sábado, 20 de março de 2010

Capítulo 1 - A proposta

A reunião estava demorando mais do que o previsto.  Jack não voltara ainda, mesmo tendo se passado mais de duas horas.

Os outros integrantes da P”Saiko tinham uma leve desconfiança daquela reunião marcada há semanas atrás... mas queriam ter confirmação, antes de qualquer outro rumor circular.


Teruo estava sentado no sofá folheando a última XY Music, com um ensaio fotográfico especial com os cinco.  Arata e Takeo conversavam baixinho no outro lado da sala.  Jin sentara-se na bateria de Jack e fingia tocar com as baquetas, simulando os sons com os lábios.

No fundo todos estavam ansiosos.

O sucesso viera a duras penas, com muito esforço e dedicação de todos.  Houve brigas e discussões o suficiente para trazer lágrimas e ameaças de separação.  Mas ali estavam eles, mais unidos do que nunca, em vias de receber uma notícia bombástica.

Finalmente a porta se abriu e o líder da banda entrou no estúdio.  Trazia algumas pastas na mão.  A expressão sempre séria não revelava nenhum indicio do resultado da reunião.

– Ikeuchi, fora. – Jack disse como cumprimento.

Shibuya fez uma careta e saiu da bateria.  Sabia que o namorado tinha um ciúme quase doentio daquilo.

– E então, Jack? – Takeo não resistiu.

– O que eles queriam? – Arata ajudou a interrogar.

– Acertar o “d black in tears”. – revelou se referido ao novo DVD que reuniria partes da turnê nacional.

A decepção foi geral:

– Só isso? – Jin choramingou.

– Não acredito. – Takeo emburrou.  Não era nada do esperado.  Pra que uma reunião tão formal sobre o DVD que estava quase finalizado?

– Estou brincando. – Jack soou quase sádico.

– Ee?! – os outros quatro exclamaram juntos.  Até Teruo foi pego de surpresa.  Jack nunca fazia piadas.

– Recebemos convite para gravar um filme.

– EU SABIA!! – o guitarrista ruivo exclamou, abraçando seu namorado.

Teruo soltou a revista e sorriu de lado:

– Ora... um filme mesmo.

Era exatamente disso que estavam desconfiados.  Não poucos rumores circulavam pelos corredores que um certo pessoal graúdo estava de olho neles e em seu crescente sucesso entre os fãs de música japonesa.

– Detalhes, Ryuu! – Arata pediu com os olhos brilhando.

– Que emocionante! – Jin esfregava as mãos de contentamento.

Jack respirou fundo diante da empolgação geral.  Até o sorriso sarcástico de Teruo parecia menos provocativo e mais animado, pura e simplesmente.  Chamou os companheiros de banda de volta para a realidade:

– Querem que comecemos a gravar depois que finalizarmos o “d black in tears”, ou seja, em dois meses.  Nos deram cópias dos contratos para lermos com calma.

– Porque sinto um “mas” vindo aí? – o guitarrista solo era muito perspicaz.  Tirou um cigarro do maço e ofereceu para Jack, que aceitou.

– Sim.  Tem um mas. – o líder continuou após um trago profundo – Querem que gravemos um Boys Love...

Aquela nova revelação veio seguida de um breve silêncio.

Takeo, como sempre, não se agüentou:

– Qual o problema? – franziu as sobrancelhas – A gente já faz muito fanservice.  Nem todos tão inocentes assim.  Nossos fãs adoram...

– Isso não vai prejudicar a nossa imagem. – Arata concordou.

– Quem vai dirigir? – Jin perguntou.

Jack abriu uma das pastas e procurou um nome:

– Otomo Sanji.

– Ah... Otomo sama. – o baixista balançou a cabeça – Ele dirigiu “Mil noites e um Luar”, “Gravidade Absoluta” e “You You”. – citou doramas de certo reconhecimento.

– E o roteiro? – Teruo assoprou a fumaça para cima ao fazer a pergunta.

– Ainda não foi terminado. – Jack respondeu. – Estão escrevendo pra combinar com a gente, por isso esperam nossa resposta.

– Mas quem é o roteirista? – foi Shibuya quem perguntou.

– Win Lee.  Um chinês.

Jin pensou um pouco, mas não se recordou de nenhum trabalho que conhecesse daquele cara.  Provavelmente por ser estrangeiro.

– Peguem isso. – o baterista e líder da banda distribuiu as pastas.  Havia uma pra cada um. – Levem pra casa e leiam com calma.  São cópias do contrato.  Só vamos aceitar se a maioria concordar.  Aí consta os valores do cachê.  E querem que ajudemos a compor a trilha sonora.

Os quatro assentiram em silêncio.

No dia seguinte, ao se reunir, todos os integrantes da P”Saiko haviam lido os termos e as regras.  E os cinco concordaram em gravar o filme.

oOo

Os dias pareciam voar.  Por mais que a criação do DVD estivesse em reta final, sempre havia detalhes a se pensar.  Cenas e quadros a mudar.  Queriam adicionar um pouco do backstage, e isso exigia ainda mais dedicação.

Os fãs da P”Saiko aguardavam, aquele lançamento com expectativa elevada.  Era a primeira vez que teriam um extra dos lives.  Sonhavam dia e noite com o que viria de presente.

A prova de tal expectativa era o fato do DVD estar esgotado ainda em pré-lançamento.  Apesar disso Jack não queria que fizessem mais cópias.  Preferia que a primeira edição fosse considerada especial para colecionadores.  Em alguns meses podiam lançar uma reedição.  Isso elevaria as vendas.

Era pura jogada de marketing, mas apesar de amar a música, precisavam sobreviver.  O Japão, assim como o mundo, passava por uma crise econômica grave.  Não arriscaria sua banda gravando DVDs em excesso que ficariam juntando pó nas prateleiras.

No dia do lançamento foram para o pátio da gravadora, onde distribuiriam autógrafos nas cópias vendidas.

Quando chegaram a fila já era quilométrica.  Apesar de ser proibido, os fãs haviam passado a noite guardando lugar, apenas para conseguir aqueles autógrafos.

Foi um dia longo e cansativo.  Cada um dos cinco assinava um DVD e agradecia aos fãs faz pelo apoio, sempre cercados de rigorosa segurança e proteção.  Não houve nenhum incidente.

No dia seguinte, ao chegar no estúdio e receber os devidos cumprimentos pelo sucesso, receberam também cinco pastas negras recheadas de folhas.  Era o roteiro do filme que começariam a gravar logo em seguida.

Concentrados sentaram-se pela sala, pra ler o texto.

O primeiro que terminou de ler foi Jin.  O baixista fez a leitura rápida e levantou a cabeça.  Os lábios estavam entreabertos pela surpresa.  Trocou um olhar com Arata, quando o vocalista terminou, e ambos fixaram os olhos em Jack, que ainda lia.

Teruo respirou fundo.  Nem mesmo o frio guitarrista conseguiu esconder a surpresa pelo que lera.  Ele piscou e olhou de canto para o líder da P”Saiko.

Foi Takeo que pos em palavras o que todos sentiam.  Ele largou o roteiro no colo e começou a rir, mais num reflexo nervoso do que por ter achado graça:

– Esse texto é um lixo!

O líder trincou os dentes com força.  Com tanta força que partiu o cigarro em seus lábios.  Lixo?  Era pouco para descrever.  Nunca, em toda sua vida, Jack lera um texto tão ruim antes.

Mas o pior de tudo eram os pares românticos.  Uma combinação tão bizarra, que ele não sabia se ria, se chorava ou se levantava e ia atrás do roteirista para socá-lo por criar aquela obra praticamente trash...

 

Continua...

Notas finais: Mais uma loucura que saiu das nossas trocas de e-mail!

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