segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Único

Notas do Autor:

Presente para uma pessoa muito importante: Nii-chan!! Porque ela é minha uke e eu gosto de dar-lhe presentes!

Sorrow
Kaline Bogard

A idéia andava por sua mente já tinha um tempo significativo. E lhe tirava o sossego, porque quando Jin colocava algo na cabeça não ficava em paz até concretizar os planos.

Dessa vez era um pouco mais complicado, pois envolvia outra pessoa. Mas talvez não fosse impossível, porque ele vinha juntando os fatos e só tinha uma conclusão óbvia a qual podia chegar: Jack correspondia seus sentimentos.


O líder da P”Saiko vinha agindo de forma muito suspeita. Evitava ficar sozinho na presença do baixista, estava mantendo uma distancia fria. Sua paciência andava ainda mais curta, e tinha aquela surra, claro.

A briga entre Takeo e Jack deixara os sentimentos do baterista tão expostos quanto um relâmpago em noite de tempestade. E mesmo alguém tão distraído quanto Jin percebeu a intensidade dos sentimentos que resultavam naquelas atitudes agressivas.

E já que era tão complicado declarar-se, Ikeuchi Jin decidira escrever uma carta.

Mas quem disse que era fácil passar pro papel os próprios sentimentos?

Desolado, Shibuya olhou as várias folhas amassadas sobre a escrivaninha do seu quarto. Depois olhou para a cadelinha deitada aos seus pés:

– Trevas, amigão. Sorte sua que não está apaixonado.

O animal mexeu o rabinho, continuando com os olhos fechados.

– Alguma dica de como eu começo?

Esperou que pelo menos Trevas latisse em forma de incentivo, mas ela apenas ajeitou-se melhor no carpete e pareceu voltar a dormir; morta de preguiça, vencida pelo calor.

– Muito obrigado pela ajuda! – riu. – Talvez eu ache alguma coisa num manga...

Levantou-se e foi pra sala, sentar-se no chão em frente a estante. Abriu uma das gavetas e observou os incontáveis mangas que abarrotavam o compartimento. Começou a puxá-los para fora, esparramando-os pelo piso.

– Não. Esse é muito melado... esse nem é shoujo. Nossa... esse tem muito sangue... – ia dizendo ao olhar os títulos – Ah! Eu nem lembrava desse, mas não serve.

Não achou nenhum que fosse bom o bastante.

– Talvez em um DVD...

Abriu a outra porta da estante. Foi a vez de esparramar as caixinhas pelo chão.

– Caralho! Eu tenho muito shonen sangrento e ecchi... mas... cadê os shoujos românticos?

Concentrou-se nas duas últimas partes da estante, esparramando tudo pelo chão, os outros DVDs e mangas. Não encontrou nada que ajudasse. Voltou para o quarto: guardava algumas coisas por lá também.

Mas a esperança ia se diluindo a medida que esparramava tudo pelo chão acarpetado. Fez uma bagunça tão grande que Trevas saiu do local, incomodada, e foi ajeitar-se sobre o sofá.

– Não... não tem...

Levantou-se com cuidado pra não pisar em nada e pegou o celular. Ia discar para o primo, que estava passando o fim de semana na casa de Takeo. Pra seu azar Arata parecia ter desligado o aparelho, assim como o guitarrista ruivo, pois ambos caíram na caixa postal.

Não teve sorte com Teruo. O guitarrista solo era sempre tão misterioso e tinha aquele ar de quem sabe de tudo... provavelmente já fizera e recebera milhares de cartas de amor e saberia escrever uma.

Pena que Teruo não atendeu a chamada.

– Que azar. Será que ele está dormindo?

Sem desanimar começou a discar para Jack. Talvez o líder da banda tivesse alguma idéia sobre como escrever a carta de amor e...

–...

Desligou o celular antes que soasse o primeiro toque. Ele não podia ligar pra Jack e pedir aquele tipo de ajuda! A carta era pra ele!

– E o que eu faço?

Encontrar textos na Internet não parecia uma boa idéia. Shibuya queria escrever com suas próprias palavras. Algo que transmitisse como se sentia. E não usaria as palavras de outra pessoa para isso.

Nesse caso, restava apenas uma solução:

– Akihabara. Vou comprar um shoujo daqueles bem românticos pra ajudar ter inspiração.

Animadíssimo, Jin trocou de roupa e rumou para Akiba, o paraíso otaku no Japão.

oOo

A mochila cheia de chaveiros estava pesada de tanto manga. O baixista perdera a conta de quantos comprara. Mas sabia que não cabia mais nenhum.

Se não encontrasse inspiração ali, ia desistir de escrever a bendita carta!

Suspirou observando o local. Cada dia parecia que tinha mais pessoas circulando por Akihabara. Havia agora desconhecidos demais, e desde que a banda começara a fazer sucesso, Jack o proibira de aceitar convites de estranhos, muito menos aceitar presentes. Era o nome da P”Saiko que estava em jogo.

Ajeitou o par de óculos escuros no rosto. O objeto era enorme e encobria a maior parte de seu rosto. A franja longa e despontada ajudava também. Não que temesse ser reconhecido. Ali em Akiba era apenas mais um no meio da multidão, vestindo um excesso de roupas coloridas demais, apesar do calor.

Dos poucos amigos que tinha não esperava encontrar com nenhum deles, pelos mais variados motivos. Por isso foi uma surpresa ouvir seu apelido sendo chamado por uma voz meio vacilante e abafada:

– Shi-Shibuya kun...?

Virou-se e fitou a garota com espanto e um misto de alegria:

– Jure? – não acreditou no que seus olhos viam. Apontou a garota com o dedo: – Você saiu de casa!

– Hn...

– Você está bem...? No meio de todas essas pessoas? – olhou em volta, indicando a multidão.

– Hn...

Jin sorriu:

– Quer tomar um café? E conversar?

Jure ajeitou o grosso cachecol, de modo que escondesse mais da metade do rosto, deixando apenas os olhos enviesados de fora. Apesar do calor aquele não era o único item de inverno que trajava. Escondia-se com uma blusa azul de mangas compridas e calças de moletom marron. Os cabelos pareciam não ver o pente a um bom tempo, bagunçados e com alguns nós.

A garota vacilou um pouco e então balançou a cabeça, assentindo:

– Hn!

Ambos caminharam lado a lado, rumo a Jump Yung, que ainda era considerado o melhor ponto de encontro para os freqüentadores de Akihabara. Com um pouco de dificuldade encontraram uma mesa vazia num dos cantos da confeitaria.

Assim que se sentaram, uma Maid veio anotar os pedidos de ambos. Jin pediu bolo de morango e chá gelado para si e para Jure pediu torta de damasco e café gelado. Quando ficaram sozinhos, o baixista da P”Saiko abriu a mochila e pegou um dos mangas:

– Pra você.

Jure aceitou a oferta e retribuiu estendendo dois doujinshi:

– Domo. – puxou o cachecol da face, para poder falar melhor – Shibuya kun.

Jin pegou os DJs e colocou na mochila:

– Arigatou! Ne... Jure... você superou...? Desde quando consegue sair de casa?

A garota coçou a cabeça, agitando os fios negros, deixando-os mais bagunçados:

– Faz... faz um mês que saio de casa.

– Sugoi. Sugoi!!

– Hn.

– Jure percebeu que as coisas aqui fora não são tão ruins...? – Jin sondou observando a face inquieta da otaku.

– Ie. Não tem nada pra mim aqui... mas... mamãe disse que se eu não tentasse ela mudaria pro campo.

Jin ergueu as sobrancelhas:

– Aqui não é tão ruim. – era o que estava descobrindo graças a seus amigos. O baixista sabia que se não fosse por eles, provavelmente acabaria como Jure, que sofria de fobia das pessoas, e vivia totalmente desprendida da vida real. Ela levara a extremos, assim como um número cada vez maior de otakus, se trancando no quarto e abandonando quase totalmente a realidade.

Ouvindo a afirmação de Ikeuchi, Jure deu de ombros. Ali tinha mangas, não tinha? Tinha animes e garage kits. Então não era de todo ruim, apesar de ainda preferir a segurança e a solidão de seu quarto.

A funcionária do Jump Yung voltou, trazendo seus pedidos:

– Algo mais, Mestres? – e sorriu toda fofinha.

– Ie. – Jin respondeu. – Arigatou!

Jure não disse nada. Pegou o café gelado e começou a bebericar. Ikeuchi atacou o bolo, fazendo a garota sorrir:

– Shibuya kun não mudou nada...

O baixista olhou pra ela e arreganhou os dentes:

– Mudei sim!

– Aposto que o toque do seu cel é o OST da Miwako... – a otaku afirmou ainda sorrindo. Vendo que o rapaz não se pronunciava, deduziu que tinha acertado: – Yapari.

– Golpe sujo. Eu adoro essa música...

– Demo... talvez tenha razão. Você não gostava de shoujo antes. – se referiu ao manga que o mais alto lhe dera de presente.

Jin fez uma careta:

– Nem gosto. Preciso de inspiração pra escrever uma carta.

– Uma carta? E onde entra o shoujo?

– É uma carta de amor.

A garota corou com os olhos arregalados de leve:

– Uma carta de amor? Pra uma pessoa de verdade?

– Hn. As coisas estão meio complicadas, mas... eu não desisto fácil.

– Oh... pessoas de verdade são complicadas. Por isso prefiro os mangas. Espero que Shibuya kun tenha sucesso, e as coisas não sejam como a Neko disse.

Ao ouvir aquilo Jin ficou sério. Franziu as sobrancelhas, ganhando um ar quase sombrio:

– Não será. Neko é muito rancorosa, ela não entende nada... o Jack não é como os outros.

Jure sorriu largo:

– Jack...? Asamura Ryuutarou, o baterista da sua banda...?!

Ikeuchi ficou com vontade de se chutar diante da burrice. Mas era tarde demais para tentar concertar. E Jure era sua amiga de longa data, não faria nada que o prejudicasse. Também não se surpreendeu por ela saber muito. Jure era uma das melhores hackers que conhecia. Adorava vasculhar a vida de seus poucos amigos. Talvez Jure soubesse mais sobre a P”Saiko do que ele próprio.

– É... – afirmou meio sem graça – Esse Jack...

A garota recostou-se na cadeira, segurando o copo com as duas mãos:

– Você não mudou nada, Shibuya kun. – sorriu afável. Ela odiava aquele mundo, aquela “vida real”. E as vezes tinha vontade de jogar tudo pro alto e acabar as coisas de uma vez. Andava com aquela idéia rondando sua cabeça desde que voltara a vagar por Akiba, no meio de todas aquelas pessoas.

Pois por mais que olhasse em volta e visse uma multidão lhe rodear, Jure se sentia como a mais solitária das mulheres. Ela não sabia como aproximar-se dos outros, não sabia como deixar os outros se aproximarem. Ikeuchi Jin era uma das poucas exceções. Alguém que conseguira se aproximar e tornar-se um amigo querido.

Era Shibuya que a ajudava nos momentos mais difíceis. Ikeuchi tirara a navalha de suas mãos, mais de uma vez. Ele e aquele grande coração.

Talvez, no fim das contas, algumas pessoas valessem a pena.

– Ne... Shibuya kun...?

– Nani?

– Se vai escrever para uma pessoa de verdade, use palavras de verdade. – o baixista olhou surpreso para a amiga – Esqueça os mangas. O que você sente por Jack san?

– Eu o amo. Muito. – respondeu sem hesitar.

– Então escreva isso na carta... será o suficiente.

Jin piscou:

– Só isso?

– Hn.

O baixista sorriu:

– É... pode dar certo... arigatou!

– Disponha, Shibuya kun.

– Você nunca vai me chamar pelo nome, não é? – o rapaz perguntou pensativo, com a mente ruminando sobre a carta com sua declaração. Bebeu o resto do chá gelado, observando o fundo da xícara.

– São as regras de Akiba, Shibuya kun.

– Aa. São as regras... Natsume chan. – sorriu para a otaku.

Jure ficou em pé e reverenciou. Sentiu um certo desespero. Já ficara exposta, em contato com o mundo real tempo demais. Precisava voltar para casa, para a solidão do seu quarto:

– Você tirou a navalha outra vez, Shibuya kun. – reverenciou – Arigatou gozaimashita. Vou acompanhar vocês pela Internet.

Jin observou enquanto a otaku saia do local, voltando a se esconder atrás do grande cachecol. Logo perdeu os cabelos desarrumados de vista. Suspirou.

– “Eu amo você”...? Pode dar certo... – afinal, era o conselho de uma garota, e garotas entendem muito do assunto.

Pediu a conta e foi embora. Chegou no apartamento silencioso. Arata ainda não retornara. Trevas veio andando calmamente da cozinha e saudou o dono pulando nas pernas de Ikeuchi, mas Shibuya ignorou o animalzinho.

Abriu a mochila e despejou seu conteúdo no chão. Depois veria os mangas com calma. Precisava começar a adquirir alguma prática em romances e relacionamentos. Apressou-se a ir para o quarto, sentar-se na escrivaninha. Pegou uma das folhas decoradas com Mokonas e respirou fundo, começando a escrever:

Jack, queria que soubesse: eu amo você”.

Depois daquela primeira frase as outras palavras vieram como mágica. Quando Jin percebeu tinha derramado seus sentimentos mais profundos naquelas linhas coloridas, declarando o amor que não conseguia mais ocultar. Jure tinha razão. Escrever a uma pessoa de verdade exigia palavras de verdade.

oOo

– O que você pensa que eu sou? A porra de uma colegial?

Jack olhava a carta que Jin lhe estendia, recusando-se a pegá-la. Ambos estavam sozinhos no estúdio, simplesmente porque o baixista conseguira convencer Arata a se atrasar um pouco pro ensaio geral, junto com Takeo.

– Não! – o mais alto tentou afastar a má impressão.

– Não parece. – o líder puxou o envelope das mãos do outro, amassando um pouco. – Sabe como isso é ridículo?

– Gomen, eu só...

– A resposta é não. Eu não quero os seus sentimentos e não quero você perto de mim.

– Jack...

O mais jovem seguiu em direção a porta:

– Avise que atrasarei um pouco. Vou jogar isso no lixo.

– Você gosta de mim, Jack! – Jin ainda tentou uma cartada desesperada – Eu sei que gosta.

– Claro que gosto. – o baterista afirmou parado com a mão na maçaneta – Você é meu amigo. E nunca vai deixar de ser.

Shibuya não rebateu. Observou outro saindo, deixando-o sozinho no estúdio. A reação fora bem diferente do que esperara. E agora tinha aquele nó na garganta que fazia os olhos arderem e a respiração ficar difícil.

Estava aprendendo na convivência diária com a P”Saiko que pessoas de verdade podiam ser bem complicadas. E, de vez em quando, elas machucavam pra valer...

oOo

Jack só parou de andar quando se viu no banheiro daquele andar, sozinho. Observou o envelope amassado, coberto com adesivos de mangas. Nunca, em toda a sua vida, ganhara uma carta de amor.

Desamassou um pouco o papel. Ele não queria o amor de Ikeuchi. Já se apaixonara antes, fora profundo e intenso, e saíra magoado. Tudo o que ele queria, evitando o baixista, era que Jin também não se ferisse. Estava protegendo ambos de muito sofrimento futuro, porque eram diferentes demais para que um relacionamento desse certo.

Apesar de tudo guardou a carta no bolso com cuidado. Não via mal nenhum em preservá-la, mesmo que não a abrisse.

– Estou fazendo um bem a nós dois, Ikeuchi.

Mas Jack não soou tão convencido quando gostaria. Porque, no fundo, ele sabia bem que...

Já passara do limite e não havia volta.

Amar era mesmo uma droga.

Fim

 

Huahauhauahua

Acaba aqui mesmo. Esse é o casal problema da P”Saiko. As coisas pra eles não serão nem um pouco fáceis. E o quanto eu puder fazê-los sofrer, ah... eu farei.

Jure e Neko fazem parte do passado do Jin, assim como Humiko, Mimi, Fy, Kuro... estou estruturando tudo direitinho numa fic que contará mais sobre a infância desse otaku brisado.

NOTA: Não foi betado!

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