domingo, 25 de dezembro de 2011

Capítulo 2

Espiou por entre as cobertas, notando que o dia já estava claro lá fora. Sabia que devia levantar, mas estava tão bom ali. Não tinha ouvido seu relógio despertar, então ou estava muito atrasado ou era final de semana. De qualquer forma queria enrolar mais um pouco.

Só esperava que tivesse café quentinho para tomar... bolo também seria muito bom. Seu estômago pareceu concordar, pois roncou avisando que estava com fome.

Sentou-se, espreguiçando longamente antes de pular da cama, seus passos cambaleando pelo corredor, ainda lentos devido ao sono. Procurou por algum movimento pela casa, só distinguindo um cantarolar baixinho vindo da cozinha.

Esfregou os olhos infantilmente, arrastando os pés cobertos pela longa calça do pijama, adentrando finalmente o cômodo.

_ Bom dia ma... mãe...? – o sono foi embora na mesma hora. Quem era aquele cara na cozinha da sua casa?

* * *

Tocava a campainha insistentemente, lançando olhares de esguelha para o rapaz ao seu lado, vestido com suas roupas e que mesmo assim ficavam grandes, se perguntando como aquilo havia acontecido.

Havia mesmo pedido para o namorado mudar um pouco, mas não queria que ele mudasse daquela forma!

Parou de tocar a campainha ao ouvir um barulho estranho do outro lado. O primo devia estar dormindo ainda e levantou correndo para abrir a porta, tropeçando em algo no caminho.

Esperou mais um pouco. Tempo suficiente para que ele os atendesse, mas isso não aconteceu.

Bufou irritado, puxando a mecha vermelha em sinal de nervosismo. Será que nenhum daqueles dois havia escutado?

Tocou mais uma vez, encostando o ouvido na porta.

Nada.

Nem sinal de passos ou algum muxoxo pedindo para esperar.

Levou a mão à maçaneta, girando e sorrindo ao ver que estava aberta. O primo já estava acordado! Shibuya e Jack poderiam ajudá-lo com o namorado. Asamura era inteligente e racional, ele saberia o que fazer.

_ Pode entrar, Takeo. – abriu espaço para o ruivo passar, olhando ao redor à procura de algum sinal de movimento.

_ Isso é invasão. – comentou sério, ainda parado no batente, olhando desconfiado para o moreninho.

_ É a casa do meu primo, sempre venho aqui, então é minha casa também. – explicou apontando um dedo para dentro do apartamento, num claro sinal que o mandava entrar.

O ruivinho deu de ombros, entrando e esperando ao lado da porta. Aquele cara estava agindo de um modo muito esquisito e aquela história de que seus pais o deixaram sob a responsabilidade dele também parecia sem nexo.

_ Jin? – chamou alto enquanto adentrava a sala, abrindo um sorriso ao vê-lo correndo em sua direção.

_ Tasukete!!! – o otaku vinha gritando desesperado, as mãos protegendo a cabeça e olhando com pavor para o que estava atrás de si – Primo! Diz pra ele que eu não fiz nada!

_ Morra, seu pervertido!!!

Antes que Arata pudesse dizer qualquer coisa, Ikeuchi escondeu atrás de si, como se fosse possível esconder alguém daquele tamanho, encolhendo-se todo e olhando por cima de seu ombro.

Takeo também agiu rápido, afastando alguns passos e evitando que o taco de beisebol o acertasse em cheio, sorrindo de canto ao ver o outro garoto errar os adultos por pouco.

_ O que pensa que está fazendo... JACK?! – Hayato olhou o garoto dos pés à cabeça, os lábios se abrindo de espanto. Aquela face com traços infantis e bochechas salientes nunca seria associada ao tradutor de expressão séria e temperamento difícil, mas não havia dúvidas que eram a mesma pessoa.

Olhou novamente para o namorado, o ruivo sorridente e bom de lábia também estava diferente. Pra começar não havia nenhum sorriso nos lábios bonitos, os cabelos, antes ruivos e repicados agora estavam mais longos, pouco abaixo dos ombros e um pouco descuidados, sem falar que ele estava uns dez centímetros mais baixo.

_ Asamura, chega! – Izumi berrou a tempo de evitar uma catástrofe.

O baixinho de cabelos longos estava pronto para tentar mais um golpe, dessa vez iria acertar em cheio, já que os alvos estavam parados, mas deteve o ato ao ouvir seu sobrenome.

_ De onde me conhece? – questionou desconfiado, ainda olhando de modo assassino para o tarado que o acordara aquela manhã.

_ Eu...

_ O Tachii também! – Shibuya berrou em pânico, só agora notando o ruivo ao lado.

_ É... ele também... – Arata suspirou fundo, procurando por paciência. Seu plano de pedir ajuda para alguém mais sensato fora pelo ralo. Ele mesmo teria que dar um jeito naquela situação – Vamos sentar e conversar. A gente precisa entender o que aconteceu.

Trocando olhares curiosos, os dois jovens deram de ombros e se encaminharam para o sofá, cada um sentando em uma ponta, esperando que os adultos fizessem o mesmo. Por precaução, Asamura manteve o taco em seu colo, pronto para atacar assim que tivesse certeza que aquele gigante era um pervertido.

Assim que os primos se sentaram, Jack pôs-se a interrogá-los.

_ Como vocês me trouxeram pra cá? Por que esse pervertido estava dormindo comigo?

_ Calma, Jack... eu preci-

_ Quer parar de me chamar de Jack? Esse não é meu nome! – cruzou os braços emburrado, negando-se a continuar a conversa.

_ Tudo bem... Ryuutarou... – Arata começou novamente, odiando ser interrompido – Vocês lembram o que fizeram ontem à noite?

_ Humm... acho que estava assistindo televisão. – Asamura encarou o teto pensativo, respondendo a primeira coisa que lhe veio à mente, mordendo os lábios ao notar que realmente não se lembrava. Será que aquele pervertido o tinha drogado? Precisava tomar cuidado.

_ Certo... e você, Takeo? – direcionou o olhar ao ruivo.

_ Shiro.

_ Como?

_ Shiro. – repetiu, revirando os olhos – Se você vai chamá-lo pelo nome, eu quero que me chame assim.

_ Mas seu nome é Takeo... – intrometeu-se Shibuya, recebendo um olhar mortal de Asamura, encolhendo-se no assento e ficando quieto novamente.

_ Eu sei, mas eu não quero que me chamem pelo meu nome. – insistiu sem pestanejar, também se negando a responder a pergunta.

Hayato esfregou o rosto, pedindo por muita paciência, porque se tinha algo que odiava mais do que lugares altos, eram crianças pequenas e adolescentes rebeldes.

_ Tudo bem... Shiro... o que fez ontem a noite? – tentou de novo, com calma, mas apertando as mãos em punhos.

_ Ontem foi que dia?

_ Sexta. – respondeu seco, segurando a vontade de gritar com o mais novo, mas em seguida relaxou, notando algo.

Se ele não se lembrava do dia, não ia se lembrar do que fez. Então, era bem possível que Jack também não se lembrasse do que houve, apesar de ter respondido. Eles não tinham culpa por aquilo ter acontecido.

_ Fui pro fliperama.

_ Certeza? – olhou-o desconfiado.

_ Absoluta. Eu vou toda sexta.

_ Bem, vocês dois estão sob a nossa responsabilidade por alguns dias. Por isso o Jac... o Ryuutarou acordou na cama do primo. Não cabiam vocês dois no mesmo apartamento. O Shiro ficou comigo e você com o Jin.

_ Jin? Que nome mais sem graça. – Asamura comentou com desgosto, vendo o otaku armar um bico, mas sem comentar nada. O taco de beisebol ainda estava perto demais para o seu gosto.

_ Ryuutarou, não fale assim com o primo. Ele é mais velho e vocês precisam ter respeito.

_ Falou o ancião... – Takeo resmungou baixo, olhando pela janela do apartamento com o rosto apoiado na mão, não se importando com a conversa dos adultos.

_ Disse alguma coisa, Shiroyama? – Arata frisou bem o sobrenome, mostrando que não tinha gostado do comentário.

_ Nada.

_ Sei... – conversar amigavelmente não estava resolvendo muito. O ruivo estava com o pensamento longe e o moreninho só queria uma brecha pra acertar o primo. Precisava de medidas extremas – Se vocês dois não se comportarem, eu vou ligar pros irmãos de vocês.

_ NÃO! – gritaram em uníssono, encarando o mais velho com receio. A pior coisa que podia acontecer era terem os nomes sujos com os irmãos. As únicas pessoas que respeitavam de verdade e que os entendiam.

_ Ótimo. Isso quer dizer que vão se comportar, certo? – recebeu dois acenos em concordância, sorrindo contente – Então fiquem aqui assistindo televisão. Eu vou conversar com o primo na cozinha e começar o almoço.

Puxou o mais velho para o outro cômodo, praticamente correndo até lá e se jogando em uma cadeira. A ameaça com os irmãos ia funcionar por um bom tempo e ainda havia fugido da pergunta de como eles vieram parar ali. O que ia dizer? Que os irmãos os trouxeram dormindo? Aqueles dois eram espertos, não iam cair numa conversa sem sentido.

_ O que houve com eles, Arachii? – Shibuya sentou à sua frente, questionando o outro tristemente. Queria o seu Jack de volta.

_ Eu não sei, Jin... mas a única suspeita que tenho é aquele restaurante chinês. Foi a primeira vez que fomos lá, e depois aconteceu isso.

_ Acha que foi algum feitiço? Jogaram uma praga nos dois? – arregalou os olhos, tentando repassar mentalmente todos os livros místicos que já lera. Algum deles podia ter informações do que fazer para eles voltarem ao normal.

_ Primo... não sei se acredito como você nessa história de magia... – sorriu sem graça, ajeitando a mecha vermelha atrás da orelha – Mas depois de hoje...

_ Já sei! A gente podia voltar lá e conversar com o dono! Ele vai saber o que fazer! – levantou-se num pulo, sentindo o ânimo voltar aos poucos – É só a gente procurar um velhinho magrinho, sentado em algum canto com um cigarro na boca e falando por enigmas!

_ Não está fantasiando demais? – riu baixo, ponderando a ideia. Realmente era o melhor que podiam fazer e também não tinham outras opções – Vamos voltar lá à noite e pedir um antídoto.

* * *

_ Esses dois estão aprontando alguma coisa... – o moreninho comentou com o outro rapaz, lançando um olhar por onde os primos tinham saído.

_ Concordo. Essa história de simplesmente aparecer no apartamento deles está muito mal contada.

_ Acha que sequestraram a gente enquanto estávamos dormindo? – ergueu uma sobrancelha, apertando mais o taco de beisebol em sua mão.

_ Sequestrar? – o ruivo finalmente abriu um sorriso, debochando dos primos – Acha mesmo que aqueles dois iam conseguir sequestrar alguém? São idiotas demais pra isso!

_ Então como explica isso?

_ Explicar pra quê? – sorriu de canto, ficando em pé em cima do sofá – Vamos aproveitar que nossos pais não estão por perto pra brigar com a gente e tirar uns dias de férias. Esses dois não vão conseguir segurar a gente. Concorda Ryuu-chan?

_ Pode contar comigo. – subiu também no sofá, sorrindo infantilmente, deixando as covinhas de suas bochechas à mostra.

 

Continua…

Notas Finais:
Essa cena do início do Takeo foi tão "Own, deixa eu apertar!", mas não se enganem com essas duas criancinhas fofas. Aguardem... huhuhuhu

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