quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Prólogo

O garoto corria pelos campos, mas por mais que tentasse fugir, sabia que os olhos da floresta o perseguiam. Poderia se esconder em qualquer lugar, mas sempre acabaria voltando para aquele lugar. Era sua sina. Era seu destino. Pertencia àquele local, nada poderia mudar aquilo.


Olhou em volta, encontrando um buraco em um barranco. Possivelmente a toca de algum animal. Suspirou, dando de ombros. Depois se entenderia com o dono do lar. E, a despeito de suas roupas elaboradas e caras, arrastou-se pela terra, sujando o tecido vermelho com estampas de sakuras, encolhendo-se. Os olhos marejavam e os cabelos suados - à muito o penteado elaborado havia sido desfeito - grudavam e seu rosto, dando-lhe uma sensação de que estava muito mais sujo do que realmente estava.

Encolheu-se um pouco mais quando os passos apressados passaram por si. Via que os guardas do castelo da rainha não utilizavam nenhum animal ou artifício para encontrá-lo. Seria inútil contra ele, eles sabiam. Passou as mãos pelo rosto, deixando-o completamente à mostra, como nunca acontecia, encostando-se nas paredes de terra e suspirando pesado. Olhou para seu ombro. Sangue. Sangue em abundância. E ao contrário dos humanos, seu sangue não era escarlate, mas azul, quase pendendo para o roxo.

A vista turvava-se lentamente, mas o jovem ignorou solenemente, rasgando um pedaço de seu kimono, junto à barra, enrolando em seu braço e ombro, fazendo um torniquete precário. Por hora aquilo bastaria. Até que os guardas estivessem longe o suficiente e ele pudesse sair em segurança.

Olhou para o canto da toca, arregalando os olhos. Um montinho de pelos. Ajoelhou-se e se aproximou um pouco mais, sorrindo levemente. Filhotinhos de pantera. Estreitou os olhos. As panteras jamais usariam uma toca como essa, para cuidar de suas crias. Aquilo era obra da rainha. Pegou um dos pequenos no colo (eram quatro, no total), brincando com o mesmo, deixando que lambesse e mordesse seus dedos.

As coisas estavam mudando por ali. E não para um caminho bom. O jovem vestido belamente largou o animalzinho que tinha no colo, vendo-o reclamar. Sorriu. Eles pareciam com aqueles animais que os mortais cuidavam... gatos? Passou a mão na cabeça de todos eles, começando a arrastar-se para fora da toca, enquanto murmurava encantamentos. Uma barreira. Kekai. Somente a mãe dos pequeninos poderia passar por ali. Somente ela perceberia a toca.

Cambaleou. Sua energia estava fraca, e lançar aquele encantamento havia deixado-o em um estado pior. Começou a andar para longe dali. Não poderia mais lançar mão de seus encantamentos. Não enquanto estivesse assim, fraco, cansado e ferido. Conseguiu arrastar-se por mais alguns metros, até chegar em um salgueiro, largando-se contra o tronco do mesmo.

Fechou os olhos, respirando pesadamente. Então seria esse o fim do príncipe dos Silfos? Sozinho, sem ninguém para ajudá-lo? Era isso que o destino guardara para si durante todos esses séculos? Riu baixo e fraco, enquanto a consciência o deixava, fazendo-o lembrar-se das palavras de seu pai:


"Você jamais poderá vencê-la Ryuutarou. Ela sempre será melhor do que você, pois ela tem o que te falta: a maldade incrustada em um coração negro."

É, chichiue. Parecia que você estava certo.

Continue...

Notas Finais:
Ah... é. Acho que ando lendo livros de fantasia demais '-'

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