quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Pelo buraco do Takeo -parte 1-

Notas do Autor:
O que deve ficar claro: Arata não fuma, não injeta, bebe socialmente, e só toma remédio com prescrição médica. Logo, o que se passou não foi resultado de qualquer uso ilícito ou abstinência. A culpa dessa vez foi do Gensuke-san.


1- Pelo buraco de Takeo

Arata chegou à produtora esbaforido! Estava atrasado pela primeira vez desde que começou na P”Saiko e esperava não ser tão sortudo quanto Takeo e pegar alguma tarefa com G-san, como ele chama Gensuke-san, o figurinista da banda. Nada contra o profissional, até porque Arata gostava de inflar as idéias dele e brincar com o tamanho dos shorts que usava, o problema era só com a famigerada inspiração que custava a aparecer e tinha caminhos estranhíssimos para alcançar. Entrou na sala destinada à banda e cumprimentou cada um parando pra falar com Jack no final.

-Izumi-san.

-Gomen, Jack-chan. Perdi a hora, o que tenho para hoje?


-Encontrei Gensuke-san e ele precisa de uma ajuda pro figurino do Live de Natal. –Arata rodou os olhos. Muita sorte para ele. –Tentei Takeo-san, mas a criança fez birra e pegou as capas do CD e DVD. Shibuya quer rever uns solos então eu e Teruo vamos ficar com ele definindo isso. Não deve mudar em nada pra você e o Shiroyama-san, mas se acontecer repassamos no final das tarefas. E... Aqui. –Jack mostrou uma apostila fina para o vocalista. –Essa é a proposta do Live que a produtora quer para as bandas.

-Magia?

-hun. Magia, fantasia... Contos de fadas. –Confirmou rodando os olhos. –Com o conhecimento que tenho em contos de fadas, se eu for acabaremos sem figurinista, ou sem baterista, ou sem roupa pro live.

-Ou com roupas macabras pro live... –Murmurou. –Não tenho nenhuma outra opção? –perguntou carente e meio sorrindo com o comentário do líder. –Nadinha? Alguma campanha, ou proposta?

-Nada Izumi-san, gomen. Leia a proposta pra não chegar sem noção no Gensuke-san. Vamos evitar um ataque, sim?

-Hai. Ataques de plumas e paetês não são legais. Obrigado Jack. –Agradeceu com palmadinhas no ombro do mais novo.

E era verdade que se chegasse para o figurinista sem ter noção de onde ele precisava chegar, o profissional entraria em estado Berseker e expulsaria Arata do salão com empurrõezinhos, ponta pés ou chicotadinhas de seda ou longos cortes de vinil, dependendo de qual figurino estivesse trabalhando. E isso não seria legal mesmo. Sentou no sofá e começou a ler a proposta de natal.

Takeo, que estava próximo quando Jack passou a tarefa pro vocalista, sentou do lado do moreninho e chamou sua atenção cutucando seu ombro.

-Quer que eu vá no seu lugar? –o ruivo perguntou baixinho.

-Hum? Não. Não precisa Tachi. –Respondeu sorrindo. –Eu sei que você no fundo está torcendo pra não ir pra lá. Pode deixar que eu me entendo com o G-san.

-Não é bem assim...

-Fica tranqüilo e dê o seu melhor na idéia das capas ok?

-Hun. Ok. –concordou.

E então Arata se levantou deixando um beijo estalado na testa do ruivo e do primo e foi cumprir sua pena por chegar atrasado.

Falando assim até parece que o garoto estava indo para um martírio, mas o fato era que ele não sabia o que poderia esperar do figurinista e esse era o mal de ser uma banda relativamente nova. Deveria estar engajada em todos os processos de criação, seja para um cd, live, DVD... E o figurino fazia parte desse processo. Como já disse, Arata até gostava de participar dessa parte e brincar com o tamanho dos shorts, ou deixar o Shibuya sempre vestido no estilo machão/sexy, e manter a barriga do Takeo com o caminho da perdição sempre muito bem exposto, assim como os braços do Jack, que por mais que ele insistisse em se manter o máximo vestido com roupas bem largas, todos faziam questão de deixá-los livres, no estilo “bem exposto” e com as pernas definidas... Definidas. E Teruo que os amigos insistiam ser o Senhor Mistério, era legal brincar com esse lado do guitarrista e deixá-lo o máximo vestido mostrando tudo o que tinha com roupas justas no corpo. Era interessante ajudar G-san quando a inspiração estava rondando o profissional. O problema era justamente quando ela resolvia tirar férias no final do ano, junto com a chegada dos Lives de Natal/Ano Novo das bandas de Visual Key. Reza a lenda entre os artistas que a sala dele costuma ser o inferno astral nesse período.

Por isso quando Arata entrou na sala, se espantou com o clima que emanava... E com o cheiro também. A música ambiente era curiosa e ao invés do costumeiro rock, tocava algum cd de Reiki.

“Isso são sons de água?” –Pensou o moreninho olhando os ajudantes de Gensuke passando calmamente de um lado a outro na sala. –“E esse cheiro...?”

Foi entrando e procurando o figurinista, desviando de mesas, pranchetas e sofás, enquanto tentava comparar aquele cheiro de incenso com alguma coisa que não conseguia identificar.

-Ahhh! Ara-chan!! –O rapaz mais baixo gritou num canto do salão atrás de uma mesa enorme segurando cortes de couro e vinil preto. Perigosas armas nas mãos de que estavam. –Esse ano as coisas vão ser diferentes! Nada de ser pressionado por prazo! –Ele contava animado enquanto o rapaz se aproximava sorrindo. –Essas coisas não vão me tirar do sério, nem aos meus meninos. –Ele se referia aos ajudantes. –Agora se você quiser ajudar, senta ali no sofá e termina de ler esse negócio na sua mão. Nada de informações pela metade, sim? –E piscou.

-ha-hai G-san. –O vocalista sorriu sem muita convicção, mas fez o que foi pedido. Sentou-se numa braçadeira mais próxima e reiniciou a leitura da proposta do Live.

-Sinceramente, eu quero um pouco mais de cor na P”Saiko, ta ficando chato esse negócio de toda banda VKey usar vinil ou couro preto. Muito basiquinho. –G-san se queixava mexendo com os panos. –Também não quero vestir nenhum urubu! O máximo de cor que consegui colocar por enquanto foi preto e vermelho ou preto e roxo. A P”Saiko é minha esperança de algo mais feliz, sim?

-E o DaizyStripper ou Alice Nine?

-Ahhh nem me fale! Ficaram com outros figurinistas! –Respondeu contrariado. –Eu não tenho como pegar TODOS os figurinos né Ichigo-san?

-G-san... –Arata chamou num tom de censura.

-Gomen, gomen. Não está mais aqui quem te chamou de morango. –deu uma risadinha debochada. –Se fosse Teruo, Takeo ou o Jin-chan, você não falava assim.

-G-san! –O rapaz chamou horrorizado. E o figurinista riu alto.

-Gomen. Volte a ler. E não se importe com meus resmungos, ok? Assim que terminar venha me ajudar.

Arata concordou mantendo a atenção voltada para a apostila e na tentativa de identificar que incenso era aquele...

“Pode ser de absinto...” –Pensava. –“G-san parece gostar dessas coisas... nem me espantaria se fosse ópio.” –riu. –“Mas não está nada refrescante esse som com essa fumaça...”

E entre a leitura e a tentativa de identificar aquele estranho odor e os resmungos de cor nas fantasias de Gensuke-san, Arata nem achou estranho quando virou a cabeça pra ver um coelho ruivo passando apressado e esbaforido.

-Vou chegar atrasado! –Dizia o coelho tirando um relógio de corrente de dentro do bolso e verificando a hora.

Na hora Arata achou aquilo curioso. Não porque o que o coelho falava, nem pelo relógio de bolso, mas porque aquele coelho vestia-se incrivelmente sexy com um top que cobria metade do tórax por baixo de um sobretudo sem mangas fechado apenas por um botão, deixando a barriga de fora e a calça bem justa e cheia de correntes nas pernas e tinha o rosto do Takeo, o guitarrista da P”Saiko. Arata deu um salto, por que mal haviam falado sobre o figurino e já estava vendo Takeo com orelhas e rabo de coelho, precisava chegar até ele! E correu atrás do guitarrista ruivo que saía para o corredor, mas ainda vendo o momento em que ele entrou numa sala de porta dupla. O vocalista a alcançou a tempo de não deixá-la bater e com a porta entreaberta, olhou a placa imaginando que o lugar devia ser uma espécie de depósito de tranqueiras de antigos figurinos e cenários usados pela produtora.

-Hum... isso não ta me cheirando bem... –Disse entrando no salão e encontrando tudo escuro. Andou mais alguns passos e ouviu o “cleck” da porta batendo. Pulou com o susto e voltou para verificar se ainda estava aberta. Rodando a maçaneta teve uma feliz notícia: - Trancado? Mas que porta é essa que não abre por dentro?! Má sorte... –deu um muxoxo só agora parando pra pensar que não teria como voltar trancado, no breu e sem saber onde ficava o outro lado do salão.

-É tarde, é tarde, é tarde! –Ouviu dizerem.

E foi aí que viu a figura do coelho Takeo se destacando mais ao fundo. Ele verificava novamente o relógio de bolso com a luz do visor de um celular.

-Porque eu tenho que usar essas coisas antigas? –o coelho deu um muxoxo.

Com um sorriso, Arata correu na direção de Takeo tropeçando em algumas peças no caminho.

-Espere! Takeo! Digo... Sr. Coelho?! –chamou e ainda viu o guitarrista virando e olhando para trás rapidamente.

-Oi, oi, adeus, é tarde, é tarde, é tarde!

-Não. Espere! –Chamou novamente.

-Não, não. Eu tenho pressa! Oi, oi, adeus! É tarde, é tarde, é tarde!

O vocal chegou a tempo de ver o coelho sumindo entre uma cortina roxa com brilho. E não pensou duas vezes ao se aventurar por entre elas também, caindo de repente no que parecia ser um grande buraco sem fundo.

-TACHII! –gritou com o susto.

Continua...

0 comentários:

Postar um comentário