terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Capítulo 1

REENCONTRO
POR AISLYN E JOKER ANGEL

Ele estava satisfeito porque agora parecia que tudo ia bem. O primo tinha cedido um espaço no apartamento e depois de rodar durante a semana inteira, conseguiu uma vaga de emprego. Não era nada que poderia chamar de "Oh... kami-sama é muito bom comigo e esse é um emprego dos deuses", mas teria algum dinheiro no final do mês pra pagar sua estadia na casa do primo e o que mais precisasse.


Estava animado com isso quando atravessou uma rua e teve a impressão de já ter passado por ali antes.

Forçando um pouco a mente conseguiu lembrar-se de uma torta e um ruivo. Ah, o primeiro lanche que fez em Tóquio! O melhor que poderia ter feito.

Andou por mais algumas ruas, e se estivesse certo, a lanchonete era naquele caminho.

Entrou no lugar e procurou pelo ruivo, mas não o encontrou. Foi abordado por outro funcionário e aproveitou para perguntá-lo, mas ele disse que Takeo trabalhava só no período da noite e talvez estivesse cobrindo alguém quando o conheceu.

Sentou-se numa das mesas e pediu uma torta e um refrigerante. Dessa vez pagou pelo lanche. Comeu calmamente e voltou pra casa.

A semana passou depressa e todo final de expediente, Arata pensava em encontrar Takeo no Cyber Café, mas o cansaço muitas vezes o impedia de esperar o horário da noite. Até que no meio de uma semana, conseguiu ser liberado mais cedo, como estava disposto foi até o Café procurar o homem que o havia ajudado.

Entrou e procurou saber onde encontrava Takeo. Indicaram o bar, a essa hora apinhado de gente, todos querendo ser atendidos. A pista também se encontrava cheia, com muito custo conseguiu desviar das pessoas que dançavam e chegar até o balcão, acenando para o ruivo e com um sorriso perguntou ao vê-lo se aproximar.

_ Posso te pagar uma torta?

Takeo parou o serviço para atender o moreninho que o chamou e sentou-se no balcão. Ao ouvi-lo oferecer uma torta sorriu malicioso, imaginando ser algum admirador.

Aproximou-se apoiando o corpo no balcão, bem em frente ao outro rapaz, sorrindo para ele.

_ E eu posso escolher o sabor?

O garoto estranhou um pouco a proximidade, mas ainda manteve o sorriso.

_ Claro. Eu estou pagando pra você! Qual o sabor?

_ Você! – retrucou rápido.

Não era comum receber abordagens como aquela, normalmente as pessoas o cantavam durante suas apresentações, enquanto preparava as bebidas, lançando olhares maliciosos e sorrisos enviesados. Era conhecido também que nunca dispensava um encontro. E o garoto era bonito, um jeitinho inocente, com uma pitada de rebeldia. Seria interessante.

Arata ficou chocado com a resposta. Esse era direto! Perguntou-se se era mesmo o rapaz que tinha ajudado-o naquela manhã em que chegou à cidade.

Tentando não ser rude, deu um sorriso envergonhado e se afastou um pouco.

_ Go-gomen... Acho que errei de Takeo ou me indicaram o errado. – apesar de ter certeza de que era aquele rapaz mesmo que o ajudou.

O ruivo encarou-o erguendo uma sobrancelha. Não se lembrava dele, então como saberia seu nome?

_ Eu sou o único Takeo que trabalha aqui. – mudara completamente de tom, não parecendo a mesma pessoa que quase o devorara com o olhar – Estava me procurando pra...? – deixou a pergunta no ar.

Arata estava com receio de continuar aquela conversa. Mordeu os lábios já achando que voltar para vê-lo não fora uma boa idéia... Mesmo agora que via a curiosidade no olhar daquele homem. Mas não poderia simplesmente ir embora não é?

_ Ano... eu só vim para agradecer, você me ajudou outro dia. Eu era um estranho, na verdade continuo sendo, mas eu tinha acabado de chegar e você estava atendendo de manhã e me pagou uma torta. E eu fiquei muito agradecido mesmo e agora que tudo está se encaixando eu vim agradecer, já que eu... – arregalada os olhos, sentindo-se incomodado – Estou falando demais, não estou? – sorriu sem jeito.

_ Você é o primeiro! – sorri infantilmente. – Quando foi que veio aqui? Me desculpe se fui um pouco rude, mas... – coça a nuca nervosamente – Não costumam me procurar pra agradecer sabe? – sorri nervoso.

"Que mancada!" pensou consigo, agora precisava arrumar um jeito de tirar a má impressão que causara.

Agora sim, Arata achava que alguma coisa ali lembrava o ruivo do café. E não pode deixar de rir com ele.

_ Talvez os outros não se lembrem, não por serem ingratos, mas por acharem que você não vai lembrar. Acho que estão certos! – sorriu do embaraço do ruivo – Isso foi há umas duas semanas... Consegui encontrar o apartamento do meu primo e ele me acolheu na casa dele e faz pouco tempo que consegui um trabalho. Quando assinei o contrato passei por uma rua aqui perto que me fez lembrar que eu precisava voltar aqui. Mas você só fica aqui a noite. Me deu um trabalho conseguir vir! – sorriu agora um pouco mais a vontade.

_ É... eu realmente não lembrava de você. – riu, ainda nervoso, pensando em algo para se desculpar, e pra piorar ele não poderia ficar enrolando muito tempo, pois o serviço não parava – Olha, tenho que voltar ao trabalho, nós... podemos conversar melhor depois?

_ HA-Hai! Gomen! Eu não queria... Ano, quando podemos conversar melhor? Eto... eu só tenho os finais de tarde do final de semana. Pode ser? – pergunta ansioso.

_ Hei, calma! – sorri diante do nervosismo do moreninho – Olha, eu saio daqui uma hora, se você me esperar podemos conversar, tudo bem pra você?

_ Hai! Demo... não vou atrapalhar? – ergue uma sobrancelha – Mesmo?

_ Claro que não. – sorri gentil – Pode ficar circulando pela boate, ou ficar aqui no balcão. Prometo que não vou demorar. – afasta-se mandando um beijo no ar e piscando para o outro.

Voltou para frente do balcão, tentando fazer vários pedidos ao mesmo tempo, precisava esquecer um pouco o erro com o rapaz e concentrar no trabalho. Pegou as garrafas e começou a jogá-las no ar, preparando as bebidas e deixando-se envolver pela música.

_ Ok... – sorriu de volta e olhou pra pista. Dançar ou não dançar, eis a questão... – Que ridículo Hayato. Você está parecendo a garotinha doidinha pelo cara ruivo. Toma vergonha... – levanta e olha o ruivo trabalhando, fazendo seus malabarismos com as garrafas sem perder o ritmo da música que tocava no salão – Show... – se divertiu aplaudindo junto com algumas moças que aguardavam o drink.

Pediu ao outro garçom uma cerveja e ficou observando o barman ruivo, até ser abordado por uma mulher que começou a puxar papo.

Dentro do balcão, viu pelo canto do olho o rapaz pedir uma cerveja e aplaudir algumas vezes. Então ele estava gostando do show... pensou em fazer um showzinho particular mas foi interrompido.

"Ele de novo não." Revirou os olhos, entediado. Para Takeo era simples entender que uma noite não dava direito a bis, mas algumas pessoas pareciam ignorar o fato, ou eram idiotas demais para entenderem.

Sendo obrigado como bom funcionário a sorrir e atender bem os clientes, teve que conversar com o rapaz, mesmo que a contragosto.

Estava certo ao imaginar que ele viria com a mesma ladainha de sair pra algum lugar em particular e conhece-lo melhor.

Enquanto isso o moreninho gargalhava com a mulher e ria várias vezes com alguma coisa que ela dizia, mas não perdia muito os movimentos do ruivo. Estava ali esperando por ele, não é? Então não poderia ir muito longe com quem quer que fosse. Num momento em que Takeo estava conversando com um cliente, Arata pediu licença à mulher com quem conversava, com uma desculpa qualquer para sair dali. Banheiro! Daria tempo.

Levantou-se e acenou para a mulher, indo na direção oposta do salão. Não sabia onde o banheiro ficava, mas isso era o de menos.

Arata aproveitou a fuga pra encontrar um telefone que pudesse ligar pro primo avisando onde estava e que estava bem. Se o pouco tempo o ensinou bem, Jin entraria em parafusos se não chegasse em casa ou não desse notícias. Também poderia pensar que desistiu de ficar lá e jogaria suas coisas pra fora de casa. Ou o mais provável, mobilizaria Tóquio numa busca pelo primo sumido. Shibuya podia ser um pouco perigoso às vezes.

_ Preciso comprar um celular, urgente. – na recepção do Cyber conseguiu fazer a ligação pro primo.

Voltou mais aliviado pro balcão onde Takeo trabalhava e pediu mais uma cerveja, ainda observando o ruivo trabalhar sem chamar atenção pra si.

Em pouco tempo poderia ir embora, o salão já esvaziava, algumas pessoas pagavam suas contas e caminhavam para fora da boate.

Largou as garrafas de qualquer jeito, o pessoal da limpeza se encarregaria de arrumar depois, saiu por uma porta dos fundos, buscando sua mochila e a guitarra numa sala reservada aos funcionários, tirou o uniforme e saiu para o salão.

Arata já dava claros sinais de que não conseguiria permanecer muito tempo com os olhos abertos. Se era pela cerveja ou pelo sono de um dia cansativo no trabalho, não saberia dizer, talvez o lance do trabalho.

Debruçou no balcão e amparou o rosto com as duas mãos. Só pra descansar as pálpebras que ardiam.

_ Eu to bem... – murmurou pra alguém que cutucava seu ombro – Sério... – como eram insistentes – Só estou descansando os olhos... – murmurou – Que chato... – decidiu finalmente abrir os olhos, dando de cara com o ruivo.

_ Você esta bem? – perguntou preocupado.

Arata levanta-se num pulo, quase caindo da cadeira do bar.

Num rápido movimento o barman ampara o moreninho.

_ Opa. D-desculpa Takeo-san!

_ Acho que bebeu demais, quer que te leve em casa?

Arata conseguiu sentir o formigamento no rosto. E se repreendeu por aquilo.

_ Ie. Não vai ser necessário. – sorriu – Eu to bem. Mesmo! – tentou ser convincente – Posso te pagar a torta agora?

Takeo riu com o esforço dele em tentar se manter em pé, mas admirou a força de vontade em retribuir o favor.

_ Vamos deixar isso pra outro dia? Você não me parece bem... – segurou-o pela cintura, apoiando o braço dele em seu ombro e levou-o para fora – Me diga onde mora e eu te levo em casa. Ou chamo um táxi pra você, se preferir.

Arata se sentiu apoiado e guiado pelo outro e também o leve incomodo de dividir o apoio com uma valize grande. Se não estava enganado aquilo era uma guitarra ou um violão.

_ Guitarra... você pratica? – perguntou não respondendo o ruivo.

_ Sim, eu toco com um amigo, mas só por distração. – levou-o para fora do Café, olhando as ruas, decidindo se levava o desconhecido para sua casa ou se tentava descobrir onde ele morava – Onde você mora? – perguntou novamente, mais sério.

_ Sério. – suspirou – Eu estou bem... posso ir sozinho... Quando podemos nos encontrar de novo? – se afasta do ruivo e dá dois passos cambaleando – Hum... é só sono.... – leva os dedos aos lábios e deixa à mostra a pulseira que o primo o fez usar com nome, endereço e telefone de contato, desde que começou a trabalhar na Starbucks.

Takeo acompanha o movimento que o outro faz com a mão, notando ser uma daquelas pulseiras de identificação que os pais colocam nos filhos. Discretamente dá uma risadinha, imaginando com que tipo de pessoas o outro morava.

_ Eu trabalho aqui nos finais de semana à noite, então estou livre qualquer dia a tarde. Durmo a maior parte da manhã.

_ Imagino... – sorriu, esfregando os olhos – Bom, então Takeo-san, posso te encontrar aqui no sábado às 15 horas? E te pagar uma torta e saber mais sobre essa guitarra? – sorriu cansado.

Takeo pensou em pedi-lo para não chamar usando -san, deviam ser quase da mesma idade, mas se não arrumasse uma maneira de despertá-lo iria ver o outro cochilar rapidinho.

_ Combinado. – falou receoso, vendo o outro esfregar os olhos – Sábado às 15 horas.

Arata confirmou com um aceno e um sorriso, deu um tchauzinho e se virou para atravessar a rua. Parecia mais desperto ou pelo menos, mais atento. E mais satisfeito também. Não tinha conseguido pagar sua dívida, mas conseguiu encontrar o ruivo que o ajudou e a marcar de se encontrarem. As coisas não poderiam ir melhor para ele.

Takeo acenou ainda temeroso de deixá-lo ir sozinho. Mas... por que estava se preocupando? Nem conhecia e já queria levá-lo ate em casa?

Arrumou a guitarra sobre os ombros e virou-se, seguindo até o final da rua.

 

Continua...

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