sábado, 26 de dezembro de 2009

Capítulo Único

 

Negava-se a voltar para o estúdio. Para que voltar? Para ouvir Acusações por parte de Arata? Para ver o olhar de reprovação de Teruo? Para saber o mal que causou a Takeo?

Suspirou, passando as mãos pelo rosto, sujando-o com o sangue de Takeo... ainda não estava completamente seco. Riu amargamente. Antigamente não se importaria em ver sangue em suas mãos. Estava acostumado. Mas agora não era assim.


Agora tinha amigos. Pessoas em quem confiava cegamente, outras nem tanto. Tinha pessoas que gostaria de proteger e que protegeriam a ele também, se fosse preciso. Não era mais somente a criança problemática que precisava sujar-se de escarlate para poder ver um amanhã.Não estava mais morto dentro de si mesmo.

Poderia sorrir agora, não poderia? Tinha alguém para quem gostaria de sorrir verdadeiramente. Tinha alguém para proteger, mesmo que não fosse a pessoa mais inteligente ou descolada, mesmo que não fosse a pessoa mais esperta... mas era alguém que fazia seu coração acelerar e querer sair pela boca.

Droga! Ryuutarou! Como pudera se deixar levar por alguém? Havia prometido a si mesmo que nunca mais iria abrir seu coração e então...

Não queria entrar novamente naquela sala e encarar Ikeuchi, sabendo que havia deixado seus sentimentos expostos. Não gostava de se ver exposto. Não gostava de mostrar o que sentia. As pessoas poderiam pensar que era um fraco.

Mas era Jin, droga! O cara que nunca faria isso com ele, zombar de seus sentimentos, certo? Jin não era assim. E era um idiota por pensar que ele poderia machucá-lo dessa forma.

Procurou um cigarro nos bolsos da calça larga que usava, encontrando-o depois de algum tempo, o acendendo enquanto se debruçava no parapeito da janela e começava a tragar o cilindro em nicotina. "Câncer em palitinhos" como Yuuto costumava dizer, quando o via fumando.

Sentiu os ombros pesarem e balançou a cabeça. Como iria encarar Takeo? Como pediria desculpas e explicaria que fizera aquilo por total falta de confiança, não no guitarrista, mas em si mesmo? Como explicaria que sua insegurança e ciúmes o levaram a bater em um amigo?

Tudo isso sem nem mesmo dizer que amava Jin. Sem deixar que os outros vissem seu ponto fraco: O baixista.

Sentia-se tão fraco ao ver que não poderia fazer nada para impedir isso de acontecer... e nem queria. Não queria deixar de sentir aquele calorzinho gostoso quando via o mais velho sorrir, nem deixar de se sentir um idiota quando via a animação do mesmo.

Huh, estava tão ferrado.

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Olhou para o refeitório da gravadora, mordendo o lábio inferior, enquanto tentava equilibrar os papéis em seus braços juntamente à mochila em um dos ombros -a qual escorregava toda hora- e o copo de meio litro de café forte, sem açúcar. Como se isso não bastasse, a franja muito comprida fazia seu nariz coçar.

E não havia sequer um lugar vago.

Suspirou pesadamente, andando até a única figura suficientemente conhecida para que dividisse a mesa. Sentia as bochechas começarem a arder, mas manteve-se impassível, com o mesmo olhar vago de sempre.

Takeo escrevia alguma coisa em um caderno de cifras, tanto que sequer notou a aproximação do companheiro de banda, somente se dando conta quando a sombra do baterista começou a tapar a luz do sol, que entrava pelas grandes janelas do local. Ergueu o rosto, querendo começar uma discussão com o infeliz que o impedia de trabalhar, mas calou-se à tempo quando viu Jack o encarar, com um mundo de coisas em seus braços e uma expressão pedinte na face muito pálida.

Ainda pensara em mandá-lo procurar outra mesa, mas passando um rápido olhar pelo local, percebera que não haviam mais lugares vagos, se não aquele à sua frente. O ruivo levantou-se, insultando os deuses em pensamento.

-Vai, senta aí. - disse, pegando o copo de café das mãos do menor, bem como as folhas e vendo-o fazer uma rápida reverência como agradecimento, sentando-se depois de colocar a mochila no chão.

Shiroyama fez o mesmo, voltando a atenção para as cifras feitas muito apressadamente, reparando que o líder também tinha os olhos presos nos papéis. Olhando mais atentamente, poderia perceber as olheiras que começavam a aparecer embaixo dos olhos do moreninho. Nada muito exagerado, mas denunciava que algo estava errado. Deu de ombros. Não era de sua conta mesmo.

Voltou a se concentrar na letra que estava escrevendo, mas estava sendo difícil com o menor a sua frente. O clima pesado que pairava ali o estava deixando angustiado. Juntou seus papéis, fazendo menção de sair da mesa, assim ambos poderiam trabalhar em paz. Porém os movimentos do guitarrista ruivo fizeram com que Asamura levantasse os olhos dos papéis que lia, mordendo o lábio inferior e desejando chutar-se por todo aquele orgulho que o impedia admitir que estava errado. Shiroyama havia entendido-se com Izumi-san, faltava somente ele.

-Shiroyama! - o baterista o chamou, fazendo menção de levantar-se, mas desistindo no meio do caminho.

-O que? - virou-se parcialmente. Não tinha a menor intenção de ser educado. Ainda estava chateado com tudo que havia acontecido, com todos sempre culpando-o. Era mais uma reação de defesa, na verdade.

-Precisamos conversar. - respondeu, passando uma mão pelos cabelos, jogando um pouco mais a franja para cima do olho. Não o culparia se o guitarrista recusasse e o chamasse dos piores nomes, a culpa era igualmente sua. - Por favor.

Shiroyama suspirou fundo, pensando no que fazer. Não conversar seria uma atitude infantil, pois da mesma maneira que Izumi havia lhe dado uma chance de se explicar, deveria fazer o mesmo pelo outro.

-Tudo bem... - voltou a se sentar, encarando-o, vendo remexer-se na cadeira, olhando para o lado. A Asamura, encontrar-se naquela situação não o agradava nem um pouco, mas devia conter os impulsos que o levavam a acusar Shiroyama por várias coisas. Mas como se explicar sem denunciar o que sentia? Era quase impossível.

-Sinto muito. - começou em uma voz sussurrada, apontando para o próprio rosto, mas em uma clara referência ao que fizera ao rosto do ruivo sentado à sua frente. - Por... aquilo.

-Era só isso? - não conseguiu evitar o tom de censura. Por acaso ele achava que fora fácil encarar a todos, perguntando o que havia acontecido, ter que esconder que havia desentendimentos dentro da própria banda, fingir que tudo estava perfeito. - Não fujo de briga e o motivo dela não é pra resolver comigo.

-Estou me referindo a ter... - tentou, mas as palavras acabaram por engasgar em sua garganta, como era difícil admitir que estava errado! - Estou tentando me desculpar por ter descontado o que não deveria em cima de você. Estou admitindo que não fiz algo certo.

- Pra descontar em mim eu deveria antes ter feito algo contra você, não acha? - Takeo não sabia o porquê, mas não queria dar o braço a torcer tão fácil. Era só desculpar, mas seu orgulho fora muito ferido. - Por que não ter descontado no Ikeuchi, então? Daria na mesma, estaria extravasando sua raiva e o que sente da mesma forma.

-Eu pensei que você houvesse feito. - Estreitou os olhos, mas não por raiva. Os lábios agora eram uma linha muito fina e branca, quase imperceptíveis. Seria impossível continuar aquilo sem dar o braço a torcer e admitir que Ikeuchi exercia uma influência absurda sobre si.

- Eu tenho um namorado, Asamura! - o ruivo abaixou o tom de voz para que outros não ouvissem, - E posso te garantir que ele me satisfaz. Do mesmo modo que posso te garantir que Ikeuchi não possui o mínimo atrativo pra me agradar. Nunca tentei algo com ninguém da banda antes, não teria motivos para fazer isso agora.

-Eu sei... eu sabia disso, quando tudo aconteceu, mas me descontrolei. Eu não queria nem imaginar se era verdade ou não... - Abaixou a cabeça, encostando a testa na mesa e tentando respirar fundo. Ele sabia daquilo, sempre soube, mas havia se descontrolado por puro ciúme. Ciúmes de alguém que jamais seria seu.

-Já ouviu falar de perguntar primeiro? Costuma funcionar... - suspirou, frustrado, negando com a cabeça, encostando na cadeira atrás de si e jogando a cabeça para trás. Aquilo ia virar um círculo de acusações...

-Eu sou do tipo que atira primeiro e pergunta depois... - Jack murmurou, levantando o rosto, sentindo as bochechas queimarem e os olhos arderem, mas não choraria na frente de ninguém. - Eu estou pedindo desculpas sinceras, Shiroyama. Desculpas por ter me descontrolado, acabado por quase o desfigurar e ter causado uma crise entre você e Izumi-san.

-Nada que não possa ser reparado... não houve grandes perdas ou mortes, então acho que está tudo bem... - suspirou fundo, encarando o menor, cruzando as mãos sobre a mesa. Realmente não havia motivos para continuarem com aquilo, exceto o orgulho e a negação infantil.

Ao baterista restou concordar com um aceno de cabeça, voltando a endireitar-se, olhando para as mãos fechadas em punhos nas coxas, sem jeito. Não sabia o que dizer, nem se as coisas estavam bem.

Provavelmente não, nada era tão fácil assim. Claro que se pudesse ler pensamentos, saberia que o guitarrista ruivo não sabia se devia falar mais alguma coisa ou se devia sair dali. Já haviam conversado o que precisavam, e mesmo que não houvesse promessa de serem amigos de infância, a situação poderia se resolver. Talvez agora fosse mais fácil frequentar os ensaios e acatar às ordens.

-Eu... bem... acho que estou indo. Tente não se atrasar, certo? - murmuruou, pegando a mochila do chão, os papéis e deixando o café esquecido sobre a mesa, começando a andar para fora dali, suspirando pesado. Sentia que uma grande parte do peso que carregava havia saído de seus ombros, mas outra parte continuava lá. Gritante.

Acompanhou-o com o olhar, suspirando fundo. Ele havia ido ali só para se desculpar mesmo? Precisava rever seus conceitos sobre o mais novo. Juntou seus papéis, colocando dentro da mochila e caminhando para fora da lanchonete, levando consigo um copo de café (que entregaria para o líder, se tivesse coragem). Não custava mostrar que estava tentando colaborar, não é?

-----xxx-----

Andava apressadamente pelo corredor. Nunca fora tão difícil admitir o que sentia e o que o atormentava. Na verdade, pensou Ryuutarou, nunca era fácil. Mostrar-se quebradiço e impotente ao que não estava sob seu controle era sempre horrível.

Poderia continuar perdido em seus próprios pensamentos, se não tivesse trombado com alguém, que vinha apressado na mesma direção, o corpo caindo no chão com um baque surdo, ficando deitado de costas no corredor, encarando o teto enquanto estrelas brilhavam à sua frente, o deixando tonto.

-JACK? - ainda ouviu a voz de Jin, o que o fez levantar-se em um pulo, ajeitando as roupas e abaixando para pegar os papéis espalhados pelo chão. Ikeuchi franziu um pouco a testa, enquanto via o baterista atrapalhar-se para juntar aqueles calhamaços de celulose e tinta de impressora.

-Porque você nunca olha por onde anda? Tem sempre que trombar comigo? E se eu estivesse com algo quente nas mãos? - o pequeno resmungava baixinho, mais para si do que para o baixista, de fato. Viu uma folha ser estendida diante de seus olhos, fazendo-o levantar a face e encarar o mais velho sorrindo para si.

-Você ia esquecer essa. - Ikeuchi sorriu largo, mas não por muito tempo. Jack pegara a folha de suas mãos e saíra correndo dali, o deixando sem entender aquela reação. Era impressão sua ou o líder estava corado?

-Acho que isso não vai ser muito fácil. - virou o rosto, vendo Takeo passar por si, dando de ombro, antes de entrar no elevador. - Mas tenta, ele não é tão indiferente assim.

Sozinho no corredor, Shibuya se perguntava por que seus companheiros de banda adoravam deixá-lo no vácuo.

 

 

Notas Finais: E eu fiz minha parte u_u Não me metam nessas furadas de novo. *Jack mode on*

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