domingo, 10 de janeiro de 2010

Perigos Parte I - Inside

Notas do Autor:
Veio rápido... /medo

Imprevisto
Kaline Bogard

Perigos – Parte I
Inside

– Muito bem, meninos. – Hayato falou chamando a atenção das crianças – Digam “oi” pro tio Teruo.

Os três obedeceram de forma recitada:

– Oi, Tio Teruo!


O moreno forçou um sorriso.  Elegantemente ignorou ter sido chamado de “tio” pelo próprio namorado.  Depois acertaria as contas com ele.

– Oi.– veio a resposta automática.

Mais relaxado, o dono do apartamento continuou as apresentações.  Apontou o garotinho da ponta direita, o mais rechonchudo, com bochechas rosadas e cabelo um tanto longo:

– Esse é o Ryuutarou.

– Oi, Ryuu chan. – Teruo sorriu para o garoto.  Não recebeu nenhum sorriso de volta quando a resposta veio:

– Eu chamo Ryuutarou.

O adulto quase riu.  Garotinho de temperamento forte.  Resolveu provocá-lo um pouco:

– Gostei do cabelo.  Parece de menina. – sorriu torto.  Ignorou a parte de sua mente que o recriminou pelo comportamento tão infantil quanto de um garoto da idade daqueles três.

Ryuutarou fixou os olhos sérios em Teruo e não hesitou:

– Melhor do que um brinco na boca.

Terushido ficou tão impressionado pelo japonês corretíssimo que levou três longos segundos para perceber que o pequenino estava pagando pau do seu piercing.

– Mas que...

– Ora, você mereceu. – Hayato cortou o palavrão.  Então apontou para o garotinho do meio, o mais inquieto dos três que não tinha ficado parado um único instante.  Ele tinha cabelos curtos, negros e lisos. – Esse é o Takeo.

– OOOI! – o pequenino cumprimentou com voz esganiçada.  Um sorriso enorme tomou conta do rosto robusto.  Aquele menino parecia ser dos terríveis...

– Oi. – Teruo respondeu antes de virar-se para Ryuutarou e, apontando o rosto, resmungar: – Isso não é um brinco, moleque.

Seu ego sofrera um duro baque.  Não eram poucas pessoas, mulheres e homens, que se rendiam ao adorno tão sensual.  Ele sabia que o piercing era um dos detalhes charmosos que o tornava irresistível.  Não seria um pivete cheirando a leite que estragaria sua imagem.

– Te.ru.o chan. – Hayato não acreditou que seu namorado, universitário do quarto ano de Relações Internacionais, estava discutindo com uma criança de cinco anos.

– O que? – o moreno resmungou.

Hayato segurou a risada.  O bico mal humorado do mais alto era um encanto.  Balançando a cabeça apontou para o garotinho da ponta esquerda, de cabelo um tanto arrepiado e o mais magro dos três, que observava curioso, apesar de parecer sonolento:

– Aquele é o primo Jin chan.

– Oi. – Jin sorriu e Teruo percebeu a falta de um dos dentinhos de leite na parte superior da boca.

– Oi! – Teruo sorriu menos defensivo – Tá com uma janela aí.

– É! – Jin levantou a cabeça pra deixar a falta do dente mais evidente – Vai faizê uma semana.

– ELE GANHOU UMA MUEDA!  UMA MUEDA!! – Takeo vibrou. – Tentei perdê um tamém, mais num caiu ainda!

Hayato e Teruo se entreolharam.  Era melhor achar um jeito de distrair aquelas crianças.  Nenhum dos dois tinha muito jeito ou experiência.  Então o moreninho passou as mãos pelo cabelo negro com uma mecha ruiva e suspirou:

– O que vocês querem fazer?

– Jogar damas. – Ryuutarou nem hesitou.

Takeo ficou em pé no sofá:

– BRINCÁ DE CAÇA TISORO!!

– Joigá vidio game. – Jin agitou os dedinhos.

– Takeo, sentado. – Hayato ordenou com voz firme e foi obedecido – Nada disso, vamos fazer algo igual.  Que tal assistir um desenho?

– OBA!  Eu quero vê Naruto! – Takeo parecia ter energia por dez iguais a ele.

– Hantairô. – Jin sugeriu.

– Eu gosto de desenho da Disney. – novamente Ryuutarou mostrou uma maturidade que quase assustou Teruo.

– U Rei Leão! – Takeo decretou.

– Jin goista du Rei Leião. – o parente do dono da casa concordou.

– Seu primo... – Teruo começou com as sobrancelhas franzidas, mas Hayato pegou no ar e cortou:

– Gosta muito do “i”, mas já está indo à fono. – e rapidamente mudou de assunto – Sorte de vocês que eu tenho esse DVD.  Fiquem bonzinhos com o tio Teruo enquanto o Tio Hayato vai estourar pipoca.

– EU? – o moreno mais alto se apontou – Sozinho com eles?

Hayato riu.  Indicou o canto da sala enquanto ia para a cozinha:

– Pega algo na Caixa Mágica pra eles se distraírem. – saiu sem esperar resposta.

No mesmo instante os três garotos pularam do sofá e cercaram o adulto que ficara na sala:

– Como ocê é grande! – Takeo exclamou agudo.

– Parece um gigante. – Ryuutarou analisou.

– O Pai do Jin é mais maior. – Jin revelou falando em terceira pessoa novamente.

– Então ocê vai ficar mais maior que o Tio Teruo. – Takeo usou a lógica infantil para deduzir aquilo.

– Jin vai ser um gigante! – impressionado, Ryuutarou olhou para o amiguinho.

– Jin vai sê um giganti! – Jin repetiu empolgado – Jin qué sê um giganti logo!!

Meio ciumento pelo outro estar sendo o centro das atenções, Takeo segurou na calça de Teruo e puxou:

– Purque qui ocê é um gigante?

– Porque sim, oras. – Teruo respondeu.

– Mais purq... – Takeo ia insistir.  No entanto Teruo não deixou:

– Vamos ver o que tem naquela tal Caixa Mágica pra vocês se divertirem enquanto a pipoca não vem.

Caminhou até a grande e colorida caixa, sendo seguido de perto pelos três.  Abriu descobrindo um mundo surpreendente de brinquedos e bugigangas.  Sem perder tempo pegou o que estava mais acima: uma caixa de massinha de modelar.

– Aqui, fiquem com isso.  Não faz sujeira nem bagunça.  Quem modelar mais legal ganha um prêmio.

– OBA!! – Takeo e Jin vibraram.

– Que prêmio? – Ryuutarou indagou desconfiado.

– Um bem especial, moleque chato.  Pega aqui. – estendeu uma massinha azul pro pequenino que a pegou, olhou e devolveu:

– Não gosto de azul.  Quero a preta.

– Mas que coisa... – Teruo fez a troca.  Então virou-se para Takeo – Que cor prefere?

O garotinho levou a mão ao queixo e estreitou os olhos analisando a caixinha nas mãos do adulto:

– Hnnnnnn... – olhou cada cor antes de se decidir – Quero a laranja!

– Você? – perguntou para o terceiro garotinho.

– Jin qué a veimelha!

Assim que os três receberam o brinquedo de modelar correram de volta para o centro da sala, sentando-se no carpete.  Teruo farejou o ar, começando a sentir o aroma de pipoca. Caminhou para o sofá e sentou-se, relaxando.

Talvez tivesse algum jeito com crianças, no fim das contas.  Quase riu do pensamento.

Descontraído puxou o maço de cigarros e o isqueiro.  Acendeu um e tragou profundamente, soprando a fumaça para o alto.

Observou Takeo.  O pestinha atacava a massa tentando fazer algo circular, mas aplicava uma força tão excessiva que a coisa em sua mão não tinha forma alguma.  Depois olhou para Ryuutarou.  O mais precoce dos três modelava agilmente com os dedos gorduchos.  Mas a massinha dele também não tinha forma definida, era apenas algo amassado.

Divertido, Teruo olhou o último dos pivetes.  Seu sorriso aumentou antes de desaparecer.  Ele ficou em pé num salto:

– Não faça isso, moleque!!

O alerta zangado espantou os três.  Ryuutarou derrubou a massinha no chão, Takeo esmagou a dele entre os dedos destruindo o que quer que fosse aquilo.  Mas Jin, que era o alvo da bronca de Teruo, acabou engolindo o pedaço de massinha que tinha abocanhado.

Horrorizado, o rapaz viu o primo do seu namorado arregalar os olhinhos e cair sentado para trás, enquanto o rosto assustado rapidamente ganhava um tom avermelhado.  Ele parecia sufocar.

– Putaqueopariu!! – Teruo praguejou fazendo o cigarro balançar nos lábios.  Caiu de joelhos no chão, em frente ao pequenino, obrigando seu cérebro a trabalhar e recordar das aulas de primeiros socorros que tivera no colegial.

– Ele falô oto palavrão. – Takeo murmurou tão assustando quanto Ryuutarou. Nenhum dos dois entendeu porque o Tio Teruo parecia tão desesperado ao enfiar dois dedos na garganta do amiguinho.  Entenderam menos ainda o motivo dele ficar tão feliz ao conseguir puxar um pedaço de massinha de modelar vermelha.

– Graças aos céus... – Teruo murmurou vendo a criança inalar uma grande quantidade de ar e parar de agitar-se.  Conseguira salvá-lo!  Só faltava aquilo pra melhorar seu dia, a morte de um pirralho por asfixia...

Não teve tempo de pensar direito.  Logo Jin passava os bracinhos por seu pescoço e grudava nele aos prantos.

– Calma, já passou.  A culpa é dessa massinha feia.  Massinha malvada. – Teruo murmurou com uma doçura que nem ele mesmo sabia que tinha.  Talvez fosse culpa do susto.

Apesar disso o garotinho não largava do seu pescoço, e o universitário não viu opção a não ser erguer-se do chão com Jin em seu colo.  Inclinou-se apenas para depositar o cigarro num cinzeiro da mesinha de centro.

– Não precisa ficar assim, Jin chan.  Você foi muito valente.

O apertão em seu pescoço aumentou um pouco e ele se incomodou.  Ia tirá-lo do colo quando ouviu um gritinho esganiçado.  Olhou ao redor e flagrou Takeo correndo atrás de um cachorro Yorkishire saído sabe-se lá os deuses de onde.

– Detesto cachorru! – o garotinho tentava acertar chutes no animal que parecia achar se tratar de uma brincadeira, pois ele desviava e corria, esperando que Takeo o alcançasse. – Detesto ocê Trevas! – chamou o cão pelo nome.

– Não chuta esse bicho. – Teruo ordenou ainda sem compreender de onde tinha saído o cão.

Não tendo alternativa continuou segurando Jin num dos braços, com o menino ainda atarracado em seu pescoço soluçando, mas esticou o braço livre e alcançou Takeo, grudando-o pela gola da blusa.

– Mi solta!  Mi solta eu!! – começou a espernear aborrecido.

Teruo ia dar uma bronca quando ouviu uma tossinha seca.  Virou o pescoço e quase praguejou novamente.  Ryuutarou pegara seu cigarro do cinzeiro e estava cheirando-o, fascinado com a fumaça fina que escapava da ponta acesa:

– Larga isso, Ryuutarou!  Não é coisa de criança!

– NÃO! – o garotinho fechou as mãos gorduchas para proteger seu tesouro.  Porém queimou-se na brasa e largou-o no tapete, fechando os olhinhos e começando a chorar no mesmo instante, sentindo dor na pele queimada.

Teruo abriu e fechou os lábios.  Percebeu o aperto em seu pescoço aumentar na mesma medida em que crescia o pranto de Jin.  Takeo começara uma birra tentando escapar, pois ainda estava preso pela gola e dava soquinhos no ar que ocasionalmente acertavam na perna do adulto.  A intenção dele era acertar Trevas, o yorkishire que parara na sala, observando a cena inusitada.  Ryuutarou continuava com os olhos fechados e a cabeça levemente jogada pra trás, chorando sofrido pela sua queimadura.

Num súbito ataque de pânico Teruo fez a única coisa que podia:

– ARATA! TASUKETE!!

 

Continua...

 

Notas Finais:
Fic especialmente dedicada à Litha chan. Pois se não fosse o Pacu, o Tio Teruo não existiria... e se ele não existisse essa fic não sairia assim...
>)
E eu to adorando sacanear nosso misterioso filé moreno... kkkkkkkk
Não foi betado again...

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