sábado, 17 de outubro de 2009

Remendos Finais

Capítulo 3

Remendos Finais

Jack sentou-se sobre o colchão, mantendo-se na beiradinha:

- Ikeuchi? - esperou resposta, mas recebeu apenas o silêncio. Insistiu em voz mais firme:

- O que aconteceu?

- Estou deprimindo. - as palavras foram abafadas por causa do edredom.


Aquelas duas palavras trouxeram um alívio imensurável ao baterista. Acreditara que algo grave pudesse ter ocorrido, sendo Jin um desastre ambulante. Mas pelo visto não era nada tão preocupante.

- Eu faço aniversário e você deprime? Acho que invertemos as coisas. - Jack brincou. Era uma reação surpreendente. Nunca, nem em seus melhores dias, se imaginara agindo com tanta paciência com uma pessoa.

Logo ele, acostumado a se proteger dos outros, esconder-se atrás de um muro que julgara indestrutível, se via ali, cheio de boa vontade e de preocupação.

Claro, no começo não fora tão fácil. Sabia que seu gênio complexo e as reações bipolares haviam causado problemas entre eles. Não foram poucas as vezes que magoara o namorado antes de se acertarem. Agora tinham encontrado um ritmo, uma harmonia entre as personalidades contrárias. Mas em alguns momentos Jack ainda tinha que respirar fundo e contar até dez. Ou até cinqüenta.

Ao passo que Jin tinha que passar por cima de seus surtos, perdoar as grosserias que escapavam em algumas ocasiões e o magoavam. E ali estava o trunfo do baixista. Por mais que Jack tivesse suas recaídas Shibuya sempre o perdoava. Sua compreensão parecia infinita.

Muito mais do que o baterista sonhara conseguir. Abandonara o anseio de encontrar sua alma gêmea há tempos. Desistira de ter uma pessoa que o amasse e o aceitasse do jeito que era.  Pelo que experimentara da vida, esperava apenas conviver com egocêntricos e egoístas, seres que não hesitariam em feri-lo física e psicologicamente. Inverso do que Ikeuchi fazia.

Mas ali estava a prova de que se enganara. Que até mesmo ele podia encontrar um pouco de felicidade.

Tal pensamento trouxe um insight e o mais baixo entendeu a situação: Jin era o seu presente de aniversário. Não precisava de mais nada. Não queria mais nada. Por isso estivera inquieto e sem sossego o dia todo, incomodado pelo sumiço do mais velho.

- Eu estraguei tudo. - a voz abafada do baixista cortou as reflexões de Ryuutarou. - Era só seguir a lista, mas... - fungou.

- A lista? - Jack perguntou. Matou metade da charada: Takeo falara algo a respeito... tinha que ser culpa daquele guitarrista mesmo!

- Uma lista pro seu aniversário perfeito. Tava dando certo até a parte de fazer o jantar... fui derrotado por cenouras e batatas...

Jack sentiu um arrepio gelado:

- Fazer... o jantar... você?! - a voz demonstrou a mesma incredulidade expressa no rosto.
Ao ouvir aquilo Jin descobriu a cabeça e fitou o amante com os olhos brilhantes:

- Né, foi um desastre. Gomen.

Imediatamente Jack piscou e, num jogo de cintura que nunca cogitou querer usar antes, tentou remediar a situação:

- Por que não encomendou algo pronto?

- Porque o Takeo proibiu. Eu tinha que fazer com minhas mãos, pra ficar mais romântico... mas... o microondas explodiu... - voltou a cobrir a cabeça.

Nesse ponto o arrepio de Ryuutarou virou um leve tremor.  O microondas explodira?!!  “Puta merda.”, pensou. “Takeo... desgraçado.”. Fez uma nota mental para esganar o guitarrista até que ele se desse conta da besteira que fizera.

Mas no momento era mais importante consertar o estrago. Respirou fundo, muito fundo e procurou as palavras certas a serem ditas:

- Ikeuchi. Me escuta. Essa... lista do Shiroyama não... não... ia tornar o meu aniversário perfeito.

- Por que não?

- Por... que... foi o Takeo que fez. - Jack agarrou-se ao argumento - Seria perfeito para o Arata, não pra mim. O meu aniversário perfeito tem que sair da sua cabeça, não da dele.

Jin descobriu-se novamente:

- Mas o Tachi disse que o MacDonalds não é romântico...

Jack sorriu de leve. Isso sim tinha a cara do seu namorado.

- Takeo é um idiota. Ele não me conhece como você. Esqueceu que odeio romantismo?

- Eu... sinto muito... queria fazer as coisas direito, mas estraguei o seu dia.

- Ainda dá tempo de aproveitar. - Jack sugeriu. No coração transbordavam novas sensações às quais não estava acostumado: queria que a tristeza sumisse daqueles olhos escuros. Queria que Jin se alegrasse e que seu aniversário realmente ficasse perfeito, apenas porque era desejo do baixista. Sentimentos altruístas que aprendera no momento em que descobrira amar o namorado.

Imediatamente Shibuya sentou-se na cama. As íris reluziram felicidade pura:

- Jura?!  Então vou levá-lo ao MacDonalds. Vamos comprar muitos MacLanches Feliz e colecionar os agarradinhos. Vou grudar todos em você! - riu.

Ryuutarou foi pego de surpresa pela empolgação infantil. Então notou as marcas vermelhas no peito magro do outro. Ficou chocado:

- O que é isso?! - apontou.

Jin coçou a cabeça:

- Hum... deveria ter sido nosso jantar romântico.

- Eu vou matar o Shiroyama. - ficou em pé fechando as mãos em punho. Aquele guitarrista conseguira passar de todos os limites!

- Não! - Jin segurou-lhe a mão - Tachi só quis ajudar. Eu que estraguei tudo...

O baterista escutou apenas a primeira palavra. Desviara os olhos para a mão que segurava a sua:

- Ikeuchi... seus dedos!  O que...?

- Ah...- riu e mostrou as duas mãos - Se eu fosse um samurai estava fudido. Ia me matar com minha própria katana...

- Baka... - ficou um pouco triste admirando os band-aids colocados todos tortos. Mesmo que não matasse Takeo, ia lhe falar algumas coisas. Perguntou-se se ele escrevera a maldita lista de boa vontade ou apenas para se livrar do pedido de Shibuya. - Temos que trocar isso.

- Mas acabou o band-aid colorido. Só tem cor da pele.

- Então você me leva pro MacDonalds, e a gente passa em uma farmácia antes pra comprar band-aid e pomada pra queimadura.

Jin ficou em pé sobre o colchão:

- Certo! E depois vamos para o parque Mieda. Vou escolher um mooonte de fogos de artifício pa gente comemorar o seu aniversário. E também tem os seus presentes... - sorriu como se ele próprio fosse receber os agrados.

- Coloca uma blusa e vamos logo. Eu trouxe a moto.

Shibuya voou pra fora da cama, vasculhou o guarda-roupas atrás de uma blusa que não tivesse muito amarrotada. Escolheu uma azul com estampas pretas de pegadas de urso, com mangas compridas. Depois pegou a mochila e jogou a carteira com os documentos.

- Falta só os seus presentes. - estava tão animado que parecia reluzir.

- Hn. - Jack tentou evitar olhar na direção da bagunça que Jin fizera com as roupas. Tinha que relevar aquilo, afinal, o namorado também possuía seus defeitos.  Muitos, se parasse pra pensar.

Saíram do quarto e Trevas veio fazer uma festinha. Estava com o pêlo castanho amassado de dormir no sofá. Jin o ignorou e foi até a estante. Enfiou os pacotes que comprara na mochila evitando que Jack os visse. Tinha que surpreendê-lo!

Manteve apenas a touquinha nas mãos. Queria que ele usasse desde já.

- Olha.

Jack piscou.  Quase praguejou quando entendeu a intenção do namorado. Segurou-se a custo, afinal, era seu aniversário, uma data especial. Talvez mais especial para o desmiolado parado a sua frente, fato que não podia ignorar.

Estendeu a mão e pegou o enfeite. Colocou meio torto sobre os fios negros e lisos. Jin riu e aproximou-se para ajeitar. Então abraçou o mais baixo, estreitando-o com força:

- Né... eu amo você. Muito.

- Eu sei. - Ryuutarou ficou sem jeito. - Eu... hn... também.

Shibuya balançou a cabeça. Entrelaçou as mãos de ambos com alguma dificuldade, pois os dedos feridos ardiam, e puxou o baterista para fora de casa.  Ainda não era tarde demais e, como Jack garantira, ainda tinham tempo de tornar aquele dia especial.

 

Fim

Presente para Nii-chan. Presente bem a lá Shibuya. Parece uma coisa bizarra, mas feita com carinho e com as melhores intenções que terminou... ASSIM!   Mas ela foi um muffin muito bonzinho, por isso atualizei super rápido!  *abraça e afofa*
/capota
Enfim... vem mais dessa loucura por aí.  Ah, vem!!
Nota da beta: Dê meus parabéns a Nii também

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