eu não devo me intrometer quando vejo que algo não vai bem entre meus amigos...

Percebi que ele se levantou deixando a mesa e eu não tinha coragem de encará-lo. Olhei meu farto café da manhã que agora corria o sério risco de ser deixado de lado, e tentei não lembrar mais nada. Nem Yuu e nem Takeo. Eu só precisava subir e aproveitar algumas horas antes do nosso compromisso para tirar um cochilo. Se conseguisse...

*** FLASHBACK ***

-Hayato, Hayato. –Yuu chamava do quarto e eu já estava no corredor da sala. Logo ele me alcançou. –Já vai embora assim?

-Preciso ir, senão vão ficar preocupados... E ainda temos uma entrevista na rádio...

-Entendo... Mas isso não impede de se despedir. –Ele disse me abraçando pela cintura e colando nossos corpos.

-Gomen. Não queria te acordar... –Eu estava tenso. Fato.

-hun. Hayato você... Essa madrugada, antes de dormir...

-Era o que eu queria Yuu... Sério, mas... Eu não achei que fosse mudar tanto.

-Vem aqui. –Pediu me puxando pro sofá e sentando me indicou o colo. Sério, eu não ia sentar ali nem que eu quisesse. Então me ajoelhei diante dele. –Eu não mudei, e você continua o mesmo tímido.

-Ie... Desculpe Yuu, eu não achei que fosse fazer tanta diferença, mas é que... Eu vim achando que ia te encontrar e que nada fosse mudar, que o que eu sentia por você ainda estaria ali guardado e quando a gente se reencontrasse eu teria aquele sentimento preservado...

-Continue... Estou ouvindo.

Respirei fundo. Era como se tivesse formado um nó no peito durante o sono e agora fosse doloroso desfazer.

-Eu sinto como... Como se esses dois anos longe tivesse criado um abismo entre nós dois.

-... Você... –Ele balbuciou incerto do que deveria falar.

-Eu gostava de você Yuu, era verdadeiro. E eu fiquei tão animado quando disseram que viríamos pra Kanagawa. Eu tinha esperança de conseguir te encontrar aqui e voltar a te ver!

-Existe outro não é? Você gosta de outro agora. O guitarrista.

-Não! –me surpreendi com a afirmação dele. Porque ele insistia nisso? –Não, já disse! O Takeo...

-Você disse que ele deu as boas-vindas em Tókio, ninguém lembraria a primeira pessoa se não tivesse algum interesse. Aquele nervoso dele era ciúmes. Cara... Ta na cara!

-Não! Caramba, o Takeo é meu amigo! E por acaso você me esperou nesses anos?

Silêncio entre nós. E isso foi pesado. Eu queria atacar ele sim, porque ele estava tirando conclusões precipitadas e nenhum de nós dois esperava esse reencontro.

-Não... –ele respondeu olhando o teto. -...devo me casar em breve...

Isso sim foi chocante, mas ao invés de me fazer ficar puto e querer quebrar a cara dele, eu tive vontade de rir. Rir que nem um maluco, rir da cara dele, porque era visível que ele não queria aquilo ou nem teria me oferecido um jantar na casa dele! E principalmente rir da mulher que acabara de levar um belo par de chifres. Mas respirar era preciso e manter a seriedade naquele momento também. Eu tinha que voltar pro hotel... Inteiro e vivo.

-Yuu-san...

-Você veio terminar comigo... Acho que eu não deixei você fazer isso essa noite...

-Sobre isso...

-Você se arrependeu?

-... Não. Porque era o que eu queria. Mas você está certo, eu vim pra terminar, mas só percebi isso durante a madrugada... Não estamos mais juntos... E isso faz algum tempo...

-... compreendo... mas não aceito... ainda.

-Eu entendo... –baixei a cabeça. Isso poderia ser totalmente compreensível, se ele estivesse solteiro e livre pra mim, mas não estava. E se não fossem esses compromissos da P’’Saiko, quando aconteceria de nos reencontrar? Será que eu ainda assim iria querer voltar aqui pra procurar pelo Yuu? Se não fosse um esbarrão no backstage, eu teria entendido que os sentimentos do Takeo eram verdadeiros? Se sim, eu iria corresponder antes?

 

Fim?


Na verdade ela continua... Sob outro nome... Outra autora... Outro ponto de vista.
E eu diria que esse ponto de vista tem exatos 333 metros de altura, situado em Tókio, ao sul do Palácio Imperial... (Wikipédia, eu te amo! *_*)

Ja ne.

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