segunda-feira, 12 de outubro de 2009

[Selfish] Capítulo 3

Selfish

Kaline Bogard

Capítulo 03

Jack terminou de acender o cigarro e guardou o isqueiro no bolso da jaqueta preta.  Estava recostado na moto parada em frente ao prédio onde Arata e Shibuya moravam.  A construção era tão pequena que nem estacionamento tinha.  Sorte dos primos que não possuíam carro ou moto, ou precisariam pagar estacionamento a parte.


Incomodado, o líder da P”Saiko balançou a cabeça.  Mas que diabos estava fazendo ali?

Não tinha prometido a si mesmo que manteria distância de Ikeuchi?  Que evitaria maior contato do que o estritamente necessário para o bem da banda?

Jack compreendera que aprofundar a amizade, do jeito que faziam antes, era mais do que dar esperanças ao baixista.  Era dar esperanças a si próprio, ao seu coração.  Por isso se afastara.  Pra evitar que um mal maior os alcançasse...

Mas, a despeito de suas firmes intenções, ali estava ele.  Atendendo a um chamado igual um cãozinho atenderia uma ordem, tendo a promessa de ganhar um biscoito.

Com raiva de si mesmo, quase deu meia volta e foi embora.

Onegai.”

O pedido simplório, feito num tom de voz estranho voltou a mente de Jack.  Certo, ele não ia dar meia volta e partir.  Viera até ali e iria até o fim.  Nem se fosse pra dar mais um toco no baixista e diminuir o que quer que Ikeuchi sentisse por si.

Resignado, Jack tirou a chave do contato e colocou no bolso da calça.  Pegou o capacete e entrou no prédio.  Seguiu para o elevador, mas acabou mudando de idéia.  Era melhor subir pelas escadas.  Havia menos chance de desencontrar com Shibuya.

Galgou os poucos lances.  Parou em frente ao apartamento dos colegas de banda.  Estava terminando o cigarro.  Deu a última tragada e jogou a bituca no cestinho de lixo do hall.  Só então, enchendo-se de coragem, bateu na porta.

Aguardou por longos segundos.  Imaginava que Jin abriria a porta no momento seguinte, afinal ele parecia bem ansioso ao celular.

Bateu novamente, com mais vigor.  Impossível que o baixista não ouvisse daquela vez.

– Que merda...

Ikeuchi não atendeu.  Intrigado, Jack pegou o celular e discou para o mais velho.  Tocou até cair na caixa postal.

– Como assim? – por que Jin o chamaria e se recusaria a recebê-lo?  E ainda negava-se a atender o telefone?  Ah, Asamura ia insistir da mesma forma que Shibuya insistira.  E ia dizer umas boas.

Discou mais uma vez.  Esperou chamar até cair na caixa de mensagens.  Foi só na terceira tentativa que o baixista finalmente atendeu:

Moshi moshi.

–Ikeuchi?  Cadê você, inferno?

– ...

– Estou te esperando.

Ah...

– “Ah”?  como assim “ah”? – o líder da P”Saiko começava a perder sua escassa paciência. – Venha abrir essa porta imediatamente!

– ... Jekichi...? – Jin falou depois de respirar fundo.  Asamura piscou antes de responder:

– Hn...?

Podemos só... esquecer tudo isso?

Ryuutarou não achou ter entendido direito.

– Esquecer?  Isso o que?

A resposta demorou um pouco pra vir:

Você sabe.  Sobre nós dois... esse lance de amor e tal...

– ... – Jack não soube o que responder.  O pedido viera da forma mais descabível possível.  Ou Shibuya queria deixá-lo louco, ou o baixista estava perdendo a razão.

Acho que agora entendo Jack um pouco melhor – Jin continuou pelo celular – Sinto muito ter sido um estorvo.  Eu desisto nessa encarnação, mas na próxima... na próxima tenha certeza que eu não vou desistir!

O baterista sentiu um arrepio correndo por suas costas:

– Ikeuchi, onde infernos você está?

No único lugar que dá pra terminar com isso...

– E seria...? – Jack tentou não entrar em pânico.

No telhado, oras.  Aqui é muito tranqüilo.  É quase como...

O baterista não ouviu o resto.  Desligou o aparelho e saiu correndo em direção as escadas, largando o capacete pelo chão.

Mas que idiota!

Se Jin fizesse alguma besteira, jamais iria perdoá-lo!  Sorte que aquele prédio não era muito alto.  Galgando as escadas de dois em dois degraus, Asamura chegou ao topo da construção em poucos minutos.  Sem pensar que podia assustar o companheiro e precipitar uma tragédia, Jack abriu a porta de acesso enquanto chamava:

– Ikeuchi!! – olhou de um lado para o outro, procurando pelo mais velho.  Seria tarde demais?

– Jack...?

Surpreso, o baterista descobriu seu companheiro de banda sentado ao lado da porta de acesso, encostado na parede da guarita.  Tinha a mochila cheia de chaveiros no chão e um PSP nas mãos.

– O que está fazendo, idiota? – Jack bateu a porta.

Jin franziu as sobrancelhas:

– Jogando.  Resident Evil...

– Jogando?! – Jack repetiu.  Abaixou-se em frente ao outro e tomou-lhe o aparelho das mãos.  Analisou a tela LCD por alguns instantes, observando a movimentação dos personagens. – Ah... eu pensei...

– Jogar sozinho em casa dá medo, sabe? – e o baixista pegou o brinquedo de volta, concentrando-se nele. – Pensou o que?

– Nada... – Jack sentou-se ao lado do mais velho antes de voltar a falar – Você me chama pra vir aqui e some pra jogar vídeo game?

Jin não respondeu, concentrado em jogar.

– Ikeuchi, eu vou quebrar essa merda.

Diante da ameaça, o baixista apertou a tecla pause e encarou Jack:

– Eu disse pelo telefone.  Você não precisava subir aqui.

–...– o baterista não soube o que responder.

– Ne... eu conversei muito hoje.  Eu me encontrei com Kuro san.  Ele me disse que você não queria se envolver comigo, porque não seria uma relação conveniente.  Mas eu não quis acreditar nisso, então fui falar com Tachi.

– Conveniente? – Jack não entendeu a colocação.  Dois homens se envolvendo com certeza não seria conveniente.  Mas essa não era a sua preocupação.

– Takeo me disse “tente não ser otaku.  Mostre pro Jack que você pode ser uma pessoa melhor.”.  Tentei jogar meus mangas fora, mas não pude.  Então pensei que se eu conseguisse andar de elevador, estaria provando pro Jack que sou forte.

– Elevador...? – o mais novo sabia do medo que seu companheiro tinha de lugares apertados.

Jin riu sem jeito:

– Nem isso consegui.  Minhas pernas estão bambas até agora... – passou uma das mãos pela franja, bagunçando os fios negros – Jack merece alguém melhor do que eu.

–...

– Alguém normal que não o envergonhe em público, que não goste de coisas estranhas e que seja forte para protegê-lo.

– Idiota. – foi tudo o que Ryuutarou conseguiu dizer, com um nó na garganta.

– Sei disso.  Sou idiota por amar você.  Mas não posso fazer nada para mudar isso.

Jin desligou o PSP e o guardou na mochila.

– Kuro san me disse uma coisa, sabe?  Ele disse que viver dói.  E que nós, otakus, não sabemos viver. – então Jin ficou em pé, colocando a mochila nos ombros – Viver dói... mas ainda assim eu tento.  Eu acho que vale a pena.  Mas algumas pessoas têm medo.  Então fogem... mas não são apenas otakus que fazem isso.  Você também Ryuu... também tem medo de viver.

– ... – o caçula desviou os olhos, evitando encarar o baixista.

– Eu quero estar ao seu lado, para que quando doer, você possa se apoiar em mim.  Ofereci tudo o que tenho, tudo o que sou.  E Jack recusou.  O que mais posso fazer?

Jin esperou que o líder falasse alguma coisa.  Porém Asamura apenas manteve o rosto virado, tentando evitar a todo custo que o mais velho visse as lágrimas que escapavam de seus olhos.

– Sumimasen. – Shibuya reverenciou de leve – Espero que reconsidere.  E que um dia me dê uma chance.

Jack ouviu a porta sendo fechada suavemente e encolheu-se abraçando as próprias pernas.  Porque amar tinha que ser tão complicado?  Porque não conseguia manter seu

coração a salvo desses sentimentos, protegido da dor?  Porque ninguém o compreendia?

Porque tinha que amar?

 

Nota Final:

Tá. Final idiota. Eu sei.
Mas não entrei no clima pra juntá-los aqui. O que não significa que eu desisti! Ainda vou escrever muitas e muitas fics sobre eles!

Uma pequena curiosidade sobre a trilogia:

  • Sorrow
  • Obstinate
  • Selfish

Acho que ninguém percebeu... mas... as três primeiras letras de cada história são uma dica de como Jin se sente. De como ele precisa de ajuda, precisa do Jack ao lado dele...

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