quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Sobre divagações de bateristas frustrados…

 

O Dia dos Namorados havia sido no sábado e agora, nessa fatídica madrugada de domingo para segunda, eu me sentia amargurado e irritado. Eu deveria estar dormindo ou fazendo alguma coisa produtiva, mas continuava na frente da televisão, vendo animes e me entupindo de sorvetes e com o pé em cima de cinco almofadas, porque havia sido idiota o suficiente para não me desviar da moto caindo em cima de mim.


Deprimente. E eu ainda teria que estar no estúdio bem cedo, afinal, eu era o líder daquela joça que chamamos de banda e, por enquanto, não avistamos nenhuma oportunidade de sair do cenário Indie. Graaaande.

Ri amargamente, colocando em algum canal de música, vendo um clipe coreano. Ah, sim, essas bandas faziam bastante sucesso por aqui, entre as colegiais. Entre as colegiais e os bateristas chamados Ryuutarou Asamura.

Tomei mais uma colherada enorme do meu sorvete de flocos, sentindo o gelo cortar minha garganta. E daí que nem calor estava, para tomar meu precioso, amado e idolatrado sorvete, acompanhado da minha solidão?

Suspirei resignado, olhando o embrulho vermelho em cima da mesinha de centro. Chocolates caseiros não-comestíveis, porque, cá entre nós: nem mesmo eu me arriscaria a colocar na boca algo feito por mim mesmo. Eu já não tinha muito amor a vida, mas isso já era judiação.

Pelo menos o destino final deles não havia sido uma máquina de lavagem estomacal. Lavagem estomacal em Shibuya, o idiota por quem eu havia me apaixonado.

Risquem isso, imediatamente.

Ninguém precisava ficar sabendo disso, mesmo que eu não soubesse disfarçar. Já era vergonhoso demais admitir a mim mesmo que aquele otaku descabeçado havia me conquistado. Argh. Não que nós fossemos o casal impossível ou saído dos contos de fadas. Ele não era o cara popular (mesmo porque, mesmo em uma ficção, isso já seria um MILAGRE DO SENHOR JESUS, como um vizinho meu de Kyoto costumava gritar) e nem eu o nerd feioso. Nem eu era o príncipe impossível de ser conquistado e ele o criado.

Na verdade, éramos dois adultos (quase) responsáveis por seus atos e com plena consciência do que queriamos e não queriamos. E eu não o queria num hospital por culpa dos meus chocolates mutantes não-comestíveis. Nem que ele soubesse do meu passado vergonhoso.

Eu poderia começar um discurso absurdo sobre minha melancolia, mas meu mau-humor ocasionado por um pé quebrado e uma cozinha em chamas na noite de sexta-feira mais a perspectiva de ver Hayato e Shiroyama se pegando e trocando juras de amor eterno não me deixava.

Vamos deixar uma coisa bem clara aqui? Eu odiava romantismo. Juras de amor eterno, casais apaixonados andando pela rua e propagandas de margarina entravam no meio. Mesmo que propagandas de margarina não fossem exatamente românticas. Mas mostravam casais felizes e sem problemas. Que nem aquelas propagandas de Dia dos Namorados e...

...

AAAAAAAARGH! O fatídico dia onde tudo havia dado errado! TUDO! Primeiro eu acordei atrasado. Então descobri que aqueles quatro idiotas haviam SE dado folga e saído. E quando eu, com meus humildes chocolates oriundos de um incêndio não-intencional em um dos edifícios de Roppongi, resolvi ir até Akihabara atrás do Vácuo-man para declarar os meus mais puros sentimentos... EU O ENCONTREI TOMANDO CAFÉ COM UMA MENINA ESTRANHA!

Sabem a Carrie? Sabem a Sadako? A criatura era parente delas, só pode. Como é que ele tinha a coragem de trocar a MIM, Jack, o cara das coxas (sim, eu muito me orgulho delas, tá legal?) por aquela criatura de moletom e cabelos desgrenhados? COMO? Eu, ao menos, penteava meus cabelos.

Resumo da obra? Voltei para casa, com os chocolates pesando uma tonelada no bolso, uma vontade absurda de chorar e cair em um pote de sorvete, que nem aquelas kouhais rejeitadas. Mas eu era pior que uma kouhai. Elas, ao menos, se declaravam. Nem mesmo isso eu fiz. E quando, no estacionamento do prédio, eu chutei a merda da moto. E nem tirar o pé de baixo da dita eu consegui! Sorte que consegui ajuda para ser levado ao hospital.

Quer saber? Cansei dessa vida. Amanhã vai ser um novo dia. Vou com toda minha honra e dignidade perdidas anos-luz lá atrás para o ensaio. Vou encarar o casal de idiotas se pegando e ficando de mimimi's enquanto o imbecil do Terushido fica recebendo cantadas de todas as funcionárias da gravadora. Até da tia do cafézinho, aquela que tem a idade da minha vovó. Levanto e pego meu travesseiro, migrando para o quarto, deixando a televisão ligada e o pote de sorvete pela metade para trás, me jogando na cama e puxando o pé engessado junto.

E querem saber?

VOU FAZER O IKEUCHI ENGOLIR AQUELES PEDAÇOS DE CACAU PROCESSADO COM SACAROSE ATÉ QUE ELE VÁ PRO PRONTO-SOCORRO, SÓ DE VINGANÇA!

x-x-x

Sabem quando eu disse que não dava pra ser pior, ontem de noite? Esqueçam tudo aquilo. Eu esqueçi que Murphy me ama e me idolatra, me deixando no rol dos seus queridinhos.

Sabe, eu sabia que tinha esquecido alguma coisa. Uma coisa grave. No caso, deixar as roupas na lavanderia. E agora, cá estou, com uma camiseta do Bob Esponja, cabelo desgrenhado (eu disse que minha honra e dignidade foram deixadas para trás), aguentando as piadinhas do Shiroyama e do namorado gordo dele, no intervalo da melação entre os dois. Eu deveria jogar eles da janela. Ele e o Yuura, o desgraçado que suprime risadas toda vez que olha pra mim e que ganhou mais presentes das fãs do que eu.

Abro uma caixinha, contendo um presente legal. Um isqueiro da Vivienne. Pelo menos algumas fãs tem bom-gosto. Sorrio, vendo uma sombra me cobrir e uma voz animada soar atrás de mim:

-O isqueiro do Nobu-chan! Que sorte você tem, Jekii! - ah, sim, o causador do meu tormento, o meu inferninho particular e... droga, ele estava mais bonito hoje. Suspiro cansado, levantando mancando e começando a sair da sala, passando as mãos pelos cabelos e jogando, sem que ninguém percebesse, meu pequeno embrulho de chocolates-mutantes-arma-biológica nas coisas de Shibuya.

-Ele vai parar no hospital depois dessa ou você realmente seguiu os passos da receita? - Yuura me pergunta, me oferecendo um cigarro, o qual eu aceito ainda com uma carranca, estreiando meu isqueiro da Vivienne.

Favor inserir um coraçãozinho aqui, obrigado.

-Ele vai pro hospital. Se eu tiver sorte esse projeto de personagem de anime fica uma semana por lá e não me incomoda mais. - respondo, roubando seu casaco e fechando-o, escondendo a cara sorridente do Senhor Calças Quadradas.

-Chibi... sua forma de amar é a coisa mais poética que eu já vi. Depreciar e ameaçar a integridade física do seu objeto de afeição...

Rio maldosamente, levantando-me e caminhando para fora da sala enquanto vejo Shibuya começar a fazer caretas ao comer meu chocolate. Ignorando o fato de estar mancando como um ornintorrinco míope e de bengala, eu sorrio.

A vida é tão boa, e ver otakus serem carregados pelos corredores por morangos gordos e idiotas cabeça-de-fósforo é mais ainda. Parece que a vingança tem gosto de chocolate...

O que eu posso dizer? Eu adoro o dia dos namorados.

 

Notas Finais:

O Jin tava tomando café com a Jure, se não perceberam...

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