segunda-feira, 12 de outubro de 2009

[Kimi Ni Sachi Are] Capítulo Único

You\'ll put your eyes to the sun and say
\"I know you\'re only blinding to keep back what the clouds are hiding\"
We might\'ve started singing just a little soon
We\'re throwing the stones at a glass moon.

Asamura Ryuutarou sempre soube fingir muito bem.

Fingia que não conhecia o verdadeiro motivo da morte daquela que fora sua mãe. Fingia que nunca vira a raiva estampada nos olhos daquele que um dia chamara de pai.


Fingia que não sentia falta de Jun\'ichi. Fingia que a partida do mais velho não o afetara. Fingia que ir para Tokyo fora a melhor escolha. Fingia que estar em Kyoto o deixaria pior ainda.

Fingia que não conhecera aquele palito de fósforo com pernas de uma forma nada casta. Fingia que não ficara tentado a fazer parte da loucura que seria montar uma banda com aquelas pessoas tão diferentes de si mesmo.

Fingia que não se preocupava com seus amigos. Fingia que o mundo era um lugar deveras enfadonho para si. Fingia que não gostava de passar algum tempo com aqueles idiotas.

E havia algo com o qual Ryuutarou acostumara-se a fingir jamais ter sido afetado:

Amar um idiota.

Aquele mesmo idiota que dissera que ele tinha medo de viver. O idiota colorido, alienado e panaca que o fizera pensar se jogar do alto do prédio, caso tivesse se jogado antes, quando o chamou ali naquele terraço dizendo que iria terminar com sabe-se lá o quê.. .

E agora ele estava parado, naquela droga de telhado, pensando no que fazer de sua própria vida, enquanto uma carteira de cigarros já completamente vazia descansava ao seu lado. Nos dedos finos e longos o derradeiro cilindro de nicotina descansava aceso, mas Asamura não o tragava.

Apenas olhava o fogo mínimo consumindo papel, alcatrão, fumo e tudo mais... e lembrava-se que a merda de sua vida era tão ou mais frágil do que o cigarro que ele fumava. Bastaria um pouco mais de força e aí sim ele acabaria quebrando. Partindo ao meio tão definitivamente que seria incapaz de ser consertado.

O que era uma pena, porque ele já estava tão rachado...

Se Ikeuchi se achava incapaz de alcançar seus sentimentos, então deveria ter olhado com um pouco mais de cuidado para Ryuutarou, somente para ver que o menor era tão pior com as palavras, que tentar mostrar com gestos acabava tornando-se infrutífero.

Tonight it\'s \"It can\'t get much worse\" Vs. \"No one should ever feel like...\"

Sentou-se, retirando do bolso a carteira e a abrindo, deixando à mostra uma foto deveras antiga. Na imagem ele mesmo não passava de um adolescente de rosto levemente rechonchudo e cabelos ainda mais compridos do que agora, sorrindo abertamente e deixando à mostra as covinhas que não eram vistas com facilidade. Ele estava com um uniforme de colégio, talvez não tão bem arrumado como o regulamento mandava, mas ele não freqüentava a instituição com tanto afinco. Ao seu lado, o abraçando pelos ombros, estava um outro rapaz. De feições gentis e consideravelmente mais alto que o baterista, vestido inteiramente de preto e sorrindo de uma forma que jamais o faria novamente.

Suspirou, retirando a franja muito comprida de frente dos olhos e levantando-se, espanando a poeira de seus jeans de marca e da camisa preta, passando a caminhar para dentro do prédio, ignorando completamente a existência dos elevadores.

E então Ikeuchi saberia quem Asamura Ryuutarou realmente era.

Dance, this is the way they\'d love
If they knew how misery loved me

Demorou um pouco para que chegasse à porta do apartamento do baixista, apertando a campainha e soltando um grito estrangulado em seguida. As faces avermelharam-se assim que a porta fora aberta de supetão, deixando-se ver um Hayato completamente assustado por ver o líder na porta de sua casa, gritando e com a mão contra o peito, encarando a campainha como se a mesma fosse um monstro terrível.

Isso porque o rapaz com a mecha ruiva achava que Jack era acostumado com monstros, depois de ter conhecido Kami. Ou melhor, Ukyou Kamimura, o escorpião de estimação.

-A sua campainha... ela dá choque. - Jack balbuciou, ainda sentindo a maldita descarga elétrica nos ossos, vendo o vocal se inclinar e encarar o pequeno objeto com curiosidade.

-Dá? Essa é nova. - Hayato virou-se para o companheiro de banda, sorrindo. - O que veio fazer aqui, ridaa?

E se não tivesse tanto amor à sua vida, Izumi riria tresloucadamente da forma como as bochechas do mais novo coraram e como ele deu um passo para trás, inconscientemente batendo um indicador no outro, enquanto perguntava envergonhado.

-Ikeuchi está aí? Eu preciso falar com ele. - a voz não passava de um sussurro, mas fora o suficiente para fazer o mais velho compreender, ou pelo menos desconfiar, do que se tratava.

-Eu vou chamá-lo. Pode entrar, Jackie, Trevas está presa... preso. - murmurou, rindo sem graça e coçando a nuca, enquanto dava espaço para o baterista adentrar o apartamento não-tão-arrumado-assim a ponto de causar nervosismo e atiçar sua mania por arrumação.

-Vocês ainda não contaram para ele que esse bicho é uma fêmea? - ergueu uma sobrancelha, sentando-se no sofá e vendo a cadelinha começar a fazer festa em seus joelhos, levando-o a pegá-la no colo, passando os dedos pelos pelos macios, rindo um pouco.

-Que bicho é fêmea? - a voz do baixista se fez ouvir e ambos os rapazes mais novos se retesaram, entreolhando-se e ficando em silêncio.

-Ikeuchi, precisamos conversar! - fora a melhor saída que encontrara, e, por esse motivo largara Trevas no chão, levantando-se e olhando para o mais velho de forma firme. Mesmo que a voz soasse vacilante em seguida. - ...Por favor.

Jin piscou algumas vezes, procurando apoio no primo, que somente sorriu e acenou afirmativamente com a cabeça. Murmurou qualquer coisa, caminhando até o canto onde sua mochila estava jogada, colocando-a nas costas e logo caminhando para a porta, sendo seguido por Ryuu, que permanecia em silêncio, passando por si enquanto calçava os coturnos e já se dirigindo para a escada.

-Nee, Jackieee... matte! - saiu correndo atrás do mais novo, com os coturnos desamarrados, seguindo-o até a escada.

I keep telling myself
I'm not the desperate type
But you've got me looking through blinds

A caminhada até a sorveteria que ficava ali perto havia sido silenciosa e nenhum dos dois haviam se olhado durante o trajeto, tampouco quando foram servir-se no Buffet que mostrava as mais belas massas coloridas, na opinião do menor. E não seria exagero dizer que Ikeuchi havia se surpreendido com o tamanho da pilha de bolas coloridas que o líder havia feito. Havia ali, sem sombra de dúvidas, uns sete sabores diferentes no mínimo. Riu.

-O que foi? - Ryuutarou perguntou, erguendo uma sobrancelha bem desenhada e tirando o cabelo da frente do rosto para não sujá-lo com a massa rosa-verde-azul-branca que tomava, coroando-a com uma cereja em cima, levando-a até os lábios.

-É que o Jackie parece uma criança quando está tomando sorvete. - o baixista comentou, levando uma colherada do próprio sorvete de chocolate aos lábios, vendo o pequeno quase engasgar-se e abaixar a cabeça. Aquela coloração vermelha nas bochechas de Jack era vergonha mesmo?

Tomaram os sorvetes em silêncio, e em silêncio continuaram, até que o líder houvesse se movido, retirando os olhos da taça lambuzada que havia utilizado, levando as mãos até um dos bolsos da calça que usava e estendesse um papel na frente do mais velho.

Ikeuchi pegou a foto, sem entender, reconhecendo ali o baterista. E não pode evitar mirar a foto, alternando com miradas para o rosto sereno à sua frente. Pelo menos até soltar, em uma voz baixa, os olhos se fixando na figura que permanecia imutavelmente parada ao lado do jovem e sorridente Ryuutarou. Tão diferente do atual e sério Ryuutarou.

-Quem ele é? - perguntou, voltando a entregar a foto para o mais novo, que a pegou e recostou-se mais à cadeira, mantendo um sorriso suave nos lábios, atraindo toda a atenção de Jin. O baixista estranhou aquele sentimento novo que nascia em si. O mesmo que fazia desejar que os sorrisos doces de Jack viessem somente para si.

-Jun\'ichi. - murmurou, acariciando o pequeno pedaço de papel, levantando os olhos para encarar Ikeuchi, que também permanecia sério, por mais estranho que parecesse. Inspirou profundamente, soltando o ar aos poucos, enquanto continuava:

-Ele foi meu primeiro amigo. Meu primeiro beijo, meu primeiro namorado. Meu primeiro muitas coisas. E é por causa dele que eu não desejo entrar em nenhum relacionamento.

-Você... você gosta dele, ainda? - Ikeuchi perguntou incerto. Se ele havia sido tão importante na vida do moreninho, que chances ele tinha? E por um momento Jin sentiu-se profundamente enganado. Por que Ryuutarou jamais dissera que tinha alguém... por que levar isso adiante, por qu---

-Não faz mais diferença se eu gosto dele ou não, Shibuya. Jun\'ichi-san está morto e eu não pude estar ao seu lado para confortá-lo. Eu não pude dizer adeus. E é por isso que eu ainda me sinto machucado. Porque eu não pude proteger a pessoa que me foi mais cara e o perdi. - Ryuutarou murmurou de cabeça baixa, deixando a fotografia sobre a mesa, sentindo os olhos começarem a marejar. Mas ele não iria chorar. Ele não chorava, e se Ikeuchi o vira fazendo isso uma vez, não desejava que se repetisse.

When I wake up, I\'m willing to take my chances
You need him. I could be him...
I could be an accident but I\'m still trying.
That\'s more than I can say for him.

-Fora isso... - o garoto continuou, erguendo a cabeça e limpando os olhos nas mangas da camiseta, de uma forma tão infantil que fez um pequeno sorriso surgir nos lábios do baixista, a despeito da dor que o mesmo sentia. Um sorriso também estava nos lábios de Asamura, ainda que fosse um carregado de tristeza. - Eu sou o pior dos caras. Eu sou falso e mentiroso. E nasci com um parafuso a menos, o que me faz tomar remédios, fazer terapia e ter passado alguns anos em um reformatório.

-Bem... pelo menos você não era o rebelde com topete que fumava no banheiro, não é? - brincou, arrancando uma pequena risada do baterista. Jin queria poder arrancar risadas verdadeiras de Jack, e não essas tristes.

-Não, eu era o rebelde do cabelo comprido que fumava no telhado mesmo. - respondeu, guardando a foto e voltando a ficar em silêncio por alguns segundos, olhando para qualquer canto, somente para não precisar encarar Jin. E quando retornou a falar, a voz era fraca e sem nenhuma esperança. - É por isso, Jin, que eu não posso gostar de você. Porque eu não poderia te proteger de mim mesmo e da minha enorme capacidade de foder tudo à minha volta. E porque eu tenho medo. De ser deixado, mais uma vez.

-Eu não deixaria o Jackie! - Jin disse de supetão, surpreendendo o outro moreno quando segurou as mãos calejadas de tanto tocar bateria entre as suas calejadas pelo baixo, entrelaçando os dedos. - Eu não sei como Jun\'ichi-san era, eu não sei como era a relação de vocês, mas eu sei que jamais te deixaria sozinho. Por favor, acredite em mim...

Ryuutarou viu as mãos de ambos entrelaçadas, suspirando pesadamente. Não amar machucava, porque era solidão. Fingir não amar machucava mais ainda, porque era forçar-se a continuar solitário. Aceitar tudo aquilo... parecia tão errado, mas ao mesmo tempo tão certo que machucava de uma forma inimaginável.

-Ikeuchi... Relações são complicadas. Não é como nos mangás, onde tudo dá certo no último volume. Nem nos doramas, onde o vilão se dá mal e os mocinhos ficam juntos. Na vida real não existem moçinhos e vilões, tampouco garantia de finais felizes. É injusto que você se envolva com alguém que não sabe como fazer as pessoas felizes. - murmurou, abaixando a cabeça. Era injusto com ambos. Ser adulto era mesmo uma merda, Ryuutarou ponderou.

Talvez por isso houvesse se surpreendido quando uma mão gentil ergueu seu rosto, fazendo-o encarar os olhos de Shibuya, tão próximos agora. Tão próximos que todo o peso da mirada do baixista o forçava a fechar os olhos lentamente, permitindo uma aproximação maior. E logo depois os lábios do mais velho estavam sobre os seus em um beijo singelo.

Separaram-se, com Asamura piscando confuso e envergonhado, ainda não acreditando que havia deixado aquilo acontecer. E todo o discurso de agora há pouco? Jin não se importava? Como se para responder as dúvidas do menor, a voz do baixista se fez presente.

-Você é tão pessimista... eu sei que isso não é um mangá. É vida real, Jekichi. E, por mais que digam que eu não sei viver nesse mundo, eu não me importaria se fosse você junto a mim, me ajudando. Assim como eu posso te ajudar a curar todas as feridas. Ou a maior parte delas.

-Você é tão idiota, Jin... - Asamura suspirou, deixando um sorriso cansado tomar conta de seus lábios, antes de voltar a beijar Ikeuchi, num sinal de aceitação.

Afinal, Asamura Ryuutarou sempre soubera fingir muito bem, mas não conseguia fingir que não amava Ikeuchi Jin.

I found the cure to growing older
And you\'re the only place that feels like home
Just so you know, you\'ll never know
And some secrets weren\'t meant to be told
But I found the cure to growing older

-Acho que agora deu certo. - Hayato murmurou, sentado junto a Takeo em uma das mesas mais ao fundo, observando o baixista e o baterista de longe, sorrindo encantado.

-Sabe, eu estou me perguntando agora qual dos dois tem mais mal gosto ou é mais insano. - Takeo riu, pegando uma mecha de cabelo do namorado e brincando com a mesma, também observando os dois mais ao longe. Parecia que as coisas iriam melhorar agora.

-Tachi! - Arata repreendeu o namorado, fazendo uma careta falsamente ofendida, antes de sorrir de canto para o ruivo que o acompanhara até ali e ficara espiando com ele, se inclinando mais ainda sobre a mesa. - E aí, vai ficar só olhando eles ou vai me beijar também?

-Opa, com o maior prazer. - o guitarrista riu, tomando os lábios do namorado em um beijo carinhoso, não ficando nada atrás daquele que os companheiros de banda haviam trocado. Internamente, ele sabia que a verdadeira confusão estava começando agora, mas quem ligava?

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