domingo, 25 de dezembro de 2011

03 – Desvirtue o amor, então pague seus pecados.

Notas inicias:
Opcional: Jigsaw - Acid Black Cherry
http://www.youtube.com/watch?v=cC6oXUFgKBo
Essa é a música que acompanha o capítulo.

 

Capítulo 3

No momento em que abriu os olhos, não reconheceu o local em que se encontrava. Da última vez estivera em um castelo ao estilo francês, cercado de coisas que mais apreciava. Tudo bem que não era exatamente um momento feliz. Jin ameaçava a todos para que o fizessem acordar, para que não o deixassem cair naquele sono que parecia ser eterno... maldito Van Helsing... malditos caçadores de vampiros.


O tão aclamado Van Helsing não passava de um cientista doido que trabalhava para uma organização qualquer ligada ao Vaticano, prontos a acabarem com todos os vampiros da Europa. O mais engraçado nisso tudo? Era que, aquele que o afundara no torpor fora a mesma pessoa que cuidara e brincara consigo quando eram pequenos, muito, muito tempo atrás.


–Você acordou... faz muito tempo, não faz? – não reagiu de imediato, desviando o olhar para a figura que agora tinha os cabelos curtos, mas o mesmo sorriso doce, aproximando-se e segurando seu rosto.


–Nos deu trabalho, Ryuu-chan. Tivemos que cuidar de você esse tempo todo, Tachi já estava ficando preocupado e jurando destruir Terushido.


"Por que, Yuura?" foi o que se perguntou. Ah, se ele soubesse que era Terushido Yuura quem havia desejado mantê-lo junto a si... como um mladito vampiro sem classe alguma podia tirar seu amigo de si? Então Ikeuchi Jin deveria pagar por tê-los separado.


Mesmo que isso significasse machucar seu melhor amigo.

Os passos ecoavam pela calçada vazia durante a noite. Eles não precisavam se preocupar se alguem os veria, naquela parte da cidade residiam apenas as pessoas que tinham a vida noturna de Tokyo. Artistas, prostitutas, drogados... não havia lugar melhor no mundo para duas criaturas da noite se encontrarem do que aquele.

–Faz tempo não nos vemos, Ryuutarou... parece que não mudou muito desde a última vez que nos encontramos. - correu os dedos pelos fios de cabelo negros, que pareciam reluzir à minima luz, e agora já não eram mais tão longos quanto se lembrava. Sorriu de canto, uma jóia negra adornando seu lábio inferior.

O rapaz mais alto era, definitivamente, muito bonito. De pele pálida acentuada pelas roupas escuras e formais, que não faziam muita questão de esconder como o corpo era bem definido e torneado. Os dedos eram longos e o rosto tinha uma série de traços gentis e atraentes. Tudo isso era pontuado pelo olhos negros, que faziam perscurtar todos os cantos do local, até pararem no rosto pálido do menor. Aproximando-se, deixou um leve beijo nos lábios vermelhos, se afastando com um sorriso sacana na face

–Senti sua falta, chibi. - e riu quando um soco o acertou no braço, sem causar incômodo.

–Eu percebi isso, quando você fez questão de acertar aquela porcaria de estaca no meu coração. O que diabos havia naquilo? E o que iria aprontar depois? Tacar fogo em mim? - Ryuutarou resmungou, sentando-se ao lado do maior e roubando o cigarro que estivera entre os dedos definidos.

–Claro que não. Eu só queria brincar com o seu namoradinho. Foi divertido, na verdade.

–Ah, claro. Tão divertido quanto se aliar àqueles que queriam a todos nós mortos... foi divertido me trair? Foi divertido ver meu sofrimento porque meu melhor amigo resolvera virar as costas para mim? - a voz de Ryuutarou ficara ainda mais baixa, arrancando um sorriso maior de Terushido. - Foi divertido ver a todos desesperados? Nós confiamos em você!

–Correção: você confiou em mim. Eles nunca fizeram isso. Eles simplesmente me aceitaram porque era importante para você. Principalmente o seu namorado. Aliás, eu soube que ele ficou mais bitolado do que já era e começou a viver como um mortal durante todos esses anos... não é horrível? Provavelmente Ikeuchi jamais teve uma vida completa esse tempo todo, sendo condicionado a se adaptar, morrendo e renascendo sempre tão jovem...

Ryuutarou engoliu em seco. Já haviam lhe contado sobre isso, antes. Quando despertara. A crueldade do ato que Jin se obrigara a seguir trazia aquela sensação de impotência, pior do que quando Terushido lhe fizera adormecer. Abaixou a cabeça. Se pudesse chorar o faria. Mas era uma criatura sem sentimentos.

–Ele já não me reconhece e não lembra de nada do passado. Eu não sou mais ninguém para ele. - mordeu os lábios, sentindo o coração atrofiado afundar-se no peito. - Ele não me ama mais... você conseguiu.

Teruo suspirou. Ah, aquele pequeno dramático. O puxou para si pelo braço, fazendo-o afundar o rosto em seu peito coberto pela camisa de seda negra.

–Se eu ainda estivesse ligado ao Vaticano e se Helsing não tivesse morrido no mesmo dia em que você adormeceu, pelas mãos do seu amorzinho, quem sabe eu me importasse em ir atrás dele e matá-lo. Eu consegui o que queria, chibi... ele já sofreu o bastante, e você também. Agora vamos deixar para lá e seguir em frente. Uma eternidade é tempo demais para carregar mágoas, não é? - sorriu, erguendo o rosto pálido e vendo-o olhar para si em incredulidade.

–Sentimentos não morrem, Ryuutarou. Eles podem estar adormecidos no meio de seu ser, mas eles não morrem. Ikeuchi ainda mataria o mundo inteiro para viver e morrer com você. Por que acha que ele vem tendo essa existência de merda? Para ele não valeria a pena existir sem ter você com ele. - murmurou, vendo-o sorrir.

–Eu ainda vou retribuir a você o favor de ter uma estaca no meio do peito, ero-jiji. E te fazer agonizar por ver quem você mais ama sofrer. - sorriu, puxando o mais velho para um beijo demorado e sem pudor algum, entrelaçando os dedos nos fios negros do mais velho, Quando se separaram tinham sorrisos maliciosos nos lábios, se afastando enquanto o menor andava, acenando. - Não me faça ir atrás de você novamente.

–Não farei, chibi... pode deixar, quando menos esperar eu vou estar ao seu lado. - Terushido sorriu, vendo-o desaparecer nas sombras, um sorriso sacana adornando os lábios bonitos. - E você não sabe o quanto sofri esse tempo todo...

O castelo afastado do centro de Paris havia sido invadido por aqueles malditos oficiais, que fizeram questão de acabar com as obras e porcelanas cuidadas desde os mais remotos tempos. Como pagamento seus corpos encontravam-se largados por todos os corredores, manchando de vermelho as tapeçarias e o chão de mármore.


Estavam apenas os dois naquele quarto. Van Helsing, o garoto prodígio, com suas invenções fantasiosas para o século em que viviam, estava junto aos derrotados, encontrava-se amarrado ao lado dos prisoneiros na sala do piano.


–Então somos apenas nós dois. Onde está aquele ruivo irritante e o dragão ridículo dele? – o escárnio escorria pelo canto dos lábios de Yuura, se aproximando e segurando o pescoço do menor, que apenas se contorcia tentando soltar-se.


–Dessa vez você está sozinho, Ryuutarou. Ninguém vai te salvar.


–Por que está fazendo isso? - perguntou em uma voz estrangulada, tentando soltar-se. Queria desesperadamente socar o rosto do maior, mas antes disso tinha que fazer seus braços saírem da dormência que se encontravam.


Yuura o encarava sem deixar que seus traços mudassem para qualquer coisa próxima ao desespero que sentia. Não lhe agradava estar fazendo isso com o menor, mas ainda conseguia lembrar-se da forma como Ikeuchi Jin havia feito seu mestre sofrer. Como havia o torturado até que se desfizesse, com o fogo.


Ainda podia lembrar-se dos gritos e do desespero que encontrara no olhar do mais velho, mas não podia fazer nada. Era apenas uma criança. Não no sentido literal, havia sido criado recentemente, na época, e ele não o deixara arriscar-se por si.


Voltou a encarar o amigo. Lembrava-se de quando eram crianças e de Ryuutarou correndo desajeitado atrás dele, com perninhas curtas, agarrando-se ao seu kimono. Podia lembrar-se de Ryuutarou o questionando dos motivos que o fizeram se trancar em seu quarto todos os dias e o encontrá-lo apenas ao cair do crepúsculo e da forma como se dissera apaixonado pelo senhor do castelo.


Suspirou, sentindo o pulmão, atrofiado pelos séculos em desuso, arder. Era doloroso demais estar fazendo aquilo. Ryuutarou não sabia que seu amante havia matado sua pessoa especial. Ryuutarou não precisava pagar pelos pecados de Ikeuchi.


Mas Terushido Yuura era egoísta. E com um ‘perdão’ murmurado do fundo do coração ergueu a estaca embebida em veneno. Provisório, mas o deixaria em torpor durante algum tempo.


O corpo em seus braços contorceu-se e os olhos de Ryuu arregalaram-se em descrença, antes de se fecharem lentamente.


–Perdão, chibi. Perdão, mas alguém precisava pagar pelos pecados.

Continua…

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