sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Crying Rain 02

Notas do Autor:

Alguém ainda se lembra?

 

Eu quero expressar minhas emoções, eu quero me conectar ao amor.
Já dilacerado, estou bastante doente.
Nos meus olhos resta o desespero, nas minhas mãos resta a esperança.
Porque eu não entendo a decepção, é o único do universo.

A chuva voltou a cair. Ela nunca me acompanhou em bons momentos. Nunca foi minha amiga, realmente, somente uma companheira indesejada. Será que o tempo aqui de fora acompanha o tempo dentro de mim? Será que se eu esquecer o tempo passado, as coisas mudarão? Será que se eu esquecer o tempo passado e os pecados anteriores, eu continuarei a ser eu mesmo?


Parece que nem mesmo ela é capaz de acabar com a melancolia e me lavar totalmente. Nem mesmo ela é capaz de me perdoar pelos erros cometidos. Parece que minha decepção com o mundo cresce a cada dia e a cada lembrança que eu guardo. Não é algo bom, eu sinto sempre a impressão de que tudo irá desmoronar na primeira rajada mais forte de vento.

E eu nem mesmo serei levado para longe, dessa vez...

De alguma maneira minhas lágrimas transbordaram e cairam,
Fechei os olhos e procurei por você.
Se minhas lágrimas tiverem secado,tudo parece desaparecer.
A chuva começou a cair.

-Você amou alguém? - a voz suave e já muito bem conhecida soou como um trovão, fazendo-o levantar o rosto das folhas com partituras, encarando o vocalista.

Piscou algumas vezes, voltando a olhar para as notas feitas apressadamente, à lápis mesmo, suspirando cansado.

Haviam se passado semanas desde que havia tomado aquele banho de chuva na sacada de sua casa. E poderia rir. Desde aquela vez o vocalista tentara arrancar alguma informação de seus lábios, mas nada saía.

Quando Ryuutarou resolvia esconder algo, era para sempre.

Mas não dessa vez.

Estendeu os braços, vendo Trevas pular do sofá e ir direto para seu abraço, aninhando o animalzinho contra si, sorrindo ao vê-la lamber seus dedos.

Estavam Arata e ele trabalhando em novas letras. Shibuya em Akihabara, Teruo em seu apartamento, dormindo, e Takeo na casa dos pais. A ambos restara o trabalho, antes que o tédio os matasse.

-Já. - respondeu com uma voz baixa e rouca pela falta do uso constante, sem levantar os olhos da mascote do baixista, que agora brincava consigo. - Mas não teve um final muito feliz. Na verdade, não foi nada feliz, desde o começo.

-Oh. - o vocalista largou o lápis que tinha entre os dedos, inclinando-se mais sobre a mesinha de centro, piscando algumas vezes. - O que aconteceu... desculpe, estou sendo intrometido, nee Jackie.

-Não. - voltou a olhá-lo, somente por poucos segundos, ajeitando-se no chão e voltando seu olhar para baixo. - Eu preciso falar sobre isso, afinal.

-Eu posso escutar. Não sei se sou um bom conselheiro, mas um bom ouvinte eu sou. - sorriu para o baterista, vendo Trevas bocejar e se encolher contra o peito do moreno mais novo, rindo juntos. - Faz muito tempo?

-Eu tinha dezesseis anos. - resmungou, como se puxasse da memória algo enterrado à duras penas. - Não. Talvez um pouco menos, quando o conheci. Não lembro direito, somente da minha idade quando... bem, quando tive que me separar.

-Dezesseis? Você passou esse tempo todo sem gostar de ninguém? Nem mesmo passageiro? - franziu o cenho, fazendo as contas. - Mas ridaa... você está com o quê? Vinte e um anos?

-Vinte e dois. - respondeu de má vontade. Não gostava de contar quantos anos fazia a cada aniversário. A bem da verdade, odiava seus aniversários. Eram sempre melancólicos demais. - Seis anos. Eu fui obrigado a me separar dele. Ele era perigoso para as pessoas, mas nunca foi para mim. Nunca nem mesmo ergueu a voz para mim. Somente uma vez. Quando contei que eu estava indo internado naquele maldito lugar.

Voltou a olhar para o amigo, mas os olhos miravam a janela atrás dele, vendo o tempo chuvoso. Tokyo andava tão chuvosa ultimamente... de alguma forma aquilo era reconfortante. Mesmo que fosse verão e a estação pedisse a luz do sol, para o baterista somente as gotas salgadas batendo contra a pele era reconfortante. Suspirou, voltando à sua pequena narrativa.

-Foi ele quem me presenteou com a tatuagem. - riu baixo, fazendo Izumi rir também, mesmo que não entendesse o motivo. - E as minhas baquetas. Aquelas da sorte. Bem, isso foi antes de eu precisar ir embora e ele morrer. O tempo estava assim, chuvoso, naquela época.

-Eu... sinto muito Jackie, não queria... - parou, vendo que o líder o olhava indagativo, com a cabeça um pouco tombada para o lado. - Não queria te fazer lembrar de coisas ruins.

-Não fez. - deu de ombros, voltando a aninhar Trevas contra si, já que ela escorregava por suas pernas. Novamente o olhar muito escuro voltou-se às gotas lá fora. - Eu não estaria falando isso, se eu me sentisse desconfortável. Muitas vezes, antes, eu fechava os olhos e procurava por ele, nas minhas lembranças. Eu achava que se eu parasse de chorar por ele, tudo sumiria. Não é assim.

-Não é mesmo. - sorriu para o mais novo, voltando a pegar o lápis e batendo com o cilindro de madeira contra os papéis, produzindo um barulho abafado. - Mas e agora, Jackie? Você gosta de alguém?

E se gostasse, o vocalista pediu em pensamentos, por favor, diga que é de Jin, quem você gosta.

Ryuutarou desviou o olhar, pensativo, deixando-o pousar em uma pilha de mangás fora de ordem. Um sorriso muito sutil instalou-se em seus lábios e somente o observador mais atento poderia localizá-lo. Era dono de um rosto não muito expressivo. Os olhos eram sempre melancólicos e distantes, mas ainda assim, parecia sempre existir um pequeno ponto de esperança neles. Algo muito no fundo. Tão escondido que era muito difícil encontrá-lo.

Suspirou, largando uma cadelinha adormecida em cima do sofá e caminhando até os mangás, começando a arrumá-los por ordem de edição. Ele, que sentia vontade de expressar seus sentimentos, direcioná-los a alguém, parecia ter encontrado risos novos. Longínquos ainda, mas presentes. Fogos de artifício queimando lentamente.

"Me pergunto se meu desejo se espalhou com o vento e floresceu em outro lugar. Ou se eu mesmo o plantei."


-Sim. - respondeu, por fim, deixando os mangás de lado e voltando para suas partituras. Izumi não precisava de outra resposta, somente tendo visto o cuidado do líder, como se aqueles amontoados de celulose fossem parte de alguém muito querido. Sorriu. - Tenho que ir embora. Você guarda as partituras?

-Hai, ridaa-sama! - respondeu, dando um outro sorriso, vendo o rapaz de cabelos mais escuros que os seus se levantar e começar a guardar suas coisas. Acompanhou-o até a porta, escorando-se no batente, enquanto o baterista calçava as botas. - Nee, Ryuutarou. Quando precisar de alguém para conversar, pode chamar. Não faz bem guardar tudo.

-Eu sei. - respondeu, dando um sorriso mais largo e fazendo uma reverência, indo corredor afora até os elevadores daquele andar, virando-se para Arata, antes de entrar no mesmo. - Obrigado.

Escorou-se no espelho do cubículo de metal, passando os dedos pela franja muito comprida. Parecia que se estendesse as mãos, sua esperança estaria ali. Mas eram coisas demais envolvidas, e ele não poderia aceitá-las. Não fora feito para amar alguém, nem para ser amado. Sofrera muito antes e tudo indicava que dessa vez seria igual.

Não demorou muito a chegar no térreo, saindo do prédio e ganhando a rua, sequer se preocupando com a chuva que molhava-o completamente, fechando os olhos por alguns minutos e erguendo o rosto no ar, antes de começar a caminhar.

Longe na distância, existem alegres risos.
Fogos de Artifício, temporariamente queimando.
Me pergunto se eu fiz o meu desejo se espalhar com o vento,vai florescer em outro lugar?

Quando fecho meus olhos, é outro rosto que toma meus pensamentos, fazendo minhas lágrimas transbordarem e caírem. Eu não posso deixá-lo se aproximar ainda mais. Seria o mesmo que pedir para sofrer.

Mas... ainda que eu feche meus olhos, é sempre você quem eu procuro nas minhas lembranças. E elas são quase sempre alegres. Irônico, não?

Quem me faz sofrer está sempre presente nos meus dias mais divertidos. Se não for demais... me deixe sempre ouvir sua voz. Isso me basta. Isso é o suficiente.

E a chuva continua a cair...

Fechei os olhos e procurei por você.
Portanto, por favor, deixem-me ouvir a sua voz
Fechei os olhos e procurei por você.
A chuva começou a cair.

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