Notas do Autor:
Veio rápido... /medo
Imprevisto
Kaline Bogard
Perigos – Parte I
Inside
– Muito bem, meninos. – Hayato falou chamando a atenção das crianças – Digam “oi” pro tio Teruo.
Os três obedeceram de forma recitada:
– Oi, Tio Teruo!
O moreno forçou um sorriso. Elegantemente ignorou ter sido chamado de “tio” pelo próprio namorado. Depois acertaria as contas com ele.
– Oi.– veio a resposta automática.
Mais relaxado, o dono do apartamento continuou as apresentações. Apontou o garotinho da ponta direita, o mais rechonchudo, com bochechas rosadas e cabelo um tanto longo:
– Esse é o Ryuutarou.
– Oi, Ryuu chan. – Teruo sorriu para o garoto. Não recebeu nenhum sorriso de volta quando a resposta veio:
– Eu chamo Ryuutarou.
O adulto quase riu. Garotinho de temperamento forte. Resolveu provocá-lo um pouco:
– Gostei do cabelo. Parece de menina. – sorriu torto. Ignorou a parte de sua mente que o recriminou pelo comportamento tão infantil quanto de um garoto da idade daqueles três.
Ryuutarou fixou os olhos sérios em Teruo e não hesitou:
– Melhor do que um brinco na boca.
Terushido ficou tão impressionado pelo japonês corretíssimo que levou três longos segundos para perceber que o pequenino estava pagando pau do seu piercing.
– Mas que...
– Ora, você mereceu. – Hayato cortou o palavrão. Então apontou para o garotinho do meio, o mais inquieto dos três que não tinha ficado parado um único instante. Ele tinha cabelos curtos, negros e lisos. – Esse é o Takeo.
– OOOI! – o pequenino cumprimentou com voz esganiçada. Um sorriso enorme tomou conta do rosto robusto. Aquele menino parecia ser dos terríveis...
– Oi. – Teruo respondeu antes de virar-se para Ryuutarou e, apontando o rosto, resmungar: – Isso não é um brinco, moleque.
Seu ego sofrera um duro baque. Não eram poucas pessoas, mulheres e homens, que se rendiam ao adorno tão sensual. Ele sabia que o piercing era um dos detalhes charmosos que o tornava irresistível. Não seria um pivete cheirando a leite que estragaria sua imagem.
– Te.ru.o chan. – Hayato não acreditou que seu namorado, universitário do quarto ano de Relações Internacionais, estava discutindo com uma criança de cinco anos.
– O que? – o moreno resmungou.
Hayato segurou a risada. O bico mal humorado do mais alto era um encanto. Balançando a cabeça apontou para o garotinho da ponta esquerda, de cabelo um tanto arrepiado e o mais magro dos três, que observava curioso, apesar de parecer sonolento:
– Aquele é o primo Jin chan.
– Oi. – Jin sorriu e Teruo percebeu a falta de um dos dentinhos de leite na parte superior da boca.
– Oi! – Teruo sorriu menos defensivo – Tá com uma janela aí.
– É! – Jin levantou a cabeça pra deixar a falta do dente mais evidente – Vai faizê uma semana.
– ELE GANHOU UMA MUEDA! UMA MUEDA!! – Takeo vibrou. – Tentei perdê um tamém, mais num caiu ainda!
Hayato e Teruo se entreolharam. Era melhor achar um jeito de distrair aquelas crianças. Nenhum dos dois tinha muito jeito ou experiência. Então o moreninho passou as mãos pelo cabelo negro com uma mecha ruiva e suspirou:
– O que vocês querem fazer?
– Jogar damas. – Ryuutarou nem hesitou.
Takeo ficou em pé no sofá:
– BRINCÁ DE CAÇA TISORO!!
– Joigá vidio game. – Jin agitou os dedinhos.
– Takeo, sentado. – Hayato ordenou com voz firme e foi obedecido – Nada disso, vamos fazer algo igual. Que tal assistir um desenho?
– OBA! Eu quero vê Naruto! – Takeo parecia ter energia por dez iguais a ele.
– Hantairô. – Jin sugeriu.
– Eu gosto de desenho da Disney. – novamente Ryuutarou mostrou uma maturidade que quase assustou Teruo.
– U Rei Leão! – Takeo decretou.
– Jin goista du Rei Leião. – o parente do dono da casa concordou.
– Seu primo... – Teruo começou com as sobrancelhas franzidas, mas Hayato pegou no ar e cortou:
– Gosta muito do “i”, mas já está indo à fono. – e rapidamente mudou de assunto – Sorte de vocês que eu tenho esse DVD. Fiquem bonzinhos com o tio Teruo enquanto o Tio Hayato vai estourar pipoca.
– EU? – o moreno mais alto se apontou – Sozinho com eles?
Hayato riu. Indicou o canto da sala enquanto ia para a cozinha:
– Pega algo na Caixa Mágica pra eles se distraírem. – saiu sem esperar resposta.
No mesmo instante os três garotos pularam do sofá e cercaram o adulto que ficara na sala:
– Como ocê é grande! – Takeo exclamou agudo.
– Parece um gigante. – Ryuutarou analisou.
– O Pai do Jin é mais maior. – Jin revelou falando em terceira pessoa novamente.
– Então ocê vai ficar mais maior que o Tio Teruo. – Takeo usou a lógica infantil para deduzir aquilo.
– Jin vai ser um gigante! – impressionado, Ryuutarou olhou para o amiguinho.
– Jin vai sê um giganti! – Jin repetiu empolgado – Jin qué sê um giganti logo!!
Meio ciumento pelo outro estar sendo o centro das atenções, Takeo segurou na calça de Teruo e puxou:
– Purque qui ocê é um gigante?
– Porque sim, oras. – Teruo respondeu.
– Mais purq... – Takeo ia insistir. No entanto Teruo não deixou:
– Vamos ver o que tem naquela tal Caixa Mágica pra vocês se divertirem enquanto a pipoca não vem.
Caminhou até a grande e colorida caixa, sendo seguido de perto pelos três. Abriu descobrindo um mundo surpreendente de brinquedos e bugigangas. Sem perder tempo pegou o que estava mais acima: uma caixa de massinha de modelar.
– Aqui, fiquem com isso. Não faz sujeira nem bagunça. Quem modelar mais legal ganha um prêmio.
– OBA!! – Takeo e Jin vibraram.
– Que prêmio? – Ryuutarou indagou desconfiado.
– Um bem especial, moleque chato. Pega aqui. – estendeu uma massinha azul pro pequenino que a pegou, olhou e devolveu:
– Não gosto de azul. Quero a preta.
– Mas que coisa... – Teruo fez a troca. Então virou-se para Takeo – Que cor prefere?
O garotinho levou a mão ao queixo e estreitou os olhos analisando a caixinha nas mãos do adulto:
– Hnnnnnn... – olhou cada cor antes de se decidir – Quero a laranja!
– Você? – perguntou para o terceiro garotinho.
– Jin qué a veimelha!
Assim que os três receberam o brinquedo de modelar correram de volta para o centro da sala, sentando-se no carpete. Teruo farejou o ar, começando a sentir o aroma de pipoca. Caminhou para o sofá e sentou-se, relaxando.
Talvez tivesse algum jeito com crianças, no fim das contas. Quase riu do pensamento.
Descontraído puxou o maço de cigarros e o isqueiro. Acendeu um e tragou profundamente, soprando a fumaça para o alto.
Observou Takeo. O pestinha atacava a massa tentando fazer algo circular, mas aplicava uma força tão excessiva que a coisa em sua mão não tinha forma alguma. Depois olhou para Ryuutarou. O mais precoce dos três modelava agilmente com os dedos gorduchos. Mas a massinha dele também não tinha forma definida, era apenas algo amassado.
Divertido, Teruo olhou o último dos pivetes. Seu sorriso aumentou antes de desaparecer. Ele ficou em pé num salto:
– Não faça isso, moleque!!
O alerta zangado espantou os três. Ryuutarou derrubou a massinha no chão, Takeo esmagou a dele entre os dedos destruindo o que quer que fosse aquilo. Mas Jin, que era o alvo da bronca de Teruo, acabou engolindo o pedaço de massinha que tinha abocanhado.
Horrorizado, o rapaz viu o primo do seu namorado arregalar os olhinhos e cair sentado para trás, enquanto o rosto assustado rapidamente ganhava um tom avermelhado. Ele parecia sufocar.
– Putaqueopariu!! – Teruo praguejou fazendo o cigarro balançar nos lábios. Caiu de joelhos no chão, em frente ao pequenino, obrigando seu cérebro a trabalhar e recordar das aulas de primeiros socorros que tivera no colegial.
– Ele falô oto palavrão. – Takeo murmurou tão assustando quanto Ryuutarou. Nenhum dos dois entendeu porque o Tio Teruo parecia tão desesperado ao enfiar dois dedos na garganta do amiguinho. Entenderam menos ainda o motivo dele ficar tão feliz ao conseguir puxar um pedaço de massinha de modelar vermelha.
– Graças aos céus... – Teruo murmurou vendo a criança inalar uma grande quantidade de ar e parar de agitar-se. Conseguira salvá-lo! Só faltava aquilo pra melhorar seu dia, a morte de um pirralho por asfixia...
Não teve tempo de pensar direito. Logo Jin passava os bracinhos por seu pescoço e grudava nele aos prantos.
– Calma, já passou. A culpa é dessa massinha feia. Massinha malvada. – Teruo murmurou com uma doçura que nem ele mesmo sabia que tinha. Talvez fosse culpa do susto.
Apesar disso o garotinho não largava do seu pescoço, e o universitário não viu opção a não ser erguer-se do chão com Jin em seu colo. Inclinou-se apenas para depositar o cigarro num cinzeiro da mesinha de centro.
– Não precisa ficar assim, Jin chan. Você foi muito valente.
O apertão em seu pescoço aumentou um pouco e ele se incomodou. Ia tirá-lo do colo quando ouviu um gritinho esganiçado. Olhou ao redor e flagrou Takeo correndo atrás de um cachorro Yorkishire saído sabe-se lá os deuses de onde.
– Detesto cachorru! – o garotinho tentava acertar chutes no animal que parecia achar se tratar de uma brincadeira, pois ele desviava e corria, esperando que Takeo o alcançasse. – Detesto ocê Trevas! – chamou o cão pelo nome.
– Não chuta esse bicho. – Teruo ordenou ainda sem compreender de onde tinha saído o cão.
Não tendo alternativa continuou segurando Jin num dos braços, com o menino ainda atarracado em seu pescoço soluçando, mas esticou o braço livre e alcançou Takeo, grudando-o pela gola da blusa.
– Mi solta! Mi solta eu!! – começou a espernear aborrecido.
Teruo ia dar uma bronca quando ouviu uma tossinha seca. Virou o pescoço e quase praguejou novamente. Ryuutarou pegara seu cigarro do cinzeiro e estava cheirando-o, fascinado com a fumaça fina que escapava da ponta acesa:
– Larga isso, Ryuutarou! Não é coisa de criança!
– NÃO! – o garotinho fechou as mãos gorduchas para proteger seu tesouro. Porém queimou-se na brasa e largou-o no tapete, fechando os olhinhos e começando a chorar no mesmo instante, sentindo dor na pele queimada.
Teruo abriu e fechou os lábios. Percebeu o aperto em seu pescoço aumentar na mesma medida em que crescia o pranto de Jin. Takeo começara uma birra tentando escapar, pois ainda estava preso pela gola e dava soquinhos no ar que ocasionalmente acertavam na perna do adulto. A intenção dele era acertar Trevas, o yorkishire que parara na sala, observando a cena inusitada. Ryuutarou continuava com os olhos fechados e a cabeça levemente jogada pra trás, chorando sofrido pela sua queimadura.
Num súbito ataque de pânico Teruo fez a única coisa que podia:
– ARATA! TASUKETE!!
Continua...
Notas Finais:
Fic especialmente dedicada à Litha chan. Pois se não fosse o Pacu, o Tio Teruo não existiria... e se ele não existisse essa fic não sairia assim...
>)
E eu to adorando sacanear nosso misterioso filé moreno... kkkkkkkk
Não foi betado again...
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