sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Capítulo 4 - Tsurus

Akemashite omedetou gozaimasu!

Alguém havia esquecido o dedo na campainha, fazendo aquele barulho irritante aumentar sua dor de cabeça. Havia bebido bastante na noite passada, queria esquecer seu nome se fosse possível, pois odiava o Ano Novo. O que tinha de tão interessante na data para que as pessoas ficassem tão eufóricas?


Nada!

Abriu uma fresta na porta, fazendo uma careta ao reconhecer o rapaz de cabelos ruivos parado a sua frente. Respirou profundamente e contou até dez antes de abrir a porta.
Se soubesse o que vinha pela frente, teria contado até cem.

_ O que você quer Shiroyama? – não queria e não precisava ser educado. Queria dormir mais um pouco e só acordar daqui três dias, quando toda bagunça tivesse acabado e sua vida poderia voltar ao normal.

_ Vamos fazer tsurus! – anunciou animado, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

_ Aham... – encarou-o com um sorriso no mínimo sarcástico – E por que você acha que eu vou fazer dobraduras com você?

_ Não é só comigo! Nós dois vamos pro apartamento do Shibuya. Ele e Hayato também vão ajudar. – entrou sem ser convidado, caminhando pela sala e se jogando num dos sofás – Vai se arrumar Jackie! Não temos muito tempo, ainda quero visitar o templo de novo!

_ Como assim de novo? – não estava animado a sair de casa. Quanto mais enrolasse Shiroyama, mais chances teria de ficar ali quietinho.

_ Fui lá de manhã com o Hayato pra ver o sol nascer!

_ Está de pé desde que horas? – se antes havia dúvidas que o ruivo era louco, agora tinha certeza. Alguns parafusos ali estavam faltando.

_ Desde cinco da manhã! – mostrou a mão aberta, pra que ele contasse os dedos – Vai arrumar logo, Jackie! Ou não quer passar o Ano Novo com a gente? – perguntou com um sorriso sacana nos lábios – Vai deixar o Ikeuchi ficar o dia todo sozinho, comigo por perto?
Ele estava ameaçando fazer alguma coisa contra o namorado alheio?

_ Sabe que o Arata não consegue me vigiar o tempo todo, não sabe? – aumentou o sorriso ao perceber que tinha a atenção do líder toda para si – Podem acontecer alguns imprevistos...

_ Já volto. – anunciou sério, numa voz baixa, caminhando em direção ao quarto.

_ Leva um yukata! – levantou-se do sofá, indo atrás do moreno.

_ Não precisa vir atrás de mim! Eu sei me vestir sozinho! – mal tinha começado o dia e já estava perdendo a paciência. Não queria nem imaginar passar o resto do dia ao lado do ruivo.

_ Eu posso te ajudar a escolher a roupa! Algo bem colorido e feliz! – pendurou nos ombros do menor, andando ao seu lado – O meu é verde escuro e...

_ Não quero saber Shiroyama! – empurrou-o para longe – Fique aqui fora que eu vou me trocar.

_ Ok, mas se precisar de ajuda é só chamar! – sorriu malicioso.

O moreninho fuzilou-o com o olhar. Sua vontade era pendurar no pescoço do ruivo e espancá-lo. Como uma pessoa só podia ser tão irritante?! O que ele havia feito de tão errado pra ter que conviver diariamente com aquele cara? Só podia ser castigo!

Respirou fundo novamente, entrando no quarto e batendo a porta. Se ficasse ali o encarando, com certeza ia matá-lo. O que não era uma má idéia.

Sorriu de canto, balançando a cabeça pra espantar o pensamento assassino. Pegou uma calça jeans qualquer e uma camiseta preta. Calçou os tênis de estimação e mesmo a contragosto, jogou seu yukata dentro da mochila. Caso não levasse aquilo, acreditava piamente que o ruivo arrumaria um emprestado, e pra piorar poderia ser um dos yukatas de Ikeuchi.

Fez uma careta imaginando o tipo de roupa que o namorado usaria. Não que lhe desagradasse totalmente, mas não gostava de chamar tanta atenção.

* * *

De quem fora a idéia de pegar carona com aquele guitarrista insano?!

Takeo o convencera a irem na moto dele, pois do apartamento de Shibuya pegariam o metrô, já devidamente vestidos, o que impediria de dirigirem. E na maior boa vontade, dissera que o levaria e o traria depois.

Péssima idéia!

_ Dirige com as duas mãos! – já perdera a conta de quantas vezes pedira aquilo. Também perdera a conta de quantas vezes o pedira pra ir devagar.

_ Eu sei dirigir, Jack! – virou um pouco o rosto, para que ouvisse o que falava.

_ Olha pra frente, seu suicida! – se pudesse fecharia os olhos, mas não confiava no outro para dirigir. Segurou-se com força na moto, rezando como nunca fizera antes, querendo chegar vivo ao apartamento dos primos.

_ Aff... medroso! – rolou os olhos, concentrando-se no trânsito. Seria mais fácil causar um acidente com o líder gritando daquele jeito – Pronto, estamos chegando. Ninguém morreu, satisfeito?

_ Eu vou voltar de ônibus. – bufou, reclamando baixinho.

* * *

_ Está em algum lugar por aqui. – Shibuya, com a ajuda de Arata, revirava uma pilha de revistas, procurando alguma que ensinasse a fazer as tais dobraduras.

_ Por que você não contou que não sabia, koi? – ergueu-se, bocejando cansando e sentando ao lado do namorado, que fora proibido pelo dono do apartamento de mexer novamente em qualquer coisa que lhe pertencesse.

_ Eu perguntei se você sabia! – cutucou sua bochecha, vendo-o deitar a cabeça em seu ombro e fechar os olhos – Você falou que fazia barquinhos, achei que soubesse. – riu baixinho.

_ Grande Shiroyama... – Jack bufou raivoso, jogado em outro sofá – Agora posso ir embora? Isso aqui não vai virar nada mesmo!

_ Mas Jackie... eu quero fazer tsurus também! – dessa vez a chantagem veio do próprio namorado, que influenciado pelo ruivo, queria passar o dia com o mais novo – Sabia que se fizer cem tsurus, qualquer desejo seu se realiza?

_ ... – encarou o olhar pedinte e depois olhou para o casal sentado ao lado, todos esperando uma resposta, e ainda tinha essa de realizar desejos – Tudo bem... – respirou fundo e lentamente, sentando no chão e abrindo um dos pacotes contendo os papéis coloridos.

Não custava acreditar nessas baboseiras... E quem sabe algum dia não conhecesse o grande Sakurai-sama?

_ Você sabe fazer? – Shibuya aproximou-se, sentando praticamente colado ao líder, vendo-o começar a dobradura.

_ Sei. – respondeu concentrado, terminando o primeiro rapidamente, sendo alvo de três pares de olhinhos brilhantes – Só vou ensinar uma vez.

_ Isso riida! – Takeo puxou o namorado para o chão, quase o derrubando, sentando do outro lado do líder, pegando também um dos pacotes e seguindo os passos que o menor fizera, sendo imitado por Shibuya e Arata.

* * *

_ Vamos parar um pouco. Eu estou com fome. – choramingou o baixista, terminando mais uma dobradura.

_ Devíamos comprar mais papel também. – Takeo olhou para o montinho de bolas de papel amassadas.

Algumas por erro na hora de montar e outras montadas especialmente para serem jogadas em alguém. O que causou alguns gritos do líder, guerra de papel entre as crianças da banda e inocentes sendo acertados e tendo que se defender.

_ Já fizemos o bastante. – o líder anunciou sério, levantando e se espreguiçando. Se o obrigassem a dobrar mais um origami que fosse, colocaria fogos nos outros – Coloque-o na cama. – apontou para Hayato, que dormia escorado no ombro do ruivo, com uma dobradura inacabada em mãos.

_ Onw... tão bonitinho! – levou a mão até a bochecha do namorado, pronto para apertar e cutucar.

_ Tachii... – Shibuya segurou sua mão, olhando-o pedinte. Estava com pena do primo que fora tirado logo cedo da cama.

_ O que eu ganho em troca? – sorriu travesso. Não podia perder uma oportunidade dessas.

_ Mais tempo de vida. – Jack intrometeu-se, sorrindo de canto.

_ Ótimo argumento! – fez sinal de vitória para o líder, pegando o moreninho no colo e levando-o para o quarto.

* * *

_ Amarra pra mim? – Hayato passou a faixa pela cintura, aproximando-se do ruivo.

_ Você fica bem de vermelho. – depositou um beijo em sua face, dando um nó no yukata.

_ Arigatou. – sorriu fofo, puxando o maior pela mão até a sala, esperando o casal J&J.

Izumi vestia um yukata vermelho, com decoração dourada na gola e nas mangas e desenhos de tsurus e folhas de bambu no comprimento da veste. O de Shiroyama era verde escuro, com kanjis brancos bordados nas mangas e na barra.

Sentaram abraçados no mesmo sofá, esperando pelo outro casal, que estava demorando muito tempo para se arrumarem.

_ Por que sempre que eles demoram me vem à cabeça que estão fazendo coisas indevidas para o horário? – riu baixinho, deitando a cabeça no ombro do menor.

_ Koi... não me faz imaginar uma cena dessas, onegai! – mesmo que o primo estivesse namorando há um bom tempo, ainda não conseguia imaginá-lo fazendo algo com Jack.

_ Posso chamá-los? – sorriu de canto, decidindo de gritava ou se invadia o quarto pra pegá-los em alguma situação constrangedora.

_ Melhor esperar. Eles podem estar se vestindo ainda. – ou estar sem nada, completou em pensamento.

Minutos depois os dois saíram prontamente vestidos. Asamura vestindo um yukata preto com estampas de momijis em vermelho e a cinta também vermelha, mas com detalhes dourados.

Ikeuchi surpreendeu ao aparecer com um yukata azul escuro, com desenhos de sakura em branco e cinza, sem estampas de animes, cores excêntricas ou qualquer coisa que denunciasse o otaku. Exceto a mochila cheia de buttons e chaveiros que levava consigo.

* * *

Caminharam por todo o templo, olhando as crianças correrem e brincarem, enquanto os mais velhos faziam suas orações e pedidos para o próximo ano.

Sentaram debaixo das sakuras, conversando amenidades e rindo como não faziam normalmente. Eram raros os momentos de calmaria na banda, onde pudessem agir como os amigos que eram.

Mas era evidente que as brincadeiras não poderiam ser deixadas de lado. Separaram-se para comprarem os lanches, quando Shiroyama aproximou-se do líder, como quem não quer nada.

_ Jack, quantos anos você diria que eu e o Shibuya temos? – fez uma pausa, olhando-o sorridente – Mentalmente falando, é claro.

_ Três, no máximo. – ergueu uma sobrancelha, duvidoso, vendo-o se afastar, correndo e gritando.

_ Jin, nós temos três! – balançou os braços no ar, esperando que o mais velho se aproximasse.

_ Três? – sorriu abertamente, ambos se virando e correndo na direção do líder – Otoshidama! – aproximaram-se, estendendo as mãos, esperando o dinheiro equivalente à idade.

_ Vocês estão curtindo comigo... – esfregou o rosto, buscando calma. Olhou de soslaio para o vocalista, que ria sem parar da sua desgraça – Por que não pedem pro Izumi? – fuzilou-o com o olhar.

_ Assim que você pagar sua parte! – o ruivo sorriu, puxando a barra do quimono do menor, estendendo a mão – Otoshidama riida!!!

_ Eu tenho cara de mãe?! – afastou-se, indo para o outro lado do templo. Se ficasse ali, não se culparia por seus atos.

_ Claro que não, Jackie! – gritou Shibuya, andando atrás do namorado – Arata é a mãe! Você o pai!

_ Eu o que?! – parou, virando-se e encarando-o – Vou te mostrar quem é o pai aqui! – correu atrás do mais velho, pronto para estapeá-lo.

* * *

_ Vamos para o outro templo, vão começar a estourar os fogos! – anunciou o ruivo, aproximando-se do trio – De lá podemos ver melhor e não tem muita gente.

Todos acenaram concordando, subindo juntos, os casais de mãos dadas, sorrindo cúmplices.

_ Akemashite omedetou gozaimasu! – Shibuya gritou ao chegarem ao alto da escadaria, sendo imitado pelos outros.

_ Feliz Ano Novo, koi! – Takeo abraçou Hayato, desejando um bom ano novo à moda ocidental.

_ Feliz Ano Novo Jackie! – Shibuya também se jogou sobre o namorado, apertando-o como se fosse um ursinho, sendo correspondido.

O ano prometia bons momentos, muita alegria e trabalho duro. Mas se estivessem juntos, conseguiriam passar por cima de tudo.

 

FIM o/

Feliz Ano Novo! (de novo e atrasado U)
E olhem pelo lado bom: ninguém morreu, não foi tenso e todo mundo ficou feliz no final!
*apanha*

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