quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Things have change for me, but thats okay Or not

 

-Asamura-kun, por acaso ficou maluco? - o senhor de fartos bigodes e cabelos grisalhos perguntou, olhando desolado para o jovem à sua frente, que permanecia impassível, o mesmo que aparecera antes do horário de aulas daquele dia, dizendo que tinha algo muito sério a ser conversado. Algo absurdo a seu ver. Um clube de magia negra? Ou Asamura Ryuutarou havia enlouquecido de vez ou ele mesmo havia perdido o juízo depois de cuidar de jovens tão, ou mais, problemáticos que aquele.


-Entendi perfeitamente, Komura-sama. - o garoto começou, sem alterar sequer um milímetro de sua expressão vazia, tão vazia quanto sua voz. - O senhor está me impedindo de exercer um dos meus direitos como estudante deste estabelecimento. - caminhou calmamente até a porta, abrindo-a, mas dizendo antes de sair, sem olhar para o velho diretor atordoado na cadeira. - O conselho estudantil será avisado. Passar bem.

O velho homem observou o estudante de cabelos bem mais longos que o permitido sair de sua sala, esfregando o rosto com um ar cansado. Oh, Kami-sama, o que havia feito de tão ruim para ter que aturar algo como aquilo logo no primeiro dia de aula do ano letivo?

-x-x-x-

O garoto adentrou o portão, passando os longos e finos dedos pela franja despontada, olhando em volta enquanto arrumava a mochila cheia de chaveiros e bottons sobre as costas. Ikeuchi Jin olhou ao redor, sentindo-se deslocado em meio a tantas pessoas desconhecidas. Não que Akihabara fosse muito diferente, mas ao menos lá ele estava em meio a pessoas desconhecidas que partilhavam de alguns interesses em comum. Suspirou, desanimado, enquanto caminhava em direção à construção principal, carregando consigo uma grande mala azul, contendo todos seus pertences. Ou quase todos, já que muitos tiveram que ficar na casa de seus pais. Somente esperava que seu meio-irmão não as quebrasse, algumas daquelas peças haviam sido difíceis de serem conseguidas.

Tão concentrado estava que sequer percebera outra pessoa vindo em sua direção, fazendo-a voar com tudo para o chão. Jin arregalou os olhos, vendo o rapaz estendido no piso do corredor, de costas,começando a erguer-se. Pegou-o pelo pulso, ajudando-o a se levantar.

-Sumimassen! Eu sinto muito, não foi por querer! Eu estava distraído, e... você está bem? - viu o garoto, bem menor que si, coisa de uns quinze centímetros, levantar-se, esfregando as costas, reclamando baixinho de dor. A confusão atraía a atenção de algumas pessoas, que ja se amontoavam em torno deles, algumas parecendo temerosas, outras animadas, algumas somente curiosas.

Não teve muito tempo para pensar nisso. Logo as mãos pequenas do outro se fecharam em sua camiseta preta e suas costas chocaram-se com a parede enquanto via os olhos estreitos do desconhecido que atropelara se estreitarem, muito próximos, ainda que somente um deles estivesse aparente e o outro escondido sob a franja muito comprida. Jin assustou-se, encolhendo-se mais contra a parede, ouvindo-o rosnar para si:

-Está querendo me matar, palhaço? Olhe por onde anda imbecil! - e o pequeno soltou Jin, caminhando a passos duros por entre a multidão que saía de seu caminho, com medo. Pelo jeito aquele pequeno valentão deveria ser bem conhecido, para ser respeitado daquela maneira.

O otaku suspirou ainda aturdido pelos acontecimentos. Odiava brigas e elas foram as responsáveis por seu padrasto e sua mãe resolverem mandá-lo para aquele local. As brigas com seu meio-irmão andavam impossíveis, ainda que fosse o mais velho quem as arranjassem, não ele. Mas ambos temeram por Jin, que sempre evitava revidar, se tornando presa fácil para o outro rapaz. Por isso o mandaram para lá.

Jin começou a arrastar a mala novamente, ouvindo os comentários por todos os lados. Ao menos tinha o primo ali, mesmo que não houvesse dado sorte de dividir o quarto com ele.

Bem, pensou, depois o procuraria, por hora precisava encontrar seu dormitório e arrumar suas coisas.

Esperava que o tal Asamura, com quem dividiria o quarto, fosse alguém mais agradável.

-x-x-x-

Pisava duro, espantando todos em seu caminho. Mas que merda de dia fora aquele e não estava nem mesmo na hora do almoço, o que significava que dali tendia a piorar. Primeiro havia sido acordado para descobrir que acabaria por dividir o quarto com algum infeliz que não fizera nem questão de saber o nome; depois, já um pouco mais conformado, fora até o diretor falar de sua idéia para o clube de magia negra - idéia que, por sinal, era ótima - mas fora escorraçado e aquela morsa velha ainda havia o chamado de maluco. Como se tudo isso não bastasse (e pode ter certeza, nunca bastava, já que a vida era uma puta com herpes que adorava foder com ele), ainda fora atropelado por uma girafa colorida. Merda. De. Vida.

Adentrou a biblioteca, olhando por entre as estantes e avistando ao longe uma massa de cabelos vermelho-vivo pendendo para o rosa-choque, andando até lá. Cruzou os braços ao ver a pessoa que procurava imprensando na parede um menino, o qual aparentava ser bem mais novo, sussurrando coisas que, definitivamente, Ryuutarou não fazia questão nenhuma de saber o significado. Revirou os olhos, descruzando os braços e andando até o ruivo, segurando-o pelo cós da calça e o arrastando, afastando-o do moleque, ouvindo a voz tão conhecida começar a reclamar.

-HEY! O QUE PENSA QUE... - parou de gritar ao ver o pequeno de cabelos longos, sorrindo sacana e abaixando a voz até ela ficar com o habitual tom zombeteiro. - Ah, é você Jackie. Tudo bem?

-Eu preciso de nicotina. -anunciou, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, em um tom quase resmungado, sem parar de arrastar o outro consigo. Sentou-se em uma cadeira mais afastada, fazendo o outro sentar ao seu lado.

-E por que acha que eu posso resolver isso, huh? - o ruivo cruzou os braços, fazendo o menor o olhar. O ruivo, Shiroyama Takeo, era o senhor popularidade daquela escola. Como se não bastasse ser rico, inteligente e irmão de um dos ex-presidentes do grêmio estudantil, ainda tinha aquele sorriso malicioso e uma beleza considerada acima da média por muitos. Havia sido o primeiro e único amigo de Asamura por ali.

-Você poderia ir comprar para mim, já que ainda está sem uniforme e aparenta ser mais velho. - cruzou os braços. - Por favor Shiro, eu PRECISO de nicotina!

Takeo revirou os olhos, impaciente. Odiava quando Asamura fumava, mas quando o conhecera, dois anos atrás, ele já tinha esse péssimo hábito. Aproximou-se, colando os lábios e murmurando sacana:

-Se eu for Jackie, qual será a minha recompensa? - o ruivo não soube exatamente, mas quando viu, havia levado um tabefe e Ryuutarou estava à sua frente, raivoso.

-Ganha que eu não vou arrancar as suas tripas, já deterioradas de tanto açúcar daqueles malditos chocolates que EU fui comprar para você nesses dois anos e usar elas como corda para enforcar cada um dos malditos que me importunaram hoje! - Takeo viu-o perder o fôlego, depois daquela explosão, as bochechas ficando rubras e os cabelos negros caindo pelo rosto e ombros. O menor jogou-se sobre a cadeira novamente, respirando acelerado e gemendo de dor, mas o mais velho sequer deu importância a isso, mais interessado no pedaço de pele do abdômen que a camisa levantada pelo movimento deixava ver.

-O que foi? Ah, não Ryuu-chan! Não me diga que finalmente alguém te arrastou para o banheiro e te estuprou! - tentou fazer uma cara espantada, mas não conseguiu, rindo alto em seguida. - Eu tinha que ser o seu primeiro, Ryuu-chan, seu traidor!

-PARE DE FALAR ASNEIRAS, ANIMAL! - gritou, levantando-se e espalmando as mãos na mesa, sentindo o rosto corar, de raiva e constrangimento, atraindo alguns olhares para si. Olhou em volta, abaixando a voz e sentando-se, murmurando contrariado. -E não me chame desse jeito.

-De que jeito, Ryuu-chan? De Ryuu-chan? Mas é tão legal chamar o Ryuu-chan de Ryuu-chan! - o ruivo tinha um sorriso enorme no rosto, adorando ver como a face contrariada do mais novo se contorcia. Aproximou-se novamente, tentando beijá-lo, sendo derrubado de sua cadeira e sendo arrastado para fora da biblioteca, enquanto o outro dizia para comprar duas carteiras de Black Stone Cherry.

Eis ali um motivo pelo qual sua amizade com Asamura, ou Jack, sobrevivia: Ryuutarou era a única pessoa que jamais havia caído em sua conversa. Nem mesmo se abalava tanto com suas cantadas.

Colocou as mãos nos bolsos, atravessando o pátio completamente abarrotado de estudantes, sabendo que o portão dos fundos estaria vazio, sem vigilância alguma.

Compraria cinco carteiras daquela porcaria. Assim Ryuutarou não o atazanaria depois querendo que fosse comprar tão cedo.

Se ele morresse com um enfisema pulmonar, Takeo não se responsabilizaria, ele passara dois anos avisando Jack.

-x-x-x-

-PRIMOOOOOOO!!!! - o garoto de cabelos claros e consideravelmente longos, com uma mecha ruiva na franja, olhou para frente, desviando o olhar do livro que lia, sorrindo ao ver a figura grande e desajeitada de Ikeuchi Jin correndo em sua direção.

Largou o livro, abrindo os braços e o abraçando. Em menos de três horas ali Ikeuchi já chamava a atenção, arrancando alguns comentários, nem todos sendo bem intencionados, é claro.

-Jin. - sorriu, largando-o e percebendo que o mais velho não havia mudado nada naquele tempo que passaram sem se ver. Talvez tivesse crescido um pouco mais e lembrar que ainda estavam em fase de crescimento o assustava. - Eu senti saudades.

-Eu também senti saudades. - Ikeuchi sorriu-lhe, daquela forma brilhante e animada. - De você e da Hana-chan, mas acho que não vou conseguir ver ela tão cedo, ne?

Gostava dos primos, eram as únicas pessoas da 'vida real' com as quais não se importava de conviver. Todas as outras estavam em Akiba ou como contatos de seu msn. Sorriu, agora não estava tão sozinho por ali e isso era uma coisa boa.

-Nee, Shibuya-kun. - Hayato Izumi chamou pelo primo, vendo-o piscar algumas vezes, voltando a atenção para si, rindo com isso. - Por que está aqui? Digo, Aya-obaa-chan não parecia muito disposta a deixar você sair tão cedo de casa e agora você está aqui. A menos que... - parou de falar ao ver o olhar triste e o rosto constrangido do primo, corando em seguida. - Sinto muito, eu não...

-Está tudo bem, primo. - o adolescente mais velho fez um aceno negativo com  cabeça, tentando enfatizar a afirmação, logo tentando soar mais animado. - As coisas vão melhorar você vai ver! Mas você vai me contar o que andou fazendo e as histórias desse lugar.

Hayato olhou para o primo, sorrindo com a capacidade dele em animar as pessoas, mesmo quando não estava em seus melhores momentos, disposto a começar a narrativa, até seus olhos caírem... nele. Lindo naqueles jeans surrados e coturnos, além dos cabelos vermelhos bagunçados, sorrindo sacana para si e fazendo com que sorrisse também. Mas logo deixou-o de fazer, quando seus olhos caíram na figura de Ikeuchi ao seu lado, fechando a expressão e caminhando para a saída, saindo de suas vistas. Suspirou, levando os dedos até o lábio e beliscando a pele.

-Primo... - Jin começou incerto, fazendo-o o olhar. - Tá tudo bem?

-Sim, Jin, está tudo bem... - forçou um sorriso, ainda beliscando a pele delicada do lábio.

Mas nada estava bem.

Como odiava amar aquele imbecil do Shiroyama Takeo...

-x-x-x-

Jin já se encontrava no quarto que dividiria com o tal Asamura e, pelo visto, o mesmo deveria estar ali há tempos, pela quantidade de pôsteres que cobriam as paredes onde estavam sua cama e seu armário. Além de algumas poucas coisas espalhadas, dando certeza que Jin não poderia ter escolhido melhor hora para entrar numa fria.

Olhou para um pôster colado à parede, sentindo um arrepio correr sua espinha. Marilyn Manson e seu visual, no mínimo, macabro. Olhou para o lado, visualizando um pôster de Sakurai Atsushi-sama, sentindo outro arrepio ao olhar aquela boca enorme que chegava a dar medo em Jin.

Suspirou. Ao menos sua parede estava livre para os seus pôsteres. Não haviam essas coisas bizarras que seu companheiro parecia adorar. Voltou a arrumar os mangás que trouxera, sentindo-se frustrado em saber que as idas à Akihabara iriam deter-se a somente duas vezes por mês. Isso era tortura, precisava se precaver.

Olhou para a porta, vendo a maçaneta ser girada e uma figura começar a passar pela porta.

Seu olhar caiu sobre as mãos que carregavam carteiras de cigarro, franzindo o cenho e prevendo problemas, mas parou ao perceber o garoto que o olhava, seus olhos se tornando do tamanho de pratos, assim como os dele, que ainda tinha uma mão sobre a maçaneta, deixando os cigarros caírem.

-VOCÊ?! - gritaram juntos.

Pelo visto aquele ano custaria a passar...

 

Continua…

Notas Finais:
Mais de Odisséia, Kaline ¬¬

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