sábado, 17 de outubro de 2009

Side A - Jacks day

Capíulo 1

Side A
Jack’s day

O dia estava frio. Do jeito que ele gostava. Lembrava–lhe a proximidade do natal, um feriado vazio e sem sentido, exatamente como sua vida sempre fora. Deprimido? Com toda certeza. Ryuutarou, ou Jack, como era chamado o baterista da banda sempre se deprimia no dia do seu aniversário.

Acordou cedo como costume. Olhou–se no espelho. Os olhos pareciam mais profundos e experientes, como se aquilo fosse possível. Tão jovem e já experimentara tanta coisa. Passara por tanta coisa...

Suspirou.

Era domingo. Podia aproveitar pra ver o irmão, que a cada dia parecia mais fraco, perdendo a saúde de forma rápida, inevitável. Aquele era outro fator que desolava Jack. Ver uma das únicas pessoas que amava definhando, sem poder ajudar ou impedir.

Apesar disso continuava visitando–o e dando seu apoio.

Trocou de roupa, vestindo um casaco preto não muito grande, calça cinza chumbo justa e sapatos pretos muito lustrosos. Ajeitou os fios de cabelo negros e, depois de pegar a carteira e os documentos, montou na moto e saiu de casa. Nem mesmo tomou café.

A visita ao hospital foi mais rápida do que pretendia. Seu irmão mais velho estava sobre efeito de remédios, sentia muito sono e Jack não se demorou.

Em pouco tempo estava de volta a rua, sentado sobre a moto. Pegou o celular e olhou o visor. Jamais admitiria, mas estava um pouco ansioso. Tinha um namorado, o baixista da banda. E pelo que conhecia do mais velho, ele deveria estar aprontando alguma coisa para o seu aniversário.

Jack, que nunca comemorara antes, se perguntava o que Shibuya ia fazer. Talvez uma festa surpresa... era bem a cara dele. Ou quem sabe um jantar a luz de velas... não. Isso parecia mais a especialidade de Takeo, o sedutor da banda. Shibuya era menos sutil, muito mais espalhafatoso e indiscreto.

O baterista não duvidava nada que a festa ainda fosse temática, do tipo “Rei Leão” ou “Aladim”...

Sorriu de leve com o pensamento. E não seria surpresa alguma se Jin estivesse vestido a caráter. Isso fez o sorriso aumentar um pouco.

Como podiam ser tão diferentes? Tão opostos? Jack era instável, tinha acessos bipolares, uma dificuldade imensa para acreditar e confiar nas pessoas. Sabia que era maduro demais, e abandonara conceitos apropriados a sua idade desde muito cedo. Ou melhor, tivera que abrir mão de sua inocência durante os terríveis anos de reformatório. Nenhuma criança podia se preservar no ambiente hostil e degradado. Era um milagre que não tivesse se afundado de vez na autodestruição.

Assim era Asamura Ryuutarou, totalmente o contrário de Ikeuchi Jin. Shibuya, como costumavam brincar os amigos, tinha um vácuo enorme na cabeça. Não, Jin não era esperto, nem descolado. Parecia que o mais velho vivia numa eterna infância. E maturidade não constava no dicionário do baixista.

Mas era dessa forma que Jack o amava. Era com todos esses defeitos que o irritavam muitas vezes. E, principalmente, porque Shibuya também o aceitava exatamente como era. Surtado, doentio, de personalidade difícil e distorcida. A aceitação incondicional alcançara o coração de Ryuutarou e ali estavam as conseqüências.

Mais do que apenas se amar, os dois se completavam. Shibuya trouxera a cura a todas as feridas que Jack fingia não ter. O baixista representava quase um resgate à sua juventude precocemente perdida. Era com o mais velho que Jack aproveitava sensações novas, sem medo de se entregar.

Apenas com Jin, Asamura conseguia deixar as máscaras caírem. Não tinha medo de aconchegar–se nos braços do baixista e deixá–lo ver como era sua profunda essência.

Por tal motivo olhava de vez em quando para o celular, esperando algum contato do namorado. Já devia ter acontecido, não? Deveria passar pelo apartamento de Jin e ver se estava tudo bem?

Melhor não. Resolveu vagar por Kabukicho, rever velhos locais e velhos conhecidos. Ninguém se lembrou de seu aniversário. Mas não se importou, ninguém ali precisava se recordar, não fazia questão nenhuma de receber cumprimentos falsos e vazios.

Quem realmente importava iria se pronunciar. Tinha certeza disso. Jin era entusiasmado demais para deixar passar em branco uma data daquelas.

No entanto, à medida que o dia avançava e o namorado não dava sinais de vida. Jack começou a considerar a possibilidade de que ele se esquecera também. Agora a probabilidade era maior do que gostaria. Não devia nem ter se empolgado com a idéia. Por que criara expectativas, afinal de contas?

A noite se aproximava. Não queria ver ninguém. Não queria encontrar ninguém.

Decidiu ir para o estúdio. Quem estaria por lá, numa noite iluminada de outono, um domingo excelente para se passear por aí?

Mas havia. Jack levou um senhor susto ao destrancar a porta e ouvir o gemido alto. Imediatamente acendeu a luz e flagrou Takeo e Arata, aos amassos no sofá. Estreitou os olhos irritado. Lá se fora sua paz. Nem deprimir decentemente podia mais...

– Jack! – Arata, vocalista da banda, teve a decência de corar sem graça, tentado sair dos braços do namorado.

– Que merda, Asamura. – Takeo não pareceu nada feliz com a intromissão.

– Boa noite pra vocês também. – sorriu irônico.

– Mas que porra você veio fazer aqui? – o guitarrista ruivo ficou indignado. Olhou cumprido para Arata que ajeitava as roupas sentando–se na ponta oposta.

– Não o mesmo que vocês.

– O Jin não te ligou? – o vocalista franziu as sobrancelhas.

– Não. – amuou ainda mais.

Arata e Takeo se entreolharam.

– Né... Mas ele devia ter ligado. Será que alguma coisa deu errado? – Arata ajeitou a mecha ruiva da franja.

– Não é possível. Aquele baka só tinha que seguir a lista... – Takeo coçou a cabeça – Bem, mas é o Ikeuchi, né?

– Do que vocês estão falando? – a paciência de Ryuutarou acabou–se. Havia algo ali que ele desconhecia. E dizia respeito ao namorado.

Foi o vocalista que explicou:

– Jin pediu ajuda pra fazer uma surpresa de aniversário pra você. – Arata sorriu suave.

– Então eu fiz uma lista de tarefas pra ajudar. E ela terminava com “ligar para Jack e convidar para o jantar”. Não é possível que algo tenha dado errado. Até uma criança entenderia! – Takeo desabafou incrédulo.

Jack nem se preocupou em responder. Suspirou e deu meia volta. Aquilo tinha mesmo que ter dedo daqueles dois. Era a única explicação pra Jin ter sumido o dia todo. Estava com a mão na maçaneta quando ouviu a voz divertida de Takeo:

– Feliz aniversário, mister anti–social...

– Foda–se, Shiroyama.

Takeo riu quando a porta foi fechada com certa força. Virou–se para o namorado, quieto no sofá e sorriu predador:

– Eu não vou me foder... – soltou uma risadinha safada – Vou foder um morango...

Arata corou e rolou os olhos, mas não tentou fugir quando o amante saltou sobre ele.

oOo

Jack pegou a moto e dirigiu até o apartamento do namorado. Devia ter desconfiado. Shibuya nunca deixaria a data passar em branco, se não tivesse acontecido alguma coisa...

Não se preocupou em identificar–se na portaria. Já era conhecido no prédio. Foi direto para o apartamento do namorado. Destrancou a porta e entrou na sala iluminada, quase tropeçou nos coturnos largados na entrada. Praguejou.

Rolou os olhos ao ver os mangas espalhados pela sala. Por mais que Arata tentasse manter a organização, o baixista era um bagunceiro de marca maior.

Ouviu um latidinho feliz. Em segundos, Trevas estava fazendo festa em seus pés.

– Yo, animal.

Desviou–se do cão e rumou direto para o quarto. Sentiu um cheiro estranho no ar, que não soube distinguir bem. Fosse o que fosse estava se dissipando.

Bateu de leve na porta do quarto de Jin e entrou. O aposento estava iluminado pelo abajur com recortes de Pokémon. A próxima coisa que notou foi o namorado deitado sobre a cama, escondido pelo edredom vermelho com estampas brancas...

 

Continua...

Primeira parte postada!

Se a Nii for um bom muffin posto o resto logo, logo! (fic concluida = 3 partes)

Obrigad a Evil, que aceitou betar isso!

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