sábado, 20 de março de 2010

Uma noite nada tranquila

So hard!
Lady Bogard

Capítulo Único
Uma noite nada tranquila...

Era início de outono, a madrugada ia avançada, num daqueles momentos em que a consciência repousa das atribulações do dia a dia, e a mente vaga, completamente entregue aos sonhos. Sonhos dos quais, possivelmente, não nos lembramos mais tarde.

Assim era aquela noite para Ikeuchi Jin, confortavelmente acomodado em sua cama.

O jovem rapaz aproveitava o merecido descanso depois de um dia extremo de ensaios na gravadora. Sua banda estava começando a decolar e a fazer sucesso no cenário indie. Cada dia era uma prova de fogo: precisavam melhorar e estar no nível das bandas consagradas, caso quisessem conquistar espaço como Major.

Sendo o baixista, tinha muita responsabilidade na hora de acertar os arranjos. E hoje, particularmente, um outro companheiro, Takeo o guitarrista base da banda, estivera enérgico e animado ao máximo. Fora um teste de paciência duro. Não poucas vezes Jack, baterista e líder, estivera a ponto de explodir e esganar o inconseqüente.


Por essas e outras, Shibuya, como Jin era chamado, não perdera tempo admirando as imagens de Pokemons refletidas na parede pelo abajur giratório. Diferente de outras noites, quando o sono demorava pra chegar, ele mal encostara a cabeça no travesseiro depois de um longo banho, e já adormecera.

Continuaria dormindo feito um anjinho até o raiar do dia, mas sem que fosse esperado sentiu algo pesar sobre si. Não tinha despertado completamente quando lábios ávidos requisitaram os seus para um beijo voraz.  Ceder passagem foi algo mais instintivo que racional.

Mesmo porque já reconhecera a pessoa que o acordara de forma tão incomum. Reconheceu o gosto dos lábios fartos, misturados com sabor forte de bebida. Reconheceu o cheiro daquele corpo, os toques não tão delicados, mas ainda assim cuidadosos. Era Jack, seu namorado e baterista da mesma banda. O rapaz que também tinha as chaves do seu apartamento.

Sem que uma palavra fosse trocada entre os amantes, as mãos se juntaram no processo: os dedos ágeis de Jack alcançaram os botões do pijama de estrelas que Jin usava, começando a abri-los.

Shibuya sorriu entre o beijo, seus dedos também indo para a barra da blusa de Jack. Quando ambos estavam desnudos da cintura pra cima, pararam para se admirar. O baixista deixou que seus olhos se deliciassem com a visão de seu amante levemente descomposto. Céus, como amava aquele cara. Amava os cabelos muito negros e lisos, cortados um pouco acima dos ombros. Amava a tez pálida, os lábios delineados, os olhos profundos, experientes...

Olhos que o miravam de volta, fazendo-o se sentir totalmente desvendado. Jack era o único que conseguia fazer aquilo consigo, como se fosse um enigma resolvido, cuja alma e mistério pairavam expostos como um livro aberto.

Jack montara o quebra-cabeça. Ele juntara cada pequena parte, unindo corpo, mente e coração do baixista, aceitando-o com todas as suas imperfeições.

Um movimento do moreno mais baixo tirou Jin de suas meditações. Jack ergueu o braço e deslizou as mãos pelos cabelos também negros e lisos de seu amante, numa caricia quase reverente.

E Shibuya soube que, mesmo não tendo desvendado o arabesco complicado chamado Asamura Ryuutarou, o amava. E um dia, saberia transpor o muro quase indestrutível que Jack erguera ao seu redor.

Ainda em silêncio, o baterista abaixou a cabeça, reiniciando o beijo interrompido, de forma mais calma, delicada.

Shibuya correspondeu. Enquanto se deixava levar pela carícia, fez menção de virar o corpo para inverter as posições, porém não conseguiu. Jack fez força para mantê-los do jeito que estavam.

Surpreso, o baixista abriu os olhos. Arrepiou-se ao notar o brilho nas íris de seu amante.  Havia um quê de diversão e decisão que normalmente não eram mostrados. “Essa não!”, pensou com um começo de pânico. Seria uma noite daquelas...

Encerrou o beijo:

– Jack...

– Jin... – o moreno mais baixo não sorriu de volta.

– Você disse que não ia vir hoje.

– Mas vim.

– Pensei que estava estressado...

– Eu estou.

Péssimo sinal. Mais uma vez o baixista tentou sair de baixo do amante e inverter as posições. Forcejaram por alguns segundos até que ele desistisse:

– Ne... você andou bebendo. – acusou.

– Andei.

–Então é melhor descansar um pouco. Bebida e estresse não combinam.

– Dormir agora...? – Jack esfregou o corpo de maneira libidinosa em seu namorado, roçando os quadris e fazendo-o ver que seu corpo dava sinais de excitação pelo pequeno aquecimento.

Quase sem querer Shibuya gemeu. Estava tão excitado quanto o mais baixo. Somente a forma como as coisas se desenrolavam não estava agradando e cortava um pouco sua animação.

Tentou virar-se de lado, para desacomodar Jack, mas foi inútil. Ambos sabiam o que acontecia, mas por um segundo fingiram não saber. Até que o baixista se deu por vencido:

– Jack, pode desistir.

– Desistir? – o baterista perguntou suavemente, fazendo-se de desentendido.

– Você está naqueles dias! – resmungou o baixista.

Jack abaixou o rosto para tentar beijar o namorado. Shibuya aproveitou a oportunidade para tentar rolar outra vez. Adiantou de nada:

– Que porra, Jack!  Você está malhando ou o que?! – exclamou um tanto sem fôlego, soltando o corpo sobre o colchão macio.

– Três horas treinando bateria por dia. – respondeu sorrindo de leve. Manteve os pulsos de Jin presos contra a cama. – E hoje quero ser seme.

O moreno mais alto sentiu um arrepio:

– Não. Você não quer. A verdade é que está bêbado, estressado, com raiva do Takeo e humm... – a frase foi interrompida por um beijo ávido, quase violento.

– E você fala demais. Relaxa, Ikeuchi. Vou pegar leve. – brincou quando os lábios se separaram.

– Jack... não é o momento certo. – ficou realmente preocupado quando o aperto em seus pulsos aumentou.

– Nós fazemos o momento certo, koi. Pra mim é agora. – voltou a esfregar os corpos, demonstrando que estava ainda mais excitado.

O baixista viu que através do diálogo não alcançaria a parte racional do amante. Não queria ser uke naquele momento, não porque não confiasse em Jack, mas porque não estava a vontade ainda... queria que fosse especial, não impulsionado pela bebida e estresse. E Jack só cismava de ser seme quando bebia demais.  Além dos ataques inexplicáveis, quando subia na mesa e rebolava fazendo streap-tease.  Nem de longe lembrava o sério líder da P”Saiko.

No auge do desespero Jin resolveu apelar:

– Isso é estupro!

Imediatamente Ryuutarou parou o que fazia e olhou muito sério para o baixista:

– Isso é sexo entre dois namorados.

– Mas um dos namorados não quer!

Meio desanimado Jack deitou-se na cama ao lado de Shibuya, libertando-o:

– Você não confia em mim? Não me ama?

Shibuya virou-se e fitou o namorado:

– Isso é chantagem...

– Então eu sou... um estuprador chantagista?

Antes de responder Jin passou a mão pelo braço tatuado de Jack:

– E mafioso. – riu da piadinha sem graça.

- É serio, Ikeuchi. Quero ser seme. Quero que sinta o que eu sinto quanto estou com você.

A declaração pouco romântica foi sincera a ponto de fazer o baixista da banda se derreter:

– Que lindo, koi. Eu confio em você, porque te amo muito. Mas esse não é o momento certo. Eu... me da um tempo, pra me preparar. Ai a gente troca de posições, okkei?

Ryuutarou sorriu de leve:

– Combinado. Quanto tempo você precisa?

– Cinco ou seis...

– Minutos? – a voz de Jack era pura ansiedade.

– Não. Anos. – respondeu com um bico.

Ficaram se encarando por alguns segundos. Os olhos profundos do baterista escrutinavam a face pálida e sorridente do companheiro de banda e namorado. Então Jack pareceu se dar por vencido:

– Está bem.

– ...

– Desisto. – levantou-se da cama parecendo extremamente triste, decepcionado.

– Onde você vai? – o coração de Shibuya se apertou. Não gostava de magoar a pessoa que amava, porém não queria que o relacionamento de ambos fosse controlado pelo álcool ou pelas reações bipolar. Se um dia Jack chegasse em seu apartamento em perfeito estado, sem ter bebido, e pedisse pra ser seme, Jin concordaria sem hesitar.

– Dormir no sofá. – respondeu Ryuutarou quase alcançando a porta.

Shibuya ajeitou-se na cama e engoliu em seco:

– Espera!  Jack...

O baterista parou. Seus lábios se torceram em um sorriso torto. Poderia sua psicologia ter funcionado e ter conseguido fazer o amante mudar de idéia?

– Nani...? – perguntou sem se virar.

– Leva um edredom. Ta frio... – suspirou.

A afirmação fez o sangue de Jack ferver. Ele cerrou os punhos com tanta força que chegaram a tremer. Aspirou ar com um chiado e voltou-se na direção da cama onde seu namorado permanecia:

– Você vai ver só! – acelerou o passo e quase correu de volta pro leito, jogando-se em cima do outro.

Jin arregalou os olhos e, veloz feito uma lebre, escorregou pra fora do colchão. Caiu no chão frio e ficou em pé quase imediatamente.

– Nada disso! – gritou assustado e voou para fora do quarto.

Jack perdeu alguns segundos se recuperando, esparramado sobre as cobertas. Então levantou-se rosnando algo que nem ele entendeu. Também saiu do quarto, atrás do namorado. Entreviu uma sombra esbelta desaparecendo no fim do corredor. Ouviu uma porta batendo, supôs que era do banheiro. E era.

– JIN! – gritou frustrado. Só por desencargo de consciência testou a maçaneta: estava trancada. – Vamos conversar... SAIA DAÍ!

Aguardou pela resposta. Só recebeu o silêncio. Irritado acertou um pontapé na porta, numa forma de extravasar a raiva. Sabendo que o baixista não ia sair da toca tão cedo, sentou-se no chão e encostou-se na parede em frente, como um perspicaz predador. Podia até demorar, mas o amante teria que abrir a porta...

Dentro do banheiro, sentado no chão encostado contra a porta, Shibuya sentiu quando o namorado acertou a folha de madeira. Suspirou aliviado por ter escapado a tempo. Deixaria pra conversar pela manhã, quando o efeito do álcool passasse e Jack voltasse a ser seu namorado controlado de sempre.

Tentar falar com ele bêbado era como dar murro em ponta de faca. O bom senso sumia completamente de Jack, e ele parecia movido por puro instinto.

Suspirou e inclinou a cabeça recostando a nuca contra a porta. Ia ser uma longa madrugada.  Pena Hayato estar dormindo na casa de Takeo, ou a bagunça já teria acordado o vocalista e ele, como a mãezona que era, teria colocado os pingos nos is.

oOo

No fim das contas Jin acabou dormindo sentado no banheiro. Não estava disposto a enfrentar nenhuma cena. Seria mais seguro esperar o dia seguinte e encarar Jack com ressaca, do que Jack surtado.

Levantou-se e esticou-se. Dormira numa posição terrível, e agora seu corpo todo doía.  Espreguiçou-se, bocejou, lavou as mãos e o rosto. Ajeitou o pijama de estrelinhas, que fora desarrumado nos amassos noturnos. Passou os dedos úmidos pelos cabelos muito negros e lisos, ajeitado a franja despontada. Sabia que estava enrolando, sem querer sair do banheiro. Porém não podia ficar ali pra sempre. Respirou fundo duas vezes, reunindo coragem.

Abriu a porta e sentiu o coração derreter. Seu pequeno baterista estava sentado no corredor, dormindo como um anjinho, numa posição ruim. Com certeza sentiria dores pelo corpo quando despertasse. Além da ressaca, claro.

Sentido ondas de amor incontido sufocá-lo, Shibuya sentou-se no chão ao lado de Jack:

– Ne, ne, ne... você sabe que eu te amo, não é, koi? Mesmo quando tem esses ataques. Te amo muito, muito, muito...

– Bom saber... – o baterista abriu os olhos e sorriu, segurando o namorado pelo pulso.

Jin engoliu em seco e quase praguejou, só então notando a garrafa de Campari quase vazia ao lado do amante. Suspirou: aquele seria um “daqueles” dias. Ia começar tudo de novo...

 

Fim

Lógica? Não, essa fic não tem. Ela apenas nasceu de um surto de inspiração quando o assunto borbulhou nos e-mails, rsrsrsrs, e eu tive que passar pra fic. Tem algumas piadas internas que eu acho que poucos vão ver graça.  O.o  Acho que nem quem ta por dentro do que rolou vai achar graça...

Enfim...

É um presente pra Nii-chan, pq a tire no AS da SP pelo segundo ano consecutivo!!

Estamos aí pro que der e vier, Jekichi! =*

Muffin... aishiteiruuuuuuuuuuu.

PS:  eu digitei essa fic quando o Ryuu era o Ryuu (do Plastic Tree).  Agora que o Ryuu não é mais o Ryuu, não sei se convence.  O.o

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