quarta-feira, 4 de maio de 2011

Capítulo Único - Improvável

Improvável

Kaline Bogard

Seguia pela rua como se andasse em um mundo somente seu.  Os fios de cabelo muito negros escapavam de sob o boné virado para trás.  As mãos magras iam quietas, enfiadas no bolso da bermuda camuflada.  A camisa regata dois números mais larga dançava no corpo magro.  Nos ouvidos, o som agitado do j-rock envolvia sua mente completamente.  Nos pés, o gasto par de coturno desamarrado.

Não precisava de mais nada.  Não queria mais nada.

Mentira.

Precisava... e queria...

Era por isso que saia de casa, e não seguia para o refúgio seguro que encontrar em Akihabara.  Encontrara um outro lugar, onde se sentia ainda mais aconchegado.

Mas Jin não gostava de pensar nisso.  Em como alguém justamente como ele, um simples otaku, podia ter tanta sorte na vida.  Fazia parte de uma família maravilhosa, sua banda estourava nas paradas de sucesso.  E estava junto a uma pessoa.

Uma pessoa de verdade.

Não um personagem de manga ou anime.

Alguém tão diferente de si mesmo, que no começo o próprio Shibuya duvidava que fosse durar muito.

E, ao contrário do que todos diziam, o relacionamento durava um tempo significativo.  Um tempo onde houvera brigas e desentendimentos o bastante para desanimar qualquer outro.

Qualquer outro menos Ikeuchi.  O tipo de pessoa que dificilmente desistira de algo, por mais que se machucasse no processo.  O que não se aplicava no caso, pois se as brigas eram muitas, os bons momentos eram ainda mais numerosos.

Os momentos de paz, de curtição, de risos e cumplicidade.

Coisas simples, mas que Jin não trocaria por nada desse mundo.

Estava tão distraído pensando nessas coisas, que o baixista da P”Saiko quase passou direto pela residência do namorado.  Acertou um tapa na própria testa e voltou alguns passos, entrando no prédio de aparência discreta.

Desligou o som do iPod e entrou sem bater.

A sala estava vazia.  E um fato era inegável: aquela era a residência de um homem solteiro.  Nada de bagunça pelo local, mas com decoração sóbria, de tons um tanto escuros.

– Ne, Teruchi?!! – gritou olhando de um lado para o outro.

Foi espiar a cozinha e ergueu as sobrancelhas para a pilha assustadora de vasilhas na pia.  Sem dúvida o guitarrista solo da P”Saiko voltara tarde da balada.

– Ei, não está em casa? – insistiu indo espiar no quarto.

Acabou sorrindo ao ouvir o barulho do chuveiro na suíte do mais velho.

– TERUCHI! – gritou sem entrar no banheiro apesar da porta estar entreaberta – Eu cheguei!!

– Hn. – a resposta foi quase inaudível – Já to terminando.

– Haaaai, hai.

– Se quiser esperar aqui dentro...

Shibuya tirou o boné e começou a girar entre os dedos.  Tinha ido ali terminar os arranjos da música nova.  Se entrasse no banheiro enquanto o namorado tomava banho, fariam muitas coisas menos compor.  Compor música audível pelos fãs...

– Espero na sala. – ia saindo mas pensou melhor ­– Eu não vi o Wii na sala.  Onde você escondeu...?

A resposta demorou um pouco pra vir.  Jin ainda não acreditava que Terushido sentia ciúmes de um console de games!

– Em um lugar que não bate sol... – o guitarrista resmungou, fazendo Jin franzir as sobrancelhas.

– Não teve graça.

Teruo riu antes de revelar:

– No guarda-roupa.

O baixista sorriu feliz, colocou o boné sobre os fios bagunçados outra vez e foi espiar o móvel.  Abriu as portas principais e o dia ficou mais claro.  Ali estava ele, o moderníssimo console Nintendo Wii dado de presente ao mais velho pelo próprio baixista.  Alias, era um presente mais de Jin pra Jin, do que de Jin pra Teruo, já que o presenteado mal o usava.  Não tinha paciência nem interesse por essas coisas.

– Vou jogar lá na...

Não completou a frase.  Os olhos castanhos foram atraídos por outra coisa.  Um caixa, de tamanho duvidoso, praticamente “brilhando” como se desejasse prender a atenção do otaku.

Não era a primeira vez que Jin via aquela coisa.  Mas Teruo nunca revelara o que tinha ali dentro, e quando indagara sobre ela, recebera como resposta apenas a palavra “segredo”.

Shibuya não podia negar que aquilo o deixava tremendamente curioso.  Já pensara em taaaaaaaantas preciosidades que poderiam estar escondidas ali.  O que existiria na realidade?

Talvez um...

– Não tem um portal aí, Ikeuchi.  Não sonha.

Jin arrepiou-se de susto.  Virou-se para encarar o guitarrista parado na porta divisória do banheiro.

– Você lê mentes?!

Teruo sorriu de lado:

– Talvez.  Mas você estava com cara de quem ia mergulhar de cabeça dentro do meu guarda-roupa.

Jin emburrou.  Sabia quando o outro tirava uma com a sua cara.  Mas qualquer resposta malcriada que poda dar sumiu de sua mente.  Finalmente ele observou realmente o guitarrista recostado no batente com os braços cruzados.  Ele tinha apenas uma toalha preta felpuda amarrada na cintura.  Gotículas de água escorriam pela pele perfeita, ainda molhada.  Os cabelos úmidos caíam ao redor do rosto marcante, numa visão de tirar o fôlego.

Por um segundo Jin se perguntou quem era e o que viera fazer no reduto daquele deus.

Música.  Ele viera compor música.  Foco Shibuya.  Foco.

– ÁguamúsicaescorreuamanhãJackinfarto... – o baixista balançou a cabeça de um lado para o outro – Teruchi.  Isso não é justo!

O guitarrista riu divertido:

– E o que é justo nessa vida, Ikeuchi?

Antes de responder Jin aproximou-se do mais velho, que cheirava deliciosamente a sabonete, e sussurrou em seu ouvido:

– Quer algo muito justo?

Terushido arrepiou-se um pouco, não pôde evitar sorrir torto ao aceitar o desafio:

– O que seria?

O sorriso de Jin aumentou enquanto os dedos longos seguraram a toalha preta e puxaram com força, em seguida o baixista deu meia volta e escapuliu do quarto como se fugisse de uma horda infernal.

Teruo demorou meio segundo para compreender a brincadeira sacana, apenas o tempo do friozinho atingi-lo em partes bem incomuns.

– Ikeuchi! – Teruo resmungou sabendo que era provocado, não seduzido.  Jin não conseguiria seduzir nem mesmo uma parede.  Bem feito pra ele.  Quem mandara se envolver com alguém tão diferente de si.  Tinha passado tanta coisa por sua cabeça naqueles segundos, mas o baixista escolhera a única que sequer imaginada.

Idiota.

Era o que todos diziam, com tanta convicção, que o guitarrista chegara a pensar que um relacionamento nunca daria certo, nunca teria futuro.

E ali estavam eles.  Provando que todos estavam errados.

– Isso vai ter volta, baka. – e as milhares de alternativas estavam de volta em sua mente.  Ele só precisaria escolher uma deles e definitivamente Jack enfartaria amanhã, pois iam compor tudo menos música.

As duas pessoas mais diferentes possível.  Juntos.  Provando para todos que não existem regras no amor.

No amor...

Terou sorriu de lado.  A vida era mesmo uma caixinha de surpresas.

Mas por hora era melhor parar de filosofar.  Tinha que fazer alguma coisa antes que suas partes baixas pegassem um resfriado...

 

Fim

Notas Finais:
Own... ta tosco, eu sei. Mas sabe que eo gostei de escrever com esse casal? A fic era um pouco mais cumprida, mas não sei a reação da Litha, e como a gente se encontrará no AF não quero ninguém me ameaçando de morte.
Se ela liberar eu posto o resto
>)
Enfim... ta aí.

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