segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Único

Underneath it All


Because I want you... too.

–Você gosta de mim, Jack! Eu sei que gosta. - e as palavras daquele otaku não conseguiam sair de sua mente. Aquilo era tão absurdo... ele lutara tanto para que sua máscara fosse perfeita, para que ela jamais quebrasse, mas a máscara estava rachada. Trincara no momento que erguera a mão para Shiroyama, rachara quando recusara os sentimentos do baixista. E agora estava à mostra. Minimamente, era certo, mas ainda assim, à mostra.


Virou-se no futon, os lencóis muito brancos enrolados aos seus pés, consequência do calor absurdo que fazia do lado de fora do apartamento decorado no estilo clássico do país. Estendeu o braço, segurando o celular, um aparelho preto, pequeno e discreto, mas com um de seus maiores tesouros. Sorriu ao abrir o flip e ver a foto que servia de plano de fundo para o mesmo: ele e Ikeuchi, abraçados. O baixista com um sorriso animado, os dedos em sinal de vitória, enquanto ele mesmo, com o rosto à mostra completamente, óculos de aros grossos, segurava-se para não rir tão abertamente, terminando com um sorriso discreto. Lembrava-se daquele dia e de como fora difícil segurar um arrepio quando o mais velho o abraçara para tirar a dita foto. E quando o moreno quisera passá-la para seu celular, reclamara, revirara os olhos, mas internamente sorria.

Amaldiçoando a si mesmo por isso.

Ele não deveria amar, principalmente alguém tão diferente de si como Jin, mas quando percebera, tarde demais para poder se previnir, já estava com os olhares e pensamentos completamente voltados ao baixista.

Riu melancólicamente, colocando o braço sobre os olhos, os cabelos longos espalhados pelo travesseiro e o celular ainda aberto na outra mão. Caso se aproximasse ele sofreria. Jin sofreria. Acabaria por machucá-lo, como sempre acontecia. Não nascera para amar, somente para viver sozinho. Amar machucava mais do que um tiro. Virou-se novamente no futon, resmungando baixo, largando o aparelho ao seu lado. Enquanto respirasse, enquanto vivesse, afastaria Ikeuchi. O machucaria e o mandaria para longe de si, evitando maiores danos, no final.

Enquanto isso, continuara usando aquela coroa de merda, sentado em seu trono de mentiras. Não o deixaria partilhar de seu reino de sujeira e depreciação. Jamais permitiria que ele se envolvesse com sua sujeira, sua doença e seus ciúmes. Ainda que doesse, ainda que fosse masoquismo... o mais velho importava demais para deixá-lo se envolver com tudo isso.

Levantou-se, caminhando até a calça que usara naquela manhã, revirando os bolsos da mesma e retirando o envelope decorado com figuras de animes. Enquanto uma parte sua dizia para esquecer aquilo, talvez a consciência, outra, muito provavelmente o coração, dizia para guardar aquela carta com carinho.

E o faria. Mas, por hora, bastava somente abraçar o papel dentro de um envelope contra o peito, lamentando por sua vida, pelos sentimentos de Ikeuchi, pelos próprios sentimentos.

Maybe love shouldn't be enough, anyway.

Abriu a porta do estúdio, com a mochila nas costas, os cabelos presos no alto e óculos que conseguiam cobrir metade de seu rosto, retirando os fones do iPod e largando o pequeno aparelho roxo sobre a mesa, sentando-se diante da mesma e apoiando o rosto em uma das mãos, desolado. Sequer havia conseguido dormir, encarando o envelope que havia sido entregue no dia anterior.

Passara a madrugada em claro, compondo algo que parecia até mesmo uma declaração de amor, para acabar jogando todos os papéis no lixo do banheiro, afastando da cabeça as idéias. Era arriscado, ele não poderia mostrar aquilo para os demais. Seria como deixar seu coração em aberto e permitir que Jin se aproximasse ainda mais. E era tudo que ele não precisava, certo? Certo.

De tão concentrado nos próprios pensamentos, sequer percebera quando a porta atrás de si fora aberta, deixando passar por ela o rapaz que habitava seus pensamentos mais tristes e sonhos mais felizes. O baixista vinha com o case do instrumento de trabalho nas costas, engolindo em seco ao avistar as costas do rapaz mais novo, completamente concentrado em algo que não fazia a mínima idéia do que fosse. Suspirou pesadamente, colocando o baixo em cima do sofá e sentando-se ao lado do instrumento, de cabeça baixa.

Sentia-se desanimado com a recusa do baterista, bem como desacreditado nas pessoas. Pelo menos os personagens que já estava acostumado não machucavam-no daquela forma. Não pisoteavam seus sentimentos, fingindo que sentiam algo completamente diferente.

Permaneceu calado por alguns minutos, mas logo começou a ficar incomodado com a aparente falta de atenção de Asamura, fazendo um barulho com a garganta e chamando a atenção do baterista de cabelos longos, vendo-o virar-se para si e arregalar os olhos amendoados, abrindo a boca em espanto. Talvez Jack não esperasse vê-lo tão cedo.

-Ohayou, Jack. - disse em uma voz baixa, vendo-o acenar com a cabeça, logo voltando-se para a frente, sem nem mesmo uma palavra deixar seus lábios. Aquilo era desesperador. Se já era dificil arrancar alguma palavra do líder, agora parecia tão mais difícil arrancar alguma reação que não fosse aquele olhar vazio.

Levantou-se, indo até o menor, respirando fundo e virando a cadeira, fazendo com que Ryuutarou o encarasse, de olhos arregalados, visivelmente assustado e sem saber como agir. Pelos deuses, ele sequer conseguia imaginar como viera se apaixonar pelo baixista distraído e desmiolado, muito menos por que os rostos pareciam tão próximos agora... tampouco o que levava o olhar do mais velho ser tão sério, fazendo arrepios correrem por sua coluna, sendo tão dolorosamente contidos.

-Jack... eu sei que você disse não querer os meus sentimentos... mas eu sei que você também gosta de mim, até quando vai negar isso? - encarava o baterista, vendo-o colar as costas no encosto da cadeira, aumentando a distância, enquanto empurrava-o com o ombro, levantando-se e cruzando os braços, sorrindo de canto, descrente.

-Ikeuchi... ainda que você ache que nós podemos ficar juntos, sinto muito dizer que estamos muito, muito separados. - ergueu a mão, impedindo-o de dizer qualquer coisa, continuando, com uma voz mais alta. - Você pode até tentar, mas é algo que você jamais irá entender, há um buraco onde deveria haver meu coração.

Virou-se, começando a caminhar rapidamente para a porta, abrindo-a, mas não chegando a cruzá-la, sentindo dedos em seus braços, segurando-o. Não chegando a machucá-lo, mas firme o suficiente para mantê-lo naquele lugar. Estremeceu, mordendo o lábio inferior. Aquilo não deveria estar acontecendo. Não com ele.

-Jack... - começou, soltando um suspiro baixo, fechando os olhos rapidamente e balançando a cabeça, voltando a olhar para as costas do outro. - Não... Ryuutarou. A maneira como eu me sinto não irá mudar. Eu não sei o que você quer ou o que precisa, mas eu te amo.

Please, tell me love's not such a hard word anyway.

-Então vá em frente! - virou-se, encarando o mais velho, sentindo os olhos ardendo e esforçando-se para não derramar uma lágrima sequer, soltando o braço com violência. - Diga aquelas milhares palavras que acha que deve dizer, se isso te fizer sentir-se melhor, e então me deixe em paz! Esqueça essa idéia ridícula!

Mas surpreendeu-se quando o outro o abraçou, apertado, fazendo com que afundasse o rosto no tórax do baixista. Sentia-se paralizado, os sentidos aguçados. Escutando muito bem o barulho do coração de Jin, bem como sentindo o cheiro do mais velho, assim como os braços à sua volta. Ergueu o rosto, novamente encontrando-se próximo demais ao moreno mais velho, os lábios formigando para descobrir o sabor da boca do mesmo.

-E se eu disser... que amar não é tão difícil assim? - murmurou, aproximando os rostos um pouco mais, vendo as bochechas claras de Jack tornarem-se ainda mais escarlates. - Se eu disser que você pode confiar em mim, Jackie...?

-Eu continuaria dizendo para se afastar de mim, Shibuya... - a voz saiu um pouco mais baixa, enquanto se afastava, empurrando-o e correndo para fora da sala de ensaios, atropelando Teruo no meio do caminho, bem como Arata e Takeo, recebendo uma reclamação do ruivo, correndo para as escadas, pouco se importando se cairia.

Sentou-se no chão, levando os dedos até os cabelos presos, soltando-os e os puxando, com força, suprimindo um grito agoniado. Estivera tão perto e mais um pouco as defesas seriam derrubadas, acabaria por entregar-se ao baixista e isso não era certo. Derramou as lágrimas que estivera segurando, soluçando baixo, encolhendo-se e abraçando os joelhos, afundando o rosto nos mesmos, sentindo-se ainda pior depois daquilo tudo.

Amar era difícil. Recusar o amor era tão mais difícil ainda... mas ele jamais deixaria Ikeuchi cair dentro de seu mundo de loucura e depressão, jamais o machucaria daquela forma tão difícil...

Jamais.

After all, I've died, but I can still feel you inside me.

Notas Finais:

Eu quero mandar um beijo pro meu pai, pra minha mãe e pra... ahem u_u digo... obrigada Nine Inch Nails pela inspiração.

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