sábado, 20 de março de 2010

Parte 2

TRAP!
Kaline Bogard

– O que estão fazendo aqui...? – foi tudo o que o guitarrista ruivo conseguiu perguntar.  Arrepiou-se: aquilo soara estranho até para os próprios ouvidos.

- - - - - - - - -

– Nós trabalhamos aqui. – Arata respondeu.

– Claro. – sorriu amarelo – Isso não é o que parece.

– E quem disse que é da nossa conta, Shiroyama? – a resposta de Jack veio seca demais pra alguém que se diz indiferente.


Imediatamente Takeo soltou o baixista, tentando agir normalmente, apesar da situação inusitada.  Cruzou as mãos atrás da cabeça:

– Nós estávamos preparando uma surpresa pra vocês. – mentiu.

– Conseguiu. – Arata soou meio ácido – Um segundo depois e estariam se beijando.

– Era só fanservice, primo. – Jin explicou. – O Tachi ia me dar umas dicas.

– Exatamente. – o guitarrista ruivo agarrou-se ao argumento – Eu não ia dar em cima do Shibuya.  Tava só curtindo com a cara dele.

– Estava...?! – o baixista fez uma careta.

– Takeo, não tente consertar.  Vamos falar lá fora. – o vocalista sacudiu o cabelo, agitando a mexa ruiva.  Sinal de que estava nervoso.  Não esperou resposta e passou pela porta ainda aberta.

O guitarrista resmungou alguma coisa e seguiu o amante.  Ia passar ao lado de Jack, quando o líder da banda chamou:

– Shiroyama?

– Nani...? – ficou arrepiado pelo tom de voz.

– Você vai sentar com Gensuke para trabalhar nas roupas do próximo live.

– NÃO! – Takeo praticamente berrou.  Gensuke era o nanico magrelo encarregado do guarda-roupas da banda.  O homem era neurótico, surtado, louco obcecado!  Ele enlouquecia todo mundo enquanto não tinha a “inspiração divina” e desenhava as mais belas peças.  Mas era um processo longo e tortuoso de semanas... – TUDO MENOS ISSO!  Eu peço desculpas de joelho!  Mas o Gensuke não!

– É você ou o Izumi. – Jack ameaçou impiedoso.  Aproveitava para se livrar da tarefa.  Ainda se lembrava da última vez, quando até mesmo o frio Teruo perdera a compostura e ameaçara jogar o designer pela janela do vigésimo quinto andar.

– Nã... não.  O Arata não.  Eu vou...

– A partir de amanhã.  Todos os dias às 7h.  Atrase um dia, e você será escalado para o live de natal também. – arreganhou os dentes exibindo algo nada semelhante a um sorriso.

O ruivo arrepiou-se diante da perspectiva de acordar cedo todos os dias, sabe-se lá Kami sama por quanto tempo, pra trabalhar com Gensuke.  No entanto conformou-se.  Merecia isso por sua brincadeira.  Ma aquilo ia ter troco...

Deu um olhar feio pro líder e saiu atrás do amante que estava no corredor, escutando o castigo do guitarrista ruivo:

– Arata... gomen, eu tava entediado e com ciúmes...

– Com ciúmes?! – o vocalista voltou-se surpreso – De mim?!  Por que?!

– Porque você foi fazer a seção de fotos com o Teruo.

– Seção de fotos?   Que seção de fotos, Takeo?

O ruivo perdeu um pouco da eloqüência:

– Pro lançamento da Renault... o Jin disse que eles pediram mais um modelo e... – calou-se.

– Você bebeu?  Eu não fui fazer seção de fotos nenhuma.  Alias, nem o Teruo.

– Mas... mas... o Shibuya disse.  O que aconteceu...?

Virando os olhos numa forma de mostrar indiferença, Hayato resolveu explicar direitinho o que na realidade tinha acontecido..

Flashback

Arata e Shibuya estavam no estúdio repassando algumas canções.  O baixista tirava umas notas e o moreninho cantarolava as letras novas.  Estavam finalizando o novo single.  A expectativa para o lançamento era enorme por parte dos fãs.

Interromperam o aquecimento com a chegada do líder da banda.  Jack, sério como sempre, anunciou:

– Teruo ligou avisando o cancelamento das fotos, querem mais um modelo, talvez um guitarrista de outra banda.

– Menos mal.  Ele parecia sem inspiração hoje. – Hayato lembrou-se da falta de animo do guitarrista moreno.

– Mandaram o novo contrato via fax.  Você pode pegar lá em cima, Izumi?  Vou ver as mostras da capa do single que chegaram.

– Oba vou ver com você!  Vem também, Shibu-chan?

– Hein? – o baixista estivera anotando umas palavras que vieram a sua mente.  Seriam um ótimo refrão para a música que estava compondo – Vou ficar aqui.

– Se o Takeo aparecer você avisa onde eu fui?

– Claro!

Arata e Jack saíram da sala, enquanto o mais velho riscava uma correção no caderno.  Então franziu as sobrancelhas.  O que tinha sido dito mesmo?  Algo a ver com as fotos do Teruo, mais um modelo, o single e um contrato.  Deu de ombros.  Algo naquele sentido...

Fim do Flashback

– Você não foi tirar fotos? – Takeo deu um tapa na testa.  Bem feito por levar Shibuya a sério.

– Não, não fui.  Fiz apenas um favor para o Teruo.

– Gomen... me deixei levar pelo ciúmes, e você é inocente.  Sinto muito de verdade.

– Ai, Takeo.  O que eu faço com as suas presepadas?

– Perdoa...? – sorriu cheio de esperanças.

O vocalista retribuiu o sorriso.  Perdoar.  Sempre.  Por mais que Takeo fosse ciumento, amava-o demais e o aceitava daquele jeito mesmo.

– Perdôo.  – deixou que o namorado o abraçasse – O Jack já te deu um castigo bem merecido.  Você e Gensuke san. – riu, enquanto Takeo gemeu de pura tristeza e desolação só de pensar no que enfrentaria.  Mas Jack que se preparasse, aquilo ia ter volta!

oOo

Na sala Shibuya e Jack continuaram se fitando por alguns instantes, até que o baixista se pronunciasse:

– Jack...

– Não me deve satisfações, Ikeuchi.

– Mas...

– Tenho muito o que fazer, não enche o saco. – cortou irritado, saindo de perto do baixista.  Notou muito levemente Takeo e Arata abraçados no meio do corredor.  Ignorou os dois.

Doía.  Doía muito na verdade, aqueles sentimentos que nutria pelo companheiro de banda.  A paixão que não conseguia arrancar do peito, pelo contrário, que crescia a cada dia.

Mas Jack não queria se envolver com Shibuya, porque Jin não conhecia seu passado, ignorava seus pecados e seus crimes.  E o líder da banda não se achava no direito de trazê-lo para seu mundo, contaminá-lo...

Tinha que ser forte, ignorar a dor e cortar os olhares que o mais velho lhe dirigia, antes que se deixassem levar e se envolvessem.  E, nesse caso, as conseqüências seriam muito maiores.  Aquela era a escolha de Jack.

 

Fim

Final estranho.  Eu sei...

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