terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Capítulo 1

O clima nos ensaios estava horrível, era palpável a desavença entre o vocalista e o guitarrista ruivo.

Não trocavam nenhuma palavra, não se cumprimentava e nem se encaravam. A banda só continuava ensaiando devido ao senso profissional de ambos, caso contrário, teriam se desfeito.

Os amigos tentavam fazê-los conversar, mas nenhum queria dar o braço a torcer. Teimosia era uma característica marcante por ali.


Jack, o líder da banda, cogitara em trancá-los dentro do estúdio até que se acertassem, mas tinha receios que um matasse o outro. Ou como dissera Teruo, o outro guitarrista, eles ficariam lá até morrer de fome e não trocariam nenhuma palavra. Jin, por outro lado, sentia a tensão, não apenas nos ensaios, mas em casa também e isso o afetava diretamente, pois estava cada vez mais preocupado com o primo.

Tudo começou no dia em que a antiga banda de Arata apareceu numa das entrevistas da P”Saiko. O vocalista, muito receptivo, apresentou-os aos amigos e combinaram de se encontrar mais vezes.

Pra piorar, ele marcara um encontro com o baterista Yuu, seu antigo amor, deixando que Takeo presenciasse tudo.

E mesmo sendo bons amigos, todos sabiam que ele nutria sentimentos pelo moreninho, apesar de não confessar em voz alta. O modo como olhava e cuidava do outro era suficiente para notar a atração entre eles, nem as brincadeiras e cantadas disfarçavam o carinho.

A tese era que só não estavam juntos ainda porque o vocalista não levava suas cantadas a sério. Eram tantas durante o dia, que ele não sabia mais diferenciar quando ele falava sério, então ignorava sempre.

Naquela noite Arata se arrumou para arrasar. Roupa bem escolhida, perfume marcante, maquiagem na medida. Infelizmente, Takeo dividia o quarto com o moreninho, presenciando assim o modo como o vocalista estava animado pela noite que teria, como se produziu sensualmente, apenas para agradar o tal baterista.

_ Já vou. – anunciou Arata, pegando a carteira e o celular – Boa noite.

Encarou o ruivo por alguns segundos, esperando uma resposta que nunca veio. Ele ainda estava sério e calado como nunca vira antes.

Assim que o vocalista saiu, Takeo se levantou e começou a andar em círculos pelo quarto, frustrado por não ser levado a sério. Ele sempre tentara deixar claro que gostava do outro, não diretamente, mas ele tratava o vocalista de maneira diferente. Seria tão mais simples se Arata simplesmente o pedisse para não alimentar esperanças, mas ao contrário, ele ria de suas brincadeiras, corando a cada nova cantada.

Desceu para o jantar junto com os outros companheiros, mas não tinha fome. Remexeu no prato até a comida esfriar, ignorando qualquer tentativa de conversa que faziam consigo.

Estava de certo modo preocupado com o que aconteceria com Arata. Ele sabia que não era apenas um passeio de amigos. Ele sabia que o tal baterista o teria como ele sempre desejara ter, em seus braços.

Já passava das duas da manhã e Takeo não conseguira pregar os olhos. Virava de um lado a outro da cama, que lhe parecera muito desconfortável. Levantou-se inúmeras vezes para lavar o rosto, mas não era calor que o atrapalhava. Tentou ler um livro e até ouvir música, mas nem isso o distraia.

Vestiu um roupão por cima da calça de moletom e foi bater à porta do quarto do líder. Se alguém ali poderia entendê-lo era Jack. Não se preocupou por ser tarde ou se atrapalharia o descanso do amigo. Precisava conversar com alguém ou ficaria louco enquanto se remoia.

_ Shiroyama? – abriu a porta com cara de poucos amigos, pronto pra mandar Takeo sumir, mas amenizou a expressão ao ver a cara de preocupado do ruivo – O que houve?

_ Shibuya está dormindo? Preciso falar com você. – falou baixo com medo de ser ouvido pelo baixista.

_ Entra. – deu espaço para o outro, logo fechando a porta do quarto.

_ Ele ainda não voltou. – começou a falar, sem mesmo ser questionado – O que eu faço?

_ Arata deixou claro com isso que ainda gosta dele. – sentou em sua cama, apontando o espaço ao lado para que o ruivo fizesse o mesmo – Vai continuar insistindo?

_ Você sabe que eu gosto dele. Só que... ele não acredita quando eu falo!

_ Fale baixo. – avisou sério, olhando para ver se o baixista não havia acordado – Tente ser mais direto. Suas brincadeiras o confundem.

_ Mas... – levantou o olhar para o teto, procurando as palavras – Jack, esse sou eu! Eu quero alguém que me aceite como sou! Com brincadeiras bobas, cantadas idiotas, é um pacote completo. Se um dia eu parasse, vocês sentiriam falta, ou é tão ruim assim? Eu aprendi a ser assim, não é fácil mudar para agradar alguém!

_ Não seria você, verdade. – encarou o outro, tendo um pouco de pena – Mas se não tomar uma atitude irá perdê-lo. Não devia ter medo de se arriscar. Você já largou tudo pra trás uma vez, se não der certo, largue novamente.

Algum tempo depois, Takeo voltou para o quarto, nem um pouco tranqüilo, mas aliviado por desabafar. Deveria conversar a sério com Arata se quisesse que ele entendesse o que se passava consigo.

O dia mal havia nascido e Takeo resolveu que era hora de levantar. Não pregara os olhos a noite inteira, seu corpo pedia por descanso. Pegou suas roupas e foi tomar um banho, precisava de algo para relaxar.

Tentou disfarçar as olheiras com um pouco de maquiagem, mas só os óculos escuros iriam resolver de verdade.

Saiu do banheiro distraído, pegaria os óculos na mochila e desceria para tomar café, se certo moreno não o tivesse feito estacar no lugar. Arata falou algo que ele não ouviu, aquelas marcas roxas em seu corpo, o chupão em seu pescoço, tudo o que não queria confirmar fora jogado na sua cara.

Takeo o encurralou contra a parede, questionando furioso porque nunca o levava a sério. Dissera tantas vezes que gostava do moreninho, mas em troca só recebia o silêncio. Estava cansado de tentar salvar a amizade dos dois ignorando seus sentimentos, se ele não queria nada a sério, então não teriam mais nada. Por pouco não bateu no outro, teve que usar seu autocontrole ao máximo.

Saiu correndo do quarto, não sabia se falava novamente com Jack ou se parava no bar mais próximo. Estava confuso e tomar uma decisão nessas condições não seria uma boa escolha. Já atrapalhara o sono do líder, era melhor sumir um tempo e refrescar a cabeça.

Foi procurar esconderijo dentro do ônibus, ficando lá até a partida para Tóquio.

* * *

Já havia se passado mais de um mês desde que brigaram e ninguém conseguia fazê-los se entender. Os ensaios não andavam rendendo bem, todos erravam muito, se distraiam. Não havia mais brincadeiras ao final do dia, risos durante as pausas, não saiam mais juntos pra festejar.

Mais um ensaio chegava ao final, todos estavam exaustos, o dia fora muito puxado. Pelo menos teriam o final de semana todo para descansar.

Começaram a ajeitar os papéis com as letras das músicas, guardaram as guitarras e baixos, enrolavam os fios das caixas de som e pegavam suas mochilas. Ninguém gostaria de ficar ali mais que o necessário.

Não só pelo cansaço, mas o clima pesado ficava pior a cada dia.

Só agora sabiam o quanto as brincadeiras de Takeo descontraiam o grupo. Perceberam também o quanto as músicas ficavam deprimentes saindo de uma voz tão bela e triste.

O ruivo guardou a guitarra e pegou a mochila, verificando se não estava deixando o celular ou a carteira para trás. Antes de fechá-la, tirou uma pequena caixa, embrulhada em papel de presente simples. Pendurou a mochila e a guitarra nos ombros e caminhou até Arata, estendendo o pacote.

“É agora!”

_ Pra você. – todos pararam para olhá-los – É um pedido de desculpas, por ter brigado com você e falado coisas que você não precisava ouvir. Eu fiquei com ciúmes e agi como um idiota. Sinto muito. – ficou receoso quando o moreninho não teve nenhuma reação – Se não quiser aceitar tudo bem, não custava tentar. Só acho que essa desavença está durando tempo demais e estamos prejudicando a todos. – depositou o embrulho ao lado de Arata no sofá e saiu da sala de estúdio.

* * *

_ Eu vou tomar um banho. – avisou para o primo assim que chegaram ao apartamento.

_ Certo, vou colocar comida pro Trevas! – e saiu animado com o cãozinho nos braços.

Arata depositou a mochila sobre a cama, ainda segurando o presente em mãos. O que ele queria com aquilo?

Pedir desculpas, óbvio. Mas não podia simplesmente falar pessoalmente? Certo, ele havia falado e na frente de todos do grupo. Foi inesperado e ao mesmo tempo... fofo. O pior foi ficar sem reação diante dele. Nunca esperaria um pedido de desculpas sem que alguém interferisse.

Deixou o pacote ao lado da mochila e decidiu tomar logo o banho, depois decidiria se abriria o presente ou não. Aceitá-lo era como aceitar as desculpas e já estava mesmo na hora de se acertarem. Ainda estava magoado, mas sentia falta das brincadeiras, mesmo que algumas fossem exageradas, sentia falta do bom humor, dos sorrisos, dos toques.

Pegou uma calça de moletom e foi para o banheiro, despindo-se da calça e camiseta suadas que pregavam em seu corpo. Ligou o chuveiro, testando a temperatura da água e entrando debaixo do jato quente, sentindo o corpo relaxar.

Muita coisa acontecera no último mês, estava confuso com suas ações e com o gesto do ruivo. Deveria conversar com ele, isso era certo. Precisava na verdade, de coragem para encará-lo e dizer o que descobrira sentir.

O que lhe incomodava era não ser recíproco seu sentimento, mas tanto Jack quanto Shibuya tentavam lhe abrir os olhos para as mudanças que ocorrerá durante o tempo que estavam brigados.

Será que Takeo estava tentando mostrar que fazia aquilo por ele?

Era melhor parar de pensar naquilo, pois mais dúvidas surgiam e nenhuma resposta lhe vinha em mente.

Mas quando se lembrava do ruivo lhe prensando contra a parede... as mãos fortes segurando-o firmemente, ficara com medo dele fazer algo contra a sua vontade, mas não negava que ter os corpos tão próximos o excitava.

Nunca vira Takeo com tanta raiva no olhar, dizendo palavras tão brutas, humilhando-o, machucando seus braços... por outro lado... o hálito quente batendo em seu rosto, a respiração ofegante, o fato de simplesmente tocá-lo... era melhor parar de pensar no ruivo, eles eram amigos, não podia fazer isso.

Terminou o banho, secando-se rapidamente, vestindo a calça e saindo do banheiro. Não sabia se havia demorado ali, perdido em suas reflexões, mas não queria que a conta de água viesse muito cara. Pensou em fazer um lanche rápido, mas não sentia fome... o vazio dentro de si era outra coisa.

_ Já vou deitar Jin. Boa noite! – anunciou em tom alto, para que o primo ouvisse, já que não sabia onde ele estava.

_ Mas já? Ainda é cedo! – o garoto apareceu no início do corredor, ainda devia estar brincando com Trevas.

_ Eu estou cansado. Até amanhã. – e sem esperar resposta se fechou no quarto, encostando o corpo na porta e suspirando pesadamente.

Abriu os olhos que nem reparara fechar, andando até a cama e encarando o embrulho sobre ela.

Por que não?

Pegou o pacote e rasgou o embrulho, descobrindo ser uma caixinha de chocolates. Mas não eram chocolates comuns, eram bombons encomendados, daqueles que você escolhe o sabor do recheio.

Junto com o papel de presente caiu um pequeno envelope branco, com seu nome numa letra fina e inclinada.

Pegou um dos bombons enquanto abria o envelope, percebendo que estavam recheados com calda de morango. E o cartão era um convite... para um jantar.

Um deja vu?

* * *

_ Você vai, não vai? – já era a milésima vez que o primo lhe perguntava aquilo, e como das outras vezes, ele ainda não sabia a resposta.

Takeo dissera que ele podia negar se quisesse. Ele tinha pouco tempo para pensar no convite, já que o jantar estava marcado para o dia seguinte. Não podia deixá-lo esperando...

Mas o que diria? Como iria agir na frente do outro? Quando tinha os amigos por perto era mais fácil ignorá-lo, ou pelo menos agir profissionalmente. Contudo, no jantar seriam apenas os dois, cara a cara.

_ Certo, eu vou. – beliscou o lábio nervosamente.

Já estava cansado de fugir.

_ Legal! Ouviu Trevas? Ele vai voltar a conversar com o Tachi! – pegou o cachorrinho no colo, abraçando-o.

_ Espero que sim... – sussurrou para si mesmo.

_ Tem que comprar roupa nova! Compra chocolates pra ele também! – sentou ao lado do primo, mais contente do que deveria, levando-se em consideração que o jantar não era pra ele – Nós podemos ir em Akihabara! Lá tem muitas coisas legais!

_ Melhor não. Eu acho que nada dali combina com o Takeo...

_ Combina sim! Você pode comprar alguns acessórios pra usar na roupa, tem buttons, correntes, camisetas com estampas coloridas.

_ Ahm... melhor não Jin, mas obrigado pela ajuda.

 

Continua…

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